01 maio 2024

O SEGUNDO INIMIGO DO CRISTÃO: A CARNE

(COMENTÁRIO DO 2º TÓPICO DA LIÇÃO 5 - OS INIMIGOS DO CRISTÃO) 

Ev. WELIANO PIRES


No segundo tópico, falaremos do segundo inimigo do cristão, que é a carne. Inicialmente, veremos os quatro conceitos de carne, apresentados na Bíblia. Na sequência, veremos o conceito de carne na perspectiva do Novo Testamento, que utiliza o termo grego sarx, traduzido por carne. Por último, falaremos da perspectiva doutrinária da Palavra carne, que é uma referência à sua natureza pecaminosa do ser humano após a Queda. 


1. Conceito bíblico de carne. A palavra carne na Bíblia é um termo polissêmico, ou seja, possui vários significados, de acordo com o contexto. O comentarista nos apresenta os quatro significados da palavra carne na Bíblia: 

a. O tecido muscular do ser humano e dos animais. É a parte do corpo humano ou dos animais vertebrados, macia, fibrosa, irrigada de sangue, que fica entre a pele e os ossos. Em Gn 2.21 diz que “...O Senhor tomou uma das costelas de Adão e cerrou a carne em seu lugar.”

b. O corpo humano. Em outros textos bíblicos, a palavra carne não é uma referência apenas à parte do corpo que é chamada de carne, como vimos acima, mas é uma referência a todo o corpo humano, como por exemplo, em Ex 4.7, quando o Senhor disse a Moisés para tornar a colocar a mão no seu peito, depois que está havia se tornado leprosa: “... E tornou a meter a mão no peito; depois, tirou-a do peito, e eis que se tornara como a sua outra carne.” A expressão “sua outra carne” é uma referência ao restante do corpo e não apenas à parte que é considerada carne. 

c. A fragilidade humana. Em outros textos bíblicos a palavra carne é usada para se referir à fragilidade do ser humano, como um ser mortal. No Salmo 78.39, o salmista diz: “Porque se lembrou de que eram carne, um vento que passa e não volta.” Carne aqui é uma referência à mortalidade do ser humano. A Nova Versão Internacional (NVI) traduziu a expressão “eram carne” aqui por “eram meros mortais”. 

d. A natureza humana, corrompida pelo pecado. Em vários textos bíblicos, principalmente no Novo Testamento, a palavra carne não se refere aos tecidos do corpo, ao corpo ou à fragilidade humana e sim, à sua natureza pecaminosa. É nesse sentido que o apóstolo Paulo fala das obras da carne, em Gálatas 5.19-21). Dos quatro significados da palavra carne, é este que é considerado o inimigo do cristão. Os tecidos do corpo, o corpo por inteiro ou a fragilidade humana não são nossos inimigos. Os gnósticos ensinavam que a matéria era essencialmente má e o espírito era bom. Por isso negavam a humanidade de Cristo. Mas isso não tem nenhum fundamento nas Escrituras. O corpo humano não tem nada de mal, pois foi criado por Deus e é o templo do Espírito Santo. O problema está na natureza humana, que foi corrompida pelo pecado. 


2. A Carne no Novo Testamento. No Novo Testamento encontramos duas palavras gregas que são traduzidas por carne: Sarx e Soma. Segundo o dicionário bíblico Wycliffe, a palavra “sarx” é usada em sentido figurado e refere-se “à natureza carnal, ou a disposição que há no homem, propensa a pecar e que é antagônica a Deus.” A outra palavra grega traduzida por carne é “soma”. Esta palavra é usada para se referir ao corpo físico e não tem nenhuma ligação com a pecaminosidade humana. 


No Evangelho segundo João, é dito que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14), referindo-se a Jesus Cristo, o Filho de Deus. Evidentemente, carne aqui não pode ser uma referência à natureza humana corrompida pelo pecado, pois a natureza de Cristo nunca se corrompeu pelo pecado. Ele tomou a forma humana e se fez mortal, mas nunca pecou. 


A natureza humana foi corrompida pelo pecado e tem forte inclinação para o pecado. No capítulo 5 da Epístola aos Gálatas, o apóstolo Paulo explica que em nosso interior há um embate entre a velha natureza, corrompida pelo pecado, e o Espírito Santo, que é absolutamente Santo e se opõe à carne. Evidentemente, o apóstolo não se refere aos órgãos e tecidos do corpo humano e sim, à natureza humana decaída, com forte inclinação ao pecado. Paulo citou uma lista de dezesseis obras da carne, que estão divididas em três categorias: 

a. Pecados contra o corpo: adultério, fornicação, impureza, lascívia, bebedices, glutonarias;

b. Pecados contra a fé: Idolatria e feitiçaria;

c. Pecados contra o próximo:  inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas e homicídios.


No final da lista, o apóstolo Paulo diz que aqueles que praticam estas coisas não herdarão o Reino de Deus. Esta lista não é exaustiva, pois no final ele diz também:"...e coisas semelhantes a estas". Portanto, há muitas outras obras da natureza pecaminosa do ser humano, que não estão nesta lista, mas são condenadas em outras partes da Bíblia. 


3. A perspectiva doutrinária da palavra carne. Do ponto de vista doutrinário, a palavra carne no Novo Testamento se refere à natureza humana, corrompida pelo pecado, após a entrada do pecado no mundo como falamos no subtópico anterior. En alguns casos, a palavra carne também seja usada para se referir ao corpo físico, como em 1 Coríntios 15.39: “Nem toda a carne é uma mesma carne, mas uma é a carne dos homens, e outra a carne dos animais, e outra a dos peixes e outra a das aves.”. Entretanto, não devemos confundir a natureza pecaminosa com o corpo humano. 


O corpo humano foi criado por Deus e, mesmo tendo se tornado mortal por causa do pecado, ele não é mal em si mesmo. Tanto que Jesus tomou a forma humana e nunca pecou. A carne que se opõe ao Espírito não é o corpo humano e sim a natureza pecaminosa do homem. Quando nascemos, já herdamos dos nossos pais esta natureza, com a tendência de pecar. Davi disse: “Eis que em iniquidade fui formado e em pecado me concebeu a minha mãe” (Sl 51.5). 


Por fazerem confusão entre natureza carnal e o corpo humano, os monges vivem isolados do resto do  mundo e privando o corpo de alimentos, sexualidade e outros prazeres lícitos, a fim de não se contaminarem. Mas não é disso que a Bíblia fala quando se refere à carne. Não há nada de errado em comer, passear, ou se relacionar sexualmente dentro do casamento. 


Muitos crentes também confundem as obras da carne  com possessão demoníaca e tentam, equivocadamente, repreender o demônio das pessoas que praticam estas obras, como se elas estivessem possuídas por demônios. Embora o diabo use estas coisas para escravizar as pessoas no pecado e afastá-las de Deus, estas pessoas não estão possessas por demônios. O que elas precisam fazer é buscar a Deus e andar segundo a direção do Espírito Santo. Somente assim, poderão vencer a natureza pecaminosa.


REFERÊNCIAS:


GOMES, Osiel. A Carreira que nos está proposta: O caminho da Salvação, santidade e perseverança para chegar ao Céu. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2024.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. RIO DE JANEIRO: CPAD, Nº 97, pág. 39, 2º Trimestre de 2024.

Bíblia de Estudo Pentecostal: Edição Global. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, págs.1707; 2166.

HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. RIO DE JANEIRO: CPAD, pp.208-210.

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