(Comentário do 2º tópico da Lição 04: Lição 4: Missões Transculturais no Novo Testamento).
Ev. WELIANO PIRES
Neste tópico, veremos que ministério de Jesus nos Evangelhos é exclusivamente voltado para a obra missionária. Tudo o que Ele pregava e fazia tinha o objetivo de buscar os perdidos. Na sequência, falaremos das missões no Livro de Atos dos Apóstolos, abordando o trabalho de Filipe e Pedro, que foram os primeiros missionários transculturais na Igreja Primitiva. Por último, ainda no Livro de Atos dos Apóstolos, abordaremos o trabalho missionário de Paulo e Barnabé, com as suas viagens missionárias pelo mundo, que constituem a maior parte do Livro.
1. Nos Evangelhos. O Novo Testamento representa o cumprimento e a explicação do Antigo Testamento. Muitas coisas que eram incompreensíveis no antigo pacto se tornam claras no Novo Testamento. Os tipos, figuras alegorias e profecias se tornam claras com o registro do Novo Testamento. Os apóstolos do Senhor e pessoas ligadas a eles como Marcos e Lucas, foram inspirados pelo Espírito Santo para escrever os registros do ministério terreno de Nosso Senhor Jesus Cristo, a descida do Espírito Santo, as doutrinas da Igreja Cristã e as revelações das últimas coisas que em breve irão acontecer. A primeira parte, que registra a vida, morte e ressurreição do Senhor Jesus, está registrada nos Evangelhos.
Quando mencionamos "os Evangelhos", é uma referência aos quatro primeiros livros do Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas e João. Na verdade, não são quatro Evangelhos, pois o Evangelho é apenas um. Então, é o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, registrado por quatro evangelistas. Por isso, os títulos de cada um deles diz: o Evangelho segundo Mateus, segundo Marcos, segundo Lucas e segundo João. A palavra "São" é uma tradição católica, para se referir à canonização destes servos de Deus e não deve ser usada.
Estes livros registram o ministério terreno do Senhor Jesus. Encontramos neles, a genealogia de Jesus Cristo, os registros do anúncio do nascimento de Jesus pelo Anjo Gabriel, as circunstâncias do nascimento de Jesus, os seus discursos, os milagres, a sua prisão, morte e ressurreição. Os livros de Mateus, Marcos e Lucas são chamados de "Evangelhos Sinóticos" devido à semelhança dos relatos. Já o Evangelho segundo João, destoa um pouco, pois dá ênfase ao ministério de Jesus na vida adulta e aponta para a sua divindade.
Podemos ver as atividades missionárias nos Evangelhos na Pessoa de Jesus, o missionário enviado pelo Pai. O ministério de Jesus é marcado por ações missionárias, na proclamação do Evangelho, nas curas divinas e também no preparo e envio dos seus discípulos como missionários. Temos registros de pelo menos duas ocasiões em que o Senhor Jesus enviou os seus discípulos, com a missão de pregar o Evangelho: a missão dos doze apóstolos (Mt 10) e a missão dos setenta discípulos (Lc 10.1-20).
A natureza missionária nos Evangelhos se evidencia também na própria formação desses livros, sob a inspiração do Espírito Santo. Estes registros, com os discursos de Jesus, os acontecimentos da sua vida terrena, os seus milagres e as descrições das muitas profecias que se cumpriram nEle, são por si só, a proclamação da mensagem de Salvação. Sem estes registros, nada saberíamos sobre Jesus. Há casos de ateus que começaram a estudar os Evangelhos, com o objetivo de encontrar contradições e combater o Cristianismo. Mas, ao final, descobriram a Verdade e se converteram. Este foi o caso do renomado escritor Augusto Cury.
Os quatro Evangelhos terminam com a grande comissão, embora com enfoques diferentes. Mateus registrou a ordem de Jesus para fazer discípulos de todas as nações, batizar e ensinar as doutrinas bíblicas (Mt 28.19,20); Marcos destacou apenas a ordem para anunciar o Evangelho a todos, mediante os dons do Espírito Santo (Mc 16.15-20); Lucas registrou a ordem para pregar o Evangelho no âmbito local, regional e mundial, condicionada ao revestimento de poder (Lc 24.49; At 1.4.8); João, por sua vez, não entrou em detalhes sobre a grande comissão e registrou apenas que Jesus enviou os discípulos a pregarem, da mesma forma que o Pai o enviara (Jo 20.21-23).
2. Nos Atos dos Apóstolos: os missionários Filipe e Pedro. Atos dos apóstolos é o segundo volume de duas obras escritas por Lucas, sendo a continuidade da primeira. O Evangelho segundo Lucas termina com a recomendação de Jesus aos discípulos, para que não se ausentassem de Jerusalém, antes de serem revestidos do poder do Espírito Santo (Lc 24.49).
O livro de Atos, por sua vez, inicia com o relato dos últimos momentos de Jesus com os seus discípulos, após a sua ressurreição e a sua ascensão ao Céu e faz menção justamente à advertência de Jesus aos discípulos, para que esperassem a promessa da descida do Espírito Santo, registrada no final do Evangelho segundo Lucas.
Neste subtópico, o comentarista destaca as missões transculturais realizadas por Filipe e Pedro. No próximo subtópico, ele trata das missões de Paulo e Barnabé, que são os principais protagonistas do Livro de Atos, a partir do capítulo 11. Nos sete primeiros capítulos do Livro de Atos, vemos que a evangelização feita pela Igreja Primitiva foi estritamente aos judeus, na cidade de Jerusalém.
Com o martírio do diácono Estevão, após a sua eloquente pregação registrada no capítulo 7, os discípulos foram obrigados a fugir de Jerusalém para não serem mortos também, pois a perseguição se acentuou contra todos eles naquele dia (At 8.1). Saulo, um jovem de Tarso da Cilícia, fariseu, instruído aos pés de Gamaliel, um dos mais respeitados rabinos daqueles dias, assolava a Igreja, arrastando homens e mulheres pelas ruas e conduzindo-os às prisões (At 8.3).
Nesse contexto de caça ferrenha aos cristãos em Jerusalém, aqueles que fugiam para outras regiões, anunciavam o Evangelho aonde chegavam. O diácono Filipe seguiu para Samaria e lá anunciou o Evangelho aos samaritanos (At 8.5). Filipe foi usado por Deus naquela cidade para realizar muitas curas e expulsão de espíritos imundos. Isso fez com que as multidões prestassem a atenção em sua pregação e houve muitas conversões na cidade.
Até um mágico impostor, chamado Simão, que havia iludido a cidade dizendo que era um grande personagem, creu na pregação de Filipe. Porém, quando viu Pedro impor as mãos para que as pessoas fossem batizadas no Espírito Santo, ofereceu suborno, tentando comprar a autoridade divina. Por isso, a prática de comprar e vender as coisas de Deus ficou conhecida como “simonia”.
Depois de evangelizar Samaria, Filipe foi conduzido pelo anjo do Senhor, para ir ao caminho de Gaza, ao encontro do mordomo-chefe de Candace, rainha dos etíopes. Chegando lá, encontrou o homem sozinho em seu carro, lendo as Escrituras, pois vinha da festa em Jerusalém. Em um evangelismo pessoal eficiente, dirigido pelo Espírito Santo, Filipe alcançou aquele estrangeiro para Cristo.
Filipe é considerado o primeiro missionário transcultural da história da Igreja, pois foi o primeiro a pregar o Evangelho aos não judeus. Com a conversão de muitos samaritanos, Pedro e João foram enviados para aquela cidade, para dar apoio ao trabalho iniciado por Filipe e estabelecer as bases doutrinárias da Igreja.
Pedro ainda tinha bastante dificuldade de entender a universalidade da salvação e insistia em pregar apenas aos filhos de Israel. Foi preciso o Senhor mostrar-lhe a visão de um grande lençol, atado pelas quatro pontas, descendo do Céu com vários tipos de animais considerados impuros pela Lei mosaica. Em seguida ouviu uma voz do Céu, ordenando que os matasse e comesse. Pedro recusou, dizendo que nunca havia comido nada comum ou imundo. A voz lhe respondeu, dizendo que ele não deveria considerar comum e imundo, o que Deus purificou.
Simultaneamente a este acontecimento, um piedoso centurião romano de Cesaréia, chamado Cornélio, que praticava regularmente orações, jejuns e esmolas, teve uma visão, na qual um anjo lhe apareceu e disse que as suas boas obras haviam subido como memória diante de Deus. Em seguida, ordenou que ele mandasse chamar Simão, conhecido como Pedro, dando-lhe o endereço exato de onde ele estava hospedado em Jope (At 10.1-8).
Do outro lado, o Senhor falou com Pedro, dizendo que algumas pessoas iriam procurá-lo e que ele deveria ir com eles, sem duvidar (At 10.19-23). Pedro fez como o Senhor lhe ordenara e, chegando à casa de Cornélio, pregou o Evangelho aos convidados do centurião (At 10.34-43). Enquanto ele pregava, o Espírito Santo desceu sobre eles e falaram em línguas e profetizaram (At 10.46).
Este fato causou grande confusão na Igreja de Jerusalém e Pedro foi convocado para dar explicações, por ter se misturado com os gentios e comido na casa deles, pois isso era proibido pela Lei. Depois que ele contou tudo o que aconteceu e como os gentios receberam o Espírito Santo, da mesma forma que aconteceu no dia de Pentecoste, a Igreja entendeu e glorificou a Deus, por haver concedido a Salvação também aos gentios (At 11.1-18).
3. Nos Atos dos Apóstolos: os missionários Paulo e Barnabé. Nesta segunda parte, estudaremos sobre a obra missionária no Livro de Atos, através dos missionários Paulo e Barnabé. A partir do capítulo 9 do Livro Atos, o apóstolo Paulo passa a ser o principal protagonista, com exceção do capítulo 10 e início do capítulo 11, que tratam exclusivamente da conversão do Centurião Cornélio; do capítulo 12, que relata a execução do apóstolo Tiago, a prisão e libertação de Pedro; e do capítulo 15, que relata o primeiro concílio da Igreja de Cristã, convocado para discutir a questão dos judaizantes.
A partir do versículo 19, do capítulo 11 de Atos, Lucas relata que alguns cristãos que foram dispersos pela perseguição, anunciaram o Evangelho nas regiões da Fenícia, Chipre e Antioquia da Síria. Até então, eles pregavam somente aos judeus. Entretanto, alguns deles anunciaram o Evangelho também aos gregos em Antioquia e um grande número de pessoas se converteram.
Quando a Igreja de Jerusalém soube destas conversões, enviou-lhes Barnabé, a fim de ensinar a Palavra de Deus. Barnabé apareceu pela primeira vez no Livro de Atos, no lamentável episódio envolvendo Ananias e Safira. O seu nome era José, mas os apóstolos o chamavam de Barnabé que significa "Filho da Consolação". Barnabé era um levita, natural de Chipre, muito amoroso. Foi um dos primeiros a vender uma propriedade e doar o dinheiro para ajudar aos necessitados da Igreja (At 4.36,37).
Após a conversão de Saulo, que era um terrível perseguidor da Igreja, os cristãos de Jerusalém não acreditaram que ele havia se convertido e fugiam dele, achando que seria uma armadilha. Foi exatamente Barnabé que se aproximou de Saulo, ouviu-o e o integrou à Igreja de Jerusalém (At 9.27).
A partir daí, nasceu a parceria entre os dois. Quando Barnabé foi enviado a Antioquia, ele foi a Tarso, buscar Saulo para ajudá-lo no discipulado dos novos crentes e durante um ano inteiro ensinaram a Palavra de Deus ali. (At 11.25,26).
Em uma reunião de oração e jejum, na Igreja de Antioquia, o Espírito Santo se manifestou e ordenou que separassem Barnabé e Saulo para a obra missionária. A Igreja, então, orou por eles e os enviou para a missão (At 13.1-3).
Barnabé e Saulo saíram em sua primeira viagem missionária, pregando o Evangelho a todos, levando consigo como cooperador, João Marcos, que era primo de Barnabé (At 13.4,5). Depois de passarem por várias cidades, sendo perseguidos pelos judeus, quando chegaram a Perge da Panfília, João Marcos se apartou deles e voltou a Jerusalém (At 13.13).
Esta volta de João Marcos irritou profundamente Paulo e acabou causando um desentendimento entre ele e Barnabé, na segunda viagem missionária. Barnabé queria levar novamente João Marcos, mas Paulo não concordou e preferiu levar Silas consigo. Por causa disso, a equipe acabou se dividindo. Paulo seguiu por um lado com Silas e Barnabé para outro, com Marcos.
A partir dessa separação, o Livro de Atos se dedica exclusivamente às atividades missionárias de Paulo e Silas. Depois, em Listra, o jovem Timóteo foi convidado por Paulo para integrar a equipe missionária. Outros missionários como o casal Priscila e Áquila, Apolo, Tíquico, Tito, entre outros, também foram companheiros de missões do apóstolo Paulo.
Sem dúvida nenhuma, Paulo foi o personagem mais importante da história do Cristianismo, depois de Jesus Cristo. Até mesmo os pensadores que não são cristãos reconhecem a importância de Paulo para Cristianismo. O filósofo ateu Friedrich Nietzsche, crítico ferrenho do Cristianismo, dizia que Paulo foi o verdadeiro fundador do Cristianismo e que o Cristianismo deveria se chamar "Paulinismo".
Paulo escreveu treze dos vinte e sete do Novo Testamento, empreendeu três viagens missionárias pelo mundo conhecido da sua época, plantando Igrejas, discipulando e formando novos obreiros. Ele foi o responsável por sistematizar as principais doutrinas cristãs e expandir o Cristianismo para além das fronteiras de Israel. Sofreu as mais terríveis perseguições: foi apedrejado, açoitado, lutou com feras em Éfeso, enfrentou prisões e na última delas foi decapitado em Roma. Mas nunca negou Cristo, nem deixou de anunciar o Evangelho aos perdidos por onde passava.
REFERÊNCIAS:
GABY, Wagner. Até os confins da terra: Pregando o Evangelho a todos os povos até a volta de Cristo. 1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023.
REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. Ed. 95, p.37. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023, pp. 30-41
PETERS, George W. Teologia Bíblica de Missões. 1ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2000, pp.159,160, 175.
CABRAL, Elienai. O Apóstolo Paulo: Lições de vida e ministério do apóstolo dos gentios para a Igreja de Cristo. 1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2021.
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