(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 03: A Missão Transcultural no Antigo Testamento).
Ev. WELIANO PIRES
No primeiro tópico, falaremos de Israel, um povo escolhido com um propósito missionário. Inicialmente, falaremos do plano de Deus de proclamar a mensagem de Salvação a todos os povos, que incluía a formação da nação de Israel, para que fossem suas testemunhas. Através deste povo, Deus planejou trazer o Salvador do mundo, que é Cristo, o Senhor.
Depois, veremos que Israel falhou neste propósito de ser testemunha de Deus, pois se contaminou com as religiões pagãs e deu muita ênfase ao separatismo racial e nacional, o que impedia que testemunhassem a outros povos.
Por último, falaremos da contribuição de Israel para o mundo. Não obstante, tenha falhado como testemunha do amor de Deus, Israel foi usado por Deus para preservar o Antigo Testamento e traduzi-lo para a língua grega. Foi também através de Israel que Deus enviou o Seu Filho ao mundo para salvar a humanidade.
1- O plano de Deus. Um dos atributos incomunicáveis de Deus é a Sua Onisciência. Esta palavra é a junção de dois termos latinos: “Omni”, que significa “todo” ou “completo”, e “scientia”, que significa conhecimento. Portanto, Deus é onisciente, porque Ele conhece todas as coisas visíveis e invisíveis, em qualquer época e lugar, neste universo e fora dele. Este termo, evidentemente, não está na Bíblia, pois é uma expressão latina e a Bíblia foi escrita em hebraico, aramaico e grego. Mas a idéia de que Deus conhece tudo e nada passa despercebido diante dele está presente em várias partes da Bíblia (Jó 24:23; Sl 33:13-15; 139:13-16; Pv 15:3; Jr 16:17, etc.).
Presciência (Gr. prognosis) é a parte da onisciência de Deus, segundo a qual, Ele conhece tudo por antecipação e faz os seus planos com base nesse conhecimento: “A este [Jesus] que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos; Ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela.” (At 2.23,24). Aqui, o apóstolo Pedro em seu discurso no Dia de Pentecostes, disse que Jesus foi entregue para ser crucificado, por um plano predeterminado de Deus. Ou seja, Deus conhecia antecipadamente o futuro e planejou que Cristo seria preso e crucificado por homens injustos, mas ressuscitaria ao terceiro dia.
Há duas correntes teológicas sobre a presciência de Deus: O Calvinismo e o Arminianismo. O Calvinismo diz que a presciência de Deus significa que Ele não apenas conhece tudo, mas é Ele quem predetermina todas as coisas que irão acontecer, boas ou ruins. Alguns mais radicais chegam a afirmar que Deus é o causador do próprio pecado.
O Arminianismo, por sua vez, entende que a presciência de Deus significa que Ele conhece tudo o que irá acontecer e, com base nesse conhecimento antecipado, faz os seus planos. Entretanto, Ele concedeu o livre-arbítrio às suas criaturas e não é o causador dos seus atos.
Há ainda outra interpretação sobre isso, que é herética e antibíblica, que é defendida pelo chamado “Teísmo Aberto”, ou “Teologia Relacional”. Esta heresia diz que Deus não conhece o futuro, mas o descobre e o constrói junto com os seres humanos.
Ora, antes da fundação do mundo, Deus já sabia que iria criar o ser humano, mas este iria pecar. De antemão, Deus elaborou o plano de Salvação, para salvar o ser humano. Este plano foi anunciado pela primeira vez, em Gênesis 3.15 na sentença que Deus deu à serpente, após a desobediência do primeiro casal, por isso, é chamado de Proto Evangelho. Este plano de Deus incluía a chamada de Abrão, a formação da nação de Israel e a vinda do Messias.
O povo de Israel, portanto, foi escolhido por Deus para ser um povo missionário e testemunhas de Deus às outras nações (Is 42.5-7; 43.10-13). Israel não poderia se misturar com outras nações e deveria se preservar dos costumes e pecados delas. Quando Deus proibiu Israel de se misturar contra outras nações não era por separatismo, discriminação ou preconceito. Deus sabia perfeitamente que esta mistura, inevitavelmente, iria corromper Israel e levá-lo à destruição, como aliás aconteceu algumas vezes durante o período dos juízes e na monarquia.
2- A falha de Israel. Israel falhou como povo missionário e testemunhas de Deus. Deus libertou Israel da escravidão no Egito e os levou à Terra Prometida. Antes de entrarem nesta terra, Deus ordenou que eles não deveriam se misturar com aqueles povos: “Guarda-te que não faças concerto com os moradores da terra aonde hás de entrar; para que não seja por laço no meio de ti.” (Ex 34.12). Depois que tomaram posse da terra, Josué repetiu esta advertência: “Esforçai-vos, pois, muito para guardardes e para fazerdes tudo quanto está escrito no livro da Lei de Moisés, para que dela não vos aparteis, nem para a direita nem para a esquerda; para que não entreis a estas nações que ainda ficaram convosco; e dos nomes de seus deuses não façais menção, nem por eles façais jurar, nem os sirvais, nem a eles vos inclineis.” (Josué 23.6,7).
Após a morte de Josué, o povo ignorou estas advertências. Contrariando a ordem de Deus, não destruíram totalmente os cananeus e fizeram alianças com eles, para cobrar impostos (Jz 1.28-36). A geração seguinte não conhecia o Senhor e se entregou à idolatria, servindo a Baal e Astarote, deuses dos cananeus (Jz 2.10-13). Por causa disso, o Senhor levantou inimigos cruéis que os dominavam e os oprimiam. Israel se arrependia dos pecados, clamava a Deus e Ele levantava um juiz que os libertava. Porém, após a morte do juiz, voltavam ao pecado e Deus levantava novos inimigos. De novo, o povo clamava e Deus levantava novos juízes. Este ciclo vicioso durou cerca de trezentos anos, até o início da monarquia.
No período da monarquia a situação era semelhante. Quando o rei era temente a Deus, o povo servia a Deus. Mas quando o rei era ímpio, o povo se desviava de Deus e servia a outros deuses, praticando todo tipo de abominação. Por causa da idolatria de Salomão, Deus permitiu a separação das tribos. Dez delas seguiram a Jeroboão, filho de Nebate, e formaram o Reino do Norte. As outras duas tribos, Judá e Benjamim, ficaram com a descendência de Davi e dela veio o Messias prometido.
O Reino do Norte, entregou-se completamente à idolatria e não teve nenhum rei que fosse justo. Era um pior do que o outro, praticando abominações iguais, e até piores, do que as que eram praticadas pelas nações que Deus havia expulsado daquela terra. Finalmente, foram entregues ao cativeiro da Assíria. Os assírios os levaram para a sua terra e trouxeram outros povos para habitar na terra de Israel e eles nunca mais voltaram.
O Reino do Sul teve altos e baixos. Alguns reis eram tementes a Deus: Asa, Josafá, Jotão, Ezequias e Josias; Outros, eram mais ou menos: Roboão, Abias, Amazias, Joás e Uzias, que começaram bem, mas depois se entregaram à idolatria e a outros pecados; Os demais, foram terrivelmente ímpios: Jeorão, Acazias, Atalia, Acaz, Manassés, Amom, Jeoacaz, Jeoaquim, Joaquim e Zedequias. Apesar de serem muitas vezes advertidos pelos profetas, não deram ouvidos e Deus os entregou ao cativeiro babilônico por setenta anos. Depois os trouxe de volta à sua terra, a fim de cumprir as suas promessas.
3- A contribuição de Israel para o mundo. Apesar de ter falhado como povo missionário de Deus, praticando a idolatria e muitas abominações como falamos acima, Israel foi usado por Deus para abençoar todas as nações, conforme Ele havia prometido a Abraão. Foi a Israel que Deus entregou as Escrituras do Antigo Testamento. Além de receberem a inspiração divina para escreverem a Palavra de Deus, o povo de Israel foi usado por Deus também para preservar as Escrituras.
Os israelitas levavam muito a sério a tarefa de copiar as Escrituras. Naquela época não havia impressão como hoje e tudo era copiado à mão. Os escribas eram muito rigorosos nesse processo, para que não houvesse nenhum erro. Se errassem uma letra, inutilizavam toda a cópia e começavam outra. Ao final de uma cópia contavam todas as colunas, palavras e letras. Se houvesse qualquer divergência, aquela cópia seria inutilizada imediatamente.
Deus usou também o povo de Israel para traduzir as Escrituras para o grego, que era o idioma universal no período do Império Grego. Depois que Alexandre Magno derrotou o Império Medo-persa e dominou toda aquela região, inclusive o território de Israel, muitos judeus que viviam fora da terra Israel falavam o grego e não entendiam mais a língua hebraica. Por isso, havia a necessidade de traduzir as Escrituras para o grego. No século III a.C, foram reunidos 70 rabinos de Israel, para realizarem esta tradução. Por isso esta tradução é chamada de Septuaginta ou Versão dos Setenta e é representada pelo numeral romano LXX.
REFERÊNCIAS:
GABY, Wagner. Até os confins da terra: Pregando o Evangelho a todos os povos até a volta de Cristo. 1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023. Págs. 24-31.
REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. Ed. 95, p.37. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023.
PETERS, George W. Teologia Bíblica de Missões. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2000, p.120-21.
Bíblia de Estudo Pentecostal Edição Global. 1° ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, pp. 349-50.
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