12 agosto 2025

A IGREJA PERSEGUIDA

(Comentário do 1° tópico da lição 07: Uma Igreja que não teme a perseguição).

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, veremos que a Igreja de Jerusalém era uma Igreja perseguida.  Inicialmente, falaremos dos primeiros perseguidores da Igreja Cristã em Jerusalém. Na sequência, falaremos das duas esferas dessa perseguição, que eram a religiosa e a política. Por último, veremos que a Igreja de Cristo sempre enfrentará algum tipo de perseguição. 


1. Os perseguidores. A Igreja de Jerusalém nasceu em um contexto de perseguição, pois fazia menos de dois meses que Jesus havia sido morto em Jerusalém. Nos primeiros dias após a descida do Espírito Santo, os discípulos do Senhor encontraram resistência por parte das autoridades religiosas judaicas. No capítulo três de Atos, lemos o relato da cura de um coxo de nascença na porta do Templo, por Pedro e João. Os sacerdotes, o capitão do templo e os saduceus, se irritaram porque Pedro ensinava ao povo a ressurreição de Cristo, e os encerraram na prisão, até o dia seguinte, pois já era tarde. 

No dia seguinte, se reuniram os anciãos, os escribas e os sacerdotes para interrogá-los. Pedro e João, com muita autoridade falaram de Jesus, diante das autoridades. Vendo a ousadia de Pedro e João e, sabendo que eram iletrados, as autoridades se maravilharam, concluindo que eles foram seguidores de Jesus durante o seu ministério terreno. Vendo ali, o homem que havia sido curado e a multidão de pessoas, os anciãos, escribas e sacerdotes ficaram sem saber o que fazer. 

Chamaram, então, os apóstolos em particular e ameaçaram açoitá-los, caso continuassem ensinando no Nome de Jesus. Pedro, no entanto, respondeu que obedeceria a Deus e não aos homens, pois, não poderia deixar de falar daquilo que tinham visto e ouvido. O capítulo 5 de Atos registra que os apóstolos pregavam ousadamente a Palavra de Deus, muitos enfermos foram curados e endemoninhados libertos. 

O sumo sacerdote, que pertencia ao partido dos saduceus, encheu-se de inveja e mandou prender os apóstolos novamente. Porém, o anjo do Senhor abriu as portas da prisão, libertou os apóstolos e eles voltaram a pregar publicamente. Quando descobriram, que os apóstolos não estavam mais na prisão e que estavam pregando no Templo, mandaram buscá-los, mas, sem violência, pois, tiveram medo de ser apedrejados pelo povo.

Neste contexto dos capítulos 3 a 5 do Livro de Atos, são mencionados três grupos de perseguidores da Igreja:: Os sacerdotes, os saduceus e o capitão do templo. Os sacerdotes eram os descendentes de Aarão, irmão de Moisés, cuja família foi escolhida por Deus para ministrar no templo. Neste contexto, o sumo sacerdote era o presidente do Sinédrio, uma espécie de Suprema Corte judaica. 

O grupo dos saduceus era um partido religioso que nasceu no período interbíblico e eram descendentes de Zadoque, que foi o sumo sacerdote escolhido nos dias de Salomão (1 Rs 2.35). O nome Saduceus é a forma aportuguesada de Zadoqueus. Os saduceus apoiavam o império romano, pois se beneficiavam dele. Tinham poucos apoiadores, mas os que os apoiavam pertenciam à classe sacerdotal ou eram pessoas ricas. 

Este grupo misturou o Judaísmo com a cultura grega e reconheciam como Escrituras Sagradas apenas o Pentateuco. Não aceitavam as tradições orais dos anciãos, não criam em anjos, espíritos e na ressurreição. Tinham uma visão dualista e não acreditavam na providência de Deus, nem em intervenções divinas na história da humanidade.

O capitão do templo era o chefe da guarda do templo, responsável pela segurança do local. No templo de Jerusalém havia regras muito rígidas em relação à separação dos locais. No lugar santíssimo, somente o sumo sacerdote poderia ter acesso. Depois, o lugar santo, onde somente os sacerdotes poderiam acessar para oferecer sacrifícios. No pátio, poderiam entrar os homens judeus de nascimento, que eram circundados. Este local  era separado do pátio das mulheres e do pátio dos gentios.

O grupo dos fariseus não foi mencionado aqui, mas eles também perseguiram a Igreja. 

Os fariseus eram um grupo religioso de Israel, que surgiu provavelmente no período que antecedeu a guerra dos macabeus, com o objetivo de resistir e fazer oposição aos costumes helenísticos. A palavra hebraica “prushim” (fariseus) tem origem incerta. O sentido mais provável é “separado”. Os fariseus eram muito rigorosos na observância não apenas da Lei escrita, mas também da tradição oral.

A perseguição dos fariseus teve maior relevância através de um  jovem doutor da lei, natural de Tarso da Cilícia, chamado Saulo. Este foi um dos responsáveis pela morte de Estevão. Depois disso, Saulo empreendeu uma grande perseguição aos cristãos, arrastando homens e mulheres pelas ruas e conduzindo-os às prisões. Em meio a estas perseguições, Saulo teve um encontro com Jesus e se tornou o maior missionário do Cristianismo. 

No capítulo 12 de Atos, surgiu outro perseguidor da Igreja que foi Herodes Agripa I. Este Herodes era sobrinho de Herodes Antipas, que foi o assassino de João Batista. Era também neto de Herodes, o Grande, e herdou a tetrarquia do seu tio, Herodes Antipas. No governo do imperador Cláudio, Herodes Agripa I foi nomeado também governador da Judéia e, como tal, deveria apaziguar os judeus e evitar rebeliões contra Roma. Por isso, ele iniciou a perseguição aos cristãos, com o intuito de conquistar os judeus.


2. Esferas da perseguição. Os cristãos eram perseguidos por vários grupos, como vimos acima. Estes grupos tinham várias divergências entre si, mas tinham algo comum a todos eles: o ódio aos cristãos. A perseguição dos judeus aos cristãos se deu por razões diferentes. O comentarista mencionou aqui duas esferas dessa perseguição: a esfera religiosa, que via na mensagem cristã uma ameaça ao Judaísmo; e a esfera política, por parte dos governantes romanos, que perseguiam os cristãos para obter o apoio dos judeus. 


a) Na esfera religiosa. Desde os dias em que Jesus estava entre eles, os líderes religiosos de Jerusalém já se sentiam ameaçados com a sua mensagem, do ponto de vista político. Na ocasião da ressurreição de Lázaro, sem ter o que fazer para impedir que as pessoas cressem nele, os principais sacerdotes e os fariseus formaram conselho, e disseram: “Que faremos? Porquanto este homem faz muitos sinais. Se o deixarmos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação”. (Jo 11.47,48).

Além de se sentirem ameaçados, estes líderes religiosos também tinham inveja de Jesus, por causa da sua popularidade. O próprio Pilatos ao interrogar Jesus sabia que os judeus o acusavam por inveja e não porque ele tivesse cometido algum crime: “Portanto, estando eles reunidos, disse-lhes Pilatos: Qual quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus, chamado Cristo? Porque sabia que por inveja o haviam entregado”. (Mt 27.17,18).

Depois da morte de Jesus, a situação se repetia com os apóstolos. Eles testemunharam ousadamente de Jesus, acusando as autoridades religiosas de Israel de tê-lo condenado à morte injustamente e afirmavam que Ele havia ressuscitado. Além disso, realizavam muitos milagres publicamente, que eram incontestáveis. Milhares de judeus, inclusive sacerdotes, se converteram a Cristo. Isso representava uma ameaça ao Judaísmo e causou muita inveja. 


b) Na esfera política. A dinastia de Herodes não tinha nada a ver com a religião judaica. Herodes, o grande, era descendente dos idumeus, que eram remanescentes dos edomitas, inimigos históricos do povo judeu. Eram vistos pelos judeus como impostores estrangeiros, a serviço de Roma. Para conquistar a simpatia dos judeus, Herodes casou-se com Mariana, que era filha de um sacerdote judeu e fez a reconstrução esplendorosa do templo de Jerusalém. 

No segundo caso da perseguição mencionada na leitura bíblica classe, no texto de Atos 12, trata-se de uma perseguição por motivos políticos. Herodes Agripa I, neto de Herodes o grande, depois de ter sido nomeado governador da Judéia, querendo agradar aos Judeus, mandou decapitar o apóstolo Tiago. Percebendo que os judeus haviam aprovado a sua atitude, mandou prender também a Pedro e pretendia condená-lo à morte após a festa da Páscoa,  para que não houvesse tumulto em Jerusalém. 

A motivação de Herodes Agripa I para perseguir os cristãos, portanto, era política. Tratava-se de uma jogada política para conquistar o apoio dos judeus. Mesmo não tendo nada pessoal contra os cristãos e sem que estes tivessem violado nenhuma lei romana, Herodes mandou executar o apóstolo Tiago, sem nenhuma acusação formal e sem direito à defesa. Lançado na prisão, Pedro teria o mesmo destino, se não fosse a intervenção divina. 


3. A Igreja enfrentará oposição. Conforme foi dito na Verdade prática desta lição, há duas verdades inegáveis em relação à verdadeira Igreja Cristã: a Igreja será perseguida e Deus a protegerá. Com relação a esta primeira verdade, a verdadeira Igreja Cristã sempre enfrentou oposição em qualquer época e continuará enfrentando. Isto acontece não por causa da Igreja, mas, porque o mundo odeia a Deus e a Igreja é a coluna e firmeza da verdade neste mundo. 

Ao longo da história da Igreja, vários sistemas políticos e religiosos se levantaram contra a Igreja do Senhor para tentar detê-la. Primeiro foram os judeus. Depois, vieram os romanos, os papas, o iluminismo, os comunistas, os muçulmanos, os católicos, etc. As perseguições iniciais eram violentas, porque aqueles povos eram violentos, da mesma forma que acontece hoje em muitos países da África, Oriente Médio e Ásia. Mas há também perseguições disfarçadas através de leis e multas que impedem o funcionamento da Igreja.

Os missionários pentecostais quando chegaram ao Brasil, em 1910 e nos anos subsequentes, também foram bastante perseguidos. Naquela época, o Catolicismo Romano era a religião oficial e perseguia de várias formas, as demais religiões. Os padres falavam para as pessoas não alugarem casa aos protestantes, não negociarem com eles e não podiam sequer usar os cemitérios para sepultar protestantes. 

Havia muitas zombarias e afrontas aos protestantes. Perturbavam os cultos e jogavam pedras nos templos. Maridos proibiam as esposas de serem crentes, agredindo-as física e psicologicamente. Os patrões não queriam contratar crentes, ou ameaçavam demiti-los após a conversão ao Evangelho. Muitos jovens também foram agredidos e expulsos de casa pelos pais, por causa da fé evangélica. Esta não é mais a realidade do Brasil, pois a nossa Constituição garante a liberdade religiosa. A perseguição hoje no Brasil ocorre de forma disfarçada e através de leis que prejudicam a Igreja.  

Entretanto, em muitos países, ainda há perseguição violenta contra os cristãos. O Portal Missões Portas Abertas, elenca vários tipos de perseguição no mundo atual: Nacionalismo religioso, perseguição comunista e pós comunista, hostilidade etno-religiosa, protecionismo denominacional, intolerância secular, perseguição islâmica, perseguição dos familiares dos cristãos, perseguição de ditadores, perseguição de corruptos e do crime organizado, etc. Muitos destes grupos são extremamente violentos: sequestram, torturam, e abusam sexualmente de cristãos. Oremos pela igreja perseguida! 


REFERÊNCIAS:


GONÇALVES, José. A Igreja em Jerusalém: Doutrina, comunhão e fé: a base para o crescimento da Igreja em meio às perseguições. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 
Ensinador Cristão:  RIO DE JANEIRO: CPAD, 2025, Ed. 102, p. 39

Biografia de Herodes I o Grande. Disponível em: https://www.ebiografia.com/herodes_i_o_grande/

GABY, Wagner. Até os confins da terra: Pregando o Evangelho a todos os povos, até a volta de Cristo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2023, págs. 108-120.

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra: O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª edição: 2023.

ROTA DA PERSEGUIÇÃO: Uma jornada pelos dez países onde os cristãos são mais perseguidos. Publicação do Portal Missões Portas Abertas. Disponível em: missao.portasabertas.org.br/rota-da-perseguicao.



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