21 janeiro 2025

COMO A BÍBLIA APRESENTA A SANTÍSSIMA TRINDADE

(Comentário do 1° tópico da lição 04: Deus é Triúno)

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, veremos como a Bíblia apresenta a Trindade. Inicialmente, veremos que não há nenhuma incompatibilidade entre a doutrina da Trindade e o monoteísmo judaico-cristão. Na sequência, falaremos das evidências da Trindade nos textos do Antigo Testamento. Por último, falaremos da revelação da doutrina da Trindade nos textos do Novo Testamento e nos credos da Igreja Cristã. 


1. A Trindade e o monoteísmo judaico-cristão. Mesmo após o advento do pecado, os filhos de Adão adoravam a um único Deus (Gn 4.3-5). Com a multiplicação do pecado, o mundo se afastou de Deus e se tornou politeísta. Nos dias de Noé, somente ele e sua família serviam a Deus. 

Quando Deus chamou Abrão para a partir dele formar a nação de Israel, o mundo era politeísta e idólatra, inclusive os pais dele (Js 24.2). Deus se revelou a Abrão como El Shaddai (Deus Todo-Poderoso), prometeu fazer dele uma grande nação e através desta nação abençoar a todos a humanidade. Era uma referência à vinda do Filho de Deus ao mundo para salvar a humanidade. 

Deus mudou o nome de Abrão para Abraão e cumpriu a promessa de dar-lhe um filho, prometendo que ele seria pai de uma multidão. A promessa foi repetida a Isaque, filho de Abraão, e a Jacó, filho de Isaque. Os filhos de Jacó mudaram-se para o Egito e lá foram escravizados. Deus os libertou e os conduziu à terra prometida. Enquanto estavam no deserto, Deus deu-lhes as suas leis e a nação de Israel foi formada como um povo monoteísta. 

No texto de Deuteronômio 6.4, que é a confissão de fé do Judaísmo, Yahweh é apresentado a Israel como o Único Deus Verdadeiro: “Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único Senhor”. No Decálogo há a expressa proibição de se adorar a outros deuses: Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.” (Êx 20.3,4).

Este mesmo Deus Único é apresentado no Novo Testamento, por Jesus, quando Ele respondeu a uma pergunta de um mestre da Lei, que lhe perguntou qual era o primeiro de todos os mandamentos da Lei. Jesus respondeu citando o texto do Shemah Israel: “O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.” (Mc 12.38).


a) Cada uma das três pessoas é chamada “Deus”. Conforme falamos acima, a Bíblia mostra claramente que há um Único Deus Verdadeiro e somente Ele deve ser adorado. Em Sua Lei, Deus deixou claro a Israel que Ele é o Único Deus e que eles não poderiam ter outros deuses. 

Entretanto, na mesma Bíblia vemos que não apenas o Pai, mas o Filho e o Espírito Santo também são chamados de Deus. Com relação ao Pai, não há dúvidas, pois Ele é chamado de Deus em toda a Bíblia. Entretanto, no texto de João 1.1, o apóstolo João diz: “...O Verbo era Deus”, referindo-se ao Filho. 

No Livro de Atos 5.3,4, Pedro repreendeu Ananias e disse: “...Por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo…? [...] Não mentiste aos homens, mas a Deus.” Ou seja, quem mente ao Espírito Santo está mentindo a Deus, pois Ele é Deus. 


b) Cada uma das três pessoas é cada “Senhor”. No hebraico não havia vogais, apenas consoantes. Com o passar do tempo colocaram alguns símbolos que indicavam vogais, conforme a pronúncia das palavras. O nome usado para se referir ao Deus de Israel era formado pelas letras hebraicas Iod, Hê, Vav e He, que correspondem às letras YHWH em português. Para não correr o risco de usar o nome de Deus em vão, os judeus pararam de pronunciá-lo e usavam em seu lugar a palavra Adonai que significa “Meu Senhor”. Na Versão Almeida Revista e Corrigida, onde aparece este Tetragrama no texto hebraico, foi usada a expressão “o SENHOR” com letras maiúsculas. 

Tanto YHWH como Adonai são usados apenas para se referir a Deus. Entretanto, YHWH é usado para se referir ao Pai como, por exemplo, no Salmo 110.1: “Disse o SENHOR (YHWH) ao meu SENHOR (Adonai): Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés.” 

Em Isaías 40.3 e em sua citação em Mateus 3.3, no entanto, o tetragrama é usado para se referir ao Filho: “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do SENHOR (YHWH); endireitai no ermo vereda a nosso Deus.” 

No texto de Ezequiel 8.1, o profeta disse que “... estando eu assentado na minha casa, e os anciãos de Judá, assentados diante de mim, que ali a mão do Senhor Jeová (YHWH) caiu sobre mim.” No versículo 3 do mesmo capítulo, ele diz: “... E estendeu a forma de uma mão e me tomou pelos cabelos da minha cabeça; e o Espírito me levantou entre a terra e o céu…”. Ou seja, o tetragrama neste caso, se refere ao Espírito Santo. 

Há ainda os casos em que YHWH é usado para se referir à Trindade, como no caso de Deuteronômio 6.4: “Ouve ó Israel, o SENHOR (YHWH) nosso Deus é o único Senhor (Adonai).” Neste texto, o tetragrama traduzido por SENHOR e a palavra Adonai traduzida por SENHOR no final do texto se referem à Trindade e não apenas ao Pai. 


c) O monoteísmo bíblico não contradiz a Trindade. O texto de Deuteronômio 6.4-9 é chamado de Shemá Yisrael, que são as primeiras palavras do início do texto de Deuteronômio 6.4: “Ouve Israel”. Na literatura hebraica, o título de um texto ou de um livro era a primeira palavra do texto e não um chamativo baseado no tema central da obra, como acontece atualmente. Por exemplo, o título hebraico do Livro de Gênesis é Bereshit (No princípio), que são as duas primeiras palavras do livro. 

O Shemá Yisrael é repetido em três textos da Torá: Dt 6.4-9,11.13-21 e Nm 15.37-41. É a confissão de fé do Judaísmo, a  qual é recitada pelos homens judeus, duas vezes por dia, uma ao amanhecer e outra, ao anoitecer. A primeira parte do Shemá é a proclamação da Unicidade, Unidade e Singularidade de Yahweh. 

Com base neste texto, os judeus rejeitam o politeísmo, o dualismo e a trindade. Entretanto, este texto não contradiz a doutrina da Trindade. Como explicou o comentarista, a palavra hebraica echad (pronuncia-se errad) traduzida por “único” não significa unidade de pessoas e sim unidade composta como, por exemplo, no caso de marido e mulher que se tornam “uma só carne” no matrimônio, mas continuam sendo duas pessoas. 


2. Evidência no Antigo Testamento. Além das evidências que vimos no subtópico anterior, que revelam a Trindade no Antigo Testamento, como o fato da Bíblia chamar as três pessoas de Deus e de Senhor, temos ainda outras evidências da pluralidade de Pessoas na Unidade de Deus. No primeiro versículo da Bíblia, a Trindade está presente. 

No texto em português não dá para perceber isso, mas no texto em hebraico fica claro. O texto de Gênesis 1.1 diz o seguinte: “No princípio criou Deus, os Céus e a Terra”. No texto hebraico, o sujeito traduzido por “Deus” neste versículo é Elohim. Em hebraico, a palavra Deus é El e a sua variação Elohah. Elohim é o plural de Eloah. 

O verbo criou no texto hebraico é “Bará” e está no singular. Ou seja, o sujeito está no plural e o verbo no singular. Em português, teríamos um erro de concordância verbal, pois em nossa gramática o verbo concorda com o sujeito. Então, a única explicação para isso é que Elohim (Deus no plural) é uma unidade composta e se refere à Trindade. 

Temos ainda no Antigo Testamento, os diálogos de Deus, no caso da criação do homem e no caso da construção da Torre de Babel. Quando Deus criou o homem, Ele disse: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1.26). Aqui, tanto o verbo “fazer”, como o pronome “nossa” estão no plural. 

Da mesma forma, quando homens ímpios intentaram construir a Torre de Babel, Deus falou: “Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro” (Gn 11.6,7). Com quem Deus estava falando, para usar os verbos descer e confundir na primeira pessoa do plural? Só poderia ser com as outras duas pessoas da Santíssima Trindade. 

Outro caso semelhante aconteceu na chamada do profeta Isaías. Depois que um dos Serafins voou e colocou na boca de Isaías uma brasa que tirara do altar e disse que o seu pecado havia sido purificado, Isaías ouviu uma voz do Céu perguntando: “A quem enviarei? Quem há de ir por nós?” (Is 6.8). Aqui também, o verbo enviar está no singular e o pronome está no plural. Ou seja, Deus é uma unidade, mas são três pessoas. 


3. Revelada no Novo Testamento. Se no Antigo Testamento, a Trindade está apenas implícita e não revelada diretamente, no Novo Testamento temos claramente a revelação das três pessoas distintas da Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, mas um Único Deus. 


a) A Trindade em si mesma. O comentarista apresenta aqui vários textos bíblicos tripartidos, ou seja, textos que revelam as três pessoas da Trindade. O primeiro deles é o texto da Grande Comissão, em Mateus 28.19 que diz: “Ide ensinai todas as nações, batizando-as em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. O segundo texto citado é 1 Coríntios 12.4-6 que fala da distribuição dos dons espirituais e diz: “Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.” Na sequência, o texto de 2 Coríntios 13.13 (ou 14 em algumas versões), que traz a benção apostólica: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo seja convosco”. Em todos estes textos está clara a existência de três pessoas divinas. Mas não são três deuses. 


b) A Trindade dos credos. Um credo é uma confissão pública resumida dos principais pontos da nossa fé. Nos primeiros séculos da Igreja surgiram várias heresias e os apologistas da Igreja precisaram se debruçar sobre as Escrituras e se posicionar contra as heresias. A partir do século II surgiu o primeiro resumo com a declaração de fé apostólica que, segundo a tradição, foi transmitida por eles. Segue abaixo as declarações dos três principais Credos que defenderam a doutrina da Trindade e na sequência, o trecho da Declaração de fé das Assembleias de Deus que trata do mesmo assunto. 


1) Credo Apostólico. Foi escrito no século II e é atribuído pela tradição aos apóstolos. As partes que eu destaquei em negrito são as que fazem menção às três pessoas da Trindade:


Creio em Deus Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo, seu Filho Unigênito, nosso Senhor; que foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria; sofreu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto, e sepultado, e desceu ao Hades; e ressuscitou da morte ao terceiro dia; que subiu ao Céu, e está sentado à mão direita de Deus, o Pai Todo-poderoso; de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo; na santa Igreja cristã, na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição da carne; e na vida eterna.


2) Credo Niceno (325 d.C). Foi a primeira formulação teológica da doutrina da Trindade, contra as heresias dos unicistas e unitaristas, contendo também a condenação da Igreja aos hereges:


Cremos em um só Deus, Pai Onipotente, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. E em um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, o Unigênito do Pai, que é da substância do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não feito, de uma só substância [homooúsios] com o Pai, por meio de quem todas as coisas vieram a existir, as coisas que estão no céu e as coisas que estão na terra, que por nós, homens, e por nossa salvação desceu e foi feito carne, e se fez homem, sofreu, e ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, e virá para julgar os vivos e os mortos. E também no Espírito Santo. Mas aqueles que dizem: “Houve um tempo quando ele não era”; e “Ele não era antes de ter nascido”; e “Ele foi feito do que não existe”, ou “Ele é de outra substância” ou “essência”, ou “O Filho de Deus é criado”, ou “mutável”, ou “alternável” — eles são condenados pela Igreja cristã e apostólica.


3. Credo Niceno-Constantinopolitano (381 d.C). Foi uma reafirmação e expansão do Credo de Nicéia. Este credo afirma também outros pontos da fé cristã, mas eu coloquei abaixo somente a parte que fala das três pessoas da Trindade:


“Cremos em um só DEUS, o Pai Todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas, visíveis e invisíveis. E em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, o gerado do Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz de Luz, Verdadeiro Deus de Verdadeiro Deus, gerado e não feito, da mesma substância do Pai […] E no Espírito Santo, o Senhor e Vivificador, o que procede do Pai e do Filho, o que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado…” 


3) Credo Atanasiano (Século VII). É atribuído a Atanásio, bispo de Alexandria no 4º século, mas foi composto no final do século V e alcançou a sua forma final no século VII. O credo de Atanásio contém uma das mais firmes defesas da doutrina da Trindade. Este também contém também outros pontos importantes da doutrina cristã, mas eu coloquei apenas a parte principal da defesa da Trindade, que é a parte que nos interessa nesta lição. 


“A fé universal é esta: que adoremos um Deus em trindade, e trindade em unidade; Não confundimos as Pessoas, nem separamos a substância.” 


4) A DECLARAÇÃO DE FÉ DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS. Este documento foi elaborado por uma comissão de teólogos assembleianos, presidida pelo Pr. Esequias Soares da Silva. A Declaração foi aprovada em 2016 e publicada em 2017. No capítulo III, que trata da Doutrina da Trindade foi escrito o seguinte: 


“CREMOS, professamos e ensinamos o monoteísmo bíblico, que Deus é uno em essência ou substância, indivisível em natureza e que subsiste eternamente em três pessoas — o Pai, o Filho e o Espírito Santo, iguais em poder, glória e majestade e distintas em função, manifestação e aspecto [.] As Escrituras Sagradas claramente revelam que a Trindade é real e verdadeira. Uma só essência, substância, em três pessoas. Cada pessoa da santíssima Trindade possui todos os atributos divinos: onipotência, onisciência, onipresença, soberania  e eternidade. A Bíblia chama textualmente de Deus cada uma delas; as Escrituras Sagradas, no entanto, afirmam que há um só Deus e que Deus é um” (1 Co 8.6; Gl 3.20; Ef 4.6).”


REFERÊNCIAS:


SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 

SOARES, Esequias. Declaração de Fé das Assembleias de Deus: Jesus salva, cura, batiza no Espírito Santo e em breve voltará. RIO DE JANNEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2017, p.40.

Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 38.

HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, pp.162-63. 

Bíblia de Estudo Apologia Cristã. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2016, p.1535.

20 janeiro 2025

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 4: DEUS É TRIÚNO

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Ev. WELIANO PIRES

Dando continuidade ao estudo da Doutrina de Cristo e das heresias cristológicas, que iniciamos na lição passada, estudaremos nesta lição a doutrina bíblica da Santíssima Trindade. Há três heresias principais contra esta doutrina que são o Unicismo, o Unitarismo e o Triteísmo. As duas primeiras receberam vários nomes, de acordo com os seus propagadores e as suas variações. Nesta lição abordaremos o Unicismo e o Unitarismo, que são heresias que se manifestam na atualidade com roupagens novas. 


Quando falamos sobre a Doutrina da Trindade, há uma série de acusações sem fundamento sobre ela, como a de que ela é uma doutrina pagã, que teria sido introduzida pelo imperador Constantino, no Concílio de Nicéia em 325 d. C. Mas isso é uma falácia, que não se sustenta à luz da história da Igreja. Acusam-nos também de politeísmo, por supostamente crer em três deuses, mas isso é triteísmo e não trindade. 


Outro questionamento dos movimentos que são contrários à doutrina da Trindade é que esta palavra não se encontra na Bíblia. De fato, a palavra trindade não aparece nas páginas da Bíblia, pois ela é derivada do latim trinitas, que significa “tríade”, “três em um” ou "triunidade”. Trata-se de um conceito teológico, para se referir à revelação bíblica de que há um Único Deus, eternamente subsistente em três Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Esta palavra foi usada pela primeira vez em 213 d.C., pelo teólogo, escritor e apologista Tertuliano de Cartago (160 – 220 d.C.). 


A Ideia de um Deus triúno está presente em toda a Bíblia, desde o relato da criação, embora os israelitas não tivessem esta compreensão, assim como não tinham uma compreensão correta a respeito de Messias e Salvação. Podemos perceber também que os apóstolos criam em um Deus Triúno, conforme demonstraremos ao longo desta lição.


No primeiro tópico, veremos como a Bíblia apresenta a Trindade. Inicialmente, veremos que não há nenhuma incompatibilidade entre a doutrina da Trindade e o monoteísmo judaico-cristão. Na sequência, falaremos das evidências da Trindade nos textos do Antigo Testamento. Por último, falaremos da revelação da doutrina da Trindade nos textos do Novo Testamento e nos credos da Igreja Cristã. 


No segundo tópico, falaremos das duas heresias antigas contra a doutrina da Trindade que são o Unicismo e o Unitarismo. Veremos o que é o Unicismo, como ele era conhecido nos primeiros séculos da Igreja e quais foram os principais heresiarcas deste movimento. O comentarista não falou a respeito da heresia do Unitarismo, mas é importante explicar, pois há seitas na atualidade que ensinam esta heresia. Por último, apresentaremos as contestações bíblicas a estas heresias. 


No terceiro tópico, falaremos dos movimentos unicistas da atualidade que pregam contra a Trindade. Inicialmente, o comentarista fala a respeito do do problema de grupos que se autodenominam evangélicos pentecostais, mas que ensinam o Unicismo de forma sutil, se infiltram em nosso meio, como o Grupo Voz da Verdade e a Igreja Tabernáculo da fé. Na sequência, faremos uma reflexão bíblica sobre que se converteram ouvindo músicas de grupos unicistas e outras que dizem sentir-se bem ao ouvi-las. Por último, falaremos da posição oficial da nossa Igreja sobre o Unicismo, apresentando o que diz a nossa Declaração de fé e o manifesto oficial da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil sobre o assunto.



REFERÊNCIAS:


SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 

Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 38.

HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, pp.162-63. 

Bíblia de Estudo Apologia Cristã. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2016, p.1535.

Manifesto da CGADB contra o Unicismo: https://cgadb.org.br/manifesto-contra-o-unicismo


16 janeiro 2025

COMO ESSAS HERESIAS SE REVELAM HOJE

(Comentário do 3° tópico da Lição 03: A encarnação do Verbo)

Ev. WELIANO PIRES

No terceiro tópico, veremos como estas heresias se apresentam na atualidade. Falaremos das heresias dos Mórmons e Igreja da Unificação que, segundo o comentarista, negam o nascimento virginal de Jesus e são a versão moderna da heresia de Cerinto. Na sequência, falaremos das heresias modernas que negam a crucificação e ressurreição de Jesus, propagadas pelo Islamismo. Por fim, falaremos da confirmação histórica da morte de Jesus por historiadores que não eram cristãos, como Flávio Josefo e Tácito. 


1. Quanto ao nascimento virginal de Jesus. Neste ponto, o comentarista cita os mórmons e a Igreja da Unificação como exemplos de grupos heterodoxos que negam o nascimento virginal de Jesus e que seriam, portanto, o ensino moderno de Cerinto. Entretanto, nós professores da Escola Dominical, temos compromisso com a verdade. Precisamos ter responsabilidade e pesquisar sobre as informações fornecidas pelo comentarista, para saber se elas são verídicas, para não reproduzirmos informações inverídicas ou deturpadas.

Evidentemente, o pastor Esequias Soares é um estudioso de apologética há muitos anos e um ensinador sério. Entretanto, com relação à crença dos Mórmons em relação ao nascimento de Cristo, eu assisti a aula do Ev. Tiago Rosas, onde ele apresentou o que os mórmons crêem a respeito de Jesus. Eu fiz questão de conferir no site oficial da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que é o nome oficial da Igreja e encontrei o seguinte:¹ 


“Acreditamos na divindade de Jesus Cristo como o Filho literal de Deus e um membro distinto da Trindade juntamente com Deus, o Pai, e o Espírito Santo. Jesus veio à Terra para passar pelas provações de uma vida mortal, ensinar e testificar sobre Deus, realizar milagres grandiosos e realizar Seu sacrifício expiatório, que nos permitiria ser purificados do pecado e ressuscitar.”


Em outro artigo², escrito por Joseph Fielding Smith, encontrei a seguinte declaração sobre o nascimento de Jesus:² 


“(…) Jesus foi a única pessoa nascida neste mundo que não teve um pai terreno. O Pai de Seu corpo é também o Pai de Seu Espírito e o Pai dos espíritos de todos os homens.” 


É claro que esta Igreja é uma seita, pois ensina várias heresias. Mas, pelas informações que vi no credo deles, não negam a corporeidade de Jesus, nem o seu nascimento virginal. Eles dizem que Jesus não foi gerado pelo Espírito Santo no ventre da virgem Maria e sim pelo Pai. Mas não negam que o nascimento virginal de Jesus. 

Quanto à Igreja da Unificação temos poucos documentos oficiais para consulta. O principal manual de doutrina desta denominação é o Livro “Princípio Divino”, escrito pelo seu fundador, o reverendo Moon. Neste livro, que está disponível na internet, há muitas coisas confusas e sem nenhum nexo. Há também heresias grotescas como a negação de que o sacrifício de Jesus teve o objetivo salvífico. Ele diz que Jesus foi crucificado por causa da incredulidade do povo e que fracassou em sua missão. Entretanto, eu não encontrei uma negação expressa do nascimento virginal de Jesus e de sua corporeidade, que é o assunto desta lição. Pode ser que o pastor Esequias Soares tenha outras fontes que comprovem estas afirmações, mas se tem, não as citou. 

Quem de fato nega o nascimento virginal de Jesus são os teólogos liberais e o judeus. Os primeiros negam a inerrância das Escrituras e só acreditam naquilo que pode ser comprovado empiricamente. Evidentemente, não é possível comprovar em laboratório que Jesus foi concebido pelo Espírito Santo, pois não havia exame de DNA naqueles tempos. Os Judeus, por sua vez, embora admitam a humanidade de Jesus, negam a Sua divindade e dizem que Ele era um ser humano normal, filho de Maria e José. 


2. Quanto à morte e à ressurreição de Cristo. Neste ponto, o comentarista cita a heresia de Basilides, um heresiarca gnóstico egípcio, que negava a crucificação de Jesus e dizia que Jesus havia sido confundido com Simão Cirineu, o homem que o ajudou a carregar a cruz, e este teria sido crucificado em seu lugar. Na atualidade, os muçulmanos defendem esta tese, dizendo que a crucificação não passou de uma simulação. Certamente foram influenciados por esta antiga heresia de Basilides. 

Interessante que a Bíblia ensina exatamente o contrário. Foi Jesus quem morreu em lugar dos pecadores e não o contrário. O sacrifício de Cristo foi um sacrifício expiatório (substitutivo). Várias pessoas que conheciam Jesus e andavam com Ele, testificaram a sua crucificação como Maria, sua mãe, outras mulheres que o seguiam, João, Pedro, José de Arimatéia e muitas pessoas de Jerusalém que o conheciam. Depois que ressuscitou, Jesus foi visto por mais de quinhentas pessoas. 


3. Confirmação histórica. Do ponto de vista bíblico, conforme vimos acima, é impossível negar a morte de Jesus, pois há abundantes comprovações. Não há como negar a morte de Jesus sem negar as Escrituras. No Antigo Testamento foram preditos os sofrimentos na sua morte, com riqueza de detalhes nos Salmos e no Livro do Profeta Isaías (Cf. Sl 22 e Is 53). No Novo Testamento temos registros de cada passo de Jesus desde sua prisão no Getsêmani, até a sua ressurreição e assunção ao Céu, com a presença de muitas testemunhas que posteriormente confirmaram os fatos que viram.


Além da confirmação bíblica, a morte de Jesus é confirmada também pela história, inclusive por historiadores que não eram cristãos. O comentarista citou dois deles: Flávio Josefo, historiador judeu do primeiro século que escreveu mencionou a condenação de Jesus por Pilatos e a sua crucificação; e o historiador romano Tácito, que viveu entre a segunda metade do século I e o início do século II, que também mencionou execução de Jesus durante o reinado de Tibério, pelo procurador Pôncio Pilatos. Estes dois relatos de historiadores que não eram cristãos, confirmam a narrativa bíblica. 


REFERÊNCIAS:


SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 

Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 37.

HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, pp.324,325.

OLSON, Roger. Contra a Teologia Liberal: Uma defesa cristã bíblica tradicional. Rio de Janeiro: CPAD, 2023, pp.54,55.

¹Jesus Christ Is Your Savior

² Capítulo 25: O Nascimento de Jesus Cristo: ‘Novas de Grande Alegria’

https://unification.net/portugues/pd1994/


A AFIRMAÇÃO APOSTÓLICA DA CORPOREIDADE DE JESUS

(Comentário do 2° tópico da Lição 03:  A encarnação do Verbo)

Ev. WELIANO PIRES

No segundo tópico, veremos as afirmações do apóstolo João sobre a humanidade de Jesus. Falaremos do significado da expressão “o que era desde o princípio”, usada por João, para afirmar a eternidade de Jesus, e a expressão “o Verbo de fez carne e habitou entre nós” que afirma que Jesus se humanizou e foi visto pelas pessoas. Na sequência, falaremos da reafirmação apostólica da humanidade de Jesus, expressa no Credo apostólico, que diz: “Padeceu sob Pôncio Pilatos”. Por fim, falaremos da crença herética de Cerinto, que negava o nascimento virginal de Cristo e a sua humanidade. Esta heresia foi refutada principalmente pelo apóstolo João em seus escritos.

1. “O que era desde o princípio” (I Jo 1.1). Os livros de Mateus, Marcos e Lucas são chamados de "Evangelhos Sinóticos" devido à semelhança dos relatos. Mateus e Lucas trazem detalhes importantes do nascimento de Jesus, desde o seu anúncio e também mencionam várias pessoas que testemunharam este fato. Falam também da genealogia de Jesus e mencionam os seus familiares. Marcos inicia falando de Jesus na idade adulta, no início do seu ministério e dá muita ênfase aos milagres que Ele fez. Mas ele mostra também Jesus como um ser humano entre as multidões. Estes três evangelistas expõem detalhes da vida humana de Jesus e não deixam dúvidas de que tinha um corpo físico.

O Evangelho segundo João, destoa um pouco, pois dá ênfase ao ministério de Jesus na vida adulta e aponta para a sua divindade.  João traz uma abordagem diferenciada do Ministério de Jesus, se compararmos com os outros três evangelistas. Por isso, os teólogos chamam o Evangelho segundo João de “Evangelho autótico”. João não faz menção ao nascimento de Jesus, nem à sua infância, como vemos nos Evangelhos sinóticos. Ele inicia falando de Jesus como o Verbo que estava no princípio com Deus e que era Deus. Fala também que o Verbo (Jesus) criou todas as coisas e sem Ele nada se fez (Jo 1.1-3). Neste aspecto João enfatiza a preexistência do Filho de Deus e a sua divindade.

Entretanto, João não deixa de mencionar claramente a humanidade plena de Jesus. No mesmo capítulo 1, ele escreveu: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”. (Jo 1.14). João afirma claramente que Jesus tomou a forma humana e habitou entre eles. Ele reafirmou esta verdade em suas Epístolas, como veremos abaixo. Na verdade, a referência no título deste subtópico é 1 João 1.1 e não João 1.1, como foi colocado na revista.

João não apenas falou da humanidade de Jesus, mas foi testemunha ocular desta verdade. João, Tiago, seu irmão, e Pedro, foram os discípulos mais próximos de Jesus. Ele participou de refeições junto de Jesus e dos demais discípulos. Viu-o andando, cansado e dormindo. Na ocasião da última Ceia, João reclinou a sua cabeça no peito de Jesus e constatou que havia um corpo humano ali e não apenas uma aparência, como ensinavam os docetas.

2. A reafirmação apostólica (v.1b). Em sua primeira Epístola, o apóstolo João não apenas reafirma o que disse no prólogo do Evangelho, quando disse que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós”, mas dá mais ênfase. Na segunda parte de 1 João 1.1, João afirma: “...o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida”. De forma redundante, para que não fique dúvidas, João diz que eles viram com os seus olhos, contemplaram e tocaram no corpo de Jesus.

Em várias ocasiões, os discípulos puderam tocar em Jesus e conversaram pessoalmente com Ele. Eles nunca tiveram dúvidas de que Jesus tinha um corpo físico. A dúvida que eles tinham antes da ressurreição era sobre a identidade de Jesus. Alguns pensavam que ele era um dos profetas que ressuscitou e outros pensavam que fosse um rei que Deus, como Davi, para libertá-los do domínio estrangeiro.

Os demais apóstolos também deixaram claro em suas Epístolas a humanidade de Jesus. Paulo, escrevendo aos Romanos disse: “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus, o qual antes havia prometido pelos seus profetas nas Santas Escrituras, acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne…” (Rm 1.1-3).

No credo apostólico, que é atribuído pela tradição da Igreja aos doze apóstolos, também está escrito sobre Jesus: “...Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.” A confissão apostólica de que Jesus nasceu da virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, sendo crucificado, morto e sepultado, não deixam dúvidas de que Ele tinha um corpo humano.

3. Uma crença herética (1Jo 4.2,3). O apóstolo João, conhecido entre os doze como “o discípulo a quem Jesus amava”, foi o único do colégio apostólico que não foi executado e o último a morrer. Durante a guerra judaica, entre 69 e 70 d.C., João mudou-se para a Ásia Menor e viveu em Éfeso por muitos anos. Durante o reinado de Dominicano, ele foi exilado na Ilha de Patmos, onde recebeu as revelações do Apocalipse.

O Docetismo se espalhou entre os cristãos de Éfeso. Cerinto, que era natural de Antioquia, passou por Alexandria e se estabeleceu em Éfeso. Lá encontrou a resistência firme do apóstolo João contra as suas heresias. João escreveu o Evangelho que leva o seu nome e as três Epístolas, onde ele enfatiza a divindade e humanidade de Jesus, contestando as heresias que perturbavam a Igreja de Éfeso. João foi incisivo contra estes hereges e disse que todo aquele que nega a humanidade de Jesus não é de Deus, mas é o espírito do Anticristo.

O comentarista explica a gravidade desta heresia que nega que Jesus teve um corpo físico. Não se trata apenas de uma divergência teológica em questões secundárias. Negar que Jesus se encarnou, compromete todo o Plano de redenção, pois se Cristo não teve corpo, também não foi crucificado e não ressuscitou. Nesse caso, como disse Paulo, seria vã a nossa fé e os que morreram em Cristo estariam perdidos (1Co 15.1-3,17,18).

A VERDADEIRA ADORAÇÃO

Subsídio da Revista Ensinador Cristão /CPAD.  O episódio relatado nesta lição destaca um dos ensinamentos mais preciosos do Evangelho: a ver...