25 abril 2023

A INFLUÊNCIA NEGATIVA DA MURMURAÇÃO

(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 05: Motim em família).

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, falaremos sobre a influência negativa da murmuração. Falaremos sobre as murmurações do povo, que antecederam este motim de Miriã e Arão. Depois falaremos das três queixas levantadas contra Moisés pelo povo e por seus próprios irmãos: a queixa de que Moisés os trouxe para morrer de fome no deserto; a queixa contra o Maná, o alimento que Deus mandava diariamente; e a queixa dos irmãos de Moisés contra a sua liderança. 

1. Assim nasce um motim. A palavra motim traz a ideia de um grupo de pessoas reunidas, em atitudes de desobediência ou reação negativa contra regras e ordens estabelecidas num grupo social. Motim, portanto, é um ato de rebeldia contra um poder ou autoridade estabelecida. Para esta lição, usaremos como exemplo, o caso de Miriã e Arão, irmãos de Moisés, que se levantaram contra a liderança dele sobre o povo de Israel. 

Este motim foi o clímax de um problema antigo, que acompanhava Israel desde o Egito, que era a murmuração. Segundo o Dicionário bíblico Wycliffe, o verbo “murmurar” traduz as palavras hebraicas e gregas: gogguzo, diagogguzo, embrimaomai e um substantivo grego, goggusmos. Estas palavras têm o sentido de resmungar ou murmurar um discurso subalterno ou semi-articulado. Envolve também o descontentamento, queixa, insatisfação, desacordo, ira, oposição e rebelião. 

Quando ainda estavam no Egito, Deus mandou Moisés e Arão falarem a Faraó, para que deixasse o povo sair do Egito (Ex 5.1-5). Faraó se irritou com aquilo, entendeu que o povo estava ocioso demais e mandou aumentar as exigências do serviço. Aqueles que não cumprissem a produção exigida seriam açoitados (Ex 5.6-19). O povo, então, murmurou e culpou Moisés e Arão pelo castigo. 

Após a saída do Egito, quando chegaram diante do Mar Vermelho, percebendo que o Exército de Faraó vinha atrás deles e não teriam como fugir, novamente os israelitas murmuraram contra Moisés e Arão: “E disseram a Moisés: Não havia sepulcros no Egito, para nos tirar de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos fizeste isto, fazendo-nos sair do Egito? Não é esta a palavra que te falamos no Egito, dizendo: Deixa-nos, que sirvamos aos egípcios? Pois que melhor nos fora servir aos egípcios, do que morrermos no deserto.” (Ex 14.11,12). Mesmo vendo todos os milagres que Deus fizera no Egito para livrá-los, eles não confiaram em Deus e culparam Moisés e Arão, como se eles fossem os responsáveis por tirar o povo do Egito. Ora, eles apenas cumpriram o que Deus ordenou. Portanto, esta murmuração era uma ofensa ao próprio Deus. 

Deus abriu o Mar Vermelho, o povo passou a pés enxutos e os egípcios pereceram. O povo viu este grande milagre e Miriã e Moisés cantaram louvores a Deus. Três dias depois, não acharam água potável no deserto. Acharam apenas as águas amargas de Mara. Novamente, o povo levantou a voz contra Moisés e murmurou (Ex 15.23). Deus fez o milagre e transformou aquelas águas amargas em águas doces. 

Chegando ao deserto de Sim, toda a congregação de Israel novamente murmurou contra Moisés e Arão, reclamando que no Egito tinham panelas de carne e comiam até se fartar. Agora, segundo eles, Moisés e Arão os trouxeram para morrer de fome no deserto (Ex 16.3). O Senhor ouviu aquela reclamação e mandou codornizes e uma comida do Céu chamada Maná (Ex 16.11-15). 

Depois, em Refidim, novamente o povo sentiu falta de água e murmurou contra Moisés, exigindo água para beber. Estavam a ponto de apedrejá-lo e Moisés clamou ao Senhor (Ex 17.1-4). Deus mandou Moisés bater na rocha com o seu cajado e dela saiu água para o povo beber. 

No capítulo 11 de Números, que está na nossa Leitura Bíblica em Classe, temos mais dois episódios de murmuração. No primeiro, o povo reclamou da falta de carne, chorando com saudade dos cardápios de carnes e legumes do Egito, e mostrando desprezo pelo Maná que Deus lhes mandava todos os dias (Nm 11.1-6). A ira de Deus se acendeu contra os murmuradores e o fogo de Deus consumiu os que estavam na primeira fileira. No segundo episódio temos Miriã e Arão murmurando contra a liderança de Moisés, reclamando do casamento com a mulher cuxita e exigindo equiparação na liderança pois, segundo eles, Deus havia falado com eles também e não apenas com Moisés (Ex 12.1,2). No próximo subtópico, falaremos detalhadamente, sobre cada uma destas queixas. 

Temos ainda no Livro de Números o registro de mais dois casos de murmuração. No capítulo 14, Moisés enviou doze líderes de tribos para espiar a terra prometida. Na volta, dez deles trouxeram um relatório negativo, dizendo que o povo lá era muito forte. Somente dois deles, Josué e Calebe, discordaram do relatório e encorajaram o povo a prosseguir. O povo murmurou contra Moisés e Arão, decidiram constituir um líder para voltar ao Egito e quiseram apedrejar Josué e Calebe. Deus se manifestou e quis destruir o povo. Mas Moisés intercedeu por eles. Deus não os destruiu, mas determinou que eles não entrariam na terra prometida, exceto, Josué, Calebe e os filhos daquela geração (Nm 14. 1-38). 

Por último, no capítulo 16 de Números temos a rebelião de três levitas: Coré, Datã e Abirão, que juntaram duzentos e cinquenta homens de posição e se rebelaram contra a liderança de Moisés e Arão dizendo: “Basta-vos, pois que toda a congregação é santa, todos são santos, e o Senhor está no meio deles; por que, pois, vos elevais sobre a congregação do Senhor?” (Nm 16.3). Moisés tentou fazer uma reunião com eles e mandou chamá-los. Mas eles se recusaram a comparecer (Nm 16.12). Deus mandou que Moisés e toda a congregação se afastassem dos rebeldes. Quando se afastaram, a terra se abriu e os tragou vivos, com tudo o que possuíam (Nm 16.32,33). 

2. A primeira queixa. Conforme vimos acima, as queixas e reclamações dos israelitas não eram mais novidade para Moisés. Desde que Deus o chamou para libertar o povo da escravidão do Egito, ele passou a conviver com a ingratidão, incompreensão, murmuração e rebeldia deste povo. Entretanto, Moisés como um tipo de Cristo, colocava-se como mediador entre Deus e o povo e intercedia constantemente por eles a  Deus, para que não fossem destruídos. 

O comentarista coloca aqui três queixas do povo de Israel contra Moisés, com base nos capítulos 11 e 12 de Números. Claro que aconteceram muitas outras, conforme relatamos no subtópico anterior. Mas, por causa da limitação do espaço, ele se deteve nestas três. A primeira queixa dos israelitas no capítulo 11, diz respeito à acusação deles de que Moisés os havia tirado do Egito para que eles morressem de fome no deserto, e que deveria tê-los deixado lá. 

Ora, esta queixa demonstra toda a covardia e ingratidão deles para com Deus e Moisés. Eles não foram tirados do Egito à força, nem por vontade de Moisés. O povo de Israel vivia na escravidão no Egito, em trabalhos forçados, sendo açoitados e ameaçados de extinção. Além da escravidão e dos açoites, Faraó temendo o crescimento de Israel, mandou matar todas as crianças do sexo masculino (Ex 1.1-22). Neste contexto de escravidão e sofrimento, o povo gemeu por causa da escravidão e clamou a Deus. Deus ouviu o seu clamor e lembrou-se da aliança que fizera com Abraão, Isaque e Jacó (Ex 2. 23-25). Diante disso, Deus chamou Moisés para libertar Israel da escravidão e ele relutou o quanto pôde. Portanto, esta queixa de que Moisés os tirara do Egito para morrer no deserto era injusta e descabida. 

3. A segunda queixa (Nm 11.4-7). Por causa da primeira queixa, o fogo de Deus consumiu os murmuradores que estavam na linha de frente. Mesmo assim, o povo não se humilhou, nem se arrependeu. Continuaram com as reclamações agressivas contra Moisés. Desta vez reclamaram da comida que Deus mandava diariamente para eles e faziam menção às comidas que comiam no Egito. Quem lê este relato e não conhece a história da escravidão, tem a impressão de que esse povo vivia na riqueza ou em palácios no Egito. Ora, eles eram escravos e viviam sob intensa opressão. Tanto que que gemeram e pediram socorro a Deus! 

Além disso, eles esqueceram dos inúmeros benefícios que Deus lhes fez, desde o dia em que enviou Moisés e Arão para libertá-los. A partir dali, mesmo ainda sendo escravos, a vida deles não era a mesma. Deus mandou dez pragas contra o Egito e nenhuma delas atingiu Israel. Deus abriu o Mar Vermelho para eles passarem e matou os inimigos deles afogados. No deserto, Deus providenciou água, codornizes e o Maná, uma comida que caía do Céu diariamente. Deus cuidou deles para que as roupas e calçados não se acabassem e os protegia do calor e frio no deserto. 

Toda murmuração contra Deus representa ingratidão, pois Deus é bom e tudo quanto somos e temos, devemos a Ele. Deus nos deu a vida, o meio ambiente para vivermos, os recursos naturais para deles obtermos o nosso sustento, a saúde e a salvação das nossas almas. Mesmo os que não servem a Deus não tem motivos para reclamar dele, pois Ele é bom e oferece os benefícios naturais aos justos e injustos: “Para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos.” (Mt 5.46). 

4. A terceira queixa (Nm 12.1-3). Após a murmuração do povo no capítulo 11 de Números, temos agora a terceira queixa, registrada no capítulo 12. Trata-se de uma rebelião dentro da família de Moisés, movida pela inveja dos seus irmãos, contra a sua liderança. O argumento inicial deles foi contra o casamento de Moisés com uma mulher cuxita. Não temos informações bíblicas sobre este casamento. Mas, certamente não se trata de Zipora, a esposa de Moisés, que era de Midiã, descendente de Abraão com Quetura, a sua segunda esposa. Os cuxitas não pertenciam aos povos semitas e eram descendentes de Cam, o filho de Noé que foi amaldiçoado. Era um povo considerado vil e desprezível aos olhos dos hebreus. 

A sequência da murmuração, no entanto, demonstra que a reclamação de Miriã e Arão não era apenas por causa do casamento. Eles reclamaram da liderança de Moisés, pois queriam liderar também. Por serem mais velhos que Moisés, eles achavam que tinham direito a participar das decisões. Entretanto, a liderança de Moisés não era democrática, aristocrática ou monárquica. Moisés não herdou a liderança, não foi escolhido por homens, nem tampouco quis ser líder do povo de Israel. O próprio Deus o chamou pessoalmente e ele foi contra a sua vontade. 

Podemos pontuar algum erro de um líder da Igreja, ou mesmo criticá-lo quando for repreensível. Entretanto, precisamos tomar cuidado para não ir contra a liderança da Igreja que foi estabelecida por Deus, pois, neste caso, constitui-se em rebelião contra o próprio Deus. Todos aqueles que se levantam contra a liderança que foi estabelecida por Deus, sofrem terríveis consequências. 


REFERÊNCIAS: 

CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 84-89.

PFEIFFER, Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. 2 Ed. 2007. pág. 1316.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 641, 642. 

DU BOIS, Lauriston J. Comentário Bíblico Beacon: Números. Editora CPAD. pág. 343-344.

CLARKE, Adam. Comentário Bíblico de Adam Clarke.

24 abril 2023

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 05: MOTIM EM FAMÍLIA

Ev. WELIANO PIRES

REVISÃO DA LIÇÃO PASSADA: ÍDOLOS EM FAMÍLIA

Na lição passada estudamos sobre os ídolos na família. Falamos a respeito da idolatria, não de modo geral, mas no ambiente familiar. Tomamos como base dois exemplos bíblicos: primeiro, o caso de Raquel, a esposa amada de Jacó, que furtou os ídolos do pai dela; segundo, o caso de um homem da tribo de Efraim, chamado Mica, que construiu um ídolo e um santuário idólatra em sua própria casa. 


Depois de vinte anos trabalhando com o seu sogro, Jacó e sua família saíram escondidos e voltaram para a terra dos seus pais. Raquel furtou os ídolos do seu pai, Labão. Quando descobriu que os seus ídolos domésticos haviam sido furtados, Labão foi atrás de Jacó. Depois que o alcançou, Labão vasculhou as tendas, mas não encontrou os ídolos. Raquel os escondeu na sela do camelo e usou uma mentira para impedir que o pai não revistasse o camelo.


Falamos também sobre um santuário de deuses na casa de um homem das montanhas de Efraim, chamado Mica. O povo de Israel vivia uma anarquia e se entregou ao sincretismo religioso. Neste contexto surge a figura de Mica, um homem idólatra, antiético e de comportamento abominável, que roubou a própria mãe, sem que ela soubesse quem era o ladrão. A mãe lançou maldição e ele, com medo da maldição, devolveu o dinheiro. Com o dinheiro, a mãe dele mandou construir um ídolo e Mica nomeou o seu filho como sacerdote deste ídolo. Era uma família de Israelitas, que dizia servir a Deus, mas tinha em sua própria residência uma "casa de deuses", representados por pequenos ídolos, chamados de "terafins". 


Por último estudamos sobre a idolatria dentro dos lares na atualidade. Identificamos também os principais ídolos domésticos atuais, que estão presentes na chamada “cultura da mídia”. Entretanto, os meios de comunicação não são os únicos ídolos domésticos da atualidade. Há muitos outros ídolos nos corações, como o desejo descontrolado de ganhar dinheiro, a preocupação excessiva com o próprio corpo, a obsessão pela fama, o hedonismo, etc. Precisamos urgente reagir e quebrar os ídolos domésticos que ocupam o lugar de Deus na família. 


INTRODUÇÃO À LIÇÃO 05: MOTIM EM FAMÍLIA


O nosso tema esta semana são os motins na família. Motim é um ato de rebeldia contra um poder ou autoridade estabelecida. Usaremos como exemplo bíblico para está lição, o caso de Miriã e Arão, irmãos de Moisés, que se levantaram contra a liderança dele sobre o povo de Israel. 


Os irmãos de Moisés reclamaram do fato dele ter se casado com uma mulher cuxita, que não pertencia à família dos hebreus e era descendente de Cam. Miriã e Arão insinuaram que Moisés estaria querendo ter a primazia entre o povo e exigia equiparação, pois, segundo eles, Deus havia falado com eles também. Mas eles estavam muito enganados, pois, Moisés nunca quis ser líder de Israel. Foi Deus que o chamou pessoalmente  em Midiã e ele relutou o máximo que pôde.  


Ora, a família é o primeiro grupo social estabelecido por Deus e deve ser um ambiente harmonioso e seguro, onde todos os membros se respeitam e cooperam mutuamente para a comunhão e valorização mútua. Esta rebelião, motivada pela inveja, foi praticada no seio da família, provocando a desunião entre os irmãos. Como membros da família, cabia a eles orar por Moisés e ajudá-lo e não murmurar. Deus não se agrada desse tipo de coisa e tratou com rigor este levante dos irmãos contra Moisés. Enquanto eles murmuravam, Deus mandou que os três saíssem da tenda. Em seguida, defendeu a liderança de Moisés, repreendeu os outros dois e Miriã, que liderou o motim, ficou leprosa. Que isso sirva de alerta para aqueles que afrontam os pais e a liderança da Igreja. 


No primeiro tópico, falaremos sobre a influência negativa da murmuração. Falaremos sobre as murmurações do povo, que antecederam este motim de Miriã e Arão. Depois falaremos das três queixas levantadas contra Moisés pelo povo e por seus próprios irmãos: a queixa de que Moisés os trouxe para morrer de fome no deserto; a queixa contra o Maná, o alimento que Deus mandava diariamente; e a queixa dos irmãos de Moisés contra a sua liderança. 


No segundo tópico, falaremos do motivo da rebelião de Miriã e Arão contra Moisés. Veremos que esta rebelião foi motivada pela inveja dos dois irmãos que, inconformados com o papel que Deus lhes deu, respectivamente, de profetisa e sumo sacerdote, sentiam-se no direito de liderar o povo também. Depois veremos que o motim no seio da família promove dissabores e ofensas entre os seus membros. A falta de respeito entre os membros de uma família causa  desequilíbrio e desunião na família. 


No terceiro tópico, falaremos da mansidão e humildade de Moisés. O texto de Números 12.3 afirma que Moisés era o homem mais manso que havia sobre a terra, por isso não revidou aos ataques injustos dos seus irmãos contra ele. Falaremos também do fardo que é uma liderança do povo de Deus. Moisés sofreu muitas murmurações e rebeldia do povo de Israel. Ele chegou a desabafar com Deus, achando pesado o seu cargo (Nm 11.11-15). Por último, falaremos da punição de Deus contra Miriã e Arão. Deus se manifestou do meio da nuvem e deixou claro que Ele escolhera Moisés e que falava com ele de forma diferenciada. Imediatamente, Miriã ficou leprosa e teve que ser retirada do meio da congregação. Não sabemos porque Deus não puniu Arão da mesma forma. Segundo o comentário de John Wesley, “Miriã foi punida e Arão não, porque ela foi a chefe da transgressão ou porque Deus não teria sua adoração interrompida ou desonrada, o que deveria ter acontecido se Arão tivesse sido leproso.”


REFERÊNCIAS: 


CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 83-84.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 641.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. A.T. Vol. I. Editora Central Gospel. pág. 430.

Estudo de Números 12:.0 – Comentado e Explicado: Comentário de John Wesley. 


22 abril 2023

A IDOLATRIA DENTRO DOS LARES



(Comentário do 3⁰ tópico da Lição 04: Os ídolos na família).

Ev. WELIANO PIRES

Vimos nos dois tópicos anteriores os casos de ídolos domésticos, protagonizados por Raquel e por Mica. A primeira, buscava obter vantagem econômica ou talvez algum tipo de proteção. O segundo fez um ídolo, consagrou o seu próprio filho como sacerdote e mandou fazer um manto sacerdotal, para ter um culto à sua maneira, ignorando os parâmetros da Lei do Senhor.


Neste terceiro tópico falaremos sobre a idolatria dentro dos lares na atualidade. Tudo aquilo que requer honra, lealdade e dedicação acima de Deus, pode ser considerado um ídolo. Identificaremos os principais ídolos domésticos atuais, que estão presentes na chamada “cultura da mídia”. Precisamos, urgentemente, reagir e quebrar os ídolos domésticos que ocupam o lugar de Deus na família. 


1- Os ídolos domésticos dos tempos atuais. Em nosso texto áureo, temos o alerta do apóstolo João, à Igreja do seu tempo: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1Jo 5 21). A região para onde o apóstolo escreveu era a Ásia Menor, uma região completamente entregue à idolatria. Além dos inúmeros deuses pagãos, havia pequenos ídolos e amuletos por toda parte. Em Éfeso, principal cidade da Ásia Menor que depois se tornou a capital desta província romana, estava o templo de Diana, que era uma das sete maravilhas do mundo antigo. Por causa do culto a Diana, vinha gente de várias partes do mundo para esta adoração. 


Em Éfeso também havia um negócio muito lucrativo dos ourives que fabricavam pequenos amuletos. Acreditava-se que o poder de Diana estava presente nestes objetos e que estes garantiam proteção, fertilidade e segurança econômica e política. Era muito forte também em Éfeso, a magia e a feitiçaria. Por todos os cantos da cidade estavam disponíveis os encantamentos, a astrologia e o exorcismo. Para completar era exigido o culto ao Imperador, inclusive queimava-se incenso a ele. 


Como João escreveu à Igreja, é bem provável que não era aos deuses que ele se referia. Este versículo é uma espécie de resumo da Epístola e se refere à idolatria espiritual, ou seja quando há honra demasiada a qualquer pessoa, instituição, objeto a si mesmo, tomando o lugar que é de Deus. A Bíblia Viva traduz assim este versículo: “Meus queridos filhos, afastem-se de qualquer coisa que possa tomar o lugar de Deus no coração de vocês”. Sobre esta recomendação do apóstolo João, o pastor Hernandes Dias Lopes assim escreveu: "Os mesmos ídolos ainda nos tentam: dinheiro, segurança, prazer, pessoas, carreiras e posses são ídolos que exigem que cultuemos a eles em vez de prestar culto a Deus. Nossos ídolos podem ser qualquer coisa ou pessoa que ameace ocupar o trono do nosso coração. Substitutos de Deus podem exigir muito de nosso tempo, dinheiro e energia."


2- Identificando os ídolos modernos dentro dos lares. No mundo antigo, os ídolos eram de ouro, prata, gesso, madeira, barro, etc. Eram reconhecidos e cultuados como se fossem realmente deuses. Muitos cristãos que vieram do paganismo tinha dificuldades de abandonar completamente estes ídolos. Na atualidade, pelo menos no meio evangélico, não existem ídolos desse tipo. Não vemos nas casas dos crentes, estatuetas de deuses ou imagens de escultura, servindo de instrumentos de proteção. Entretanto, há outros tipos de ídolos que ocupam o lugar de Deus em muitos corações. Quais são os ídolos que se instalam nos lares nos dias atuais? 


O comentarista coloca os meios eletrônicos de comunicação (rádio, televisão e internet) como instrumentos a serviço "da concupiscência da carne, da concupiscência dos olhos e da soberba da vida," que são as três principais portas de entrada para o pecado. (1 Jo 2.16,17). De fato, os meios de comunicação, embora sejam indispensáveis à vida moderna e tenham muita utilidade, oferecem muitos riscos, servindo como instrumentos de manipulação diabólica e podem roubar o nosso tempo de dedicação às disciplinas da vida cristã: oração, leitura e meditação na Palavra de Deus. 


Recentemente tivemos uma lição em nossa Escola Bíblica Dominical, falando sobre "a sutileza das mídias sociais", comentada pelo Pr. José Gonçalves. Na ocasião, foi destacado os aspectos positivos das mídias sociais, para a comunicação e principalmente para a proclamação do Evangelho. Entretanto, foi alertado para os problemas advindos delas. As redes sociais contribuem para a desumanização do ser humano, pois as pessoas trocam o real pelo virtual e mostram um universo fictício em seus perfis nas redes sociais. 


Há também outros problemas graves nas redes sociais, como o mundanismo, o materialismo, o hedonismo, a sensualidade e o narcisismo. A facilidade de se comunicar escondido tem levado muitos a flertar com o pecado, trocando mensagens e imagens íntimas, que levam ao adultério e à fornicação. Os criminosos, como pedófilos, traficantes e golpistas, também estão escondidos nas redes sociais. Por isso, todo cuidado é pouco, principalmente com adolescentes, crianças e idosos. 


Os meios de comunicação não são os únicos ídolos domésticos da atualidade. Há muitos outros ídolos nos corações, como o desejo descontrolado de ganhar dinheiro, a preocupação excessiva com o próprio corpo, a obsessão pela fama, o hedonismo, que é a busca pelo prazer a qualquer custo, etc. Estes e outros ídolos modernos constituem-se em grandes empecilhos para as pessoas servirem a Deus. Se Deus pedisse para as pessoas abrirem mão de qualquer uma destas coisas para servi-lo, imediatamente as pessoas se "retirariam tristes", como fez o jovem rico (Mt 19.22). 


3- Precisamos reagir contra os inimigos da família. Diante de tantos ídolos domésticos modernos precisamos, urgentemente, reagir para evitar que a nossa família e a nossa comunhão com Deus sejam destruidas por eles. Mas, o que fazer para combater e destronar estes ídolos do nosso lar? O primeiro passo, como vimos acima, é identificá-los. Para saber se há ídolos em nosso lar ou no nosso coração, precisamos fazer uma varredura e destruir tudo aquilo que estiver recebendo honra e dedicação igual, semelhante, ou maior do que aquela que é devida somente a Deus. 


No Sermão do Monte, Jesus disse que os seus discípulos são "o sal da terra…" (Mt 5.13). 

A principal função do sal sempre foi dar sabor aos alimentos. Qualquer alimento, exceto os que são adocicados, não tem graça nenhuma se não tiver sal. A outra função do sal, nos tempos bíblicos era a preservação da carne, pois, não havia refrigeração como hoje. Sendo assim, além da sua função principal que usamos atualmente como item de tempero para dar sabor, o sal servia para preservar a carne da putrefação. 


Estas duas funções do sal, dar sabor e preservar os alimentos, ilustram a diferença que o cristão deve fazer neste mundo, exercendo uma boa influência, através da moderação, amabilidade, paz, justiça, etc. É importante destacar que o cristão não é um sal no saleiro. Jesus falou que somos o sal na terra, para dar sabor. Neste sentido, o sal precisa se misturar aos alimentos e não ficar isolado. Durante muito tempo, alguns cristãos tinham uma postura antissocial e isolacionista. Mas Jesus nunca agiu assim. Aliás, esta era uma das principais razões das críticas, que ele recebia dos escribas e fariseus, pelo fato de ir às casas de publicanos e pecadores. 


Esta analogia entre os discípulos de Jesus e o sal indica que a Igreja é a única instituição neste mundo, que tem a prerrogativa de impedir a degeneração generalizada dos valores morais e espirituais neste mundo, evitando assim, a sua destruição. 

 

REFERÊNCIAS:


CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pag. 73-77.  

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 6. pag. 303.

LOPES, Hernandes Dias. 1, 2, 3 JOÃO: Como ter garantia da salvação. Editora Hagnos. pag. 123-126; 225-227.

GONÇALVES, José. Os ataques contra a Igreja de Cristo: As sutilezas de Satanás neste dias que antecedem a volta de Jesus Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. 

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. 2a Impressão: 2010. Vol. 2. pag. 773-774.

RIENECKER, Fritz.  Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica Esperança. 1° Ed. 1998.

SPROUL, R. C. Estudos bíblicos expositivos em Mateus. 1° Ed 2017. Editora Cultura Cristã. pag. 77-78.

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 37-40.

20 abril 2023

UM SANTUÁRIO DE DEUSES NA CASA DE MICA


(Comentário do 2⁰ tópico da Lição 04: Os ídolos na família).

Ev. WELIANO PIRES

No segundo tópico daremos um salto histórico, do período dos patriarcas para o período dos juízes. Falaremos sobre um santuário de deuses na casa de um homem das montanhas de Efraim, chamado Mica. Nesse período,  o povo de Israel vivia uma anarquia e se entregou ao sincretismo religioso. Neste contexto surge a figura de Mica, um homem idólatra, antiético e de comportamento abominável, que roubou a própria mãe, sem que ela soubesse quem era o ladrão. A mãe lançou maldição e ele, com medo da maldição, devolveu o dinheiro. Com o dinheiro, a mãe dele mandou construir um ídolo e Mica nomeou o seu filho como sacerdote deste ídolo. Era uma família de Israelitas, que dizia servir a Deus, mas tinha em sua própria residência uma "casa de deuses", representados por pequenos ídolos, chamados de "terafins". 


1- A idolatria e o caráter antiético de Mica (Jz 17.1-4). O povo de Israel serviu ao Senhor durante todos os dias de Josué. Entretanto, Josué não preparou um sucessor e após a sua morte, o povo ficou sem liderança espiritual e virou uma anarquia. Cada um fazia aquilo que achava correto. O povo não expulsou completamente os povos que viviam na terra de Canaã, conforme o Senhor havia ordenado. A convivência com alguns destes estrangeiros e a falta de liderança espiritual acabou fazendo com eles se entregassem à idolatria e ao sincretismo religioso, que é a mistura de elementos de várias crenças em um culto. 

O povo de Israel entregou num ciclo vicioso: pecavam contra Deus e Deus levantava inimigos para os libertar; o povo clamava a Deus e Deus levantava um juiz que os libertava; depois da morte do libertador, o povo se entregava de novo à idolatria. Este período durou aproximadamente 300 anos, desde a morte Josué até os dias de Samuel. 

Foi neste contexto de anarquia e falta de liderança espiritual, que viveu Mica, um homem da Montanha de Efraim, cujo nome significa "Quem é como Yahweh?". A sua história está registrada nos capítulos 17 e 18 de Juízes. Não temos informações sobre a família de Mica. Sabemos apenas que ele vivia com a mãe e tinha um filho. Apesar do nome dele ter uma referência positiva ao Deus de Israel, Mica tinha sérios desvios de caráter e teológicos. Primeiro, ele furtou mil e cem siclos de prata da da própria mãe. Considerando que um siclo de prata era o equivalente ao salário de um mês de trabalho, era um valor bastante alto.  

A mãe de Mica, sem saber que o ladrão era o próprio filho, começou a amaldiçoá-lo. Naquele tempo o povo acreditava que o poder divino estava por trás da benção e da maldição. Por isso, Mica teve medo e acabou devolvendo o dinheiro furtado à sua mãe. A mãe de Mica, ao invés de repreender o filho, mandou o ourives construir um ídolo, com parte do dinheiro devolvido. Isso nos mostra que este era o propósito inicial dela, ao guardar esta quantidade de dinheiro. Provavelmente ela era uma comerciante rica, pois não era normal uma mulher ter tanto dinheiro naquele tempo. 


2- A abominação de Mica (Jz 17.5). A família de Mica, embora aparentemente servirem a Deus, como mostram as declarações e o próprio nome de Mica, eles violavam a Lei Mosaica em vários mandamentos. Mica construiu em sua própria casa um santuário para estes pequenos deuses, chamados de "terafins". Ele foi mais além e mandou fazer um éfode, que era um manto litúrgico, usado apenas pelos sacerdotes de Israel. Depois consagrou um dos seus filhos para exercer o sacerdócio em sua casa. E tinha este homem, Mica, uma casa de deuses, e fez um éfode e terafins, e consagrou a um de seus filhos, para que lhe fosse por sacerdote.” 

Deus abomina todas as formas de idolatria, mas ela não se limita à adoração de outros deuses. A idolatria começa quando o ser humano introduz formas de culto diferentes dos parâmetros que Deus estabeleceu em sua Palavra. Sobre isso, assim diz Champlin: "O culto estranho começou na casa de Mica, mas não demorou a desenvolver-se sob forma mais elaborada. E foi assim que a idolatria cresceu e floresceu, e tudo feito no nome de Yahweh! E isso tem prosseguimento até os nossos próprios dias, dentro das igrejas cristãs."


3- Mica tinha uma casa de deuses (Jz 17.5,6). A religião de Mica se afastara completamente do monoteísmo judaico e da Lei que o Senhor entregou a Moisés. Os cultos na casa de Mica eram semelhantes ao que aconteceu com o Catolicismo Romano, onde se acrescentou por conta própria, vários elementos e práticas que contrariam a Palavra de Deus. O Catolicismo se apresenta com Igreja Cristã, mas incorporou vários elementos, crenças e rituais do paganismo, como o uso de velas nos cultos, oração pelos mortos, intercessão dos santos, uso de água benta, uso de imagens nos cultos, etc. Assim também aconteceu na casa de Mica. 

Mica abandonou completamente os princípios estabelecidos na Lei, se é que os conhecia, e criou a sua própria religião, achando que estava servindo ao Deus de Israel. O primeiro mandamento da Lei reafirmou o monoteísmo e proibiu Israel de ter outros deuses. Mica, no entanto, transformou a sua casa numa casa de deuses. A Lei Mosaica estabelecia um único local para adoração que era o tabernáculo e, posteriormente, o templo. Deus não autorizou ninguém a construir o seu próprio santuário, como Mica fez. O segundo mandamento da Lei proibia terminantemente o uso de imagens de escultura nos cultos (Ex 20.4,5). Contrariando também este mandamento, Mica construiu um ídolo em sua casa e vários ídolos pequenos, chamados de "terafins". Deus estabeleceu que os sacerdotes seriam os filhos de Aarão. Havia uma linhagem sacerdotal estabelecida. Mica, por sua própria conta, consagrou o seu filho como sacerdote. Ora, o filho de Mica era da tribo de Efraim e não da linhagem sacerdotal. 

Assim, a casa de Mica se transformou numa casa de deuses e era abominável, em todos os sentidos, aos olhos do Senhor. Quando o crente ignora a Palavra de Deus e cria uma Igreja de acordo com os seus próprios pensamentos, consagrando obreiros e fazendo cultos do seu jeito, o resultado é desastroso. A Palavra de Deus é o nosso manual de doutrina e prática. Os parâmetros para o funcionamento da Igreja, doutrina e liturgia tem que estar, obrigatoriamente, embasados nas Escrituras. 


REFERÊNCIAS: 


CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 70-73

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 1068-1069.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. A.T. Vol. II. Editora Central Gospel. pág. 156-157.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. A.T. Vol. II. Editora Central Gospel. pág. 156-157.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Matthew Henry: Deuteronômio.  Editora CPAD. 4 Ed 2004. pág. 174.

OS ÍDOLOS ENCONTRADOS NA TENDA DE RAQUEL


(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 04: Os ídolos na família).

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico falaremos sobre os ídolos encontrados na tenda de Raquel. Depois de vinte anos trabalhando com o seu sogro,  Jacó e sua família voltaram para a Terra Prometida. Após a saída deles, Labão descobriu que os seus ídolos domésticos haviam sido furtados e foi atrás de Jacó. Quando alcançou Jacó, Labão vasculhou as tendas, mas não encontrou os ídolos. Raquel os escondeu na sela do camelo e usou uma mentira para impedir que o pai não revistasse o camelo.


1- A fuga de Jacó e sua família para a Terra Prometida. Para entender esta fuga de Jacó, precisamos retornar ao assunto estudado na Lição 2, que foi a predileção dos pais por um dos filhos. Isaque preferia Esaú, enquanto Rebeca preferia Jacó. Por causa disso, Rebeca arquitetou um plano, para que Isaque abençoasse Jacó em vez de Esaú. Isso deixou Esaú furioso, a ponto de querer matar o seu irmão Jacó. Por causa disso, Jacó teve que deixar a terra dos seus pais e fugir para Padã-Arã, onde moravam os parentes da mãe dele. 


Chegando a Padã-Arã, Jacó encontrou primeiro a sua prima Raquel, filha mais nova do seu tio Labão, irmão da sua mãe Rebeca. Jacó ficou encantado com a beleza da moça e por ela se apaixonou. Começou a trabalhar com o seu tio e, no momento de acertar o quanto ganharia, Jacó propôs trabalhar sete anos para se casar com Raquel. Labão aceitou a proposta, porém, ao final dos sete anos, enganou Jacó e deu-lhe como esposa, a sua filha mais velha Lia, que não era bela como Raquel. Devido ao costume da época, em que as noivas se cobriam com o véu, Jacó só percebeu no outro dia, que era Lia e não Raquel. 

Jacó foi questionar a Labão sobre o engano, e este arranjou uma desculpa de que na terra deles, a filha mais nova não poderia casar-se antes da mais velha. Mas, no momento do acordo, ele não falou isso. Percebendo que não havia mais o que fazer, Jacó aceitou trabalhar outros sete anos por Raquel. 

Ao todo, Jacó trabalhou vinte anos para o seu tio Labão e foi enganado várias vezes por ele. Jacó disse a Labão que o seu salário já havia sido mudado "dez vezes". Não se sabe ao certo, se estas dez vezes foram literais ou se era apenas uma ilustração para indicar que Labão havia mudado o salário muitas vezes, como costumamos dizer hoje em dia, "mil vezes". A verdade é que Labão estabelecia um salário e, conforme Jacó ia prosperando, ele mudava as regras. Mas não tinha jeito, pois Deus abençoava Jacó e o fazia prosperar.  

Chegou um ponto, em que a permanência de Jacó com o seu sogro tornou-se insustentável. Os filhos de Labão falavam mal de Jacó, insinuando que ele estaria enriquecendo às custas do seu pai. O próprio Labão já se mostrava incomodado com a presença de Jacó (Gn 31.1,2). Foi aí que Jacó decidiu retornar à terra dos seus pais. Jacó recebeu a orientação de Deus para fazer isso (Gn 31.3). Depois comunicou a Lia e a Raquel, suas mulheres, que iria deixar a casa do pai delas e retornar à casa dos pais dele. As mulheres concordaram com a saída, mas Jacó temendo que Labão não permitisse, saiu escondido e não falou nada para o seu sogro.


2- Labão descobre o furto de seus ídolos domésticos. Labão estava no campo tosquiando as suas ovelhas, a uma distância de três dias de viagem, quando Jacó fugiu. Depois de três dias que Jacó havia saído, Labão foi informado de que Jacó e a sua família haviam fugido. Labão voltou para casa e quando chegou, percebeu que os seus ídolos domésticos haviam desaparecido e logo imaginou que Jacó os havia furtado. Na verdade, quando Jacó saiu da casa de Labão, a sua esposa Raquel furtou os ídolos da família, chamados de terafins, sem Jacó saber. 

Não há consenso entre os estudiosos sobre o motivo deste furto, se ela pretendia adorá-los, se buscava a proteção deles, ou se era por medo de ficar sem a herança. O comentário da Bíblia de Estudo Pentecostal diz que Raquel furtou os ídolos da família, "não para adorá-los, mas visando um ganho econômico". Esta é também a interpretação do comentarista. Alguns comentaristas judeus no intuito de limpar a barra de Raquel, diziam que ela queria livrar a família da idolatria. 

Labão reuniu os homens da sua família e seguiu atrás de Jacó. De noite, em sonhos, Deus lhe avisou que ele não deveria falar nada contra Jacó, nem bem nem mal (Gn 31.24). Sete dias após a saída de Jacó, Labão conseguiu alcançá-lo na Montanha de Gileade e disse:

- Por que fizeste isso? Saíste escondido, levando as minhas filhas como prisioneiras de guerra, sem me permitir beijar as minhas filhas e netos! Além disso, furtaste os meus deuses! Eu tenho poder em minhas mãos para te fazer mal, mas o Deus de teus pais me falou em sonhos ontem à noite, para não te falar bem nem mal.

Inocente na questão do furto dos ídolos, Jacó se justificou que saiu escondido, porque temia que Labão não o deixasse sair. Depois disso, falou para o seu sogro revistar as tendas e se achasse os ídolos com alguém, este alguém deveria ser morto. 


3- Raquel usa a mentira para esconder o ídolo. Labão vasculhou as tendas, mas não encontrou os ídolos, pois Raquel os escondeu na capacha (capa que cobria o assento) do camelo, enquanto ele os procurava e sentou-se em cima. Quando Labão foi em sua direção, Raquel mentiu para o pai, dizendo que não poderia levantar dali, pois estava no período de menstruação. 

Depois que Labão vasculhou todas as tendas e não encontrou os ídolos, Jacó se irritou com ele, por tê-lo acusado injustamente do furto dos seus ídolos, e fez-lhe um desabafo, sobre aquela injusta perseguição que sofreu e sobre todas as injustiças que sofrera na casa do sogro, com as constantes mudanças de salário circunstanciais. Por último, falou que se ele fosse culpado, Labão o teria despedido sem nada. Mas o Deus dos seus pais atentou para a sua aflição e repreendeu a Labão.

Raquel era a culpada daquela situação vexatória que o seu marido passou, sendo inocente. Conforme falamos acima, não sabemos com certeza a razão pela qual Raquel furtou os ídolos. Mas, independente do motivo, o fato é que ela escondeu ídolos no seio da família e ainda mentiu para evitar que fosse descoberta. Assim como Raquel, muitas pessoas dizem servir a Deus, mas guardam ídolos dentro de casa: servem ao dinheiro, à fama, à própria beleza, etc. Mas Jesus deixou claro que não podemos servir a dois senhores, pois iríamos amar a um e aborrecer o outro (Mt 6.24).


REFERÊNCIAS: 


CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 67-68.

Bíblia de Estudo Pentecostal. Editora CPAD, pág. 82. 

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 204-206.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Matthew Henry: Deuteronômio.  Editora CPAD. 4 Ed 2004. pág. 156-157.

LOPES, Hernandes Dias. Gênesis, O Livro das Origens. Editora Hagnos. 1 Ed. 2021.

A VERDADE QUE LIBERTA

Subsídio da Revista Ensinador Cristão/CPAD  Nesta aula, veremos que o Senhor Jesus é a verdade de Deus encarnada que veio ao mundo para libe...