06 junho 2023

UMA CONVERSÃO DUVIDOSA

 A MENTIRA DE ANANIAS E SAFIRA (act 5,1-13) | Deus, Bíblia e Poesia

(Comentário do 1º tópico da Lição 11: Os prejuízos da mentira na família).


Ev. WELIANO PIRES


No primeiro tópico da lição, falaremos sobre a conversão duvidosa de Ananias e Safira. A Igreja vivia um clima de espiritualidade, comunhão e filantropia e eles demonstraram que não haviam experimentado uma transformação verdadeira. A inveja, a hipocrisia e a mentira estavam presentes no coração deles. Por isso, fizeram uma doação dissimulada, não com o objetivo de socorrer aos necessitados, mas pensando em aparecer perante a Igreja, como se fossem pessoas generosas.

1- Por que uma conversão duvidosa? Após a descida do Espírito Santo sobre a Igreja Primitiva, os cristãos viviam um grande avivamento espiritual em todos os aspectos. Os apóstolos davam testemunho do Senhor Jesus com grande ousadia, sem temer as ameaças das autoridades judaicas (At 4.33). Estavam todos os dias no templo e nas casas, orando e ensinando a Palavra de Deus (At 5.32). O Senhor realizava muitos milagres através deles, de forma que as pessoas projetavam os enfermos sobre a sombra de Pedro para serem curados; traziam também enfermos e endemoninhados de cidades vizinhas para serem curados e libertos (At 5.12-16).

Neste clima de avivamento e milagres, multidões de pessoas se juntavam aos cristãos. Entretanto, nem todos eram convertidos. Assim como aconteceu com Jesus, muitos dos que se juntavam à Igreja buscavam apenas os milagres, ou tinham outros objetivos. Estas pessoas não tiveram um encontro real com o Salvador e não tiveram as suas vidas transformadas, pois, não passaram pela experiência do novo nascimento.

Foi este o caso do casal Ananias e Safira. A Bíblia não relata como se deu o ingresso deles na Igreja Primitiva. Mas as suas atitudes demonstram que eles não eram convertidos. Eles combinaram entre si, que doariam apenas uma parte do dinheiro da venda de uma propriedade e ficariam com o resto. Queriam aparecer perante a Igreja como pessoas generosas, mas ficaram com dó de entregar todo o dinheiro.

Vale ressaltar que o pecado deles não foi não entregar todo o dinheiro, pois isso não era uma exigência. Se eles tivessem levado apenas uma parte do dinheiro e contado a verdade, não haveria problema. Mas eles tentaram enganar os apóstolos. Eles não imaginavam que o Espírito Santo de Deus é onisciente e conhece todos segredos: “Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.” (1 Co 2.20).

O Espírito Santo, que é Deus e conhece todas as coisas, inclusive as intenções dos corações, revelou tudo ao apóstolo Pedro. Quando Ananias entrou, sem ninguém falar nada para Pedro, foi desmascarado e morreu. O mesmo aconteceu à sua mulher que participou da mentira. Igreja que ora e tem comunhão com Deus não é brincadeira! Em um ambiente assim, a cobiça, a falsidade, a mentira, a hipocrisia e o fingimento são desmascarados.

2- A comunhão na igreja de Atos. Uma das principais características da Igreja Primitiva, descritas em Atos 2.42 era a “Comunhão”, ou seja, eles tinham tudo em comum. A palavra comunhão no grego é “koinonia”. Significa “compartilhamento, uniformidade, parceria, associação próxima e participação”. (Concordância de Strong). Isso é uma marca do verdadeiro cristão. É o contrário de divisão, partidarismo, disputas e predileção por lideranças, como acontecia na Igreja de Corinto e Paulo os tachou de carnais (1 Co 3.1).

A comunhão cristã não envolve apenas dinheiro, mas envolve também benefícios espirituais, dons e ministérios, como disse Paulo aos Romanos: “Pedindo sempre em minhas orações que, nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de ir ter convosco. Porque desejo ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual, a fim de que sejais confortados, isto é, para que juntamente convosco eu seja consolado pela fé mútua, tanto vossa como minha.” (Rm 1.10-12). O mesmo apóstolo disse no capítulo 12: “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram.” (Rm 12.15). Portanto, a comunhão cristã significa estar unido com os irmãos em qualquer circunstância.

O relato de Atos 5 é uma continuidade do final do capítulo 4, nos versículos 32 a 37. Ali é dito que não havia necessitado algum entre os cristãos, pois todos os que tinham propriedades vendiam-nas e traziam o dinheiro aos apóstolos para socorrer os necessitados. Isso nunca foi exigido pelos apóstolos. O Espírito Santo tocou no coração dos crentes para que tomassem essa iniciativa. Estas doações eram voluntárias e sem esperar nada em troca, apenas o bem estar do próximo.

O final do capítulo 4 relata que um levita de Chipre, chamado José, conhecido pelo apelido de Barnabé, que significa “Filho da consolação”, possuía uma propriedade, que recebera de herança, vendeu-a e trouxe todo o dinheiro aos apóstolos (At 4.36,37). O capítulo 5, que é a continuidade deste relato, começa dizendo “Mas um certo varão chamado Ananias, com Safira, sua mulher, vendeu uma propriedade e reteve parte do preço, sabendo-o também sua mulher; e, levando uma parte, a depositou aos pés dos apóstolos.” (At 5.1,2).

É muito importante esclarecer que a comunhão entre os cristãos nada tem a ver com o comunismo, como muitos ensinam, com o objetivo de justificar o comunismo e o ataque à propriedade privada, buscando apoio nas Escrituras. O teólogo John Macarthur explica muito bem esta questão:

“.... [Os cristãos] não vendiam tudo e ajuntavam em um fundo comum. Tal princípio para a vida cristã era obviamente uma responsabilidade de cada crente em responder ao direcionamento do Espírito (1 Cor. 16:1-2). Além disso, é claro no verso 46 que os indivíduos continuavam possuindo casas. O que acontecia na realidade era a venda de propriedades pessoais conforme alguém necessitasse. Isso indicava imensa generosidade, as pessoas davam não apenas seu dinheiro ou bens, mas também seu futuro em um ato de amor sacrificial para com aqueles que tinha necessidade. E isso é claro nas palavras de Pedro à Ananias em Atos 5:4 que a venda era puramente voluntária. Ananias e Safira pecaram não por recusar a partilhar suas posses, mas por mentir ao Espírito Santo. Finalmente, nenhuma outra igreja descrita em Atos tinha esse padrão de vender e repartir propriedades. 2 Coríntios 8:13-14 descreve uma generosidade similar para com os pobres de Jerusalém.”

3- A inveja e a hipocrisia de Ananias e Safira. Esta atitude mesquinha de Ananias e Safira, se contrapõe à generosidade voluntária de Barnabé. O comentarista diz no livro de apoio que “ esta atitude de Barnabé chamou a atenção de Ananias e Safira, que se encheram de ciúme e inveja porque desejavam receber a admiração dos apóstolos tanto quanto Barnabé.” Eles não fizeram aquela doação por amor aos necessitados, ou para glorificar a Deus. O intuito deles era “não ficar mal” perante os apóstolos e receber elogios.

Infelizmente, em nossas Igrejas há pessoas com esse tipo de atitude, fazendo contribuições ou trabalhos na Igreja com o objetivo de impressionar a liderança e conseguir vantagens. É importante lembrarmos de que Deus sonda as mentes e corações. Ele olha não apenas para as nossas ações, mas vê também as nossas intenções e motivações. Deus não está preocupado apenas com o que estamos fazendo, mas, por que fazemos.

A inveja é um sentimento maligno. Na Bíblia vemos que a inveja teve início com o querubim ungido, que invejou o trono de Deus e quis ser igual a Ele. Por isso, foi expulso do Céu, com uma terça parte dos anjos que o seguiram neste intento, e transformou-se em Satanás, o inimigo de Deus e do seu povo. Depois, vemos o caso de Caim, que teve inveja do seu irmão Caim e, por isso, o matou (Gn 4.1-8). Os irmãos de José também, movidos pela inveja, venderam o seu irmão como escravo, a fim de se livrar da sua presença (Gn 37.25-28). O rei Saul, movido pela inveja, tentou várias vezes matar Davi.

O apóstolo Paulo classifica a inveja como uma das obras da carne, as quais ele diz que aqueles que as praticam não herdarão o Reino de Deus (Gl 5.19-21). Infelizmente, em nossos dias, muitos crentes, inclusive obreiros, se deixam contaminar pela inveja e, por isso, perseguem, caluniam e tentam destruir os próprios irmãos da fé, a fim de assumir o lugar deles. Deveriam ficar felizes por ver um irmão ser usado por Deus em um determinado ministério. Por outro lado, deveriam saber que os dons espirituais e ministeriais são dados por Deus, a quem Ele quer, para aquilo que for útil. De nada adianta estar em uma função na Igreja para a qual Deus não chamou.

A hipocrisia também é um sentimento carnal e incompatível com a conduta do cristão. A palavra "hipocrisia" no grego é "hypokrisis". Em seu sentido original,  significava "desempenhar um ato em um palco". Um "hypokrites" era, na verdade, um ator, que representava um personagem em uma peça de teatro. Posteriormente, passou a designar uma pessoa fingida, que diz uma coisa e faz outra, fingindo ser quem não é. A hipocrisia e a mentira andam juntas, pois estão intimamente relacionadas. Todo hipócrita é por natureza um mentiroso, pois mostra com palavras e atitudes, coisas que não são verdadeiras sobre a sua pessoa ou sobre os seus ensinos.

4- Quando a mentira e o engano enchem os corações. Conforme já falamos anteriormente, o pecado de Ananias e Safira não foi por não ter entregue todo o dinheiro aos apóstolos. A propriedade era deles e ninguém exigiu que eles doassem nada. O próprio Pedro esclareceu isso: “...Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder?” (At 5.4a).  Se eles tivessem vendido a propriedade e dissessem aos apóstolos que iriam entregar 10% para ajudar aos necessitados, seria uma atitude louvável. Mas, eles deixaram que a mentira e o engano entrassem em seus corações e assim, tentaram enganar a liderança da Igreja.

Quando alguém faz alguma coisa à Igreja do Senhor, boa ou má, é ao Senhor que está fazendo. O Senhor Jesus quando enviou os doze apóstolos em uma missão disse: “E qualquer que tiver dado só que seja um copo de água fria a um destes pequenos, em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão.” (Mt 10.42). O mesmo acontece quando alguém persegue, calunia, ou tenta enganar a liderança da Igreja. Os pastores foram dados pelo Senhor Jesus à Sua Igreja, para aperfeiçoar os santos e edificar o corpo de Cristo. Se eles não cumprirem o seu ministério corretamente, Deus irá tratar com eles. Mas se alguém se levantar contra e tentar enganar a liderança que Deus colocou na Igreja, estará se levantando contra o próprio Deus. Ananias e Safira maquinaram entre si um mentira que seria contada aos apóstolos. Mas, Pedro disse: “... Não mentiste aos homens, mas a Deus.” (At 5.4).

Que Deus nos guarde de todo o engano e mentira, pois estas coisas provém do Diabo e destroem a comunhão cristã e também na família. Nenhum relacionamento humano sobrevive em meio a mentiras e enganos. O nosso falar precisa ser sim, sim e não não, pois o que passar disso é de procedência maligna.  regra para o cristão é falar sempre a verdade, pois, não podemos mentir jamais. Não podemos mentir, nem que seja para agradar ou para não ferir. Também não podemos omitir a verdade, para ganharmos popularidade, ou para evitar retaliações, pois isso equivale a mentir e ser infiel a Deus. A verdade bíblica nunca irá agradar aos ímpios.


REFERÊNCIAS:
CABRAL, Elienai. Relacionamentos em família: Superando desafios e problemas com exemplos  da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 186-191.
PEARLMAN, Myer. Atos: E a Igreja se Fez Missões. Editora CPAD. Ed. 1995. pág. 59-60.
Is Communism Biblical? – O Comunismo é Bíblico. Tradução: Abel Separovich Cassiano dos Santos. Disponível em https://elshaddai.com.br/2016/09/27/o-comunismo-e-biblico/
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. 2a Impressão: 2010. Vol. 1. pág. 642.
LOPES, Hernandes Dias. Atos: A ação do Espírito Santo na vida da igreja. Editora Hagnos. pág. 115,117.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 3. pág. 111.


 

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