(Comentário do 3º tópico da Lição 06: Orando, contribuindo e fazendo missões)
Ev. WELIANO PIRES
No terceiro tópico, falaremos do chamado para ir ao campo missionário. Veremos que Deus quer usar cada crente na obra missionária e todos nós devemos estar prontos para ir onde Ele nos mandar. Há campos específicos para todos e não é necessário mudar de país para fazer missões.
Na sequência, falaremos da chama missionária, citando exemplos de profetas e do apóstolo Paulo, que foram chamados diretamente pelo Senhor para uma missão específica. Falaremos também do caráter e testemunho do missionário. Não basta ser chamado por Deus, é preciso fazer a diferença no campo missionário como sal da terra e luz do mundo.
Por último, falaremos do perfil do vocacionado. Além de ser chamado por Deus, o missionário precisa cumprir outros requisitos como ser cheio do Espírito Santo, não ser neófito, ser aprovado pela Igreja e ter preparo espiritual e teológico.
1- Deus quer usar cada crente. Há um hino bem antigo, do saudoso cantor evangélico, Valdomiro Silva, que diz em uma das suas estrofes:
Na Seara há lugar
Para quem quer trabalhar
Criança, homem ou mulher
Não trabalha quem não quer.
Para mim e pra você
Há serviço a fazer
Na Seara do Senhor
O salário é o amor.
Realmente, a Seara do Senhor é grande e há espaço para todos os que desejam levar a mensagem de salvação aos pedidos. É do interesse de Deus usar cada um de nós em sua obra. O Senhor continua chamando trabalhadores para a sua obra, conforme a Parábola dos trabalhadores na vinha demonstra (Mt 20.1-16).
O nosso campo de trabalho é o mundo. Há muitos lugares, onde não há Igrejas por perto e as pessoas precisam ouvir a mensagem de Cristo. Jesus não virá pessoalmente pregar a estas pessoas e não enviará anjos para lhes pregar o Evangelho. Esta tarefa Ele entregou à Sua Igreja, conforme já estudamos em lições anteriores (Mt 28.19,20; Mc 16.15; At 1.8).
O problema das Igrejas atuais é que muitos obreiros disputam espaços nos púlpitos. Quando se fala em pregar o Evangelho atualmente, as pessoas logo imaginam um púlpito e uma Igreja cheia de crentes para ouvir a mensagem e aplaudir o pregador. Poucos estão interessados no evangelismo pessoal, em cultos evangelísticos nos lares ou nas praças, e nos trabalhos de capelania nos presídios, hospitais, escolas, casas de recuperação, etc. Nestes locais há pessoas sedentas pela mensagem do Evangelho, clamando: Passa à Macedônia e ajuda-nos! (At 16.9).
2- A chamada missionária. Deus tem a chamada geral, na qual toda a sua Igreja, foi convocada para pregar o Evangelho a toda criatura. Entretanto, Ele tem também chamadas específicas e chama algumas pessoas para irem ao campo missionário, atuar na linha de frente, resgatando as almas perdidas com a mensagem do Evangelho.
Nestas chamadas, como apontou o comentarista, não há um único padrão. Tanto no Antigo Testamento, nas chamadas dos profetas, como no Novo Testamento, nas chamadas dos apóstolos, podemos perceber que eles foram chamados em circunstâncias totalmente diferentes. Também não há um padrão de pessoas que foram chamadas. Deus chamou alguns profetas, que eram da família real, como Isaías e Daniel; outros eram sacerdotes, como Samuel, Jeremias e Ezequiel; Amós era um cuidador de bois e cultivador de sicômoros; e assim, sucessivamente.
No caso dos apóstolos também não foi diferente. Jesus chamou os primeiros apóstolos que eram pescadores e de pouca instrução, como Pedro, André, Tiago e João. Chamou também Mateus, que era um funcionário público, cobrador de impostos. Depois chamou Saulo, um doutor da Lei, muito culto, pertencente ao partido dos fariseus, cidadão romano, um poliglota que falava fluentemente o hebraico, o aramaico, o grego e, possivelmente, o latim. Chamou Barnabé, Estêvão, Silas,Timóteo, Apolo, Priscila, Áquila, Tíquico e muitos outros, nas mais variadas circunstâncias.
As circunstâncias da chamada, a classe social e o local para onde foram enviados são muito diferentes. Entretanto, todos foram chamados por Deus. A chamada de um missionário para o campo vem do próprio Deus. A Igreja apenas reconhece esta chamada, envia o missionário e proporciona as condições necessárias para que ele se mantenha no campo de trabalho. Quem não foi chamado por Deus para ir ao campo missionário não deve se aventurar, com base na emoção, ou pensando em se promover. Quem foi chamado por Deus tem uma chama ardendo dentro de si e não consegue ficar de fora da chamada de Deus.
O saudoso missionário americano, Orlando Boyer, depois de trabalhar na obra missionária no Brasil durante muitos anos, em virtude da doença da sua esposa que a levaria à morte, precisou retornar ao seu país. Os anos dedicados à obra missionária lhe garantiam a sua aposentadoria e ele poderia ficar por lá e viver confortável.
Sabendo que o Departamento de Missões não custearia a sua volta ao Brasil, este abnegado missionário tomou uma decisão dramática: pegou o dinheiro que seria destinado às despesas do funeral da esposa, que o seguro havia pago, e comprou a passagem de volta para o Rio de Janeiro. Mais tarde, ele justificou a sua atitude em uma carta dizendo: "Eu sabia que vocês pagariam o funeral da minha esposa, mas tinha certeza que jamais me enviariam de volta ao Brasil".
3- Caráter e testemunho na obra missionária. Não basta apenas ter uma chamada de Deus para fazer a obra missionária de forma eficiente. É preciso desenvolver um relacionamento pessoal com Deus, para que o Espírito Santo molde o nosso caráter. Na pregação do Evangelho as nossas ações precisam estar em conformidade com o nosso discurso. Ninguém a sério um discurso de uma pessoa, cuja vida é totalmente diferente daquilo que ele prega. Alguém já disse que a hipocrisia é a distância que separa o nosso discurso da prática.
No Sermão do Monte, Jesus usou as figuras do sal e da luz, para compará-las com a influência que os seus seguidores, devem exercer no ambiente, onde estão inseridos. O sal naqueles tempos, possuía duas funções: A primeira delas era dar sabor aos alimentos; a segunda era preservar a carne da putrefação, pois não havia refrigeradores.
Estas duas funções do sal, o sabor e a preservação dos alimentos, ilustram a diferença que o cristão deve fazer neste mundo, exercendo uma boa influência, através da moderação, amor ao próximo, amabilidade, paz e justiça. As pessoas que olham para nós precisam ver que somos diferentes do mundo. Uma pequena quantidade de sal na água ou nos alimentos, logo é percebida. Jesus disse que se o sal perder o sabor, para nada mais presta, a não ser para ser jogado fora e ser pisado pelos homens. Será que as pessoas que nos ouvem, sentem o sabor do Céu, ou já o perdemos e, por isso, somos jogados fora e pisados?
Jesus também disse que os seus discípulos são a luz do mundo e esta deve brilhar no meio das trevas. O cristão não possui luz própria, mas reflete a luz de Deus, que é luz, por sua própria natureza (1 Jo 1.5). Deus é luz porque Ele se revela, assim como a luz clareia a escuridão e mostra o que lá está. Tendo nascido de novo, o cristão reflete os atributos comunicáveis de Deus, como justiça, santidade, amor, misericórdia, bondade, benignidade, verdade.
Evidentemente, o cristão não atinge estas virtudes na mesma intensidade de Deus, mas reflete-as até ao ponto que Deus as compartilha com aqueles que andam com Ele. O saudoso evangelista americano, Billy Graham, dizia: “Nós somos as Bíblias que o mundo está lendo. Nós somos os sermões que o mundo está prestando atenção”. Portanto, as nossas práticas no mundo em que vivemos são a nossa maior pregação. Como o mundo nos vê? Como luz, ou como trevas? O nosso caráter e testemunho pessoal são muito importantes para corroborar aquilo que pregamos.
4- O perfil do vocacionado. Neste subtópico, o comentarista apresenta uma série de requisitos bíblicos, que são indispensáveis na vida daqueles que são chamados por Deus para fazer a obra missionária. O primeiro deles, evidentemente, é ser chamado por Deus, conforme já falamos. O Senhor Jesus falou para Ananias que Saulo era “um vaso escolhido para levar o Evangelho diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel.” (At 9.15). É Deus quem chama os missionários e quem não foi chamado por Deus não suportará o peso da obra missionária. Mais cedo ou mais tarde, irá desistir ou prejudicar o trabalho.
O segundo requisito apresentado pelo comentarista é que o missionário não deve ser neófito (1 Tm 3.6). A palavra 'neófito' vem de duas palavras gregas: 'neo' (novo) e 'fide' (fé). Portanto, significa 'novo na fé', ou 'inexperiente'. Um missionário precisa ter experiência e maturidade para ir ao campo. Não é recomendável enviar um novo convertido ao campo missionário, pois ele pode não aguentar a carga e morrer espiritualmente.
O terceiro requisito é ser cheio do Espírito Santo (At 1.8). Atualmente vemos pessoas dizendo que alguém é cheio do Espírito Santo, com base no seu comportamento durante o culto, onde não há nenhuma perseguição, principalmente quando a pessoa está com um microfone na mão. Entretanto, ser cheio do Espírito vai muito além do culto e envolve todos os aspectos da nossa vida. No capítulo 2 de Atos, no versículo 4, lemos: "E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem."
Aqui, claramente se percebe que ser cheio do Espírito significa ser batizado no Espírito Santo. Entretanto, nos Evangelhos, lemos que João Batista e Jesus foram cheios do Espírito Santo. Mas não consta que eles tenham falado em línguas. (Lc 1.41; 4.1). Escrevendo aos Efésios, Paulo recomenda: “...Enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18-21). Nesse texto Paulo diz que cheio do Espírito Santo é alguém que não vive em contendas, que louva e é grato ao Senhor, e que sujeita-se aos outros, no temor do Senhor. Ser cheio do Espírito Santo pode significar o batismo no Espírito Santo, mas não apenas isso. Significa também ser controlado e viver totalmente guiado pelo Espírito Santo.
O quarto requisito é ser reconhecido pela Igreja (At 1.21). Infelizmente, há pessoas que se autointitulam pastores e querem ser obreiros independentes, alegando que Deus os chamou. Mas não vemos isso na Bíblia. Os obreiros eram chamados por Deus, mas eram reconhecidos e ordenados pela Igreja. Saulo teve um encontro com o Senhor Jesus no caminho de Damasco. Mas o Senhor enviou Ananias ao seu encontro para impor as mãos e orar por ele. Depois, o Espírito Santo ordenou à Igreja de Antioquia que o enviasse para a missão.
O quinto requisito é ser aprovado nas tarefas locais. Antes de ir ao campo missionário, o obreiro precisa ser ensinado, testado e aprovado na Igreja local. Quem não aprendeu a ser liderado não serve para liderar. A obra missionário é um novo campo de trabalho, onde o obreiro vai buscar almas e começar uma Igreja. Para isso, ele precisa ter experiência na direção de um trabalho local.
O sexto requisito é estar preparado espiritual, intelectual, teológica, psicológica e transculturalmente. O campo missionário exige muito do obreiro. Este terá que enfrentar muitas batalhas espirituais, perseguições, mudanças culturais e dificuldades. Por isso, precisa estar preparado espiritualmente, na oração e vida com Deus. Precisa também ter preparo psicológico e conhecer a cultura do campo missionário, para enfrentar os desafios da mudança cultural e as adversidades. Não menos importante é o preparo intelectual e teológico. Um missionário precisa conhecer profundamente a Palavra de Deus, pois irá ensinar a pessoas que vieram de outras religiões e nada sabem sobre o Evangelho.
REFERÊNCIAS:
GABY, Wagner. Até os confins da terra: Pregando o Evangelho a todos os povos até a volta de Cristo. 1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023. págs. 51-63.
REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. Ed. 95, p.39. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023.
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