(Comentário do 2º tópico da Lição 12: A Igreja tem uma natureza organizacional)
Ev. WELIANO PIRES
No segundo tópico, falaremos da institucionalidade da Igreja no Novo Testamento. Primeiro analisaremos o teor das instruções paulinas a Tito para a Igreja de Creta. Na sequência, falaremos do aspecto institucional da Igreja. Por último, falaremos da organização da Igreja Primitiva. No Novo Testamento há várias evidências de que a Igreja era organizada e não tinha nada de anarquia como ensina o movimento dos desigrejados.
1. A instrução paulina. A pequena Epístola de Paulo a Tito possui apenas três capítulos e foi escrita, provavelmente, entre a primeira e a segunda epístola a Timóteo, entre os anos 63 e 66 d.C. Esta Epístola escrita pelo veterano apóstolo dos gentios a um jovem pastor, por quem ele tinha muita afinidade, vai muito além da orientação para a estruturação ministerial nas igrejas da Ilha de Creta, conforme colocou o comentarista.
A prática de estabelecer presbíteros nas cidades já era rotineira em todas as igrejas estabelecidas por Paulo e sua equipe missionária. Podemos constatar isso, por exemplo, no texto de Atos 14.23: “E, havendo-lhes, por comum consentimento, eleito anciãos em cada igreja, orando com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido”. Paulo relembra a Tito, a razão de tê-lo deixado em Creta, que era colocar as coisas em ordem. Para isso, Tito deveria estabelecer presbíteros em cada cidade.
O apóstolo colocou para Tito os critérios e as qualificações para a escolha desses presbíteros, que são praticamente os mesmos que falou para Timóteo: Ser irrepreensível, marido de uma mulher, ter filhos fiéis, não soberbo, não iracundo, não dado ao vinho, não espancador, nem cobiçoso de torpe ganância. Tais exigências reforçam a importância deste ministério e a necessidade da liderança das igrejas fazer uma análise rigorosa no perfil dos candidatos ao presbitério.
Não sabemos ao certo quando surgiu o presbitério na Igreja Primitiva. Mas, ele estava presente nas Igrejas de Jerusalém, Antioquia, Listra e Icônio, nos relatos de Atos dos apóstolos e participava das discussões e decisões da liderança da Igreja junto com os apóstolos. O presbitério da Igreja Primitiva formava uma espécie de conselho ou assembléia que deliberava junto com os apóstolos, sobre assuntos doutrinários, éticos e administrativos da Igreja. (At 15.2,6,9-11; At 16.4). Eles faziam o papel exercido hoje pelos pastores e evangelistas nas convenções, no caso das Assembléias de Deus.
No capítulo 2, Paulo prescreve a Tito, exortações para várias classes de pessoas: homens e mulheres idosos, mulheres novas e jovens, servos e senhores. Em seguida, ele recomenda que Tito seja o exemplo, nas boas obras, na linguagem e na doutrina. Não basta ao pastor trazer orientações à igreja que ele lidera, o povo precisa ver nele o exemplo. A filosofia que diz: “faça o que eu digo, mas não o que eu faço” não funciona na Igreja, pois ela é o retrato da hipocrisia.
Ainda no capítulo 2, o apóstolo falou sobre a Graça de Deus, que se manifestou e trouxe salvação a todos. Tito precisava ensinar à Igreja a Doutrina da Salvação, que é fruto da Graça de Deus e não vem de obras ou méritos humanos, como ensinavam os judaizantes. Entretanto esta graça não pode ser usada como justificativa para permanecer no pecado. Na continuidade deste texto, ele disse que “devemos renunciar à impiedade e às concupiscências mundanas, e viver neste presente século sóbria, justa, e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo”.
No capítulo 3, o apóstolo traz várias exortações a Tito: Sujeição às autoridades; ser bom cidadão e cumpridor dos seus deveres; não entrar em questões loucas e evitar os hereges, após a repreensão. Por fim, envia saudações dos irmãos que estão com ele e se despede. Apesar de pequena, a Epístola a Tito discorre sobre temas variados, trazendo exortações importantes ao jovem pastor.
É muito importante que a liderança de um ministério tenha o cuidado de preparar os obreiros mais novos, dando-lhes as orientações de como proceder em seu campo de trabalho. Além de dar as orientações, é importante fiscalizar para ver se elas são realmente cumpridas. Os obreiros, por sua vez, devem obedecer à liderança da Igreja, pois quem não obedece, não merece ser obedecido e é um péssimo exemplo para a igreja. Eu já conheci obreiros que cobravam obediência da congregação a ele, mas não obedeciam às determinações da Igreja Sede.
2. Igreja como instituição. Em sua dimensão universal e invisível, a Igreja é formada por todos os cristãos regenerados que estão em todos os lugares e por aqueles que já estão também na glória (Hb 12.23), não se limitando somente à dimensão terrena. Neste aspecto, ela é um organismo vivo e não uma organização. O apóstolo Paulo, escrevendo aos Coríntios, comparou a Igreja ao corpo humano e disse, metaforicamente, que a Igreja é o corpo de Cristo. “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também… Ora, vós sois o Corpo de Cristo e seus membros em particular.” (1 Co 12.1,27).
A Igreja fundada por Jesus é um organismo vivo e, nesse sentido, ela é formada por todos os salvos que nasceram de novo, é liderada por Ele e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16.18). Como um organismo, a Igreja de Jesus é única e não precisa de CNPJ, endereço, estatuto, líderes humanos, ou espaço físico. Ela é formada por todos os salvos de qualquer denominação, lugar ou época. Como organismo, a Igreja é representada como o corpo de Cristo, sendo Ele próprio a cabeça (I Co 12.27; Ef 4.12).
3. Organização. Organização, no contexto em que estamos falando aqui, é a forma como um sistema se organiza, para alcançar os atingir os seus objetivos e cumprir a sua missão. Em toda organização há vários setores e funções, que são diferentes e há uma estrutura administrativa para planejar, distribuir as atividades e controlar os recursos.
Em dimensão local, a Igreja está relacionada ao local ou ao espaço geográfico. Neste aspecto, ela pode ser vista e sentida. Neste aspecto, a Igreja é uma organização que existe como pessoa jurídica, em um determinado local. É dirigida por homens e tem as suas particularidades, costumes e normas. A Igreja, mesmo sendo um organismo, precisa se organizar para cumprir a sua missão neste mundo.
Na atualidade, há um movimento nocivo que tem crescido assustadoramente, que é o movimento dos desigrejados. Os adeptos deste movimento se dizem cristãos, mas não estão ligados a nenhuma Igreja. Procuram desqualificar a Igreja local e negam a sua necessidade. Os desigrejados são contrários à Igreja como organização, alegando que a Igreja Primitiva se reunia nas casas e não era institucionalizada.
De fato, a Igreja nos primeiros séculos não possuía templos, porque vivia sob intensa perseguição tanto dos judeus quanto do Império romano. Também não era uma pessoa jurídica, porque naquela época não existiam instituições formais como hoje. Entretanto, isso não significa que não era uma organização. A Igreja tinha a sua liderança formada por apóstolos, profetas, evangelistas, presbíteros, diáconos, pastores e mestres (Ef 4.11; At 6.1-6; At 14.23; At 20.28; Hb 13.17). Tinha o seu código doutrinário (At 2.42-47) e disciplinar (1 Pe 3.5,6; 2 Ts 3.6).
No Novo Testamento, podemos perceber claramente, que a Igreja era também uma organização, formada por pessoas diferentes, que formavam uma comunidade local para adorar a Deus e pregar o Evangelho. A Igreja Primitiva começou em Jerusalém, sob a liderança dos apóstolos. Os mais proeminentes entre eles, eram Pedro e João (At 8.14; Gl 2.7). Depois, Tiago, o irmão do Senhor, exerceu papel importante na liderança da Igreja em Jerusalém, dirigindo, inclusive, o primeiro concílio da Igreja (At 15. 13).
Nas Igrejas fundadas por Paulo também havia lideranças estabelecidas. Em todas estas comunidades havia presbíteros e diáconos. Havia também a doutrina dos apóstolos (At 2.42-47); autoridades na Igreja para julgar as causas entre os irmãos (I Co 6.5); Presbíteros que lideravam as Igrejas locais (I Ts 5.12; I Tm 5.17; Tt 1.5). O mesmo acontecia nas Igrejas da Ásia, onde cada uma tinha o seu líder, que recebeu a respectiva carta do Senhor Jesus, através de João.
Evidentemente, a organização da Igreja dos tempos bíblicos era diferente do que é hoje, como todas as organizações sociais o são. Naquela época, não existia democracia ou estado de direito. O mundo em que os apóstolos viviam era dominado pelo império romano que era extremamente hostil ao Cristianismo. Os cristãos foram duramente perseguidos pelos romanos. Muitos cristãos foram crucificados, decapitados, jogados às feras famintas e queimados vivos. Não dá para imaginar, que em um ambiente assim, seria possível os cristãos terem templos para se reunir.
REFERÊNCIAS:
SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025.
Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 42.
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. 1ª Edição. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2013, pp.1718,1719, 1720, 1721.
GONÇALVES, José: O Corpo de Cristo: Origem, Natureza e a Vocação da Igreja no Mundo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2023.
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