09 maio 2024

AS TRÊS ARMAS ESPIRITUAIS DO CRISTÃO

(Comentário do 2º tópico da Lição 06: As nossas armas espirituais) 

Ev. WELIANO PIRES

No segundo tópico, descreveremos as três principais armas do crente: A primeira delas é a Palavra de Deus, a espada do Espírito. Jesus venceu o inimigo usando a Palavra de Deus. A segunda arma do crente é a oração. Jesus teve completa vitória, porque sempre viveu em oração. A terceira arma do crente é o jejum, uma arma espiritual que nos auxilia a ter mais intimidade com Deus. Jesus venceu o inimigo, estando em jejum e oração, por quarenta dias. 

1. A Palavra de Deus. A Palavra de Deus é uma poderosa arma de defesa e de ataque para o cristão. Na relação de armas que fazem parte da armadura do cristão, o apóstolo Paulo citou a Palavra de Deus, como a espada do Espírito (Ef 6.17). O escritor da Epístola aos Hebreus também falou que a Palavra de Deus é mais penetrante do que espada de dois gumes, pois penetra até à divisão da alma e do espírito, juntas e medulas e é apta para discernir os pensamentos e intenções dos corações (Hb 4.12). 

A Palavra de Deus é o fundamento seguro para as nossas vidas. No final do Sermão do Monte, o Senhor Jesus comparou a Palavra de Deus ao alicerce de uma casa edificada sobre a rocha: "Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a Rocha. (Mt 7.24,25). Quem edifica a sua vida sobre a Palavra de Deus, não será abalado pelas tempestades e crises desta vida. 

Há muitos textos na Bíblia que falam da importância da Palavra de Deus. Mas, certamente, o Salmo 119 é o que mais a enaltece. Em todos os seus 176 versos, há uma referência à Palavra de Deus, usando termos diferentes como lei, estatutos, juízos, testemunhos, palavra, caminhos, mandamentos, preceitos, etc. Segue abaixo, algumas informações importantes do Salmo 119 sobre a Palavra de Deus:  

A Palavra de Deus purifica os nossos caminhos (Sl 119.9); nos dá condições de não pecar contra Deus (Sl 119.11); alegra o coração de quem se lembra dela (119.16); vivifica os corações (119.25); fortalece a alma (119.28); traz salvação (119.41); produz a piedade de Deus (119.58); consola o aflito (119.76); veio do céu e permanece no céu (119.89); é lâmpada e luz para o nosso caminho (119.105); nos sustenta (119.116); ordena os nossos passos (119.133); é muito pura (119.140); é a verdade desde o princípio (119.160); nos dá entendimento (119.169); etc. 

No Novo Testamento também, a importância da Palavra de Deus é destacada. Jesus falou que a Palavra de Deus testifica dele (Jo 5.39). Depois, na oração sacerdotal, Ele disse que a Palavra de Deus é a Verdade e nos santifica (Jo 17.17). Falou também que a Palavra de Deus é infalível e jamais passará (Mt 24.35). O apóstolo Paulo falou que é através da Palavra de Deus que vem a fé (Rm 10.17). Pedro escreveu que a Palavra de Deus é o leite racional não falsificado, que promove o crescimento espiritual dos novos crentes (1 Pe 2.2). Portanto, a Palavra de Deus é indispensável na jornada do cristão neste mundo. 

2. A oração. A segunda arma espiritual do cristão, não menos importante, é a oração. No Salmo 51.17, durante a sua confissão e arrependimento, Davi disse: “De tarde e de manhã e ao meio-dia orarei; e clamarei, e ele ouvirá a minha voz.”  O próprio Deus, recomendou ao profeta Jeremias: “Clama a mim e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes.” (Jr 33.3).

A oração é uma prática inerente à vida cristã. Considerando que Deus é um ser pessoal e que se comunica com o seu povo, não é possível haver relacionamento com Deus se não houver oração. Por isso, Jesus não disse aos seus discípulos "se orardes" e sim "quando orardes". Ele partiu do pressuposto de que a oração faz parte da vida cristã. 

Em muitas religiões, a oração é simplesmente a repetição de um texto previamente elaborado, que teria poderes em si mesmo, para proteção, fechamento do corpo, prosperidade, livramentos, etc. Em outras religiões, há a figura do intermediário, que seria alguém a quem o fiel dirige as suas orações, para que este faça a intercessão diante de Deus ou de outras divindades pagãs. 

Entretanto, do ponto de vista bíblico, a oração é um diálogo ou uma conversa entre o crente e Deus. Na oração, o crente abre o seu coração diante de Deus, lançando sobre Ele as suas petições, intercessões e agradecimentos e aguarda a resposta de Deus, em tempo oportuno, de acordo com a Sua soberana vontade. 

Antes de orarmos, devemos sempre lembrar que Deus é Senhor e nós somos servos. Portanto, toda e qualquer oração deve começar com submissão, adoração e agradecimentos a Deus. Não pode haver qualquer espécie de exigência, pois servo não tem esse direito. Devemos orar a Deus, sempre respeitando a sua soberania. 

A Igreja Primitiva perseverava em oração, por isso, era uma Igreja poderosa que obteve muitas vitórias. Eles oraram antes de escolher Matias como apóstolo. Perseveraram na oração até serem revestidos de poder, no Dia de Pentecostes. Oraram agradecendo a Deus até pelas perseguições. Durante a prisão Pedro, a Igreja fez contínua oração por ele, até que ele foi liberto pelo Anjo do Senhor. A Igreja de Antioquia também estava em oração, quando o Espírito Santo chamou Barnabé e Saulo para a obra missionária. Depois, Paulo e Silas também oraram na prisão em Filipos e foram libertos milagrosamente.

Ao longo da história da Igreja também tivemos inúmeros homens e mulheres de Deus que tiveram profunda comunhão com Deus através da oração. Os heróis da fé revolucionaram o mundo com a pregação do Evangelho e milagres. Mas, por trás destes feitos havia piedosos servos de Deus em constante oração. John Knox costumava passar noites em oração clamando a Deus dizendo: “Dá-me a Escócia, senão eu morro!.” Deus atendeu a sua oração e lhe deu a Escócia. 

Muitas mulheres de Deus ao longo da história da Igreja, também mantiveram profunda comunhão com Deus na oração. Em Pernambuco, no ano de 1942, a irmã Albertina Bezerra Barreto, membro da Assembleia de Deus, no bairro de Casa Amarela, em Recife, é um exemplo histórico de oração. A sua filha Zuleide não andava nem falava.  Os médicos disseram que ela não passaria dos oito anos de vida. A sua mãe, no entanto, reuniu sete irmãs em sua casa para orar por esta causa. Durante o período de oração, ela recebeu uma profecia de que a filha seria curada. A menina recebeu a cura e viveu até aos 49 anos. Este acontecimento deu origem ao Círculo de Oração em nossas Igrejas. 

3. O jejum. A terceira arma espiritual do cristão é o jejum. O Jejum e a oração são atos de disciplina, autonegação e humilhação, que demonstram total dependência de Deus. Tanto o jejum como as orações estão presentes em várias religiões. O jejum serve a propósitos ritualísticos, ascéticos, religiosos, místicos e até políticos, de acordo com a motivação e a crença de cada um. 

No Judaísmo, anualmente acontece o chamado Yom Kippur (Dia da expiação), que é um dia  dedicado à contrição, às orações e ao jejum, como demonstração de arrependimento e expiação, em busca do perdão divino. Neste dia os fiéis fazem jejum absoluto e abstém-se de comer, beber, usar calçados de couro, lavar o corpo, passar cremes e desodorantes, de usar eletrodomésticos e de relações sexuais.  

No Islamismo, exige-se o jejum durante o período do Ramadã ou Ramadão. Este período é um mês sagrado para os muçulmanos. Eles fazem jejum diariamente entre o nascer e o pôr do sol. Segundo a tradição islâmica, o profeta Maomé teria recebido revelações divinas nesse período, no século VII d.C. Os muçulmanos praticam o jejum absoluto do nascer ao pôr do sol, em busca da purificação do corpo e da mente. 

Os católicos romanos também praticam o jejum todos os anos, durante os períodos da Quaresma, que são os quarenta dias que antecedem a Páscoa e a ressurreição de Jesus Cristo, e no período do Advento, que é o início  do chamado ano litúrgico, que inicia-se 4 domingos antes do Natal e termina no dia 24 de dezembro. Para os católicos estes períodos não são de festas, mas de ‘alegria moderada e preparação para receber Jesus.’ Os jejuns católicos são parciais e consistem em fazer apenas uma refeição durante o dia e não ingerir coisas proibidas, como carnes e bebidas. 

O jejum bíblico, no entanto, é diferente dos que são praticados em outras religiões, como vimos acima. Para o cristão, o jejum não é uma forma de penitência e autojustificação, como acontece em outras religiões. Na Bíblia, o jejum sempre aparece junto com a oração e está relacionado à humilhação e à confissão de pecados (Dt 9.18; Jn 3.5); e à

lamentação por alguma calamidade, ou derrota em uma batalha (Jz 20.26; Ne 1.4; Et 4.3). 

Os ensinamentos de Jesus sobre o jejum são poucos. Não há uma ordem, nem mesmo um pedido para os seus discípulos jejuarem. Os discípulos de João e os fariseus, chegaram a questionar a Jesus, por que os seus discípulos não jejuavam: “Ora, os discípulos de João e os fariseus jejuavam; e foram e disseram-lhe: Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, e não jejuam os teus discípulos?” (Mc 2.18). Jesus respondeu que os filhos das bodas não podem jejuar enquanto o esposo estiver com eles. Mas, quando lhes for tirado o esposo, então jejuarão. 

O fato de Jesus não ter ordenado o jejum aos seus discípulos não significa que Ele não aprova o jejum ou que ele não precisa ser praticado. Jesus não apenas falou sobre o jejum, como também o praticou. Quando falou sobre o jejum, Jesus não disse “se jejuardes”, Ele disse “quando jejuardes”. Ele partiu do pressuposto de que os seus discípulos jejuariam. Segundo o ensino de Jesus, o jejum deve ser uma prática pessoal, voluntária e discreta, entre o discípulo e Deus: “Porém tu, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em oculto; e teu Pai, que vê em oculto, te recompensará.” (Mt 6.17,18). 

O valor do jejum não está na frequência com que se faz. O jejum cristão pode ser feito por tristeza pelo pecado, para estreitar a comunhão com Deus, ou buscar uma direção divina diante de alguma situação. Não pode ser praticado com motivações carnais e egoístas, ou para fazer barganha com Deus e tentar forçá-lo a fazer alguma coisa. Também não é uma forma masoquista de punir o próprio corpo, ou alguma forma de ascetismo, que defende a abstinência de alimentos ou prazeres para o desenvolvimento espiritual. O jejum cristão é uma abstinência voluntária de alimentos por um período, com o objetivo de aumentar o autocontrole e sujeitar o nosso corpo ao espírito, para nos dedicar às coisas espirituais. 


REFERÊNCIAS:

GOMES, Osiel. A Carreira que nos está proposta: O caminho da Salvação, santidade e perseverança para chegar ao Céu. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2024.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. RIO DE JANEIRO: CPAD, Nº 97, pág. 39, 2º Trimestre de 2024.

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra: O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 163-166.

Bíblia de Estudo Pentecostal — Edição Global. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, pp.1607, 2191,2192

Comentário Bíblico Beacon. RIO DE JANEIRO, CPAD, Vol. 8, 2006, p.459.

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