Comentário do 2º tópico da Lição 8
Ajudar ao próximo era um preceito muito importante no Judaísmo. Na Lei Mosaica, Deus ordenou que os israelitas socorressem aos pobres: “Quando entre ti houver algum pobre de teus irmãos, em alguma das tuas portas, na tua terra que o Senhor, teu Deus, te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão a teu irmão que for pobre; antes, lhe abrirás de todo a tua mão e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade.” (Dt 15.7,8). A esmola era um dos quesitos mais importantes da espiritualidade judaica. Era considerada a primeira na lista das boas obras. O termo hebraico para esmola é “tzedakah”, que origina-se da raiz “tzedek”, que significa justiça ou integridade. Sendo assim, para o judeu, dar esmolas e ser justo são sinônimos.
No Cristianismo primitivo também sempre foi visto como obrigação dos cristãos socorrer aos necessitados. Jesus ensinou os seus discípulos a fazerem doações ao s necessitados: “Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo.” (Lc 6.38). Era uma prática comum entre os discípulos: “Porque, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe tinha dito: Compra o que nos é necessário para a festa; ou que desse alguma coisa aos pobres.” (Jo 13.29). A Igreja Primitiva também, desde cedo adotou como regra a ajuda aos pobres: “Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha.” (At 4.34,35).
O apóstolo Paulo também, em suas epístolas, sempre faziam menção a ajuda aos pobres, ordenando que se fizessem coletas para a assistência aos pobres: “Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar.” (1 Co 16.1,2). Tiago, por sua vez, caracterizou a ajuda aos necessitados como característica de uma religião pura e imaculada: “A religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.” (Tg 1.27). O apóstolo João questionou se o amor de Deus estaria em alguém que tendo condições não socorre aos necessitados: “Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus?” (1 Jo 3.17).
1- Qual é a motivação do teu coração? Como vimos acima, a generosidade para com os necessitados é algo inerente tanto ao Judaísmo, como ao Cristianismo. Não se discute a sua importância. Entretanto, o que Jesus tratou nessa parte do Sermão do Monte são as motivações que levam as pessoas a ajudar os necessitados. Os judeus não crêem como nós, em salvação pela Graça, mediante a fé. A teologia judaica é retribucionista, ou seja, é baseada na retribuição. No pensamento judaico, Deus retribui com o bem a quem faz bem e, com o mal, a quem faz o mal. Quando lemos os Salmos, isso fica muito claro. Os salmistas expressavam o desejo de que Deus retribuisse aos seus inimigos, os males que estes lhe causavam.
No Cristianismo, tanto Jesus como os apóstolos ensinaram que Deus é bom e faz o bem a quem não merece: “Para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos.” (Mt 5.45). O apóstolo Paulo, falando sobre a justificação pela fé disse: “Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” (Rm 5.8). Jesus também disse para amarmos os inimigos, orar pelos que nos perseguem, bendizer os que nos maldizem, para que sejamos filhos de Deus.
Então, a motivação para ajudarmos aos necessitados não deve ser para receber recompensas, ou a justiça própria. Deve ser unicamente a compaixão pela necessidade dos nossos semelhantes. Há pessoas que fazem obras de assistência social louváveis. Mas, as motivações são egoístas e com interesses escusos. Há políticos que desenvolvem trabalhos sociais, com o objetivo de obter votos. Muitos religiosos também fazem obras sociais, com o objetivo de fazer propaganda da sua religião, ou por acreditar na justificação pelas obras.
2 - O que buscamos quando auxiliamos o próximo? Conforme vimos acima, o cristão deve ajudar àqueles que precisam, movidos unicamente pela compaixão. Jesus conhece as intenções dos nossos corações. Leia Mt 9.4; 12.25; 22.18 e Jo 16.19. Sendo assim, as perguntas que devemos fazer a nós mesmos, antes de fazer qualquer coisa para Deus ou pelo próximo é: Por que estou fazendo isso? Com que objetivo? Se ninguém estivesse vendo, eu faria isso da mesma forma? Estou esperando receber alguma coisa por isso?
Se os nossos objetivos forem obter reconhecimento humano, deduzir no imposto de renda, obter ganhos políticos, promover a nossa denominação ou o nosso ministério, estamos nos comportando como hipócritas. Não podemos também considerar a ajuda ao próximo como um favor a ser retribuído por ele, ou um "carta na manga" para usá-lo em momento oportuno contra ele. Isso é coisa de mercenário, que é aquele que faz qualquer coisa para se dar bem, até "ajudar" os outros.
3- A maneira de ofertar segundo Jesus. Ofertar aqui não é ofertar na Igreja, pois Jesus não estava tratando desse assunto e sim da oferta aos necessitados. Entretanto, os mesmos princípios se aplicam também às contribuições que fazemos no templo. As nossas motivações devem ser única e exclusivamente a sustentação e crescimento da obra de Deus. Convicto de que nada se faz neste mundo sem dinheiro, o crente em Jesus sabe que para a Igreja funcionar também precisa de dinheiro e, por isso, contribui.
Jamais devemos contribuir na obra do Senhor fazendo propaganda dos valores doados. Também não devemos contribuir para ser bem vistos pela liderança da Igreja. Outra coisa importante que devemos destacar é que as contribuições à Igreja não são um seguro social, que obriga a Igreja a sustentar a pessoa quando estiver em dificuldades, ou que o crente possa acionar a justiça para rever os valores pagos. Além do mais, não devemos contribuir esperando recompensas humanas ou exigir contrapartida, como querer mandar na Igreja porque contribui com valores elevados. Nenhum pastor deve aceitar esse tipo de chantagem. A obra é de Deus e Ele proverá os recursos necessários, caso alguém deixe de contribuir.
REFERÊNCIAS:
CHILDERS, Charles L.; EARLE, Ralph; SANNER, A. Elwood (Eds.) Comentário Bíblico Beacon: Mateus a Lucas. Vol . 6. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.63.
GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 149-153.
LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag. 214.
STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pag. 61.
TASKER, V. G. Mateus, Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. 1 Ed 1980. pag. 57.
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Pb. Weliano Pires
Excelente exposição sobre oferta! Deus continue abençoando!
ResponderExcluirAmém, obrigado pelo comentário.
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