04 maio 2024

A importância do deserto para o obreiro



“Nem tornei a Jerusalém, a ter com os que já antes de mim eram apóstolos, mas parti para a Arábia, e voltei outra vez a Damasco”. (Gl 1.17).


Ev. WELIANO PIRES


O ministério começa com a chamada, depois vem a conversão e, por último, a preparação. Não se deve separar obreiros que não foram chamados por Deus, nem tampouco os que não são convertidos ou que estão despreparados. O apóstolo Paulo passou por todo este processo, antes de se tornar apóstolo. 

Deus havia escolhido Paulo para ser o apóstolo do gentios, conforme o próprio Paulo inicia dizendo nas Epístolas aos Romanos (Rm 1.1); aos Coríntios (1 Co 1.1; 2 Co 1.1); Aos Gálatas (Gl 1.1); Aos Efésios (Ef 1.1); Aos Colossenses (Cl 1.1); e a Timóteo (1 Tm 1.1; 2 Tm 1.1). Em todos estes textos, Paulo esclarece que ele era apóstolo do Senhor, não pela vontade dos homens, mas, pela vontade de Deus. 

Muitos anos se passaram desde o seu nascimento e Paulo passou pelo processo da conversão, sendo encontrado pessoalmente pelo Senhor Jesus no caminho de Damasco. Agora, ele precisava ser preparado para exercer o seu apostolado. Diferente do colégio apostólico, Paulo não conviveu com Jesus e não passou pelo treinamento que eles passaram, andando com o Mestre por três anos. 

Após a conversão, Paulo ficou alguns dias em Damasco pregando para os judeus. Mas, nem os próprios cristãos acreditaram em sua conversão. A chamada de Paulo foi feita diretamente por Jesus e o seu preparo também. O próprio Senhor Jesus o enviou para o deserto da Arábia, onde ele era totalmente desconhecido. 

Distante das sinagogas e da filosofia grega, Paulo passou a depender completamente de Deus e teve revelações profundas do próprio Jesus, sobre o Evangelho que deveria pregar: “Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens, porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo.” (Gl 1.11,12). 

No deserto, Paulo afastou-se das sinagogas, do seu vínculo com o Judaísmo e com a cultura grega. Paulo ficou três anos no deserto da Arábia, entre a sua conversão e o seu retorno a Jerusalém (Gl 1.17.18). Ele passou por um intenso preparo teológico, emocional e espiritual, com o próprio Jesus, que lhe mostrou revelações profundas sobre o Evangelho. 

O Espírito Santo lhe deu inspiração para escrever treze Epístolas e sistematizar as doutrinas cristãs. Ali, em ambiente desconhecido, sem fama e sem dinheiro, Paulo aprendeu a depender exclusivamente de Deus. 

Aquele que outrora era o temido fariseu Saulo de Tarso, que tinha prestígio com as autoridades religiosas de Israel, o cidadão romano Paulo, que tinha prestígio no Império Romano, e o intelectual que conhecia a cultura e a filosofia grega, agora se limitava a um desconhecido nômade, no deserto da Arábia. 

Com Moisés também foi assim. Ele passou quarenta anos no Egito, sendo formado nas melhores escolas e preparado para ser um possível sucessor do trono de Faraó. Mas, o Senhor o enviou para o deserto, onde ele ficou quarenta anos aprendendo as lições do deserto. Ali, ele aprendeu a conviver com as dificuldades, a cuidar de ovelhas e  defendê-las dos predadores.

No deserto, o cientista e herdeiro do trono de Faraó, Moisés, passou a ser um simples pastor das ovelhas do seu sogro, vivendo nas montanhas. Ali, ele teve um encontro pessoal com o  Deus de Abraão, Isaque e Jacó, e foi enviado para libertar o seu povo da escravidão. Depois disso, ele passou quarenta anos no deserto liderando um povo rebelde. A escola no deserto de Midiã o moldou para ser o homem mais manso e humilde de todo o Israel (Nm 12.3).

O profeta Elias enfrentou o temido casal de ímpios Acabe e Jezabel e depois enfrentou os profetas de Baal. Mas, o Senhor o conduziu primeiro a Sarepta, para ser sustentado por uma viúva pobre, e depois ao deserto, onde ele aprendeu a depender exclusivamente de Deus. 

Elias viveu na margem de um ribeiro, bebendo água dele e sendo alimentado por corvos. Depois, viveu cerca de três anos sendo sustentado por uma viúva, que dependia da multiplicação de Deus. No deserto, ele dependeu, exclusivamente, da comida providenciada por um anjo, a qual lhe deu forças para caminhar por quarenta dias até o Monte Horebe. 

Jesus também, antes de iniciar o seu ministério terreno, foi levado pelo Espírito Santo ao deserto, para ser tentado pelo inimigo. Ali, ele passou quarenta dias em jejum, em profunda comunhão com o Pai. 

Na solidão do deserto, em jejum e oração, fragilizado física e emocionalmente, mas fortalecido espiritualmente, o Divino Mestre venceu o adversário que foi lá tentá-lo. Interessante que Adão e Eva foram vencidos pelo inimigo no Paraíso, mas Jesus venceu o mesmo inimigo no deserto. 

O apóstolo Paulo, antes de iniciar o seu ministério como missionário transcultural, também passou por esta importante escola de Deus. No deserto da Arábia, vivendo como nômade e sem nenhuma expressão, Paulo despiu-se de toda roupagem filosófica, religiosa e cultural que possuía.

 No deserto, Paulo aprendeu que o poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza. Todo este aprendizado foi muito importante em suas viagens missionárias, pois ele enfrentou muitas dificuldades, perseguições, açoites e prisões.  Se não tivesse passado na escola do deserto, ele não suportaria os terríveis sofrimentos e perseguições que passou. 

O obreiro que não passa pelo deserto não aprende a humildade e a total dependência de Deus. Torna-se muitas vezes arrogante e autossuficiente. Infelizmente, em nossos dias, muitos cantores seculares, artistas famosos, jogadores e empresários vêm para o meio evangélico, e são ordenados ao ministério, sem terem experimentado uma conversão genuína, sem ter a chamada de Deus e sem passarem por uma preparação. Os resultados são desastrosos para a pessoa e para a Igreja. 

Deus treinou líderes importantes da Bíblia, levando-os ao deserto. Foi assim com Moisés, Elias, Paulo e o próprio Jesus. No deserto, Deus nos ensina a ser mansos, pacientes, humildes, dependentes de Deus e resilientes. Se você está passando um período no deserto, prezado obreiro, não murmure e não fuja da escola de Deus. Entenda que Ele está preparando você para uma grande obra. 


Deus abençoe o seu ministério! 


WELIANO PIRES é bacharel em teologia, articulista, blogueiro evangélico, professor da Escola Bíblica Dominical e evangelista da Assembléia de Deus, Ministério do Belém em São Carlos-SP. 

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