(Comentário do 2º tópico da Lição 02: O corpo – A maravilhosa
obra da criação de Deus).
Ev. WELIANO PIRES
No segundo tópico, falaremos
da relação entre o corpo humano e a glória de Deus. Com base nas palavras de
Davi, no Salmo 139, veremos que Deus é o grande tecelão do corpo humano. Na
sequência, veremos que o entendimento de que foi Deus quem nos criou, livra-nos
de falsas especulações e leva-nos a louvar ao nosso Criador. Falaremos também
sobre dois extremos que devemos evitar, em relação ao corpo humano: o desprezo
e a idolatria. Por último, veremos que em relação ao corpo, o cristão não deve
se preocupar com regras e sim em seguir os princípios bíblicos.
1. O divino tecelão. Em uma
linguagem poética, o salmista assim se expressou para Deus: “Pois possuíste
os meus rins; entreteceste-me no ventre de minha mãe”. (Sl 139.13). A
palavra hebraica traduzida neste texto na Versão Almeida Revista e Corrigida
por “entreteceste” é sâkak. Esta é uma palavra polissêmica, ou seja, tem
vários significados e o seu contexto determinará o seu sentido na frase:
Guardar, no sentido de cercar ou trancar; bloquear ou cobrir, com o objetivo de
proteger; e tecer/entrelaçar, como um tecelão faz com os fios de um
tecido.
No verso 15 do mesmo Salmo, a
palavra Sâkak aparece duas vezes: a primeira com o sentido de
encobrir e a segunda, com sentido de tecer como um tecelão: “Os meus ossos
não te foram encobertos [Sâkak], quando no oculto fui formado, e entretecido
[Sâkak] como nas profundezas da terra”. (Sl 139.15). A Bíblia de Jerusalém
traduziu a palavra neste verso, respectivamente por “escondido” e “tecido”. É
ao segundo caso, que nos referimos aqui.
A fabricação de tecidos
antigamente era feita de forma artesanal. O tecelão entrelaçava os fios de
algodão, lã, linho ou seda, até formar um pano. Hoje, são as máquinas que fazem
isso. Entendemos, portanto, que Deus é o nosso ‘tecelão’, pois, Ele criou as
células, juntou as células semelhantes, que formaram os tecidos, estes formaram
os órgãos e juntos formaram o corpo humano. É exatamente assim que a ciência
descreve a formação dos órgãos e tecidos do feto, no ventre materno. Deus criou
a matriz, que foi o primeiro casal, deu-lhes a capacidade de se reproduzirem e
ordenou-lhes a multiplicação da espécie.
2. Entendimento e louvor. A
compreensão da maravilhosa obra divina na formação do corpo humano liberta-nos
de toda especulação e dúvida e produz um sentimento de gratidão e louvor. Davi
declarou: “Eu te louvarei, porque de um modo terrível e tão maravilhoso fui
formado” (Sl 139.14). No mesmo versículo o salmista usa a expressão “a
minha alma o sabe muito bem”, demonstrando como a verdadeira fé produz
entendimento e percepção espiritual corretos, gerando quietude interior. Quando
o homem não se reconhece como obra do Criador, vive inquieto em busca de
explicações sobre si mesmo e se torna vítima dos mais variados enganos, como a
teoria evolucionista. Não glorifica a Deus e se perde em um mundo de idolatria
e depravação (Rm 1.18-32).
Quando entendemos que somos obra
das mãos de Deus, a reação natural é louvá-lo por esta obra maravilhosa, que é
o nosso corpo. No Salmo 19.1, lemos o seguinte: “Os céus declaram a glória
de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos”. Isto significa que as
coisas que Deus criou mostram a Sua glória e que há um Deus transcendente que
criou tudo isso. A beleza e a grandeza das coisas criadas, testificam à
humanidade da existência de Deus.
Na mesma direção, o apóstolo
Paulo, escrevendo aos Romanos disse que as coisas que foram criadas revelam o
poder e a divindade de Deus, e os que não reconhecem isso são indesculpáveis
diante de Deus: "Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do
mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e
claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem
inescusáveis." (Rm 1.20).
O entendimento de que Deus é o
Criador nos conduz a louvá-lo. O salmista prosseguiu, dizendo: Eu te
louvarei, porque de um modo assombroso, e tão maravilhoso fui feito;
maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem. (Sl
139.14). Quando temos o entendimento de que Deus é o criador e sustentador de
todas as coisas, só nos resta nos prostramos diante dele, reconhecendo a sua
grandeza e majestade, e louvar ao Seu Santo Nome. Os ateus e agnósticos não
fazem isso, não porque tem certeza ou dúvidas da existência de Deus e sim,
porque são arrogantes e não querem que Deus exista. Reconhecer que Deus existe,
implica em submeter-se a Ele e negar a si mesmo.
3. O perigo dos extremos. Há dois
extremos em relação ao corpo humano que devemos rejeitar, pois são contrários
às Escrituras:
a. O desprezo. Na
antiguidade, várias correntes filosóficas e religiosas viam o mundo material de
forma negativa e, por isso, consideravam que o corpo humano era essencialmente
mau. Este dualismo estava presente no maniqueísmo, platonismo e gnosticismo.
Estas correntes de pensamento tinham diferenças entre si, mas tinham em comum a
idéia de que a matéria era algo ruim. Infelizmente, muitos cristãos, por
desconhecerem as Escrituras, acabam reproduzindo este pensamento.
Estas pessoas fazem confusão
entre carne e corpo humano. A palavra carne na Bíblia tem vários significados e
um deles é o corpo humano, como em Êx 4.7: “... E tornou a meter a mão no
peito; depois, tirou-a do peito, e eis que se tornara como a sua outra carne.” A
expressão “sua outra carne” é uma referência ao restante do corpo e não apenas
à parte que é considerada carne. Entretanto, nos textos bíblicos,
principalmente no Novo Testamento, quando a palavra carne aparece de forma
negativa, refere-se à natureza pecaminosa do ser humano e não ao corpo. É nesse
sentido que o apóstolo Paulo fala das obras da carne, em Gálatas 5.19-21. O
corpo humano não tem nada de mau, pois, foi criado por Deus e é o templo do
Espírito Santo.
b) O culto ao corpo. O outro
extremo, que também não tem fundamento bíblico, é a supervalorização e
idolatria do corpo humano. Na Grécia Antiga havia o culto à beleza,
principalmente o corpo masculino, que era esculpido totalmente despido e
exposto nos ginásios. Na mitologia grega, o personagem Narciso, admirava muito
a própria imagem e teria caído em um lago, contemplando e admirando a própria
imagem. Por isso, as pessoas que têm profunda admiração pela própria imagem e
sentem a necessidade de se auto exibir são chamadas de narcisistas. Com
o advento das redes sociais, as pessoas buscam a todo custo o exibicionismo e o
elogio, a fim de inflar o próprio ego. Para isso, vivem o tempo todo tirando
fotos e editando-as com uma infinidade de filtros, a fim de melhorar a própria
imagem. Nem mesmo os locais de culto escapam deste exibicionismo, conforme
veremos no próximo tópico.
4. Princípios ou regras? O que
fazer em relação ao corpo humano? Criar um código de regras rígidas e
inflexíveis, como fazem os monges e legalistas? Evidentemente, como em todas as
áreas da nossa vida, o nosso corpo precisa de limites e de algumas regras para
viver bem, como alimentação balanceada, exercícios físicos, descanso e
acompanhamento médico. Entretanto, mais importante e mais eficiente que um
monte de regras, determinando o que podemos fazer ou não, é seguir os
princípios bíblicos em todas as áreas da nossa vida.
Em relação ao nosso corpo,
devemos seguir a reflexão proposta pelo comentarista neste ponto: o que
fazemos com o nosso corpo glorifica a Deus, ou visa agradar a nós mesmos? Será
que estamos agradando a Deus, ou estamos buscando a glorificação do nosso
corpo? O que estamos fazendo com o nosso corpo visa a saúde do corpo, ou temos
a pretensão de atrair os olhares?
Exibir o corpo com o objetivo de
provocar desejos sexuais nos outros é um pecado chamado na Bíblia de lascívia.
Por outro lado, olhar para o corpo de uma pessoa (homem ou mulher) com desejos
impuros é outro pecado chamado de impureza. Jesus deixou claro que, se um homem
olhar para uma mulher com desejos impuros, cometeu adultério com ela em seu
coração: “Eu, porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a
cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela”. (Mt 5.28).