22 junho 2023

A VIDA SOCIAL DE JESUS

(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 13: A amizade de Jesus com uma família de Betânia)

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, falaremos sobre a vida social de Jesus. Conforme falamos na lição passada, o Senhor Jesus não era um ser humano antipático e antissocial, que vivia isolado no mundo. Ele tinha carisma e se compadecia das pessoas. Era muito criticado pelos fariseus, justamente por ter amizade com pessoas que eram desprezadas pela sociedade israelita. Falaremos ainda neste tópico sobre a hospitalidade da família de Marta, Maria e Lázaro, que sempre recebia o Senhor Jesus em sua casa. Por último, falaremos da amizade e carinho desta família para com o Mestre. Maria tinha profundo amor pelo Senhor e se assentava para ouvir os seus ensinos; Marta, por sua vez, se esforçava nos afazeres de casa para oferecer-lhe uma boa refeição; e Lázaro era chamado pelo próprio Jesus de “o nosso amigo”.

1- Jesus foi um ser social. Sempre houve ao longo da história da Igreja, muita dificuldade para se compreender a pessoa de Cristo. Quando andava com os seus discípulos, certa vez Jesus perguntou: Quem dizem os homens que Eu sou? Os discípulos responderam: Uns dizem que é Elias, outros que é João Batista, Jeremias, ou algum dos profetas. Jesus perguntou, então: E vocês, o que acham? Pedro, recebeu a revelação do Espírito Santo e disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo. (Mt 16.13-16). Naquele momento, Eles não compreendiam quem, de fato, era Jesus. Depois, nas Epístolas e no Apocalipse, foi esclarecido melhor.

 Por causa do desconhecimento em relação à natureza de Cristo, muitas heresias surgiram. O gnosticismo negava a humanidade de Jesus e ensinava que Ele era um “aeon”, uma espécie de entidade que emanava de Deus, mas, não era humano. De forma semelhante, o docetismo afirmava que o corpo de Jesus tinha apenas aparência humana. O arianismo, ao contrário, negava a divindade de Jesus e dizia que Ele era um ser criado, que se tornou homem, mas não era Deus.

 Diferente destas heresias acima, Jesus é plenamente Deus e plenamente homem. Mas aí surge outra dúvida: como conciliar as duas naturezas, divina e humana? Neste sentido surgiu outra heresia, no século IV, chamada de Apolinarismo, defendida por Apolinário, bispo de Laodicéia (310-390), que pregava que Cristo era divino mas não humano. Segundo Apolinário Jesus Cristo não possuía uma alma racional humana, a alma divina (Logos) teria tomado o lugar da alma humana. Surgiu também outra heresia chamada eutiquianismo, defendida por um monge de Constantinopla chamado Eutiques. Segundo Eutiques, a natureza divina de Cristo absorveu a natureza humana e Cristo teria apenas uma natureza após a união, que é a divina.

 Nos concílios de Constantinopla (381 d.C.) e de Calcedônia (451 d.C) foram condenadas, respectivamente, o nestorianismo e o eutiquianismo. As lideranças da Igreja estabeleceram, à luz das Escrituras, a doutrina da União Hipostática, que afirma que Cristo possui duas naturezas distintas, a humana e a divina, que se unem na única pessoa de Cristo. Portanto, Ele é plenamente Deus e plenamente humano.

 Por não compreenderem a humanidade de Jesus, muitos pensam que Ele viveu neste mundo como se fosse um anjo ou um monge, isolado da vida social. Mas não é bem assim. É verdade que Jesus viveu como o homem perfeito e nunca pecou. Mas ele nasceu, cresceu e viveu com um ser humano normal, trabalhando, dormindo, se alimentando e tinha um vida social exemplar, na sociedade em que viveu. Somente a partir dos 30 anos, ele deixou a casa dos seus pais em Nazaré e dedicou-se ao ministério terreno que o Pai lhe comissionou. A partir daí, Ele foi batizado, chamou os discípulos e passou a pregar o Evangelho e operar os sinais e maravilhas.

 2- Uma casa hospedeira. Mesmo após o início do seu ministério terreno, Jesus continuou tendo amigos. Os próprios discípulos foram chamados por Ele de amigos. Esta família de Betânia eram amigos muito próximos de Jesus. Depois que iniciou o seu ministério, com vários discursos públicos, muitas curas divinas, expulsão de demônios e até ressurreição de mortos, a fama de Jesus se espalhou por toda a região. Por causa disso, Ele não teve mais sossego. Onde as multidões descobriam que Ele estava, iam atrás, em busca de curas e milagres. Outros o seguiam, porque imaginavam que Ele seria o libertador de Israel do domínio romano.
 

Embora tenha nascido em Belém, na Judéia, Jesus cresceu em Nazaré e na idade adulta mudou-se para Cafarnaum, outra cidade da Galiléia. Como o seu ministério era itinerante, quando vinha para Jerusalém e toda a região da Judéia, necessitava de hospedagem. As viagens naquela época eram feitas a pé, a cavalo, ou em navegações através de barcos primitivos. Quem viajava a pé, por exemplo, fazia em média 25 a 30 quilômetros por dia. Considerando que a distância da Galiléia a Jerusalém é de aproximadamente 130 km, uma viagem de Cafarnaum a Jerusalém durava 5 dias em média.
 

A aldeia de Betânia ficava ao oriente de Jerusalém, próximo ao Monte das Oliveiras. A distância entre Jerusalém e Betânia era de oito estádios (Jo. 11.18), que equivale a três quilômetros. Uma pequena aldeia,  a três quilômetros de Jerusalém, era o lugar ideal para Jesus se hospedar, depois de longas caminhadas e dias exaustivos, com multidões atrás dele e muitos embates com os escribas e fariseus.

3- Jesus foi recebido por essa família. Na pequena aldeia de Betânia, Jesus encontrou além de um lugar aconchegante e um pouco afastado das multidões, uma família de amigos que eram tementes a Deus e o amavam. Marta, Maria e Lázaro, hospedaram Jesus em sua casa e desfrutavam da sua agradável companhia. Cada um deles demonstrava a sua devoção e amor ao Mestre à sua maneira. Marta, preparava deliciosas refeições e servia a mesa. Maria fazia-lhe companhia, ouvia os seus ensinos e derramou um perfume caríssimo nos pés e na cabeça do seu amado Mestre. O texto não diz nada sobre a forma que Lázaro o servia, mas diz que Jesus o amava e o chamava de “amigo”.

Hospedar não é o mesmo que receber uma visita de um amigo especial. A hospitalidade para com os seus compatriotas viajantes era algo comum em Israel naqueles tempos. Entretanto, uma recepção a um amigo que vinha visitar era algo diferenciado e prazeroso para o dono da casa. Quando o visitante chegava cansado da viagem, era oferecido água para lavar os pés, ósculo e ungia o cabelo com óleo que os deixava mais lisos e perfumados. Podemos notar isso no questionamento de Jesus a Simão, o leproso, que reclamou que Maria estava desperdiçando perfume (Lc 7.46).

Jesus não deve ser apenas um hóspede como outro qualquer em nossa casa. Ele é o nosso melhor amigo, o visitante mais ilustre e deve ser recebido com a máxima honra e, mais ainda, com adoração e louvor, pois Ele é Deus. Quem ama a Jesus de verdade, faz o melhor para Ele e quer estar sempre em sua companhia, ouvindo os seus ensinos ou servindo-o.
 

REFERÊNCIAS:
CABRAL, Elienai. Relacionamentos em família: Superando desafios e problemas com exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 219-222.
LOPES, Hernandes Dias. João: As glórias do Filho de Deus. Editora Hagnos. pág. 316-317; 399.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 2. pag. 546.
HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento: Mateus a João. Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pag. 938
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Lucas. Editora Cultura Cristã. pag. 716-717.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. 2a Impressão: 2010. Vol. 1. pag. 397.

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