(Comentário do 2° tópico da lição 06: Uma igreja não conivente com a mentira).
Ev. WELIANO PIRES
No segundo tópico, falaremos da mentira no meio cristão. Em primeiro lugar, veremos que mentir é uma questão de escolha. Mesmo a mentira tendo a sua origem no Diabo, cabe a cada um escolher mentir ou falar a verdade. Na sequência, veremos que Ananias e Safira foram atraídos pela mentira e quiseram se beneficiar dela. Por fim, veremos que a mentira tem consequências drásticas. No caso de Ananias e Safira, custou-lhes a própria vida.
1. Mentir é uma escolha. Todos nós, seres humanos, nascemos com a natureza pecaminosa, que herdamos dos nossos primeiros pais. Sendo assim, temos a inclinação natural para o pecado. No Salmo 51, ao confessar o seu pecado a Deus, Davi disse: “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe”. (Sl 51.5). Isto não significa que o pecado seja algo automático, que acontece contra a vontade humana. O ser humano peca porque escolhe seguir a sua natureza pecaminosa.
Embora o pecado tenha a participação do diabo na fase da tentação, a responsabilidade por pecar será sempre do ser humano que tem livre-arbítrio, ou seja, tem liberdade para tomar decisões, e decide pecar. O ser humano não regenerado está morto espiritualmente em seus pecados e ofensas (Ef 2.1) e não tem condições de, por si mesmo, livrar-se da escravidão do pecado. Jesus disse que “todo aquele que peça é escravo do pecado.” (Jo 8.34).
Quando damos ouvidos à voz do Espírito Santo e recebemos a Cristo como Senhor e Salvador, o Espírito Santo opera em nosso interior o milagre do novo nascimento ou regeneração e nos capacita a viver de acordo com o padrão de Deus. Isso, porém, não significa que estamos completamente isentos de cometer pecados. A velha natureza pecaminosa continua adormecida em nosso interior e se faz necessário mortificá-la diariamente, vigiando em todo tempo, para não ceder às tentações.
No caso da mentira, que é um pecado, também é assim. Ninguém é obrigado a mentir, tampouco nasce predestinado a ser um mentiroso, como dizem os calvinistas. Cada um de nós é responsável pelas próprias escolhas e não podemos fazer como Adão e Eva que, ao serem interrogados por Deus, tentaram transferir a culpa para terceiros. Cada um é responsável pelos seus próprios atos e dará conta de si mesmo a Deus (Rm 14.12).
2. Atraídos pela mentira. Ananias e Safira eram livres para escolher a mentira ou a verdade, mas escolheram mentir. Pedro deixou bem claro em sua repreensão a Ananias que a propriedade era deles e, portanto, o dinheiro da venda era deles. Ninguém os obrigou a vender, nem tampouco a fazer a doação do dinheiro. Se eles entregassem a metade do dinheiro, trinta por cento, dez por cento, não teria problema algum. O problema estava exatamente em mentir, entregando uma parte do dinheiro, fingindo que era a totalidade do valor da venda.
O casal Ananias e Safira eram crentes e certamente ouviram muitos ensinos da Palavra de Deus, transmitidos pelos apóstolos. Viram também outras pessoas, movidas pelo amor, venderem as suas propriedades e trazerem o dinheiro, voluntariamente, para ajudar aos necessitados. Mas eles eram avarentos e não quiseram entregar todo o dinheiro. Por outro lado, não queriam ficar mal perante a Igreja e não levar nada, pois todos sabiam que eles tinham condições.
Por isso, foram atraídos para a mentira, pelas artimanhas do inimigo. Tiago escreveu: “Cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência”. (Tg 1.14). Segundo Myer Pearlman, “houve um tempo em que Ananias e Safira tinham a possibilidade de resistir à tentação”. Entretanto, eles foram seduzidos pela tentação de ficar com uma parte do dinheiro da venda, cederam à tentação e mentiram.
O texto bíblico não diz por que o casal resolveu mentir. Mas podemos deduzir que eles queriam obter vantagem com a mentira. Que tipo de vantagem eles poderiam obter com esta atitude? Se a mentira não tivesse sido desmascarada pelo Espírito Santo, eles teriam sido elogiados pela Igreja, por terem sido “generosos” para com os pobres, como aconteceu com Barnabé.
3. Mentir tem consequências. A mentira é uma escolha, como vimos acima, mas ela traz consequências trágicas, não apenas para quem mente, mas também para outras pessoas atingidas por ela. Na Bíblia temos exemplos de pessoas que morreram, vítimas de mentiras de outras pessoas: um profeta nos dias de Jeroboão, que foi vítima da mentira de um profeta velho; Nabote, que foi apedrejado por causa de mentirosos contratados por Jezabel para o acusarem de blasfêmia; Estevão, que também foi apedrejado com base em mentiras; etc.
Temos também na Bíblia casos de pessoas justas, que mentiram por medo ou para obter vantagens pessoais e colheram os frutos amargos da mentira, como Abraão, Sara, Isaque, Rebeca e Jacó. Só não aconteceram tragédias maiores, porque Deus teve misericórdia deles e as impediu. Abraão, ao ser indagado por Faraó, rei do Egito, e por Abimeleque, rei de Gerar, a respeito de Sara, sua mulher, como medo de morrer, disse que ela era sua irmã. Sara chegou a ser levada para se tornar concubina destes reis (Gn 12.10-19; 20.1-9). O fato só não se consumou, porque Deus entrou em ação e não permitiu.
Isaque seguiu o exemplo do pai e também mentiu a Abimeleque rei de Gerar, dizendo que Rebeca, sua mulher, era sua irmã (Gn 26.6-10). Na velhice de Isaque, Rebeca induziu o seu filho Jacó a mentir para o seu pai dizendo que era Esaú, para ficar com a benção da primogenitura (Gn 28.6-27). Por causa disso, Esaú quis matá-lo e ele teve que fugir para Padã-Arã, onde passou cerca de vinte anos morando com o seu tio Labão (Gn 6.41-44). Se não fosse a providência divina, teria acontecido um fratricídio naquela família.
Por fim, temos o caso do casal Ananias e Safira, que é o assunto desta lição, os quais foram mortos por causa da própria mentira. Na atualidade também, muitos mentem para obter vantagens e caluniam os outros, para tirá-los da concorrência. Com isso, destroem reputações, semeiam contendas e destroem famílias e ministérios. Estas pessoas até escapam da morte física, mas morrem espiritualmente e, certamente, não escaparão do juízo de Deus, se não se arrependerem.
REFERÊNCIAS:
GONÇALVES, José. A Igreja em Jerusalém: Doutrina, comunhão e fé: a base para o crescimento da Igreja em meio às perseguições. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025.
Ensinador Cristão: RIO DE JANEIRO: CPAD, 2025, Ed. 102, p. 39
PEARLMAN, Myer. Atos: Estudo do Livro de Atos e o Crescimento da Igreja Primitiva. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023, p.64
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