06 outubro 2023

VISÃO BÍBLICA DO CARÁTER TRANSCULTURAL DA MISSÃO

(Comentário do 3⁰ tópico da Lição 02: Missões Transculturais - a sua origem na natureza de Deus 

Ev. WELIANO PIRES


No terceiro tópico, veremos que o Antigo Testamento nos apresenta Deus como um missionário em várias ocasiões. O comentarista nos apresenta três delas: na queda do homem, no dilúvio e na eleição de um povo para abençoar a todas as nações, após o episódio da Torre de Babel. 

Depois falaremos da escolha de Israel e sua missão. Deus formou a nação de Israel e estabeleceu um relacionamento com este povo, para ser um exemplo para todos os povos. Porém, Israel falhou em cumprir a sua parte neste projeto de Deus. 

Por último, falaremos da escolha da Igreja. Com a incredulidade de Israel, Deus abriu a porta da Graça para os gentios, através da Igreja, para assim cumprir a promessa feita a Abraão de abençoar todas as famílias da terra, através da sua descendência, que é Jesus Cristo. Entretanto, a Igreja não é a substituição de Israel, como muitos dizem. As promessas de Deus a Israel continuam de pé e Deus tratará com eles, após o arrebatamento da Igreja.


1. Um Deus Missionário. No primeiro tópico, falamos a respeito da natureza missionária de Deus, com base na chamada de Abrão, em Ur dos Caldeus. Aqui, o comentarista volta ao tema e expande as atividades de Deus como missionário, não apenas na formação da nação de Israel, mas em toda a humanidade. 


Em vários episódios do Antigo Testamento, é possível vermos a atividade missionária de Deus, para além das fronteiras de Israel. O comentarista cita três casos, onde Deus atuou pessoalmente como missionário, nos quais estão presentes: a falha humana, o juízo de Deus e a sua promessa de salvação. 


No primeiro caso, temos o triste episódio da queda do primeiro casal e, consequentemente, de toda a raça humana. Ali podemos ver a desobediência do primeiro casal à ordem expressa de Deus, para não comer do fruto proibido; depois, temos os juízos de Deus contra a mulher, o homem e a serpente; por último temos a promessa de Deus, de que o descendente da mulher, que é Cristo, viria para ferir a cabeça da serpente, que é o inimigo. 


No segundo caso, temos o dilúvio, onde também estão presentes a falha humana, o juízo de Deus e a promessa de salvação. Primeiro, a iniquidade se multiplicou tanto naqueles dias, que alcançou níveis intoleráveis por parte de Deus (Gn 6.5). Depois, temos o juízo de Deus, que resolveu enviar o dilúvio e destruir toda a criação (Gn 6.13). Por último, temos a promessa de salvação a Noé e sua família, por meio da construção de uma arca (Gn 6.14-18).


No terceiro caso, temos a chamada de Abrão, para dele fazer uma grande nação e, por meio desta, abençoar todas as famílias da terra. Aqui também temos a falha humana no episódio da Torre de Babel, quando Ninrode e os seus seguidores se rebelaram contra Deus e desobedeceram a ordem de se espalhar e povoar a terra. O juízo de Deus veio com a confusão das línguas e todos os povos passaram a viver como se Deus não existisse. Por último, temos a promessa de Deus a Abrão, de fazer dele uma grande nação e através desta, beneficiar todos os povos. 


2. A escolha de Israel e sua missão. Como vimos acima, Deus chamou Abrão e fez uma aliança com ele, a fim de formar a nação de Israel. Primeiro, Deus escolheu Abrão e Sarai, sua mulher. Eles ainda não tinham filhos e Deus prometeu que eles seriam pais de uma grande multidão. A exigência inicial era para que eles deixassem a sua terra e os seus parentes e fossem a uma terra desconhecida, que Deus haveria de mostrar-lhes. Abrão saiu com Sarai, sua mulher, e levou consigo o seu sobrinho Ló, filho do seu irmão Harã, que já havia falecido. No meio do percurso, os empregados de Abrão e Ló se desentenderam e eles tiveram que se separar. 


Dez anos se passaram desde que Abrão e Sarai chegaram a Canaã, com a promessa de Deus de que seriam pais de uma grande multidão. Nesta ocasião, Abrão já estava com 85 anos e Sarai com 75. Pelos meios naturais seria impossível gerarem filhos. Além da esterilidade que ela tinha, pois, nunca tivera filhos, ainda tinha a idade avançada e o ciclo menstrual encerrado. 


Diante deste quadro, Sarai entendeu que seria impossível gerar filhos. Ela, então, teve uma ideia, para ajudar a Deus, no cumprimento da promessa e disse ao seu esposo: “E disse Sarai a Abrão: Eis que o Senhor me tem impedido de dar à luz; toma, pois, a minha serva; porventura terei filhos dela.” (Gn 16.2). Esta atitude de Sarai era compreensível, do ponto de vista cultural, legal e humano, pois era uma prática comum naquela sociedade.  Entretanto, era algo completamente fora do propósito de Deus, pois Ele não precisa de subterfúgios humanos e “jeitinhos” para cumprir as suas promessas. 


Sem questionar a atitude precipitada de Sarai, Abrão deu ouvidos à sua esposa e fez o que ela sugeriu. Sarai errou ao tomar uma atitude precipitada, tentando “ajudar a Deus”. Mas, Abrão também falhou, pois ele era o patriarca da família e foi a ele que fez as promessas. Como líder da família, cabia a ele passar as orientações sobre Deus à sua família. Naquela sociedade patriarcal, a palavra do patriarca era uma lei. 


Deste relacionamento de Abrão com Agar, sua serva, nasceu Ismael, que foi o pai dos povos Árabes. Treze anos depois, o Senhor apareceu a Abrão, identificando-se como “Deus Todo-poderoso” (heb. El Shadday) e reafirmou a promessa de que que ele teria um filho, mas deixou claro que seria também filho da sua esposa. Em seguida, mudou o seu nome de “Abrão” que significa “pai exaltado”, para Abraão, que significa “pai de uma multidão”. Mudou também o nome de Sarai, que significa “princesa”, para Sara que significa “minha princesa”. O nome Isaque (riso), se deu porque ela riu da promessa de ser mãe aos 90 anos.


De Isaque, Deus escolheu o seu filho mais novo, Jacó, para através dele formar a nação de Israel. Jacó era o filho preferido da sua mãe, Rebeca. O seu irmão, Esaú, era o preferido de Isaque. Estas preferências trouxeram o conflito entre os irmãos, a ponto de Esaú decidir matar Jacó, que foi obrigado a fugir de casa para não ser morto. Orientado por seu pai, Isaque, Jacó foi para Harã, terra da sua mãe, morar com o seu tio Labão. Chegando lá, à primeira vista, ele se apaixonou por Raquel, a filha mais nova do seu tio, e propôs um acordo de trabalhar sete anos para se casar com ela. Entretanto, passando-se os sete anos, o seu tio lhe enganou e lhe entregou Lia, a filha mais velha, para ser a sua esposa. 


De duas mulheres e duas concubinas, Jacó teve doze filhos e uma filha. Os doze filhos de Jacó formaram a nação de Israel. José, o filho preferido de Jacó, foi vendido como escravo por seus e irmãos. Este acontecimento, no entanto, fazia parte do plano de Deus de torná-lo governador do Egito. José foi acusado injustamente de tentar estuprar a esposa do seu patrão e foi parar na prisão. Mas, Deus o tirou de lá e fez dele o homem mais poderoso do Egito, depois de Faraó, com o propósito de salvar o mundo de uma grande fome. 


Como governador, José trouxe o seu pai e toda a família para morar no Egito. Após a morte de José e todos os seus irmãos, levantou-se um novo rei no Egito que não os conheceu e resolveu escravizar o povo de Israel. Mas Deus estava no controle da situação e libertou Israel da escravidão e os conduziu à terra prometida sob a liderança de Moisés. 


Por causa da incredulidade e murmuração, Deus permitiu que o povo vagasse no deserto por 40 anos. Da geração que saiu do Egito, somente Josué, Calebe e os filhos daquela geração, entraram na terra prometida. Nem mesmo Moisés e Aarão, que conduziram a libertação do povo e a peregrinação no deserto, puderam entrar na terra de Canaã. 

Sob o comando de Josué, Israel tomou posse da terra prometida. Mas, não obedecem totalmente a Deus, deixando de conquistar muitas terras e permitindo que muitos dos cananeus permanecessem entre eles. Isso, evidentemente, fez com que eles se entregassem à idolatria e outras práticas destas nações, após a morte de Josué. 


Josué não preparou um sucessor e, após a sua morte, Israel caiu na idolatria e na anarquia, no período dos juízes. Este período se tornou um ciclo vicioso, no qual, o povo pecado, Deus os entregava nas mãos de inimigos que os dominavam. O povo se arrependia e clamava a Deus. Deus levantava juízes e os libertava. Após a morte do libertador, o povo voltava ao pecado. Este ciclo vicioso durou 300 anos, até os dias de Samuel, o último dos juízes, que fez a transição para a monarquia. 


Na monarquia também Israel se enveredou pela idolatria e outras práticas que afrontam a santidade de Deus. Inicialmente, Deus  permitiu a divisão do reino, deixando apenas duas tribos com a descendência de Davi, para através dela, cumprir o seu plano de enviar o Salvador. As dez tribos do Norte se entregaram completamente à idolatria e foram levadas para a Assíria e nunca mais voltaram. A descendência de Davi, embora tivesse alguns reis piedosos, também caiu na idolatria e foi levada para a Babilônia. Entretanto, por causa da promessa de enviar o Messias, depois de 70 anos de cativeiro, Deus permitiu o seu retorno. 


Deus cumpriu as suas promessas feitas a Abraão, tanto a promessa de dar a terra aos seus descendentes, quanto as promessas de fazê-lo pai de uma grande multidão e abençoar todas as famílias da terra, através da sua descendência. Porém Israel falhou na conquista da terra prometida e em ser uma nação sacerdotal, que servisse de testemunha para as nações. Em alguns momentos, Israel se tornou pior do que as nações que Deus havia expulsado da tende Canaã. Por isso, Deus os mandou para o cativeiro. 


3. A escolha da Igreja. Israel falhou em sua missão como uma nação sacerdotal. Por isso Deus transferiu esta missão para a sua Igreja. Jesus Cristo veio a este mundo como homem e entregou a sua vida como preço da redenção da humanidade, com vimos no tópico anterior. Ele ressuscitou ao terceiro dia e subiu ao Céu, mas antes estabeleceu a Sua Igreja na terra, para proclamar a sua mensagem de salvação a toda criatura. 


Diferente de Israel, a Igreja não falhará em sua missão. Pode cometer algum deslize aqui e ali, pois o inimigo plantou o joio no meio do trigo. Mas, a Igreja seguirá triunfante, pois o Espírito Santo habita nela e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Durante o período, entre a ascensão de Jesus ao Céu e o arrebatamento da Igreja, que é chamado de dispensação da Graça, a Igreja seguirá com a sua missão missionária, sendo a única agência do Reino de Deus na terra. 


Vale lembrar que a Igreja não é a substituição de Israel. Após o arrebatamento da Igreja, se encerrará o tempo dos gentios e Deus voltará a tratar com Israel. Primeiro virá a Grande Tribulação, que é mencionada na Bíblia como "tempo de angústia para Jacó". Nesse tempo, Israel sofrerá as consequências terríveis de ter rejeitado o Messias. No final da Tribulação, eles clamarão a Deus e o Senhor Jesus virá em seu socorro. 


O Senhor Jesus derrotará os exércitos do Anticristo e estabelecerá o Seu Reino Milenial. Nesse tempo, o Filho de Deus reinará em toda a terra. Satanás será preso e haverá mil anos de paz. Nesse tempo se cumprirá na íntegra as promessas de Deus a Abraão, pois Israel possuirá toda a terra prometida e todos os povos da terra serão beneficiados por meio de Israel.


REFERÊNCIAS:


GABY, Wagner. Até os confins da terra: Pregando o Evangelho a todos os povos até a volta de Cristo. 1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. Ed. 95, p.37. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023.

PETERS, George W. Teologia Bíblica de Missões. 1ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2000, pp.70,71)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AS TRÊS ARMAS ESPIRITUAIS DO CRISTÃO

(Comentário do 2º tópico da Lição 06: As nossas armas espirituais)  Ev. WELIANO PIRES No segundo tópico, descreveremos as três princip...