24 outubro 2023

UMA PERSPECTIVA PENTECOSTAL DE MISSÕES

(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 05: Uma perspectiva pentecostal de missões)

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, falaremos sobre a perspectiva pentecostal de missões. Primeiro, falaremos do significado de ser evangélico, que é um termo usado para designar os adeptos da Reforma Protestante. 

Depois falaremos do termo pentecostal, que é uma referência aos evangélicos que crêem na atualidade do batismo no Espírito Santo e dos dons espirituais como aconteceu no Dia de Pentecostes. 

Por último, falaremos das contribuições pentecostais às missões, tendo como ponto principal a ênfase na presença e mover do Espírito Santo, na obra missionária. 


1. Somos evangélicos. O número de pessoas que se declaram evangélicas no Brasil está em torno de 50 milhões e cresce a cada censo. Não é difícil atualmente encontrarmos pelas ruas, pessoas que se dizem evangélicas, ou "gospel", que é o termo equivalente em inglês. Entretanto, se perguntarmos a estas pessoas o que significa ser evangélico, a maioria não saberia responder. 


O termo evangélico serve para designar os seguidores dos ideais propostos pela chamada Reforma Protestante, que aconteceu na Igreja Cristã, a partir de 1517. Na ocasião, a Igreja havia se afastado das Escrituras e estava mergulhada no paganismo, idolatria, vendas de indulgências (perdão de pecados), de relíquias (objetos que supostamente teriam pertencido aos apóstolos ou algum dos primeiros cristãos, considerados milagrosos) e outras aberrações. 


Um monge e professor de teologia da Igreja Alemã, chamado Martinho Lutero, se revoltou contra estas práticas e as condenou em seus livros. Em 31 de outubro de 1517, Lutero afixou 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, onde ele era padre, contestando estas e outras práticas antibíblicas. Por causa dos seus escritos, Lutero foi convocado a dar explicações e a se retratar em Roma. Mas, convicto das suas afirmações, ele assim respondeu:

"A menos que me convençam pelas Escrituras de que estou errado, não posso e não irei me retratar". 

As autoridades da Igreja Romana ficaram enfurecidas contra ele e o excomungaram [termo usado na Igreja Romana para se referir à exclusão da comunhão da Igreja]. Certamente, iriam condená-lo à morte, como fizeram com muitos outros, que foram considerados hereges por eles. Mas, Lutero recebeu um salvo-conduto do imperador Carlos V e poderia voltar em paz à Alemanha. Para evitar que alguém tentasse prendê-lo ou matá-lo, os amigos o raptaram no caminho de volta e o conduziram em segurança à sua terra. O governo da Alemanha deu apoio a Lutero e o colocou em segurança. A partir daí, ele traduziu a Bíblia para o alemão e as suas teses se espalharam pelo mundo. Outros teólogos como João Calvino, na França, e Ulrico Zuínglio, na Suíça,  também foram muito importantes na Reforma Protestante. 


Evangélicos, portanto, são os cristãos que reafirmam as seguintes teses bíblicas propagadas pelos reformadores: a autoridade suprema das Escrituras (Sola Scriptura), a salvação pela graça (Sola Gratia) e mediante a fé (Sola Fide), Cristo como único Salvador e Mediador entre Deus e a humanidade (Solus Christus) e o culto somente a Deus (Soli Deo Glória). Este termo, no entanto, tem sido banalizado e muitas pessoas que se dizem evangélicas, não sabem o que isso significa e não vivem de acordo com os princípios do Evangelho de Cristo. 


2. Somos pentecostais. Da mesma forma que o termo evangélicos é desconhecido de muitos dos seus adeptos, com o termo pentecostal acontece o mesmo. Nós somos denominados pentecostais, porque cremos na atualidade dos acontecimentos do Dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu sobre os primeiros cristãos no cenáculo, onde estavam reunidos em oração. 


Naquela ocasião, todos foram revestidos do poder de Deus, falaram em outras línguas e profetizaram. Por isso, nós cremos também que a evidência inicial de que alguém foi batizado no batismo no Espírito Santo é o falar em línguas. Os pentecostais, portanto, são os evangélicos que crêem na atualidade dos dons espirituais e no Batismo no Espírito Santo, como uma experiência subsequente à Salvação.


Os cessacionistas, como são chamados aqueles que dizem que os dons cessaram, dizem que o ensino da atualidade dos dons espirituais é recente. Mas, até meados do século IV, nenhum Cristão ensinava o cessacionismo. Este erro doutrinário foi introduzido na Igreja Cristã pelo bispo e teólogo Agostinho de Hipona (354-430). 


Devido à grande influência que Agostinho exerceu em sua época, este pensamento dominou a Igreja Ocidental por toda a Idade Média e nem mesmo a Reforma Protestante conseguiu atingi-lo. Os reformadores sequer discutiram este assunto. Eles se restringiram à doutrina da Salvação e combateram os ensinos de salvação pelas obras, idolatria e mediação dos santos e reafirmaram a autoridade das Escrituras.


É importante destacar que este ensino de Agostinho atingiu apenas a Igreja Ocidental. No século XI aconteceu a primeira grande divisão da Igreja Cristã, com o chamado Grande Cisma do Oriente. As Igrejas do Oriente romperam com a Igreja de Roma e a sua sede passou a ser em Constantinopla. Nas questões relacionadas ao Espírito Santo, a Igreja Oriental, que é chamada de Igreja Ortodoxa, sempre esteve à frente da Igreja Ocidental, que seguiu as ideias de Agostinho e ensinava que os dons cessaram. A Reforma Protestante não atingiu a Igreja Ocidental, pois os reformadores eram ligados à Igreja Católica Romana e não à Igreja Ortodoxa.


No início do Século XX, nos Estados Unidos, teve início o chamado Movimento Pentecostal, um movimento de reavivamento espiritual, que começou na Rua Azuza em Los Angeles, na Igreja pastoreada pelo pastor Willyam Seymour, um pastor negro e descendente de escravos. Neste movimento de oração e busca pelos dons espirituais, vinham crentes de várias denominações e eram batizados no Espírito Santo. 


O movimento cresceu nos EUA e enviou missionários para vários países, entre eles o Brasil, que recebeu os missionários suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren, que viviam nos Estados Unidos e vieram ao Brasil em 1910. Inicialmente, Berg e Vingren foram congregar na Igreja Batista, que já existia no país. Entretanto, como pregavam a doutrina pentecostal e falavam em línguas, foram expulsos da Igreja Batista em 1911, com outros irmãos brasileiros. 


Em 18 de junho de 1911, os missionários e os demais irmãos expulsos da Igreja Batista de Belém, fundaram uma Igreja denominada “Missão da Fé Apostólica”, cujo nome foi mudado para Assembléia de Deus em 1918. Em pouco tempo, a Assembléia de Deus se espalhou por todo o território nacional e se tornou a maior denominação pentecostal do mundo. 


As primeiras Igrejas pentecostais do Brasil são a Assembleia de Deus e a Congregação Cristã no Brasil, que foi fundada pelo missionário Louis Francescon, um italiano que vivia em Chicago, nos EUA. Francescon também creu na doutrina pentecostal e veio ao Brasil em 1910, pregar o Evangelho no Paraná. A CCB, embora tenha um credo ortodoxo, tem algumas práticas que são características de uma seita. Depois surgiram novas Igrejas no meio pentecostal a partir das décadas de 1950 e 1960, como O Brasil para Cristo, Igreja Pentecostal Deus é Amor e Igreja do Evangelho Quadrangular. 


A partir de 1970, surgiu um novo movimento no meio pentecostal, que é chamado pelos estudiosos do assunto, de neopentecostalismo. Este movimento é uma distorção do verdadeiro pentecostalismo. As Igrejas neopentecostais crêem na atualidade dos dons espirituais, mas, dão ênfase à prosperidade financeira e ao bem estar físico. Pregam a chamada teologia da prosperidade, a confissão positiva e o triunfalismo.


Os pioneiros deste movimento são a Igreja Universal do Reino de Deus e Internacional da Graça de Deus. Depois surgiram inúmeras denominações neopentecostais oriundas destas e também de Igrejas pentecostais. Muitas práticas neopentecostais são absolutamente antibíblicas, como o uso de objetos sagrados, supostamente milagrosos e troca de bençãos por ofertas e votos. É algo semelhante ao que acontecia na Igreja da época da Reforma Protestante. 


3. Contribuições Pentecostais às Missões. É inegável que Movimento Pentecostal, a partir do Século XX contribuiu significativamente para o crescimento da obra missionária em várias partes do mundo, principalmente em lugares onde o Evangelho ainda não havia chegado e em locais muito difíceis e hostis ao Evangelho. 


O verdadeiro pentecostalismo está intimamente ligado às missões, pois o objetivo principal do revestimento de poder na vida do cristão é exatamente ser uma testemunha de Cristo (At 1.8).  A palavra testemunha, no grego é martyria, que significa defender uma causa com tanta convicção, a ponto de morrer por ela. É  desta palavra que vem a palavra portuguesa mártir. 


A marca principal dos pentecostais é a crença de que a experiência vivida pela Igreja Primitiva no Dia de Pentecostes, continuou acontecendo em todas as Igrejas daquela época e continua acontecendo em nossos dias. A base bíblica para afirmarmos isso é que em seu discurso, o apóstolo Pedro afirmou: "Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar." (At 2.39). 


A promessa do revestimento de poder, portanto, era para os ouvintes de Pedro, para a próxima geração, para os que estão longe (não no sentido geográfico, mas no tempo) e para todos os que ainda iriam se converter. Ou seja, para todas as épocas da Igreja, enquanto ela estivesse neste mundo. Se houveram épocas da Igreja em que não se notou o batismo no Espírito Santo e os dons espirituais, não foi porque eles cessaram, mas porque deixaram de ensinar sobre isso e houve negligência em buscá-los. 


Outra grande contribuição dos pentecostais na obra missionária é a completa dependência do Espírito Santo e a confirmação da pregação com sinais e maravilhas. A pregação pentecostal não se limita a discursos bem elaborados e eloquentes. 


Quando pregamos no poder do Espírito Santo, Ele cura enfermos, opera maravilhas e trabalha no coração dos ouvintes para que eles compreendam a mensagem e se rendam a Cristo. Os pioneiros da Assembleia de Deus no Brasil, tinham pouquíssimos recursos, não falavam direito o nosso idioma e foram muito perseguidos.


Entretanto, o Senhor operou muitos sinais e maravilhas através deles, que levaram muitos incrédulos que os perseguiam a se renderem a Cristo. O Livro "O diário do Pioneiro", escrito por Ivar Vingren, filho do missionário Gunnar Vingren, traz muitos destes relatos que ele viu e ouviu dos seus pais. Da mesma forma, Daniel Berg relatou em seu Livro "Daniel Berg, enviado por Deus", muitos milagres que Deus operou através dele, de Gunnar Vingren e outros pioneiros da Assembleia de Deus no Brasil. 


REFERÊNCIAS: 


GABY, Wagner. Até os confins da terra: Pregando o Evangelho a todos os povos até a volta de Cristo. 1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023. págs. 40-52.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. Ed. 95, p.38. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023, pp. 30-41

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

ROMEIRO, Paulo. Super Crentes: O evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os profetas da prosperidade. SÃO PAULO: Mundo Cristão, 4ª reimpressão, 2012.

BERG, David. Daniel Berg, Enviado por Deus: A história de Daniel Berg, um simples aldeão que ajudou a deflagrar o maior movimento pentecostal da história da Igreja, as Assembleias de Deus no Brasil. Editora CPAD. 1 Ed 1995.

VINGREN, Ivar. O Diário do Pioneiro: Gunnar Vingren. Editora CPAD. 5ª Ed 2000.

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