15 maio 2024

A MURMURAÇÃO NA BÍBLIA

(Comentário do 1º tópico da Lição 07: O perigo da murmuração)

Ev. WELIANO PIRES


No primeiro tópico, falaremos sobre a murmuração na Bíblia, trazendo o conceito de murmuração em hebraico e grego. Veremos alguns exemplos de pessoas que murmuraram, no Antigo e no Novo Testamento, e as consequências deste pecado para o povo de Deus. Por último, falaremos do crente murmurador, que está sempre descontente, e se transforma em um instrumento do maligno contra a Obra de Deus. 


1. O que é murmurar? O que significa murmurar? Qual é o sentido de murmuração na Bíblia? Por que está prática é considerada um pecado tão grave? É sobre isso que falaremos neste tópico. Segundo o dicionário Michaelis da língua portuguesa, a palavra murmurar tem quatro significados: 

1. Produzir murmúrio ou rumor sussurrante; murmurejar, rumorejar, sussurrar; 

2. Dizer algo em voz baixa, em sussurro, como que revelando um segredo; segredar, tugir; 

3. Manifestar descontentamento; queixar-se em voz baixa; lamentar-se, lamuriar-se, queixar-se; 

4. Falar contra (alguém ou algo); apontar faltas; criticar em tom de censura. 


Pelas definições acima, do dicionário, não parece ser algo tão grave. As duas primeiras definições não se aplicam ao sentido que estamos estudando. As definições três e quatro estão mais próximas do sentido bíblico de murmuração, pois trazem a ideia de manifestar descontentamento e queixar-se contra alguém.


Entretanto, o sentido bíblico de murmuração vai muito além de um simples descontentamento ou queixa. Há casos de descontentamentos e queixas que a pessoa tem razão de reclamar, pois está falando contra algo que está errado. A Bíblia não condena isso e não nos recomenda a sermos coniventes com o erro. Ao contrário, os profetas de Deus foram levantados por Ele para confrontar reis e autoridades religiosas e denunciar os seus crimes e pecados. Por causa disso, muitos foram perseguidos e até mortos. 


Conforme o comentarista colocou, o Antigo Testamento usa duas palavras que foram traduzidas por murmurar: a primeira é o verbo liyin, que significa resmungar, reclamar e murmurar, usada em Números 14.36: “E os homens que Moisés mandara a espiar a terra e que, voltando, fizeram murmurar (Heb. Liyin) toda a congregação contra ele, infamando a terra”. A Nova Versão Transformadora (NVT) traduziu esta palavra por “intimaram a rebelião”. 


A segunda palavra hebraica usada para se referir à murmuração é o substantivo higgayown, que significa meditação, música solene, pensamento, ou conspiração. Este substantivo é usado no texto de Lamentações 3.62:os lábios dos que se levantam contra mim (Heb. higgayown) e as suas imaginações contra mim todo o dia.” A Nova Versão Transformadora (NVT) traduziu a expressão “se levantam contra” por “conspiram”. 


No texto grego do Novo Testamento aparece  o verbo goggúzō, que significa murmurar, resmungar, queixar-se, dizer algo contra em um tom baixo e confabular secretamente. O texto de João 7.32, diz que “Os fariseus ouviram que a multidão murmurava (Gr.goggúzō) dele essas coisas...”. O contexto descreve que a multidão discutia entre si, se o Messias quando viesse faria mais sinais do que Jesus. Então, murmurar aqui discutir uma questão em som baixo sobre alguém, para que a pessoa não ouça. 


No texto de Atos 6.1, Lucas usa a mesma palavra para dizer que houve murmuração dos cristãos judeus de fala grega, contra os judeus que viviam em Israel, por causa da distribuição de ajuda às viúvas, que segundo eles, era injusta. A reclamação era justa. Tanto que os apóstolos se reuniram para discutir o assunto e foram instituídos os diáconos. Entretanto, em vez de procurar os apóstolos para resolver o problema, murmuravam entre eles, comprometendo a unidade do povo de Deus. 


Já no texto de 1 Coríntios 10.10, o apóstolo Paulo usa o  verbo grego goggúzō,  traduzido por murmurar, no mesmo sentido do Antigo Testamento: “E não murmureis, como também alguns deles murmuraram e pereceram pelo destruidor.” No contexto, ele estava falando para não colocar o Senhor à prova. É esse tipo de murmuração que é duramente condenada na Bíblia, a reclamação contra o Senhor e contra os seus servos, por puro descontentamento e rebeldia. 


2. O comportamento dos murmuradores. A prática da murmuração sempre esteve presente no meio do povo de Israel, desde o Egito, pois era um povo ingrato, rebelde e obstinado. Antes de Moisés ser levantado por Deus como libertador, ele viu um egípcio agredindo um dos seus irmãos e o matou, para defender o israelita. No dia seguinte, ele foi lá e reclamou com um israelita, que agredia ao seu próximo e, imediatamente, ele respondeu:

– Quem te colocou como juiz? Queres me me matar, como mataste o egípcio?


Quarenta anos depois, quando Moisés retornou de Midiã, por ordem de Deus e foi falar com Faraó para libertar o povo, o rei mandou aumentar o serviço do povo e, se não cumprissem as tarefas, seriam açoitados. O povo, então, culpou Moisés e Aarão por isso, sendo que eles só fizeram o que Deus mandou. 


Depois de saírem do Egito, tendo visto todos os milagres que Deus realizou, quando chegaram em frente ao Mar Vermelho e viram o exército de Faraó vindo atrás deles, levantaram a voz contra Moisés e Aarão, perguntando “se não havia sepulcros no Egito, para eles os trazerem para morrer no deserto”! Deus ouviu a murmuração deles e abriu o mar, dando-lhes um grande livramento. 


Depois de passarem pelo mar em terra seca, três dias depois, não achando água doce para beber, de novo murmuraram contra Moisés por causa da falta de água. O Senhor ouviu a reclamação e transformou as águas amargas em águas doces. Aos quinze dias do segundo mês, após a saída do Egito, de novo murmuram por causa da falta de comida, dizendo que seria melhor ter morrido no Egito, pois lá tinham fartura de carne. De novo, o Senhor ouviu as reclamações deles e mandou carne para eles comerem. Mandou também o Maná, que caía do Céu e eles colhiam gratuitamente todos os dias. 


Os anos se passaram no deserto e Moisés enviou os espias para verificar a terra prometida e trazer um relatório de lá. Dez deles trouxeram um relatório negativo, dizendo que a terra realmente era boa, mas os inimigos eram muito fortes e eles não conseguiriam vencê-los. Diante disso, o povo se revoltou contra Moisés e Aarão e quiseram nomear um líder para voltar ao Egito. 


Dois dos espias, Josué e Calebe, destoaram dos outros dez e tentaram apaziguar o povo, dizendo que Deus lhes daria vitória. Mas o povo quis apedrejá-los. Diante desta murmuração e rebeldia, o Senhor apareceu e deu-lhes a sentença de que aquela geração de murmuradores não entraria na terra prometida. Falaremos sobre isso no próximo tópico. 


No Novo Testamento também temos casos de murmuração. Os escribas e fariseus murmuravam constantemente contra Jesus e incitavam o povo contra Ele. O comentarista citou também o caso da murmuração de Atos 6, mas, conforme falamos acima, esse caso  trata de uma justa reivindicação e não de uma murmuração contra Deus. O erro deles foi não procurar a liderança para resolver o problema e ficar reclamando entre eles, provocando discórdia. 


Há também outros casos de murmuração no Novo Testamento. O apóstolo Paulo sofreu na pele as murmurações dos falsos obreiros que o acusavam de violar a Lei e abusar financeiramente do povo (2 Co 11). Por causa disso, ele militava à própria custa, para dar lugar aos falatórios. O apóstolo João também enfrentou as murmurações de Diótrefes, que queria ter a primazia e não queria recebê-lo (3 Jo 9,10).


O comportamento do murmurador é, antes de tudo, fruto da sua falta de fé. Se confiasse em Deus, iria orar e pedir providências a Ele e não se levantar contra Deus e contra os seus servos. Além disso, todo murmurador é egoísta e ingrato. Ele só pensa em suas próprias vontades, não se preocupa com a unidade da Igreja e nunca está contente com aquilo que Deus fez. 


3. O crente murmurador. Existe crente murmurador? A resposta é sim, pois, como vimos acima, os casos de murmuração aconteceram no meio do povo de Deus no Antigo Testamento, e no meio da Igreja, no Novo Testamento. Quando falamos de murmuração contra Deus e contra a liderança da Igreja, nos referimos aos casos de crentes que fazem isso. Os incrédulos fazerem isso é normal, pois não conhecem a Deus.


A murmuração é incompatível com a vida cristã. Um crente verdadeiro jamais se presta ao papel de murmurador, pois ele conhece o Deus que serve e confia nele. Se alguma coisa lhe falta, ele coloca diante do Senhor em oração e espera a providência de Deus. Como disse o apóstolo Pedro: “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.” (1 Pe 5.6,7). 


O hino 302 da Harpa Cristã traz algumas recomendações importantes para o crente sobre a murmuração: 


Em vez de murmurares, canta

Um hino de louvor a Deus

Jesus quer te dar vida santa

Qual noiva levar-te pra os céus.


Na segunda estrofe, a letra do referido hino diz que “aquele que vive murmurando, comporta-se como um escravo do mal.” É exatamente isso que faz o crente murmurador, transforma-se em um instrumento maligno, contra a obra de Deus, tornando-se um escravo do mal. 


Paulo e Silas foram açoitados publicamente com varas em Filipos, e depois lançados na prisão, por pregarem o Evangelho e libertar uma jovem que estava possessa de um espírito de adivinhação. Na prisão, sentindo dores e com as costas feridas por causa dos açoites, eles não deram lugar à murmuração, mas oraram e cantaram louvores a Deus. Diante disso, Deus fez o milagre e mandou um terremoto que abalou os alicerces da prisão, soltou-lhes as cadeias e abriu todas as portas da prisão (At 16.25,26). Os murmuradores  estão a serviço do maligno e são escravos dele. Mas, os que adoram nas tribulações estão a serviço de Deus e experimentam os milagres de Deus. 


REFERÊNCIAS: 


GOMES, Osiel. A Carreira que nos está proposta: O caminho da Salvação, santidade e perseverança para chegar ao Céu. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2024.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2º Trimestre de 2024. Nº 97, pág. 39.

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal: RIO DE JANEIRO, CPAD, p.11

Comentário Bíblico Beacon. Volume 1. Rio de Janeiro, CPAD, 2005, p.175.

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