26 maio 2022

ORAÇÃO E JEJUM


(Comentário do 3⁰ tópico da Lição 9)

O Jejum e a oração são atos de disciplina, autonegação e humilhação, que demonstram total dependência de Deus. Tanto um como o outro estão presentes em várias religiões:  hinduísmo, islamismo, judaísmo, cristianismo e em outras. O jejum serve a propósitos ritualísticos, ascéticos, religiosos, místicos e até políticos, de acordo com a motivação e a crença de cada um. 

Entre os judeus, anualmente acontece o chamado Yom Kippur (Dia da expiação), um dia  dedicado à contrição, às orações e ao jejum, como demonstração de arrependimento e expiação, em busca do perdão divino. Neste dia os fiéis fazem jejum absoluto e abstém-se de comer, beber, usar calçados de couro, lavar o corpo, passar cremes ou desodorantes, usar eletrodomésticos e de relações sexuais.  

No islamismo, exige-se o jejum durante o período do Ramadã ou Ramadão. Este período é um mês sagrado para os muçulmanos. Eles fazem jejum diariamente entre o nascer e o pôr do sol. Segundo a tradição islâmica, o profeta Maomé teria recebido revelações divinas nesse período, no século VII d.C. Os muçulmanos praticam o jejum absoluto do nascer ao pôr do sol, em busca da purificação do corpo e da mente. 

Os católicos romanos também praticam o jejum todos os anos, durante os períodos da Quaresma e do Advento. A Quaresma é um período de quarenta dias que antecedem a Páscoa e a ressurreição de Jesus Cristo. Durante a Quaresma, os católicos praticam meditação, penitências e jejum. Já o período do Advento para os católicos, é  o início  do ano litúrgico. Começa 4 domingos antes do Natal e termina no dia 24 de dezembro. Para os católicos este período não é de festas, mas é de ‘alegria moderada e preparação para receber Jesus.’ Os jejuns católicos são parciais e consistem em tomar apenas uma refeição durante o dia e não ingerir coisas proibidas, como carnes e bebidas. 

E para os evangélicos, o que é o jejum? Ele ainda é necessário, ou é uma prática restrita à Lei mosaica? É que iremos estudar neste tópico. Veremos inicialmente a combinação perfeita entre jejum e oração, não como forma de penitência ou autojustificação, como acontece em outras religiões. Depois falaremos sobre os aspectos bíblicos do jejum. Por último, veremos o ensino de Jesus sobre o jejum. 


1- Oração e jejum: uma combinação perfeita. Na Bíblia o jejum sempre aparece junto com a oração. Quando o profeta Samuel iniciou o seu ministério como profeta, sacerdote e juiz de Israel, a Arca da Aliança havia sido levada pelos filisteus para a sua terra, durante a guerra e a colocaram no templo do seu deus Dagom. (1 Sm 5.2). No dia seguinte, a estátua de Dagom estava caída e prostrada diante da Arca. Eles insistiram e colocaram novamente a estátua em seu lugar. No dia seguinte, a cabeça e as mãos de Dagom estavam cortadas. 

Os filisteus então resolveram retirar a Arca do seu território, mas, por onde eles deixavam a Arca, Deus feria as pessoas com hemorróidas. Estes episódios duraram 20 anos, com a Arca fora de Israel. O povo Israel se lamentou e Samuel recomendou que eles se arrependessem, retirassem os deuses estranhos do meio desses e se preparassem para o Senhor (1 Sm 7.3). Israel fez assim e se congregaram em Mizpá, jejuaram, pediram perdão e Samuel orou por eles (1 Sm 7.5,6). Vemos aqui, que o jejum veio acompanhado de arrependimento e oração. 

Da mesma forma, nos dias do rei Josafá, os moabitas, os amonitas e os habitantes da montanha de Seir, se levantaram contra Judá. Quando avisaram a Josafá desta emboscada contra ele e o seu povo, Josafá apregoou um jejum para todo o povo de Judá e orou ao Senhor. (2 Cr 20.1-13). O Espírito de Deus, então, tomou o profeta Jaaziel, filho de Zacarias e falou a Josafá e a todo o povo que não temessem, pois, naquela peleja eles não precisariam pelejar, pois a peleja era de Deus. (2 Cr 20.14-17). 

Há muitas outras passagens bíblicas no Antigo e no Novo Testamento que mostram o jejum sempre acompanhado da oração (Ed 8.21-23; Ne 1.4; 9.1; Lc 2.37; At 13.2,3). O jejum, acompanhado da oração são dois aliados fortes para se obter sucesso na vida espiritual. São armas poderosas na batalha contra as forças do mal. A oração e o jejum são dois elementos indispensáveis para a vitória na batalha espiritual. Em Mateus 17.21, Jesus disse: “Esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum.” Entretanto, não devem ser tratados como “atos mágicos”, “milagrosos” ou místicos. A oração e o jejum servem para quebrantar o nosso coração e submeter-nos a Cristo. É dele que vem a nossa vitória. Jejum e oração sem arrependimento, fé e submissão a Deus não passam de religiosidade vazia. 


2- O aspecto bíblico sobre o jejum. O jejum bíblico é diferente daqueles praticados em outras religiões. A prática do jejum, em geral, consiste na abstinência de alimentos. A fome prolongada pode causar visões ou delírios. Em vista destes fenômenos, muitas religiões pagãs usam a prática do jejum para "facilitar" a comunicação com os espíritos. Do ponto de vista bíblico, no entanto, o jejum está relacionado à humilhação e confissão de pecados  (Dt 9.18; Jn 3.5); lamentação por alguma calamidade, ou derrota em uma batalha (Jz 20.26; Ne 1.4; Et 4.3). 

A Lei previa um dia anual de jejum, chamado “Dia da expiação”, que os judeus chamam de Yom Kippur (Lv 16.29-34). Depois, foram criados outros tipos de jejum: do nascer ao pôr do sol, de sete dias, três semanas, quarenta dias e até durante o quinto e sétimo mês. Finalmente os rabinos estabeleceram o jejum de duas vezes por semana, que vigorava nos dias de Jesus como um ritual. Isso acabou se tornando uma prática legalista e motivo de auto exaltação, como na parábola do fariseu e do publicano. Foi exatamente isso que Jesus combateu no Sermão do Monte.


3- O ensino de Jesus sobre o jejum. Os ensinos de Jesus sobre o jejum não são abundantes. O mestre limitou-se a dar algumas orientações, sobre as motivações que levam as pessoas ao jejum. Nos temas da oração, da ajuda aos necessitados, da vigilância e outros, Jesus ordenou diretamente aos seus discípulos que eles deveriam fazer isso. Mas não há uma ordem, nem mesmo um pedido para os seus discípulos jejuarem. 

Os discípulos de João e os fariseus, chegaram a questionar a Jesus, por que os seus discípulos não jejuavam: Ora, os discípulos de João e os fariseus jejuavam; e foram e disseram-lhe: “Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, e não jejuam os teus discípulos?” (Mc 2.18). Jesus respondeu que os filhos das bodas não podem jejuar enquanto o esposo estiver com eles. Mas, quando lhe for tirado o esposo então jejuam. 

O fato de Jesus não ter ordenado o jejum aos seus discípulos não significa que Ele não aprova o jejum ou que não precisa ser praticado. Jesus não apenas falou sobre o jejum, como também o praticou. Quando falou sobre o jejum, Jesus não disse “se jejuardes”, Ele disse “quando jejuardes”. Ele partiu do pressuposto de que os seus discípulos jejuariam. Entretanto, Jesus não estipulou um período, um dia, ou motivos para o jejum, como no Judaísmo. 

No ensino de Jesus, o jejum deve ser uma prática pessoal, voluntária e discreta, entre o discípulo e Deus. “E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Porém tu, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em oculto; e teu Pai, que vê em oculto, te recompensará.” (Mt 6.16-18).

A conclusão que chegamos neste ensino de Jesus é que o valor do jejum não está na frequência com que se faz. O jejum cristão pode ser feito por tristeza pelo pecado, para estreitar a comunhão com Deus ou buscar uma direção divina diante de alguma situação. O importante é que o jejum não pode ser praticado com motivações carnais e egoístas, ou para tentar forçar Deus a fazer alguma coisa. Também não é uma forma masoquista de punir o próprio corpo, ou alguma forma de ascetismo, que defende a abstinência de alimentos ou prazeres para o desenvolvimento espiritual. O jejum cristão é uma abstinência voluntária de alimentos por um período, com o objetivo de aumentar o autocontrole e sujeitar o nosso corpo ao espírito, para nos dedicar às coisas espirituais. 


REFERÊNCIAS:


GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 173-179.

BRANDT, Robert L. e BICKET, Zenas J. Teologia Bíblica da Oração. Editora CPAD. pag. 208-209.

CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 3. pág. 441-442.

CHAVDA, Mahesh. O poder secreto da oração e do jejum: liberando o poder da igreja que ora. Editora Vida 3ª reimp. 2011. pág. 119-122.

STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pag. 63-65.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pág. 220-222.

RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p.32.


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Pb. Weliano Pires


25 maio 2022

A ORAÇÃO QUE JESUS ENSINOU


(Comentário do 2⁰ tópico da Lição 9)

Os discípulos de Jesus tiveram dúvidas sobre como deveriam orar e  pediram para Jesus lhes ensinar: “Senhor, ensina-nos a orar” (Lc 11.1). Jesus, então, lhes ensinou dizendo: “Portanto, vós orareis assim…”  (Mt 6.9). Na sequência proferiu o modelo de oração que é conhecido no mundo inteiro, o chamado “Pai nosso”. Esta oração é um modelo, para servir de parâmetro e não uma reza para ser repetida várias vezes como fazem os católicos no rosário de 150 contas, que é dividido em três terços de 50 ave-Marias, intercaladas com vários Pai-nossos, Glória ao Pai e Salve-rainhas. 


Em seu modelo de oração Jesus nos ensinou alguns princípios importantes: 

a. Toda oração deve ser dirigida a Deus (Pai nosso). Jesus nos ensina aqui que não podemos dirigir a nossa oração a nenhum mediador, mas, diretamente a Deus, em Nome de Jesus Cristo. (Mt 6.9; Jo 16.23). 

b. Toda oração deve iniciar com adoração a Deus.  (Santificado seja o teu nome).

c. Toda oração deve ser feita com submissão (Venha o teu reino…  Seja feita a tua vontade).  

d. Em toda oração devemos nos lembrar da nossa dependência diária de Deus. (O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje).

e. Antes de orar precisamos perdoar, pois isso é condição indispensável para sermos perdoados. (Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos…).

f. Em toda oração devemos reconhecer o senhorio e a soberania de Deus. (Pois teu é o reino, a glória e o poder). 


1- Jesus não condenou a oração em público. Em seu ensino sobre a oração no Sermão do Monte, Jesus disse: “E, quando orares, não sejas como os hipócritas, pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.” (Mt 6.5). Com base neste texto, condenam a oração em público. Mas, não foi isso que Jesus que Jesus condenou, pois Ele mesmo orou publicamente na ocasião da ressurreição de Lázaro (Jo 11.41,42); na multiplicação dos pães (Mt 14.19); Agradeceu ao Pai, porque Ele ocultou as coisas dos sábios e entendidos e as revelou aos pequeninos (Mt 11.25,26);  e quando estava na cruz (Lc 23.34). Posteriormente os seus apóstolos também oraram publicamente. 


Assim como fez, em relação à esmola, Jesus condenou o exibicionismo na oração, a fim de ser visto pelos homens e elogiado pelo fato de estar orando. Para exemplificar isso, Jesus contou a parábola do fariseu e do publicano. O fariseu orava em pé e na sua oração, fazia menção a Deus da sua justiça própria, pois orava três vezes por dia, jejuava três por semana e dava o dízimo de todos os seus bens. O publicano, por sua vez, orava longe do templo, sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu e pedia misericórdia a Deus, considerando-se um homem pecador. Jesus explicou que o publicano voltou para casa justificado e o fariseu não, pois os que se humilham serão exaltados e os que se exaltam serão humilhados. Portanto, a ênfase de Jesus não é sobre a oração pública e sim, sobre a ostentação egoísta do orador. 


2- Jesus quer que sejamos discretos. Jesus sempre recomendou a discrição e sigilo dos nossos atos que possam, de alguma forma, gerar popularidade e auto glorificação. Ele fez isso em relação à esmola, à oração e ao jejum. Estes atos de justiça devem ser praticados para serem vistos apenas por Deus e não pelos homens. As expressões“ entra no teu aposento” e “fechando a tua porta” (Mt 6.6) são usadas em sentido figurado. Significa que a oração do crente deve ser feita de forma discreta e voltada para Deus. Conforme falamos no tópico anterior, a palavra traduzida por quarto, no grego é tameion e refere-se ao quarto onde eram guardados os suprimentos da casa, para protegê-los de ladrões e animais selvagens.


Todo crente precisa ter momentos a sós com Deus. Não significa que o cristão deve viver isolado do mundo como os monges. É apenas momentos onde ele pode chorar diante de Deus, abrir o seu coração, sem que seja visto pelos homens, seja para elogiar ou condenar a sua oração. Todos nós precisamos de momentos particulares com o nosso cônjuge, onde falamos coisas íntimas que só pertencem aos dois. Com Deus não é diferente. O próprio Jesus, muitas vezes buscava lugares assim, onde pudesse falar livremente com o Pai, sem ser incomodado. 


3- Não useis de vãs repetições nas orações. Aqui, Jesus não está criticando um longo período de oração, ou a repetição eventual de algumas palavras na oração. Na própria Bíblia encontramos pessoas que fizeram orações longas  (2Cr 6.14-42; Ne 9; Sl 18) e outras com repetições. O próprio Jesus orou durante uma noite inteira (Lc 6.12). Ele também orou três vezes no Getsêmani, dizendo as mesmas palavras (Mt 26.44). 


O que Jesus proibiu foi a repetição mecânica de um discurso com palavras previamente elaboradas, como se elas tivessem algum poder em si mesmas. A expressão grega me battalogesete, traduzida por “vãs repetições”, traz a ideia de mero palavrório, tagarelice, palavreado oco, conversa tola, repetição vazia. Os pagãos repetiam várias palavras, com o objetivo de serem ouvidos por seus deuses, que não passavam de ídolos mudos. Foi exatamente isso, que fizeram os profetas de Baal, desde a manhã até ao meio dia, insistindo para que Baal lhes respondesse. A oração do cristão consiste em um relacionamento pessoal com Deus e submissão absoluta à vontade dele. O verdadeiro cristão não tenta forçar Deus a fazer alguma coisa, mas diz o que Jesus ensinou: "Faça-se a tua vontade…". 


REFERÊNCIAS: 

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 167-170..

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 1. pág. 322.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pág. 214-216.

RIENECKER, Fritz. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica Esperança. 1° Ed. 1998

RICHARDS, Lawrence O. Comentário Devocional da Bíblia. 2.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, p.560).

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1 Ed 2008. pág. 64-65.


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Pb. Weliano Pires

24 maio 2022

A ORAÇÃO É UM DIÁLOGO COM O PAI

(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 9)

A oração é uma prática inerente à vida cristã. Considerando que Deus é um ser pessoal e que se comunica com o seu povo, não é possível haver relacionamento com Deus se não houver oração. Por isso, Jesus não disse aos seus discípulos "se orardes" e sim "quando orardes". Ele partiu do pressuposto de que a oração faz parte da vida cristã. 


Neste tópico discorremos sobre a natureza da oração. O que é oração? Quais são as formas de oração apresentadas na Bíblia? O que deve marcar as nossas orações? Depois falaremos sobre como os homens de Deus na Bíblia viam a oração, apresentando a opinião dos homens de Deus do Antigo e do Novo Testamento, e do próprio Jesus sobre a oração. Por último, veremos qual a maneira correta de orar, com base nos ensinos de Jesus. 


1- A natureza da oração. A natureza da oração difere entre as religiões. Em muitas delas a oração é simplesmente a repetição de um texto previamente elaborado, que teria poderes em si mesmo, para proteção, fechamento do corpo, prosperidade, livramentos, etc. Há também em muitas religiões a figura do intermediário, que seria alguém a quem o fiel dirige as suas orações, para que este faça a intercessão diante de Deus ou de outras divindades pagãs. 


Do ponto de vista bíblico, a oração é um diálogo ou uma conversa entre o crente e Deus. Na oração, o crente abre o seu coração diante de Deus, lançando sobre Ele as suas petições, intercessões e agradecimentos e aguarda a resposta de Deus, em tempo oportuno, de acordo com a Sua soberana vontade. 


Encontramos na Palavra de Deus, vários tipos de oração: 

  • A oração como confissão dos pecados cometidos, seja individual ou coletivo:  (1Rs 8.47; Ne 1.6; Dn 9.3-15); 

  • A oração em forma de adoração a Deus, reconhecendo-o como Criador, Senhor e Rei do Universo (Ao 4.11); 

  • A oração em forma de comunhão e relacionamento com o Senhor ((Gn 18.33; Êx 25.22; 31.18);

  • A oração em forma de ações de graças pelas maravilhas do Senhor (Êx 15.20,21; Jz 5; 2 Sm 23.1-7);

  • A oração em forma de intercessão, como nos casos de Samuel (1 Sm 12.23) e da Igreja Primitiva (At 12.5);

  • A oração em forma de lamentos, como fez Jeremias no Livro de Lamentações (Lm 5) e nos casos de alguns Salmos  ( Sl 12; Sl 25; Sl 39; Sl 86; Sl 120, etc.). 


Antes de orarmos, devemos sempre lembrar que Deus é Senhor e nós somos servos. Portanto, toda e qualquer oração deve começar com submissão, adoração e agradecimentos a Deus. Não pode haver qualquer espécie de exigência, pois servo não tem esse direito. Nos próximos tópicos falaremos sobre a maneira correta de orar e o conteúdo padrão da oração, ensinados por Jesus aos seus discípulos. 


2- Como os homens de Deus viam a oração? Desde os primórdios, no Antigo Testamento, vemos homens e mulheres de Deus orando e conversando com Deus. Jó intercedia a Deus por seus filhos e, posteriormente, por seus amigos (Jó 1.5; 42.10); Abraão orava e conversava com Deus com frequência (Gn 15; 18); Isaque estava orando, quando Eliezer lhe trouxe a sua esposa Rebeca e, depois, orou ao Senhor pela esterilidade dela (Gn 24.63; 25.21); Jacó também sempre conversava com Deus. Moisés, também foi um homem de oração, que segundo o próprio Deus, conversava com Ele, face a face (Dt 34.10). Josué, Samuel, Davi, Salomão, Elias, Josafá, Esdras, Neemias, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel e muitos outros são exemplos de servos de Deus que oravam por si mesmos e pelos outros e Deus lhes respondia. Muitas mulheres de Deus como Raquel, Débora, Ana, Ester, Maria, mãe de Jesus e outras, foram servas de Deus, que viviam em oração. 


O nosso maior exemplo de vida de oração, certamente é o Senhor Jesus. Mesmo sendo o Filho de Deus, Ele passava noites em oração e quando a multidão o cercava, ele fugia para lugares desertos a fim de orar. Jesus orou antes de tomar decisões importantes, como escolher os doze apóstolos. Fez a chamada oração sacerdotal, em favor dos seus discípulos. Orou também quando se aproximava o momento da crucificação. E, por fim, quando estava na Cruz, orou pelos seus algozes. 


A Igreja Primitiva seguiu este exemplo e perseverava na oração. Oraram antes de escolher Matias como apóstolo. Perseveram na oração até serem revestidos de poder, no Dia de Pentecostes. Oraram agradecendo a Deus pelas perseguições; Quando Pedro foi preso por Herodes, a Igreja fez contínua oração por ele, até que ele foi liberto pelo Anjo do Senhor. A Igreja de Antioquia estava em oração, quando o Espírito Santo chamou Barnabé e Saulo para a obra missionária. Depois, Paulo e Silas também oraram na prisão em Filipos e foram libertos milagrosamente.


Ao longo da história da Igreja também tivemos inúmeros homens e mulheres de Deus que tiveram profunda comunhão com Deus através da oração. Os chamados heróis da fé revolucionaram o mundo com a pregação do Evangelho e milagres. Mas, por trás destes feitos havia piedosos servos de Deus em constante oração. John Knox costumava passar noites em oração clamando a Deus dizendo: “Dá-me a Escócia senão eu morro!” – e Deus lhe deu a Escócia. Lutero costumava orar três horas por dia e com isso quebrou o feitiço de séculos e colocou as nações cativas em liberdade. Jonathan Edwards, na noite anterior ao maravilhoso sermão que deu início ao avivamento que sacudiu grandemente a Nova Inglaterra, passou a noite em oração, com outros irmãos. 


Vejamos o que alguns servos de Deus declararam sobre a oração: 

“Eu posso fazer mais que orar, depois de ter orado, mas eu não posso fazer mais que orar, até que tenha orado!” (John Bunyan)

“Quando agimos, colhemos os frutos do nosso trabalho, mas, quando oramos, colhemos os frutos do trabalho de Deus.” (Hans Von Staden)

“Sempre que Deus deseja realizar algo, Ele convoca seu povo para orar.” (Charles Spurgeon)

“Quando trabalhamos, nós trabalhamos, quando oramos, Deus trabalha.” (Hudson Taylor).


Muitas mulheres também, ao longo da história da Igreja, mantinham profunda comunhão com Deus na oração. Enquanto muitos pastores e missionários proclamavam a Palavra de Deus pelo mundo, mulheres de Deus lhes davam amparo na oração. A irmã Albertina Bezerra Barreto, membro da Igreja Assembleia de Deus, no bairro de Casa Amarela, em Recife (PE), é um exemplo histórico de oração. A sua filha Zuleide não andava nem falava e, segundo os médicos, não passaria dos oito anos de vida. Ela reuniu um grupo de irmãs em sua casa para orar pela filha. Durante o período de oração, ela recebeu uma profecia de que a filha seria curada. A menina recebeu a cura e viveu até aos 49 anos. Este acontecimento deu origem ao Círculo de Oração em nossas Igrejas. 


3- A maneira de orar. Há muitas discussões entre os religiosos sobre a maneira correta de orar. Alguns acham que não importa a maneira de orar. Outros dizem que a oração tem que ser de joelho ou com o rosto na terra. Há ainda os que dizem que há locais específicos para oração e, por isso, fazem peregrinações para lugares "sagrados". Entretanto, a Bíblia não exige uma postura corporal específica para orar. Há relatos na Bíblia de orações em pé (2 Cr 6.12), deitado (Is 38.2), de joelhos (1 Rs 8.54), com as mãos estendidas (Ed 9.5), com o rosto em terra (Lm 3.29) ou a cabeça entre os joelhos (1 Rs 18.42), etc. 


Na Bíblia também não há nenhuma regra com relação ao horário, à posição, ou ao tempo destinado à oração. Os judeus tinham o hábito de orar três vezes ao dia e tinham horários específicos para a oração. Mas no Cristianismo não há nenhuma recomendação sobre horário e duração da oração. Jesus e o apóstolo Paulo nos recomendaram a orar sempre, sem cessar e em todo tempo (Lc 18.1; 1 Ts 5.17; Ef 5.18).


Outra questão que produz divergência é o lugar onde se deve orar. Há pessoas que acham que só se deve orar no templo. Outros acham que a oração no monte é mais poderosa. No entanto, Jesus não definiu um lugar específico para a oração e o efeito da oração não está relacionado ao lugar onde se ora. Quando Jesus disse para fechar a porta do nosso quarto e orar, Ele estava se referindo a procurar um lugar discreto para orar em particular. A palavra grega traduzida por quarto é "tameion" (câmara) e se refere ao quarto dos suprimentos, um recinto escondido e secreto. Era o cômodo mais íntimo da casa, onde se guardava os alimentos para protegê-los dos ladrões e animais selvagens. Isso não significa que só podemos orar em nosso quarto, pois o próprio Jesus orou em público, nos montes, no Getsêmani e até na Cruz. 


Na oração cristã não se exige palavras rebuscadas ou linguagem específica, como muitos pensam. Entretanto, precisamos ter decoro e usar uma linguagem sã e irrepreensível, pois estamos nos dirigindo ao Deus Todo Poderoso. Se para nos dirigir a autoridades terrenas usamos pronomes de tratamento específicos e não podemos usar gírias, quanto mais para falar com Deus! Vale lembrar que, mesmo sendo Deus e Senhor, Jesus nos ensinou a nos dirigir a Deus como Pai. Em Cristo, fomos adotados como Filhos de Deus e temos acesso direto a Ele. (Jo 1.12; Rm 8.15).


REFERÊNCIAS: 

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 163-166.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pág. 409-410.

LOPES, Hernandes Dias. Marcos O Evangelho dos milagres. Editora Hagnos. 1ª edição, 2006.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pág. 216-218. 

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 1. pág. 321.

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. 2a Impressão: 2010. Vol. 1. pág. 46.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pág. 63.

SPROUL, R. C. Estudos bíblicos expositivos em Mateus. 1° Ed 2017. Editora Cultura Cristã. pág. 114-115.

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Pb. Weliano Pires


23 maio 2022

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 09: ORANDO E JEJUANDO COMO JESUS ENSINOU


REVISÃO DA LIÇÃO PASSADA


Na lição passada, vimos a quarta seção do Sermão do Monte, que trata da verdadeira espiritualidade e as motivações por trás dos atos de justiça do cristão. Jesus falou a respeito de ajudar aos necessitados em público, com o objetivo de ser elogiado pelos homens e chamou de hipócrita aqueles que agem dessa forma. Os fariseus praticavam esmolas, jejuns e orações. Mas o objetivo era o de serem vistos e tidos como piedosos. 


Jesus não condenou a prática de dar esmolas aos necessitados, que naquela época eram muito mais do que hoje. Ao contrário, Ele ensinou que, quando socorremos os necessitados, estamos fazendo isso a Ele. Entretanto, no Sermão do Monte, Jesus ensina que devemos fazê-lo sem tocar trombetas, ou seja, sem aparecer. 


Na sequência, o Senhor Jesus ensinou que Deus vê tudo e recompensa a cada um. Tudo o que fazemos, seja para Deus ou para o próximo, terá recompensa. Portanto, não devemos nos preocupar se estamos sendo vistos ou não, pois a recompensa é Deus quem nos dá e Ele é justo e bom ao recompensar. 


LIÇÃO 9: ORANDO E JEJUANDO COMO JESUS


A lição desta semana é uma continuação da anterior. No Sermão do Monte, Jesus fez menção a três práticas da ética cristã: esmolas, oração e jejum. Na lição passada falamos sobre a prática de dar esmolas em público e nesta lição falaremos sobre as outras duas, que são a oração e o jejum. Assim como fizera em relação à prática de dar esmolas, Jesus orientou os seus discípulos sobre como deveriam proceder em relação à oração e ao jejum, contrapondo-se à forma que os hipócritas o faziam, que era orar e jejuar com o objetivo de serem vistos e elogiados. 


A oração é um diálogo com Deus. Aliás, mais do que isto, é uma conversa do crente com o seu Senhor. Há na Bíblia vários tipos de orações: confissões, adoração, súplicas, ações de graça e intercessões. Os homens de Deus no Antigo e no Novo Testamento viam a oração como um recurso poderoso e indispensável, semelhante ao que o alimento cotidiano é para o corpo físico. A Bíblia nos apresenta a forma correta de orarmos a Deus, que veremos em detalhes no primeiro tópico da lição.


Os discípulos de Jesus lhe rogaram que Ele lhes ensinasse a orar. Jesus, então, lhes forneceu um modelo de oração, não para ser repetido como uma reza, mas para servir de parâmetro em suas orações.  Diferente do que alguns ensinam, Jesus não condenou a oração pública, pois temos registro de ocasiões em que Ele mesmo ou os seus apóstolos fizeram orações públicas. Entretanto, Jesus recomendou que as orações devem ser discretas e não devem conter vãs repetições como as dos gentios, que acreditavam que por muito falar seriam ouvidos. 


Na Bíblia o jejum sempre aparece junto com a oração. Ambos são atos de disciplina, autonegação e humilhação, que demonstram total dependência de Deus. Na lei mosaica havia um dia anual destinado ao jejum, que era o dia da expiação. Depois, os judeus estabeleceram diversas formas de jejum e por último, estabeleceram como regra, orar três vezes ao dia e jejuar duas vezes por semana. Assim como aconteceu com a esmola, a prática da oração e do jejum se tornou motivo de orgulho para os judeus. Jesus, no entanto, não estabeleceu dias específicos para o jejum, deixando-o de forma voluntária e espontânea. Além disso, ensinou que tanto o jejum como a oração devem ser praticados buscando a glória de Deus e a comunhão com Ele e não para atrair os olhares humanos. 


REFERÊNCIAS: 

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 158-160.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 1. pág. 321.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pág. 63.


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Pb. Weliano Pires

 

20 maio 2022

DEUS CONTEMPLA O BEM QUE REALIZAMOS

Comentário do 3º tópico da Lição 8.


Há um ditado popular muito conhecido que diz: “Quem não é visto, não é lembrado”. Partindo deste pressuposto, muitas pessoas fazem de tudo para aparecer para serem reconhecidos e recompensados por aquilo que fazem. Do ponto de vista humano, este ditado faz sentido, porque o ser humano não conhece o que está oculto e as intenções por trás de cada ação. Logo, é preciso mostrar aquilo que fazemos, se quisermos ser recompensados pelo nosso trabalho. Há também uma máxima do marketing que diz: “A propaganda é a alma do negócio”. Nesse caso, não basta termos bons produtos e/ou serviços. É preciso fazermos uma boa propaganda deles. 

No Reino de Deus, no entanto, não é assim. Não precisamos mostrar nada para ninguém, porque a nossa recompensa não virá do homem. Além disso, o ser humano além de não conhecer o que está oculto, ainda é injusto e parcial, muitas vezes. Em várias empresas, há muitas reclamações de que bons profissionais não são reconhecidos e maus profissionais são promovidos, devido aos apadrinhamentos. Isso acontece, principalmente no setor público. Mas, com Deus não funciona assim. 


1- O Deus que tudo vê. Um dos atributos exclusivos de Deus, chamados de atributos incomunicáveis, está a Sua Onisciência. Esta palavra é um conceito teológico, que vem de dois vocábulos latinos “Onis” (tudo) e “Scientia” (conhecimento, saber). Isto significa que Deus conhece a Si mesmo e todas as coisas visíveis e invisíveis. Nada passa despercebido diante dEle. “Senhor, tu me sondaste e me conheces. Tu conheces o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó Senhor , tudo conheces.” (Salmos 139.1-4). 

Em sua sua Onisciência, Deus conhece o passado, o presente e o futuro. Ele também, tudo o que está oculto, seja no Céu, na Terra, ou mesmo em outras galáxias. No universo existem coisas grandiosas, que a ciência não consegue mensurar. Por outro lado, existem coisas tão minúsculas, que nem mesmo os microscópios conseguem ver. Todo conhecimento humano será sempre parcial e limitado, mesmo com todo avanço científico. Mas o Deus onisciente vê e sabe todas as coisas. Por isso Jesus disse: "...Teu Pai (Deus) que vê em secreto te recompensará." (Mt 6.4).


2- O Deus que recompensa. O ser humano, em sua natureza caída e pecaminosa, é normalmente ingrato e injusto. Por isso, muitas vezes ao ajudarmos alguém e a própria pessoa sequer agradece, ou no futuro esquece de quem o ajudou. Mas Deus não é assim. Além de ser onisciente e ver tudo, como vimos acima, Ele é também justo em seus julgamentos e recompensas. O autor da Epístola aos Hebreus, assim escreveu: “Deus não é injusto para se esquecer da nossa obra e do trabalho da caridade que foi mostrado para com o seu nome” (Hb 6.10). O apóstolo Paulo, no final da sua carreira, sabendo que seria executado e com a sensação de dever cumprido, disse: "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda." (2 Tm 4.7). 

No Tribunal de Cristo, as nossas obras serão reveladas e recompensadas segundo os padrões de Deus, que vê não apenas o exterior. Ele contempla as ações e também as intenções dos corações. Por isso, não precisamos nos preocupar em demonstrar o nosso trabalho a quem quer que seja, pois Deus está vendo e é dele que virá a nossa recompensa. 


REFERÊNCIAS:

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 153-155.

Sproul, R.C. Estudos bíblicos expositivos em Mateus. 1° Ed. 2017. Editora Cultura Cristã. pág. 112.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Mateus. 1 Ed. 2001. Editora Cultura Cristã. pág. 451.

STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pag. 61-62.


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Pb. Weliano Pires

19 maio 2022

AUXILIANDO O PRÓXIMO SEM ALARDE

Comentário do 2º tópico da Lição 8

Ajudar ao próximo era um preceito muito importante no Judaísmo. Na Lei Mosaica, Deus ordenou que os israelitas socorressem aos pobres: “Quando entre ti houver algum pobre de teus irmãos, em alguma das tuas portas, na tua terra que o Senhor, teu Deus, te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão a teu irmão que for pobre; antes, lhe abrirás de todo a tua mão e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade.” (Dt 15.7,8). A esmola era um dos quesitos mais importantes da espiritualidade judaica. Era considerada a primeira na lista das boas obras. O termo hebraico para esmola é “tzedakah”, que origina-se da raiz  “tzedek”, que significa justiça ou integridade. Sendo assim, para o judeu, dar esmolas e ser justo são sinônimos. 

No Cristianismo primitivo também sempre foi visto como obrigação dos cristãos socorrer aos necessitados. Jesus ensinou os seus discípulos a fazerem doações ao s necessitados: “Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo.” (Lc 6.38). Era uma prática comum entre os discípulos: “Porque, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe tinha dito: Compra o que nos é necessário para a festa; ou que desse alguma coisa aos pobres.” (Jo 13.29). A Igreja Primitiva também, desde cedo adotou como regra a ajuda aos pobres: “Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha.” (At 4.34,35). 

O apóstolo Paulo também, em suas epístolas, sempre faziam menção a ajuda aos pobres, ordenando que se fizessem coletas para a assistência aos pobres: “Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar.” (1 Co 16.1,2). Tiago, por sua vez, caracterizou a ajuda aos necessitados como característica de uma religião pura e imaculada: “A religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.” (Tg 1.27). O apóstolo João questionou se o amor de Deus estaria em alguém que tendo condições não socorre aos necessitados: “Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus?” (1 Jo 3.17).


1- Qual é a motivação do teu coração? Como vimos acima, a generosidade para com os necessitados é algo inerente tanto ao Judaísmo, como ao Cristianismo. Não se discute a sua importância. Entretanto, o que Jesus tratou nessa parte do Sermão do Monte são as motivações que levam as pessoas a ajudar os necessitados. Os judeus não crêem como nós, em salvação pela Graça, mediante a fé. A teologia judaica é retribucionista, ou seja, é baseada na retribuição. No pensamento judaico, Deus retribui com o bem a quem faz bem e, com o mal, a quem faz o mal. Quando lemos os Salmos, isso fica muito claro. Os salmistas expressavam o desejo de que Deus retribuisse aos seus inimigos, os males que estes lhe causavam. 

No Cristianismo, tanto Jesus como os apóstolos ensinaram que Deus é bom e faz o bem a quem não merece: “Para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos.” (Mt 5.45). O apóstolo Paulo, falando sobre a justificação pela fé disse: “Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” (Rm 5.8). Jesus também disse para amarmos os inimigos, orar pelos que nos perseguem, bendizer os que nos maldizem, para que sejamos filhos de Deus. 

Então, a motivação para ajudarmos aos necessitados não deve ser para receber recompensas, ou a justiça própria. Deve ser unicamente a compaixão pela necessidade dos nossos semelhantes. Há pessoas que fazem obras de assistência social louváveis. Mas, as motivações são egoístas e com interesses escusos. Há políticos que desenvolvem trabalhos sociais, com o objetivo de obter votos. Muitos religiosos também fazem obras sociais, com o objetivo de fazer propaganda da sua religião, ou por acreditar na justificação pelas obras.


2 - O que buscamos quando auxiliamos o próximo? Conforme vimos acima, o cristão deve ajudar àqueles que precisam, movidos unicamente pela compaixão. Jesus conhece as intenções dos nossos corações. Leia Mt 9.4; 12.25; 22.18 e Jo 16.19. Sendo assim, as perguntas que devemos fazer a nós mesmos, antes de fazer qualquer coisa para Deus ou pelo próximo é: Por que estou fazendo isso? Com que objetivo? Se ninguém estivesse vendo, eu faria isso da mesma forma? Estou esperando receber alguma coisa por isso?

Se os nossos objetivos forem obter reconhecimento humano, deduzir no imposto de renda, obter ganhos políticos, promover a nossa denominação ou o nosso ministério, estamos nos comportando como hipócritas. Não podemos também considerar a ajuda ao próximo como um favor a ser retribuído por ele, ou um "carta na manga" para usá-lo em momento oportuno contra ele. Isso é coisa de mercenário, que é aquele que faz qualquer coisa para se dar bem, até "ajudar" os outros. 


3- A maneira de ofertar segundo Jesus. Ofertar aqui não é ofertar na Igreja, pois Jesus não estava tratando desse assunto e sim da oferta aos necessitados. Entretanto, os mesmos princípios se aplicam também às contribuições que fazemos no templo. As nossas motivações devem ser única e exclusivamente a sustentação e crescimento da obra de Deus. Convicto de que nada se faz neste mundo sem dinheiro, o crente em Jesus sabe que para a Igreja funcionar também precisa de dinheiro e, por isso, contribui. 

Jamais devemos contribuir na obra do Senhor fazendo propaganda dos valores doados. Também não devemos contribuir para ser bem vistos pela liderança da Igreja. Outra coisa importante que devemos destacar é que as contribuições à Igreja não são um seguro social, que obriga a Igreja a sustentar a pessoa quando estiver em dificuldades, ou que o crente possa acionar a justiça para rever os valores pagos. Além do mais, não devemos contribuir esperando recompensas humanas ou exigir contrapartida, como querer mandar na Igreja porque contribui com valores elevados. Nenhum pastor deve aceitar esse tipo de chantagem. A obra é de Deus e Ele proverá os recursos necessários, caso alguém deixe de contribuir. 


REFERÊNCIAS: 


CHILDERS, Charles L.; EARLE, Ralph; SANNER, A. Elwood (Eds.) Comentário Bíblico Beacon: Mateus a Lucas. Vol . 6. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.63.

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 149-153.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag. 214.

STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pag. 61.

TASKER, V. G. Mateus, Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. 1 Ed 1980. pag. 57.


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Pb. Weliano Pires