(Comentário do 1º tópico da Lição 10: O plano de livramento e o papel de Ester)
Ev. WELIANO PIRES
No primeiro tópico, veremos o plano de Mardoqueu e o temor de Ester. Inicialmente, falaremos do lamento, choro e compadecimento de Mardoqueu, após saber que o rei Assuero havia emitido um decreto para matar todos os judeus do Império Persa. Na sequência, falaremos do obstáculo real para Ester seguir o plano de Mardoqueu, pois ela não tinha permissão para falar com o rei naquele dia e corria o risco de morte, se assim o fizesse. Por último, falaremos das consequências do autoritarismo do rei Assuero, que foi o seu assassinato, que ocorreu oito anos depois dos acontecimentos narrados no Livro de Ester.
1- Lamento, choro e compadecimento. No segundo tópico da lição passada, falamos da tristeza de Mardoqueu, de Ester e dos judeus, após saberem que o rei havia determinado o extermínio completo do povo judeu, seguindo a sugestão astuta e oportunista de Hamã. Aqui o comentarista volta ao tema, destacando exclusivamente a tristeza e o abatimento de Mardoqueu, diante desta situação trágica, e o compadecimento de Ester por ele.
Mardoqueu era um homem íntegro e leal ao rei, como vimos na lição 08. Ao descobrir um plano de dois guardas do palácio para assassinar o rei, imediatamente ele levou a informação a Ester e salvou a vida do rei. Ele tinha princípios e não se dobrou diante do poderoso Hamã, arriscando a própria vida. Para fazer isso, tinha que ser um homem destemido, que não tinha medo de ser morto, pois naquele tempo desobedecer a uma ordem expressa do rei era gravíssimo.
Agora a situação era gravíssima e Mardoqueu se abateu profundamente. Ele sabia que não apenas ele, mas todo o seu povo, de todas as idades seriam mortos, impiedosamente, sem terem cometido crime algum. Podemos imaginar também a frustração de Mardoqueu com o rei, cuja vida ele havia salvado com o seu ato heróico. Agora este mesmo rei assina um decreto ordenando a morte não apenas dele, mas de todo o seu povo.
No auge da sua angústia e desespero, Mardoqueu rasgou os seus vestidos, vestiu-se de saco, saiu clamando em alta voz pelas ruas e foi até à porta do palácio. A situação de lamento se repetia em todas as províncias nas comunidades judaicas, pois todos sabiam da gravidade da situação. Mardoqueu pretendia pedir a ajuda de Ester e, possivelmente, ela não sabia da gravidade da situação, pois, ao vê-lo naquela situação, mandou roupas para que ele as vestisse e Mardoqueu recusou.
Mardoqueu resolveu compartilhar com Ester a dor e o desespero do seu povo. Assim como ele se alegrou com ela, quando ela foi coroada rainha da Pérsia, agora ele resolveu dividir com ela a dor de todo o povo judeu, que estava condenado à morte, com dia marcado para a execução. Como disse o apóstolo Paulo aos Romanos, devemos “alegrar-nos com os que se alegram; e chorar com os que choram.” (Rm 12.15).
Em momentos de angústia, precisamos de pessoas do nosso lado, que chorem e orem conosco. O próprio Senhor Jesus, quando estava no Getsêmani, em profunda agonia, reclamou porque os seus apóstolos mais próximos dormiram enquanto Ele estava em profunda agonia. Pouco tempo depois, o seu tesoureiro o traiu; um dos apóstolos mais próximos, o negou; e os demais fugiram. Felizes são aqueles que têm ao seu lado, pessoas que nos momentos de angústia, ficam ao seu lado para o que der e vier. Ter amigos nos momentos bons é fácil. Mas é na angústia, que conhecemos os verdadeiros amigos.
2- Um obstáculo real. Pelas leis persas, ninguém poderia permanecer na porta do palácio ou comparecer diante do rei vestido de saco e cheio de cinzas, como Mardoqueu estava fazendo. Sem entender nada e vendo a situação de Mardoqueu, Ester enviou Hataque, um dos eunucos do rei que cuidava dela, para saber de Mardoqueu o que estava acontecendo.
Mardoqueu contou a situação ao eunuco e enviou uma cópia do decreto do rei, contendo a ordem do para matar todos os judeus do Império Persa, com data marcada para a execução da sentença. Ele mandou dizer a Ester também que intercedesse junto ao rei pela vida dos judeus. Ester quando soube da notícia, limitou-se a responder a Mardoqueu que ninguém poderia comparecer à presença do rei sem ser chamado, inclusive ela.
As leis persas eram rigorosas e irrevogáveis. Nem mesmo o rei poderia mudá-las. Como disse o comentarista, todo essa restrição para alguém se aproximar do rei se justificava, pois havia riscos reais de assassinato do rei, como aliás já haviam tentado Bigtã e Teres, que foram descobertos e executados antes. Sendo assim, para evitar ataques, só poderiam comparecer perante o rei, aqueles que ele convidasse, com hora marcada. Quem desobedecesse seria morto, a não ser que o rei estendesse o cetro de ouro e autorizasse.
3- Autoritarismo e morte. Todo este rigor com a segurança do rei, não foram suficientes para evitar o seu assassinato, que acabou acontecendo oito anos depois, em 465 a.C. por um dos seus oficiais. Claro que não se pode descuidar da segurança de autoridades, pois elas contrariam interesses e são alvos potenciais de atentados. Mesmo em regimes democráticos há históricos de assassinatos ou atentados contra autoridades. Nos Estados Unidos, por exemplo, já houve casos de presidentes que foram mortos a tiros. Aqui no Brasil, um candidato à presidência da República sofreu um atentado a faca em plena campanha eleitoral e, por pouco, não foi assassinado.
Na antiguidade não havia democracia. Os regimes eram autoritários e, em muitos casos, eram extremamente cruéis. Por causa disso, o número de inimigos e o perigo de conspirações se multiplicavam. Os reis tinham copeiros que, além de lhe servir a bebida, tinham que prová-la antes, para evitar envenenamento.
Mesmo assim, muitos deles foram assassinados pelos próprios servos do palácio, por generais e até por irmãos, que usurpavam o trono. Até mesmo em Israel, no Reino do Norte, vários reis foram mortos por conspiradores. Em Judá também também houve assassinato de reis, embora tenha sido bem menos os casos. Atalia, a mulher do rei Jeorão, depois que o seu filho Acazias foi assassinado, ela mandou matar toda a família real, incluindo os próprios netos, e se autoproclamou rainha.
Na atualidade, mesmo com todo aparato de segurança e perseguição implacável contra os adversários, muitos ditadores são alvos de conspiração e assassinados, como foi o caso do ex-ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, que foi assassinado depois de passar mais de quarenta anos governando o país com braço de ferro.
Isto acontece, porque lealdade e fidelidade não se compra e não se impõe, mas se conquista. Quanto mais autoritário o governante é, mais odiado será e acabará sendo traído e assassinado. Os reis justos e bons são amados pela maioria, mas mesmo assim, há pessoas que o odeiam, pois ninguém consegue agradar a todos. O rei Davi foi um bom rei, mas o próprio filho dele, Absalão, se rebelou e tentou matá-lo e tomar o trono. A nossa segurança vem do Senhor. Se Ele não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela (Sl 127.1).
REFERÊNCIAS:
QUEIROZ, Silas. O Deus que governa o Mundo e cuida da Família: Os ensinamentos divinos nos livros de Rute e Ester para a nossa geração. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2024.
REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. RIO DE JANEIRO: CPAD, 3º Trimestre de 2024. Nº 98, pág. 41.
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p.691
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p. 692-93.
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