28 maio 2024

A TENTAÇÃO E SUA ESFERA HUMANA

(Comentário do 1º tópico da Lição 09: Resistindo à tentação no caminho).

Ev. WELIANO PIRES


No primeiro tópico, falaremos da tentação e da sua esfera humana. Veremos o conceito bíblico de tentação, trazendo o significado das palavras hebraicas e gregas traduzidas por tentação. Na sequência, falaremos das duas vias da tentação: uma que vem do diabo, com o objetivo de nos afastar dos planos de Deus; e a outra que advém do ser humano, através da sua natureza corrompida pelo pecado. Por último, veremos que a tentação é um fenômeno humano e nunca provém de Deus. 


1. Conceito bíblico de tentação. O que significa tentação, do ponto de vista bíblico? Quem é que nos tenta? Será que a palavra tentação significa a mesma coisa em todos os textos bíblicos? Vejamos, por exemplo, estes dois textos bíblicos a seguir, na Versão Almeida Revista e Corrigida: “E aconteceu, depois destas coisas, que tentou Deus a Abraão e disse-lhe: Abraão! E ele disse: Eis-me aqui.” (Gn 22.1). “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta.” (Tg 1.13). 

Já pensou se um ateu lesse estes textos para você? Eles costumam fazer isso. Há uma aparente contradição nestes dois textos e os inimigos da Bíblia usam isso para tirar a sua credibilidade. Mas como a Bíblia é inerrante e jamais se contradiz, a explicação para isso é que estas palavras não significam a mesma coisa em todos os textos bíblicos, como veremos abaixo. 

Muitos crentes acham desnecessário estudar o sentido das palavras em hebraico e grego e, quando alguém faz referência a isso, dizem que a pessoa está querendo se exibir. Mas, isso é necessário para interpretarmos corretamente alguns textos bíblicos. O pastor Osiel Gomes, que é professor de hebraico e grego, apresenta-nos neste subtópico, os significados das  palavras em  hebraico e grego, que foram traduzidas por tentação e tentar, na Versão Almeida Revista e Corrigida. 


a) O verbo hebraico Massáh. Significa provar, testar, fazer tentativa, duvidar ou provocar a ira: Em Gênesis 22.1, esta palavra aparece com o sentido de colocar à prova. Neste caso, veio de Deus e não tem o sentido de tentação como nessa lição, que é induzir ao pecado. No texto de Êxodo de 17.7, o sentido é colocar à prova, duvidar, ou provocar a ira. O mesmo acontece em Deuteronômio 9.22, onde a Palavra também tem o sentido de provocar a ira. No texto de Salmo 95.8,9, há a citação de Deuteronômio 9.22, com o mesmo sentido de provocar a ira de Deus. Já no texto de Deuteronômio 4.34, fala que jamais um deus “tentou” tomar um povo para si, com tantos milagres, como Deus fizera com Israel. Neste texto, o sentido não é provocar a ira ou colocar a prova. Neste contexto, significa intentar ou fazer tentativa de realizar algo. 


b) O substantivo grego Peirasmós. Esta palavra aparece 25 vezes no Novo Testamento e significa teste, tentação ou prova. Porém, os significados são diferentes de acordo com o contexto: No texto de Atos 20.19, em seu discurso aos obreiros de Éfeso, o apóstolo Paulo falou que “serviu ao Senhor com toda humildade, com muitas lágrimas e tentações”. Aqui, o substantivo peirasmós tem o sentido de provação, numa referência às perseguições e ciladas dos judeus contra Paulo.  Já no texto de 1 Coríntios 10.13, a palavra peirasmós tem o sentido de uma provação ou um sofrimento para provar a nossa fé, permitido por Deus, que Ele mesmo concede o escape para a suportamos. Na Epístola de Tiago 1.2,12, a palavra peirasmós também tem o sentido de provação, permitida por Deus para o nosso aperfeiçoamento. Entretanto, no mesmo capítulo 1 de Tiago, nos versículos 13 e 14, a palavra tem o sentido de atração pelo pecado, que vem da própria natureza humana corrompida pelo pecado. 


c) O verbo grego Peirádzó. Significa tentar, submeter à prova. No texto de João 6.6, este verbo é usado com o sentido de experimentar ou fazer um teste. O mesmo acontece no texto de Apocalipse 2.2, onde o pastor da Igreja de Éfeso colocou os falsos apóstolos à prova e comprovou que eram mentirosos. Já no texto de Gálatas 6.1, peirádzó tem o sentido de ser atraído e seduzido pelo pecado. No texto de Apocalipse 2.10, na Carta a Igreja de Esmirna, a palavra tentar tem o sentido de submeter ao sofrimento. Neste caso, é uma permissão de Deus para provar a fé e não uma tentativa de induzir o crente a pecar. 


2. Duas vias da tentação. Conforme as definições apresentadas acima, a palavra tentação na Bíblia tem vários significados. Neste subtópico, o comentarista está falando da tentação no sentido de induzir a pessoa à prática do pecado ou desviar o crente da missão que Deus lhe entregou. Neste sentido, a tentação tem duas vias, ou duas origens: pode vir do diabo ou da nossa natureza humana, que foi corrompida pelo pecado. 

No caso do Senhor Jesus, evidentemente, o diabo não tentou fazê-lo pecar, como muitos dizem, pois ele sabia perfeitamente que o Senhor Jesus é Deus e, como tal, é incorruptível. O que o inimigo tentou, foi fazê-lo desviar da Sua missão, distorcendo textos bíblicos, para que Ele usasse o Seu poder para satisfazer as suas necessidades humanas. 

Muitos pregadores, por desconhecerem a Bíblia, pregam que Jesus foi tentado no sentido de ser atraído pelo pecado ou ter pensamentos impuros. Mas isso não tem fundamento bíblico e chega a ser uma ofensa ao Seu caráter Santo. Jesus tornou-se homem, no sentido de se tornar mortal, limitado fisicamente e sentir as nossas dores. Mas, Ele nunca deixou de ser Deus e a sua natureza humana nunca foi corrompida pelo pecado.

A tentação que nasce dentro do ser humano é movida pela sua natureza humana, que foi corrompida pelo pecado original. Nós já nascemos com esta tendência de pecar. Na lição 5, quando falamos dos inimigos do cristão, falamos dos três vícios inerentes ao mundo, mencionados em 1 João 2.15, que são: a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida. É por meio destes vícios que o ser humano é tentado em sua natureza. Jesus jamais poderia ser tentado dessa forma, pois Ele é perfeito e absolutamente santo. 


3. Tentação: um fenômeno humano. Aqui temos a explicação da diferença entre tentação e provação, conforme falamos no início deste tópico. Tiago falou sobre tentação e provação no primeiro capítulo da sua Epístola. Na Versão Almeida Revista e Corrigida, as duas palavras foram traduzidas por tentação e isso acaba gerando confusão. No versículo 2, Tiago diz:  “Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações”. No mesmo sentido, no versículo 12, ele diz: “Bem-aventurado o homem que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam”. 

Nestes dois textos, tentação não se refere à ação do diabo para nos fazer pecar, ou aos vícios da nossa natureza humana que tem tendência ao pecado. Aqui, Tiago se refere às provações, que são permitidas por Deus para nos aperfeiçoar. É assim, que a Versão Nova Almeida Atualizada traduz: “Meus irmãos, tenham por motivo de grande alegria o fato de passarem por várias provações.(Tg 1.2); “Bem-aventurado é aquele que suporta com perseverança a provação. Porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam.” (Tg 1.12).

A tentação que ocorre na esfera da natureza humana, seja produzida pelo diabo, ou pela própria natureza humana decaída nunca provém de Deus, conforme o próprio Tiago esclarece no mesmo capítulo: “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.” (Tg 1.1314). Deus jamais poderia enganar e induzir os seus servos ao pecado, ou tornar o pecado atrativo, para nos fazer pecar. Quem faz isso é o diabo, utilizando-se da concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida. 


REFERÊNCIAS: 


GOMES, Osiel. A Carreira que nos está proposta: O caminho da Salvação, santidade e perseverança para chegar ao Céu. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2024.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2º Trimestre de 2024. Nº 97, pág. 40.

Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.1908. 

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento — Mateus-Atos. Volume 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, pp.31,32.

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