24 maio 2022

A ORAÇÃO É UM DIÁLOGO COM O PAI

(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 9)

A oração é uma prática inerente à vida cristã. Considerando que Deus é um ser pessoal e que se comunica com o seu povo, não é possível haver relacionamento com Deus se não houver oração. Por isso, Jesus não disse aos seus discípulos "se orardes" e sim "quando orardes". Ele partiu do pressuposto de que a oração faz parte da vida cristã. 


Neste tópico discorremos sobre a natureza da oração. O que é oração? Quais são as formas de oração apresentadas na Bíblia? O que deve marcar as nossas orações? Depois falaremos sobre como os homens de Deus na Bíblia viam a oração, apresentando a opinião dos homens de Deus do Antigo e do Novo Testamento, e do próprio Jesus sobre a oração. Por último, veremos qual a maneira correta de orar, com base nos ensinos de Jesus. 


1- A natureza da oração. A natureza da oração difere entre as religiões. Em muitas delas a oração é simplesmente a repetição de um texto previamente elaborado, que teria poderes em si mesmo, para proteção, fechamento do corpo, prosperidade, livramentos, etc. Há também em muitas religiões a figura do intermediário, que seria alguém a quem o fiel dirige as suas orações, para que este faça a intercessão diante de Deus ou de outras divindades pagãs. 


Do ponto de vista bíblico, a oração é um diálogo ou uma conversa entre o crente e Deus. Na oração, o crente abre o seu coração diante de Deus, lançando sobre Ele as suas petições, intercessões e agradecimentos e aguarda a resposta de Deus, em tempo oportuno, de acordo com a Sua soberana vontade. 


Encontramos na Palavra de Deus, vários tipos de oração: 

  • A oração como confissão dos pecados cometidos, seja individual ou coletivo:  (1Rs 8.47; Ne 1.6; Dn 9.3-15); 

  • A oração em forma de adoração a Deus, reconhecendo-o como Criador, Senhor e Rei do Universo (Ao 4.11); 

  • A oração em forma de comunhão e relacionamento com o Senhor ((Gn 18.33; Êx 25.22; 31.18);

  • A oração em forma de ações de graças pelas maravilhas do Senhor (Êx 15.20,21; Jz 5; 2 Sm 23.1-7);

  • A oração em forma de intercessão, como nos casos de Samuel (1 Sm 12.23) e da Igreja Primitiva (At 12.5);

  • A oração em forma de lamentos, como fez Jeremias no Livro de Lamentações (Lm 5) e nos casos de alguns Salmos  ( Sl 12; Sl 25; Sl 39; Sl 86; Sl 120, etc.). 


Antes de orarmos, devemos sempre lembrar que Deus é Senhor e nós somos servos. Portanto, toda e qualquer oração deve começar com submissão, adoração e agradecimentos a Deus. Não pode haver qualquer espécie de exigência, pois servo não tem esse direito. Nos próximos tópicos falaremos sobre a maneira correta de orar e o conteúdo padrão da oração, ensinados por Jesus aos seus discípulos. 


2- Como os homens de Deus viam a oração? Desde os primórdios, no Antigo Testamento, vemos homens e mulheres de Deus orando e conversando com Deus. Jó intercedia a Deus por seus filhos e, posteriormente, por seus amigos (Jó 1.5; 42.10); Abraão orava e conversava com Deus com frequência (Gn 15; 18); Isaque estava orando, quando Eliezer lhe trouxe a sua esposa Rebeca e, depois, orou ao Senhor pela esterilidade dela (Gn 24.63; 25.21); Jacó também sempre conversava com Deus. Moisés, também foi um homem de oração, que segundo o próprio Deus, conversava com Ele, face a face (Dt 34.10). Josué, Samuel, Davi, Salomão, Elias, Josafá, Esdras, Neemias, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel e muitos outros são exemplos de servos de Deus que oravam por si mesmos e pelos outros e Deus lhes respondia. Muitas mulheres de Deus como Raquel, Débora, Ana, Ester, Maria, mãe de Jesus e outras, foram servas de Deus, que viviam em oração. 


O nosso maior exemplo de vida de oração, certamente é o Senhor Jesus. Mesmo sendo o Filho de Deus, Ele passava noites em oração e quando a multidão o cercava, ele fugia para lugares desertos a fim de orar. Jesus orou antes de tomar decisões importantes, como escolher os doze apóstolos. Fez a chamada oração sacerdotal, em favor dos seus discípulos. Orou também quando se aproximava o momento da crucificação. E, por fim, quando estava na Cruz, orou pelos seus algozes. 


A Igreja Primitiva seguiu este exemplo e perseverava na oração. Oraram antes de escolher Matias como apóstolo. Perseveram na oração até serem revestidos de poder, no Dia de Pentecostes. Oraram agradecendo a Deus pelas perseguições; Quando Pedro foi preso por Herodes, a Igreja fez contínua oração por ele, até que ele foi liberto pelo Anjo do Senhor. A Igreja de Antioquia estava em oração, quando o Espírito Santo chamou Barnabé e Saulo para a obra missionária. Depois, Paulo e Silas também oraram na prisão em Filipos e foram libertos milagrosamente.


Ao longo da história da Igreja também tivemos inúmeros homens e mulheres de Deus que tiveram profunda comunhão com Deus através da oração. Os chamados heróis da fé revolucionaram o mundo com a pregação do Evangelho e milagres. Mas, por trás destes feitos havia piedosos servos de Deus em constante oração. John Knox costumava passar noites em oração clamando a Deus dizendo: “Dá-me a Escócia senão eu morro!” – e Deus lhe deu a Escócia. Lutero costumava orar três horas por dia e com isso quebrou o feitiço de séculos e colocou as nações cativas em liberdade. Jonathan Edwards, na noite anterior ao maravilhoso sermão que deu início ao avivamento que sacudiu grandemente a Nova Inglaterra, passou a noite em oração, com outros irmãos. 


Vejamos o que alguns servos de Deus declararam sobre a oração: 

“Eu posso fazer mais que orar, depois de ter orado, mas eu não posso fazer mais que orar, até que tenha orado!” (John Bunyan)

“Quando agimos, colhemos os frutos do nosso trabalho, mas, quando oramos, colhemos os frutos do trabalho de Deus.” (Hans Von Staden)

“Sempre que Deus deseja realizar algo, Ele convoca seu povo para orar.” (Charles Spurgeon)

“Quando trabalhamos, nós trabalhamos, quando oramos, Deus trabalha.” (Hudson Taylor).


Muitas mulheres também, ao longo da história da Igreja, mantinham profunda comunhão com Deus na oração. Enquanto muitos pastores e missionários proclamavam a Palavra de Deus pelo mundo, mulheres de Deus lhes davam amparo na oração. A irmã Albertina Bezerra Barreto, membro da Igreja Assembleia de Deus, no bairro de Casa Amarela, em Recife (PE), é um exemplo histórico de oração. A sua filha Zuleide não andava nem falava e, segundo os médicos, não passaria dos oito anos de vida. Ela reuniu um grupo de irmãs em sua casa para orar pela filha. Durante o período de oração, ela recebeu uma profecia de que a filha seria curada. A menina recebeu a cura e viveu até aos 49 anos. Este acontecimento deu origem ao Círculo de Oração em nossas Igrejas. 


3- A maneira de orar. Há muitas discussões entre os religiosos sobre a maneira correta de orar. Alguns acham que não importa a maneira de orar. Outros dizem que a oração tem que ser de joelho ou com o rosto na terra. Há ainda os que dizem que há locais específicos para oração e, por isso, fazem peregrinações para lugares "sagrados". Entretanto, a Bíblia não exige uma postura corporal específica para orar. Há relatos na Bíblia de orações em pé (2 Cr 6.12), deitado (Is 38.2), de joelhos (1 Rs 8.54), com as mãos estendidas (Ed 9.5), com o rosto em terra (Lm 3.29) ou a cabeça entre os joelhos (1 Rs 18.42), etc. 


Na Bíblia também não há nenhuma regra com relação ao horário, à posição, ou ao tempo destinado à oração. Os judeus tinham o hábito de orar três vezes ao dia e tinham horários específicos para a oração. Mas no Cristianismo não há nenhuma recomendação sobre horário e duração da oração. Jesus e o apóstolo Paulo nos recomendaram a orar sempre, sem cessar e em todo tempo (Lc 18.1; 1 Ts 5.17; Ef 5.18).


Outra questão que produz divergência é o lugar onde se deve orar. Há pessoas que acham que só se deve orar no templo. Outros acham que a oração no monte é mais poderosa. No entanto, Jesus não definiu um lugar específico para a oração e o efeito da oração não está relacionado ao lugar onde se ora. Quando Jesus disse para fechar a porta do nosso quarto e orar, Ele estava se referindo a procurar um lugar discreto para orar em particular. A palavra grega traduzida por quarto é "tameion" (câmara) e se refere ao quarto dos suprimentos, um recinto escondido e secreto. Era o cômodo mais íntimo da casa, onde se guardava os alimentos para protegê-los dos ladrões e animais selvagens. Isso não significa que só podemos orar em nosso quarto, pois o próprio Jesus orou em público, nos montes, no Getsêmani e até na Cruz. 


Na oração cristã não se exige palavras rebuscadas ou linguagem específica, como muitos pensam. Entretanto, precisamos ter decoro e usar uma linguagem sã e irrepreensível, pois estamos nos dirigindo ao Deus Todo Poderoso. Se para nos dirigir a autoridades terrenas usamos pronomes de tratamento específicos e não podemos usar gírias, quanto mais para falar com Deus! Vale lembrar que, mesmo sendo Deus e Senhor, Jesus nos ensinou a nos dirigir a Deus como Pai. Em Cristo, fomos adotados como Filhos de Deus e temos acesso direto a Ele. (Jo 1.12; Rm 8.15).


REFERÊNCIAS: 

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 163-166.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pág. 409-410.

LOPES, Hernandes Dias. Marcos O Evangelho dos milagres. Editora Hagnos. 1ª edição, 2006.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pág. 216-218. 

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 1. pág. 321.

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. 2a Impressão: 2010. Vol. 1. pág. 46.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pág. 63.

SPROUL, R. C. Estudos bíblicos expositivos em Mateus. 1° Ed 2017. Editora Cultura Cristã. pág. 114-115.

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Pb. Weliano Pires


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