08 novembro 2023

A IGREJA E O SISTEMA DE APOIO AOS MISSIONÁRIOS

(Comentário do 1⁰ da Lição 07: A responsabilidade da Igreja com os missionários).

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, falaremos do sistema de apoio da Igreja aos missionários. Falaremos da responsabilidade da Igreja para com os missionários que ela envia. O missionário enviado continua sendo um obreiro vinculado à Igreja local e como tal, atua sob a responsabilidade e supervisão desta. 

Depois, falaremos sobre o sistema de apoio e a obra de fé. Tanto o missionário quanto a Igreja que o envia devem orar, confiar e depender de Deus, para que Ele dê o crescimento e as condições necessárias para a missão prosseguir. 

Por último, falaremos sobre o objetivo de missões, que é fazer com que o Evangelho de Cristo seja proclamado a todos os povos e o Seu Nome seja glorificado. Se fizermos missões com este objetivo, o Senhor suprirá todas as necessidades da Sua Obra. 

1- A responsabilidade da igreja. Não temos na Bíblia a palavra missionário, pois ela ainda não era utilizada naquela época. A palavra que era usada e mais se aproxima de um missionário era a palavra “apóstolo”, que significa alguém que é enviado para uma missão específica. A palavra apóstolo traz a idéia de alguém que foi enviado, como um embaixador. 

Um missionário é alguém que foi chamado por Deus para uma missão, mas é enviado pela igreja local. Sendo um enviado da igreja, evidentemente, quem envia um representante é responsável por ele e deve dar-lhe todo apoio. Este apoio tem que ser sistemático, ou seja, deve ser organizado, constante e com responsabilidades definidas. 

De um lado, há igrejas que enviam missionários de forma irresponsável, sem estabelecer quem irá sustentá-lo e depois abandona o missionário e sua família no campo missionário, à própria sorte. Por outro lado, há missionários que vão ao campo missionário e querem agir de forma independente, sem prestar contas a uma igreja local. 

O comentarista apresenta-nos aqui, alguns princípios que foram extraídos do Livro de Atos dos Apóstolos, que servem de base para a igreja local organizar o seu sistema de apoio aos missionários que ela envia:

a) O missionário é um obreiro vinculado à igreja local e está sob sua total responsabilidade. Quando veio a grande perseguição à Igreja de Jerusalém, depois da morte de Estevão, os discípulos se espalharam e pregavam o Evangelho por onde passavam, mas somente aos judeus. 

Entretanto, alguns deles pregaram também aos gentios em Antioquia e houve ali muitas conversões. Quando a Igreja de Jerusalém soube destas conversões, enviou Barnabé para discipular os novos crentes. Barnabé foi a Tarso em busca de  Saulo para o ajudar e ambos passaram cerca de um ano em Antioquia, ensinando a Palavra de Deus. (At 11.19-26). 

Posteriormente, com a Igreja de Antioquia já bem estruturada, em uma reunião de oração e jejum, o Espírito Santo se manifestou e ordenou que a Igreja separasse Barnabé e Saulo para a obra missionária. A Igreja obedeceu e os enviou. (At 13.1-5). Esta dupla de missionários viajou por várias cidades pregando o Evangelho e depois voltaram para a sua igreja local em Antioquia para prestar contas do trabalho (At 14.25-28).

Após a separação entre Paulo e Barnabé, Paulo seguiu com Silas em sua segunda viagem missionária, confirmando as Igrejas que haviam plantado na primeira viagem. Em cada cidade que eles chegavam, entregavam as orientações vindas dos apóstolos e anciãos de Jerusalém. (At 16.1-8). Em todos estes casos, portanto, vemos o vínculo dos missionários com as Igrejas que os enviavam. 

b) O missionário está subordinado à visão da igreja local e não aos seus próprios projetos. O comentarista cita aqui o caso da escolha dos sete diáconos, que foram escolhidos pela igreja, mas receberam a imposição de mãos apóstolos (At 6.6). Este ato demonstra que eles estavam debaixo da autoridade dos apóstolos. O mesmo aconteceu com Matias, que foi escolhido como apóstolo no lugar de Judas Iscariotes. Os apóstolos oraram e impuseram as mãos sobre ele (At 1.24). 

c) O missionário tem o dever de prestar contas do seu trabalho à Igreja que o enviou. Quando retornaram da primeira viagem missionária, Paulo e Barnabé foram recebidos pela Igreja de Jerusalém, no primeiro concílio da Igreja. Ao receberem a oportunidade para falar, deram testemunho de tudo o que Deus havia feito entre os gentios At 15.4,12). O mesmo aconteceu no retorno da terceira viagem missionária, pouco antes da prisão de Paulo em Jerusalém (At 21.19). 

d) O apoio da igreja local deve permitir ao missionário o aproveitamento do seu tempo. O trabalho do missionário deve se voltar à pregação do Evangelho, discipulado e ensino das doutrinas bíblicas. Portanto, a igreja que o envia deve cuidar do seu sustento e das questões administrativas e burocráticas, para que ele possa se dedicar a missão, para a qual foi enviado. 

2- O sistema de apoio e a “obra de fé”. Mesmo tendo todo o sistema de apoio bem organizado como vimos acima, tanto o missionário como a Igreja que o envia precisam se conscientizar de que a obra missionária é uma obra de fé. Sendo assim, ambos devem aprender a confiar em Deus e depender dele. A obra é Deus e Ele proverá o necessário nos momentos de dificuldades. 


O apóstolo Paulo foi o maior missionário da história do Cristianismo. Viajou por todo o mundo conhecido da sua época, sem ter um sistema de apoio como temos hoje. As dificuldades, perseguições e perigos eram muito maiores. Não havia transportes aéreos, navios modernos, carros confortáveis, redes de hotéis e comunicação em tempo real como existem atualmente. Ele demorava dias e até meses em uma viagem, andando em embarcações primitivas e a pé. 

Ele recebeu ajuda de poucas Igrejas, especialmente a de Filipos, que tinha um grande carinho por ele. Mas ele sempre demonstrava confiança em Deus, agradecendo pelo que recebeu e não murmurava. Escrevendo aos Filipenses e agradecendo pela ajuda recebida, Paulo disse: "Ora, muito me regozijei no Senhor por finalmente reviver a vossa lembrança de mim; pois já vos tínheis lembrado, mas não tínheis tido oportunidade. Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece." (Fp 4.10-13). 

Infelizmente, muitas pessoas lêem apenas o versículo 13, ignoram o contexto e pensam que o texto está dizendo que nós podemos conquistar tudo. Mas, o que o apóstolo diz ali é que ele pode passar por qualquer circunstância, ter abundância ou passar necessidade, pois o Senhor o fortalece. Esta é a postura de quem confia em Deus e não se deixa esmorecer pelas adversidades. 

3- O objetivo de Missões. O objetivo da obra missionária não é outro, senão fazer com que Cristo se torne conhecido e adorado em todo o mundo. Missão não pode ser confundida com obras sócias ou assistência aos necessitados, embora isso também seja importante. A Igreja pode e deve enviar ajuda aos necessitados ou vítimas de catástrofes. Mas isso não substitui a missão de anunciar o Evangelho a toda criatura. 

Em muitos países, não é permitida a entrada de missionários para pregar o Evangelho. Então, nestes casos, a ajuda humanitária serve como estratégia para que a equipe missionária possa entrar no país e, além de realizar esta assistência, pregar o Evangelho. Muitos missionários entram nestes países como médicos, enfermeiros, engenheiros, etc. Depois que estão lá, de forma discreta, distribuem Bíblias e anunciam o Evangelho. 

Por ser um país pacífico e não ter envolvimento em conflitos étnicos e religiosos, o Brasil é um país estratégico para o envio de missionários a alguns países. Por exemplo, um missionário americano dificilmente seria aceito em países mulçumanos, mesmo que seja em ações humanitárias, por conta das guerras contra o Iraque e Afeganistão, e também por ser aliado incondicional de Israel. Os brasileiros, no entanto, teriam mais facilidade de acesso a estas áreas de conflitos. 

É importante esclarecer também que mediação de conflitos e pacificação embora seja importante e possa ser uma estratégia para a entrada de missionários em uma região, não pode ser confundida com a missão da Igreja, que é anunciar o Evangelho aos perdidos. Se a Igreja conseguir evitar uma guerra, ou por fim a um conflito e pacificar uma nação, mas não falar do Evangelho de Cristo, não pode dizer que fez missão. 


REFERÊNCIAS: 

GABY, Wagner. Até os confins da terra: Pregando o Evangelho a todos os povos até a volta de Cristo. 1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023. págs. 51-63.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. Ed. 95, p.39. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023.

PETERS, George W. Teologia Bíblica de Missões. 1ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2000, p.274-75.

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