(Comentário do 2⁰ tópico da Lição 10: O avivamento na vida pessoal)
No segundo tópico, falaremos do avivamento espiritual do crente. Não há outra forma do crente experimentar um avivamento pessoal, se não reservar uma agenda de piedade, através das disciplinas da vida cristã. A principal destas disciplinas é a prática da oração, que deve ser um exercício diário, na vida de um crente que busca o avivamento em sua vida. Neste tópico veremos os exemplos de Davi, Daniel e Jesus que viviam em constante oração. A segunda disciplina na vida do crente é a leitura devocional da Bíblia, que é o nosso único manual de fé e conduta. A Palavra de Deus é a nossa arma de defesa, portanto, devemos conhecê-la bem e está sempre nos alimentando dela. Jesus venceu a tentação do inimigo no deserto com a Palavra de Deus.
1- Reservando uma agenda de piedade. A nossa vida espiritual deve ser um exercício diário. Para isso, inevitavelmente, teremos que ter um espaço em nossa agenda para aprofundar a nossa comunhão com Deus, através da oração e da meditação nas Escrituras. Não se trata de ascetismo ou de sacrifício para obter o favor de Deus. Esta é a forma bíblica de crescimento espiritual e estreitamento da nossa comunhão com Deus.
É muito comum vermos pessoas reclamando que não tem tempo para orar ou ler a Bíblia. Entretanto, todos nós dispomos de 24 horas por dia. O que nos falta não é tempo e sim, administração do tempo, priorizando o que é indispensável. O livro do Eclesiastes, no capítulo 3 diz que 'há tempo para todas as coisas". Na vida, temos coisas que são indispensáveis, coisas importantes, coisas que podem ser adiadas e coisas que são fúteis e desnecessárias. Não podemos fazer tudo o que gostaríamos em 24 horas. Por isso, precisamos administrar o nosso tempo e dar prioridade ao que é essencial.
O ser humano é um ser tricotômico, formado por espírito, alma e corpo. O nosso corpo é a parte material e precisa de alimentação, sol, água, oxigênio, movimento e descanso para sobreviver. Se eliminarmos qualquer um destes itens, o corpo sofrerá sérios prejuízos e pode morrer. A nossa alma é a sede das emoções e precisa de bons relacionamentos com outras pessoas, diversão, boas leituras, amor, paz, alegria e descanso. O espírito humano, por sua vez, é a parte capaz de se relacionar com Deus e precisa justamente deste relacionamento com o Criador, para estar bem. Este relacionamento com Deus não pode ser desenvolvido de outra forma, que não seja a oração e a leitura da Palavra de Deus. Na oração, nós falamos com Deus e através da Palavra de Deus, nós conhecemos Deus e a sua vontade para a nossa vida.
Estas três partes necessitam de cuidados especiais e não podemos descuidar de nenhum deles. Também não podemos cuidar apenas de um deles e abandonar os outros. Entretanto, o espírito e a alma são inseparáveis e imortais, portanto, devem ter prioridade. O Senhor Jesus disse: "Do que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc 8.36). O apóstolo Paulo também falou: ".Porque para mim, o viver é Cristo e o morrer [morte do corpo] é lucro”. (Fp 1.21). Isto significa que, embora devamos também cuidar do nosso corpo, devemos priorizar a vida espiritual.
2- A prática da oração. Nos tempos bíblicos, os judeus costumavam orar três vezes ao dia: à tarde, pela manhã e ao meio dia. A tarde é mencionada em primeiro lugar nesta lista, porque os hebreus começavam a contar os seus dias a partir das 18:00 e não às 00:00, como acontece em nossos dias. Sendo assim, os judeus começavam o dia orando, oravam no meio dele e terminavam-no em oração.
Davi, um homem segundo o coração de Deus, tinha o costume de começar o dia orando e vigiando. Ele orava pelo menos três vezes ao dia: “De tarde e de manhã e ao meio-dia orarei; e clamarei, e ele ouvirá a minha voz.” (Sl 55.17). Entretanto, esta rotina de oração de Davi, não se limitava a um ritual formalista, como faziam os fariseus. Davi tinha um relacionamento pessoal com Deus. Ele orava confessando os seus pecados (Sl 51); orava antes de tomar decisões importantes (2 Sm 5.19); agradecia a Deus por suas vitórias (2 Cr 29.10-13); compunha salmos de louvor a Deus (2 Sm 22.1) e o adorava também nos momentos de perdas (2 Sm 12.20).
Daniel foi outro exemplo marcante de um homem de Deus que tinha uma vida de constante oração. Ele também tinha o hábito de orar três vezes ao dia (Dn 6.10) e continuou com esta prática, mesmo estando no cativeiro, em terra estranha, em um ambiente hostil e desfavorável à vida piedosa. Assim como Davi, Daniel não orava apenas por obrigação ou como um ritual. Ele orava a Deus em situações difíceis, como no caso em que o rei Nabucodonosor teve um sonho e exigiu dos sábios que revelassem o sonho e a sua interpretação. Se não o fizessem, seriam mortos. Daniel quando soube disso, pediu um tempo ao rei e foi orar para que Deus revelasse o segredo. Deus atendeu o seu pedido, revelou -lhe o segredo do rei e o livrou da morte. Em outra situação, mesmo sabendo que não seria permitido orar por um espaço de 30 dias, ele continuou orando e foi jogado na cova dos leões. Mais uma vez, Deus o livrou da morte. Quando desejou entender as visões de Deus, Daniel orou por 21 dias até a resposta chegar.
O nosso maior exemplo de oração é o Senhor Jesus. O ministério terreno do Senhor Jesus foi marcado pela oração. Além de ensinar a orar, Jesus foi também um exemplo na prática da oração. Mesmo sendo Deus, na condição humana Ele buscou ao Pai em diversas ocasiões. O Mestre orava sem cessar. Jesus falava constantemente com o Pai, em público e em particular. Ele orava ao amanhecer, ainda escuro: “Levantando-se de manhã muito cedo, fazendo ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava” (Mc 1.35). Antes de escolher os seus apóstolos, Ele passou a noite em oração: "E aconteceu que, naqueles dias, subiu ao monte a orar e passou a noite em oração a Deus." (Lc 6.12). No capítulo 17 de João, vemos a chamada Oração Sacerdotal de Jesus, onde Ele intercede ao Pai pelos seus discípulos. No Jardim do Getsêmani, em profunda agonia, a ponto de suar gotas de sangue, o Mestre também orou ao Pai, dizendo: “Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres.” (Mt 26.39).
Ao longo da história da Igreja também, homens e mulheres de Deus mantiveram-se em oração diante de Deus. Os apóstolos, no início da Igreja Primitiva, viviam em constante oração: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.” (At 2.42). Eles oravam em momentos de grandes dificuldades: “Pedro, pois, era guardado na prisão; mas a igreja fazia contínua oração por ele a Deus. (At 12.5); Oravam antes de enviar missionários: “Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram.” (At 13.3); oravam até nas prisões: “E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam.” (At 16.25).
Os homens de Deus que experimentaram grandes avivamentos ao longo da história, como John Wesley, D. L. Moody, Jonathan Edwards, Charles Finney, William J. Seymour e outros, também tiveram as suas vidas dedicadas à oração. Daniel Berg, Gunnar Vingren e os seus sucessores na Assembléia de Deus também viviam em constante oração.
3- A leitura devocional da Bíblia. Se por um lado, a oração é indispensável à vida do crente, como vimos acima, a leitura devocional e o estudo da palavra de Deus também o são. Uma coisa não substitui a outra. Infelizmente, no meio pentecostal há muitos crentes que, apesar de orarem muito, não conhecem a Palavra de Deus e ainda desprezam aqueles que procuram conhecê-la. A oração sem o conhecimento bíblico leva o crente ao fanatismo, ao zelo sem entendimento e às heresias.
Infelizmente, muitas pessoas na atualidade não gostam ou tem preguiça de ler. Esta preguiça de ler e a busca por respostas prontas e curtas, também chegaram ao meio evangélico. Muitos evangélicos atualmente usam a Bíblia apenas nos templos. Mesmo assim, é possível perceber que alguns nem abrem a Bíblia durante as leituras e pregações. Um número muito grande de evangélicos, inclusive pastores, nunca leram a Bíblia inteira. O resultado disso é trágico. Há um analfabetismo bíblico enorme em nosso meio. A prática da leitura bíblica deve ser um exercício diário para o cristão. Isso, claro, deve ser feito com disciplina, devoção e estudo.
A leitura diária da Bíblia é fundamental para a vida cristã. Esta leitura tem objetivos diferentes. Devemos ler a Bíblia para aprender o seu conteúdo, de forma devocional na meditação e como pesquisa, em temas específicos. Somos discípulos de Cristo e o aprendizado é a base de todo discípulo, pois a própria palavra discípulo significa "aprendiz".
Além de ler diariamente a Palavra de Deus, é muito importante também entender aquilo que lemos, pois, muitas heresias nascem de interpretações equivocadas ou distorções dos textos bíblicos. A Bíblia foi escrita em um contexto muito distante e diferente da época em que vivemos. Por isso, é preciso interpretá-la corretamente, para a entendermos. Esta interpretação envolve a exegese e a hermenêutica, que são ferramentas muito importantes na interpretação de textos.
REFERÊNCIAS:
RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 2229.
HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento:Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. 1 Ed. 2010. pág. 404.
BRANDT, Robert L. e BICKET, Zenas J. Teologia Bíblica da Oração. Editora CPAD. pag. 152-153.
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