31 agosto 2024

O PERIGO E A CRUELDADE DO ANTISSEMITISMO MODERNO

(Comentário do 3º tópico da Lição 09: A conspiração de Hamã contra os judeus) 


Ev. WELIANO PIRES


No terceiro tópico, falaremos do perigo e da crueldade do antissemitismo moderno. Veremos as faces do antissemitismo ao longo da história. Na sequência, falaremos das três faces do antissemitismo que são: nacional, religioso e racial. Por último, falaremos do Antissemitismo moderno. Lamentavelmente, após os ataques do grupo terrorista Hamas contra Israel em 2023, vemos o renascimento do ódio aos judeus, principalmente por parte de intelectuais de esquerda e autoridades brasileiras.  


1- Faces do antissemitismo. A palavra antissemitismo literalmente significa a hostilidade aos povos semitas, ou aos descendentes de Sem, que era um dos filhos de Noé. Entretanto, o uso recorrente desta palavra está relacionado ao ódio, preconceito e aversão ao povo judeu. É uma forma de xenofobia, intolerância religiosa e racismo. O termo antissemitismo foi criado no final do Século XIX, para explicar, de forma científica, o ódio aos judeus. Devido à confusão que o termo antissemita poderia causar, pois englobaria todos os povos semitas e não apenas o povo judeu, alguns autores preferem usar o temo Judeufobia, que seria o ódio aos judeus. 


O ódio ao povo de Israel e as tentativas de exterminá-lo não é novo. Ao longo da história, várias nações já tentaram exterminar este povo. Mesmo antes de Israel se tornar uma nação, quando era apenas uma povo que veio de Canaã para o Egito, houve a tentativa de Faraó de impedir o crescimento deste povo, ordenando o assassinato de todas as crianças israelitas do sexo masculino, logo no nascimento. 


Deus, através de Moisés, libertou Israel da escravidão no Egito e o conduziu à terra prometida. Ainda no deserto, Israel enfrentou o ódio de Moabe, Amaleque e outros reis. Depois que entrou na terra prometida, por causa da desobediência de Israel, Deus permitiu que várias nações subjugassem a Israel, no período dos juízes. No período da monarquia, vários reinos destilaram ódio contra Israel e intentaram destruir este povo. Enquanto eles obedeceram a Deus, foram poupados, mas foram alertados de que a desobediência os levaria ao cativeiro. 


Com a divisão do reino, após a morte de Salomão, todos os reis do Reino do Norte foram ímpios e sofreram muitas derrotas. Finalmente, em 722 a.C. quando Salmaneser, rei da Assíria, dominou Israel, durante o reinado de Oséias por três anos e, depois de notar que havia conspiração por parte do rei de Israel, transportou todo o povo para a Assíria. Além de transportar o povo de Israel para o cativeiro, o rei da Assíria trouxe outros povos, para habitarem na região. Estes povos deram origem aos samaritanos. (2 Rs 17.3-6; 24). 


No Reino do Sul, houve vários reis piedosos, como Asa, Josafá, Jotão, Ezequias e Josias. Mas alguns foram ímpios como Roboão, Jeorão, Acaz, Manassés Amom, Jeoaquim e Zedequias.  Por causa disso, Nabucodonosor, rei da Babilônia, dominou o povo de Judá, em 605 a.C. Nesta ocasião, foram levados para a Babilônia o rei Jeoaquim, Daniel, os seus companheiros e outros membros da família real. No lugar de Jeoaquim, Nabucodonosor deixou o seu filho Joaquim, como um vassalo da Babilônia em Jerusalém. Porém, ele se rebelou e também foi levado para a Babilônia em 597 a.C. Com o rei Joaquim foram levados mais sete mil judeus, entre eles, o profeta Ezequiel. No lugar de Joaquim, Nabucodonosor deixou o seu tio Zedequias como vassalo da Babilônia. Por último, em 586 a.C., o exército babilônico invadiu Jerusalém, queimou a cidade, destruiu o templo, deixando milhares de mortos e levou o povo para o cativeiro. Ficaram na terra de Judá apenas alguns idosos e deficientes na mais absoluta miséria. 


Este cativeiro do Reino do Sul durou setenta anos, até o ano 539 a.C., quando o imperador Ciro, da Pérsia, emitiu um decreto e os judeus foram autorizados a voltarem para a sua terra. Não era ainda a liberdade e a independência, pois eles continuaram sob o domínio persa. Muitos deles se adaptaram à vida no exílio e continuaram vivendo em comunidades judaicas, fora da sua pátria. Isso continuou com os domínios grego e romano, que vieram depois da Pérsia. Foi neste contexto, que os judeus se depararam com o ódio descomunal de Hamã contra eles, a ponto de querer exterminá-los em único dia, sem causa. 


Durante o período interbíblico, o povo judeu foi vítima do ódio de Antíoco Epifânio IV,  que era da dinastia selêucida e governou a Síria entre 175 a.C. e 164 a.C. Este governante tinha um ódio terrível dos judeus e tentou o unificar o seu reino, proibindo a religião judaica e impondo a adoração aos deuses gregos. No ano 168 a.C., ele invadiu Jerusalém, ergueu um altar a Zeus no templo e mandou sacrificar um porco, animal considerado imundo pela Lei mosaica. Os judeus zelosos se recusaram a praticar estas abominações e foram mortos impiedosamente. Isso provocou a chamada revolta dos Macabeus, que recebeu este nome por causa de Judas Macabeus, líder desta revolta. 


A última diáspora do povo judeu aconteceu no ano 70 d.C. Depois de uma revolta iniciada em 66 d.C., pelo grupo dos Zelotes contra Roma, com vários assassinatos e atentados terroristas, o general romano Tito invadiu Jerusalém e destruiu a cidade. Os judeus que não foram mortos fugiram e se espalharam pelo mundo. Os israelitas que fugiram permaneceram espalhados pelo mundo por 1878 anos, até o ano de 1948, quando foi criado o Estado de Israel. 


Esta, sem dúvida, foi a maior e mais longa diáspora judaica, pois permanece até aos dias atuais. Mesmo depois do ressurgimento do estado de Israel, ainda há mais judeus vivendo fora, do que na terra de Israel. Depois da destruição de Jerusalém pelos romanos e expulsão dos judeus da sua terra, este povo ficou sem pátria, espalhado pelo mundo. 


2- Antissemitismo religioso, nacionalista e racial. Durante o período que o povo judeu permaneceu espalhado pelo mundo sem pátria, eles foram vítimas do antisemitismo, por motivos diferentes. O comentarista nos apresentou aqui as três faces do antissemitismo que são: antissemitismo religioso, nacionalista e racial. No tópico anterior, o Comentarista falou apenas do antissemitismo religioso, deixando os outros dois para este tópico. Eu preferi reunir as três faces do antissemitismo aqui, para facilitar o entendimento. 


a. Antissemitismo religioso. É o ódio contra o povo judeu por causa da sua religião, ou por eles se recusarem a seguir outra religião. Neste aspecto, após perderem a sua pátria, os judeus já sofreram muitas perseguições religiosas e foram considerados culpados de vários acontecimentos trágicos. O principal deles foi a morte de Cristo. O ódio aos judeus por este motivo é chamado de deicídio, ou seja, são acusados pela morte do Filho de Deus. 


Em 1349, os judeus foram acusados também de serem responsáveis pela peste negra. Ao longo da história, surgiram também lendas contra judeus, como a de que eles sacrificavam crianças. Estas lendas se propagaram pela Europa, fazendo a população os odiar. Por causa disso, os judeus eram expulsos de  cidades européias. 


Os judeus também foram vítimas da chamada Santa Inquisição, ou Tribunal do Santo Ofício, da Igreja Católica. Na tentativa de combater o que a Igreja considerava heresia e forçar a conversão ao Cristianismo, o Papa mandava torturar pessoas de outras religiões para forçá-los a negar a sua fé. Os que não negavam eram queimados vivos. Nesta ocasião, muitos judeus foram torturados e mortos. 


O antissemitismo religioso nasceu, principalmente, a partir de interpretações equivocadas da Bíblia. Neste aspecto, não se limitou aos católicos. Mesmo após a Reforma Protestante, o ódio aos judeus continuou. Martinho Lutero também odiava os judeus e defendeu em um tratado de 1543, a perseguição aos judeus, a queima de sinagogas e escolas judaicas, a destruição de símbolos religiosos judaicos e a proibição de pregações de rabinos.


b. O antissemitismo nacionalista. Esta face do antissemitismo se desenvolveu a partir do final do Século XIX e início do Século XX, nos países do leste europeu. Neste aspecto, o antissemitismo é uma espécie de xenofobia, que é a aversão ao estrangeiro, com a argumentação de que eles estão tomando os nossos empregos e prejudicando a nossa economia. Os judeus foram considerados culpados pelos problemas econômicos de vários países do leste europeu e, por isso, sofriam represálias nestes países. 


c. O antissemitismo racial. Esta face do antissemitismo, assim como os demais tipos de racismo, tem origem na famigerada ideia de que existem raças superiores a outras. Aliás a ideia de raças deve ser rechaçada, pois só existe uma raça, que é a humana. Este tipo de antissemitismo chegou ao seu clímax com o Nazismo de Adolf Hitler, na Alemanha. 


Hitler tinha a ideia maligna de uma raça superior, chamada de ariana. Com essa ideia, ele tinha em mente, “purificar" a sociedade alemã, de seres indesejáveis como deficientes físicos, esquizofrênicos, epiléticos, paralíticos e psicopatas. Para isso, elaborava listas destas pessoas e as transferia dos hospitais para os centros de eutanásia, onde eram mortos através da inalação de gases tóxicos. 


A ideia de purificar a raça humana é chamada de “eugenia”, que é a seleção de seres humanos com base nas características hereditárias, com o objetivo de “melhorar” as futuras gerações. A palavra “eugenia” é de origem grega e significa “bem nascido”. A eugenia estava presente não apenas na Alemanha, mas em vários países, inclusive no Brasil. Nos Estados Unidos, a eugenia estava prevista na Constituição. 


Partindo da ideia de raça superior, o Nazismo considerou os judeus como uma raça que deveria ser eliminada, assim como os negros, ciganos e outros. Quando assumiram o poder, os nazistas saíram do discurso antissemita para a perseguição aos judeus. O primeiro passo foi retirar a cidadania de todos os judeus. Depois passaram a boicotar os negócios dos judeus e, na chamada “Noite dos Cristais”, os alemães foram autorizados pelo governo a atacar residências judaicas e destruir sinagogas. Por fim, os nazistas aprisionaram os judeus em campos de trabalhos escravos em condições precárias. Aos poucos, eles eram mortos por fuzilamento e por inalação de gases tóxicos. Estima-se que o número de judeus pelos nazistas chegou aos seis milhões de pessoas. 


Além da questão racial, havia também outros fatores que disseminaram o ódio dos alemães pelo povo judeu, como o fato deles serem minoria na Alemanha, mas terem um alto poder aquisivo e elevado nível cultural. Além disso, havia teorias conspiratórias, que diziam que havia um complô internacional de judeus para dominar o mundo. Por isso, os alemães culparam os judeus pela derrota na Primeira Guerra Mundial. 


3- Antissemitismo hoje. Do ano 70 d.C. a 1948, os judeus não tinham pátria e viviam espalhados em comunidades judaicas, em vários países. Neste espaço de tempo, eles foram vítimas do ódio por vários motivos, como já vimos, até a tentativa cruel de eliminação, pelos nazistas. No final do Século XIX, devido ao crescimento do antissemitismo, surgiu na Europa um movimento político chamado Sionismo, que defendia a criação de um estado, para abrigar o povo judeu na terra que pertenceu a eles durante muitos séculos. O idealizador deste movimento foi o jornalista húngaro, Theodor Herzl, com a sua obra "O Estado Judeu". 


Em 1897, foi organizado na Suíça, o primeiro Congresso Mundial Sionista para debater o assunto. Foi aprovado neste congresso: o envio de uma comissão para a Palestina, para avaliar a possibilidade de ocupação da terra; os judeus deveriam ocupar a mesma terra, da qual haviam fugido; e a compra das terras que seriam ocupadas. Finalmente, em 27 de novembro de 1947, na primeira Assembleia Geral das Nações Unidas, presidida pelo brasileiro, Osvaldo Aranha, foi aprovada a criação do Estado de Israel. Em 14 de maio de 1948 foi publicado o primeiro Diário Oficial de Israel. As tropas britânicas deixaram o local e Israel tornou-se novamente um estado independente.


Esperava-se que, após a criação do Estado de Israel, finalmente este povo tivesse o direito de viver em paz. Mas, infelizmente, não foi o que aconteceu. Desde a fundação do Estado de Israel, as nações árabes tentam, a todo custo, eliminá-lo. A primeira tentativa foi em 1967, na chamada “Guerra dos seis dias”, quando dez países árabes se uniram para destruir Israel e foram derrotados. Depois disso, Israel já sofreu vários ataques de grupos terroristas e precisa estar atento a todo instante  e reforçar a sua defesa, para não ser varrido do mapa. Recentemente, o então presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que nega o Holocausto, chegou a sugerir que Israel se mudasse para a Europa. O Irã, Iraque, Líbano e outros países do Oriente Médio não apenas odeiam Israel, como apoiam e fornecem armas para grupos terroristas o atacarem. 


O mais recente ataque cruel e chocante contra Israel aconteceu em outubro de 2023, quando o grupo terrorista Hamas, em um dia de paz em Israel, atacou covardemente vários alvos civis israelenses. Neste ataque, invadiram residências, mataram idosos e crianças e levaram mais de 200 pessoas reféns. Alguns ainda permanecem reféns e outros foram mortos. Neste e em outros ataques praticados contra Israel, as críticas são sempre dirigidas à reação de Israel e nunca aos seus inimigos. O governo brasileiro, por exemplo, além de nunca se referir ao Hamas como um grupo terrorista, condenou duramente os atos de defesa de Israel. O atual presidente brasileiro chegou ao cúmulo de comparar as ações de Israel contra o terrorismo, ao holocausto. Isso provocou a revolta do primeiro ministro de Israel que o considerou persona non grata em Israel. 


O antissemitismo tem se acentuado principalmente entre políticos de esquerda, não apenas no meio político, mas também no meio acadêmico, sindical e na imprensa. Intelectuais, sindicalistas e jornalistas defendem abertamente o Hamas e outros inimigos do povo judeu. Em alguns lugares, aconteceram ataques gratuitos contra alvos judeus. Na Bahia, por exemplo, uma comerciante judia sofreu um ataque dentro da sua loja. Mais grave ainda é ver pessoas que se dizem evangélicas, atacando Israel em nome de uma ideologia política. Não é isso que a Bíblia nos recomenda. Temos a recomendação bíblica de orar por Israel (Sl 122.6).


REFERÊNCIAS: 


QUEIROZ, Silas. O Deus que governa o Mundo e cuida da Família: Os ensinamentos divinos nos livros de Rute e Ester para a nossa geração. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2024.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. RIO DE JANEIRO: CPAD, 3º Trimestre de 2024. Nº 98, pág. 40. 

Bíblia de Estudo Pentecostal: Edição Global, editada pela CPAD, pp.838-40.

HAGEE, John. Em Defesa de Israel. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pp.109-10. 

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