06 julho 2023

AS TEOLOGIAS MODERNAS

Leonardo Boff, um dos principais expoentes da Teologia da Libertação

(Comentário do 2º tópico da Lição 02: A deturpação da Doutrina bíblica do pecado)

Ev. WELIANO PIRES


No segundo tópico, falaremos das teologias modernas que deturpam o conceito de pecado. Há várias teologias erradas em relação ao pecado. Neste tópico, o comentarista nos apresenta três delas que são características dos tempos pós-modernos: A teologia do pecado social, a teologia da libertação e o liberalismo teológico. As duas primeiras dizem que o pecado não é a corrupção moral do ser humano, e sim, algo construído por estruturas opressoras, principalmente, na área econômica. O liberalismo teológico, por sua vez, questiona a inspiração, inerrância e infalibilidade das Escrituras. Negam também os milagres e o sobrenatural, considerando-os como mitos e fábulas.


1- Teologia do pecado social. A Igreja Católica sempre pregou o desprendimento dos bens materiais e, na Idade Média, condenava duramente a prática de empréstimos a juros. Entretanto, isso não passava de hipocrisia, pois ironicamente, o Vaticano era a instituição mais rica do mundo e se beneficiava de recursos obtidos através de juros e explorações. 


Os padres que pertencem às congregações religiosas ou ordens, como os Franciscanos e os Dominicanos, e as freiras, fazem votos de pobreza, castidade e obediência absoluta aos seus superiores. Estes religiosos, devido ao seu envolvimento direto com os pobres, miseráveis e doentes, desenvolveram um apego muito grande a estas classes e, consequentemente, desprezo aos ricos, como se todos os ricos fossem exploradores. 


No início da década de 1960, em plena guerra fria entre capitalistas e comunistas, aconteceu no Vaticano, o Concílio Vaticano II, que realizou uma série de conferências entre 1962 e 1965, com o objetivo de modernizar a Igreja Católica e atrair os fiéis que haviam migrado para o protestantismo e outras religiões. Nas questões políticas, este concílio decidiu pela continuidade da condenação ao capitalismo e ao comunismo e aumentou a liberdade para que teólogos pudessem interpretar a Bíblia, à parte do Vaticano. 


Depois disso, no ano de 1968, no contexto da revolução sexual e das revoltas de movimentos estudantis e sindicais, contra ditaduras militares na América Latina, foi realizada a II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano em Medellín, na Colômbia. A partir deste concílio, o pecado passou a ser visto não mais no aspecto moral, mas no aspecto social e econômico. Sendo assim, a Igreja Católica da América Latina passou a se envolver mais em questões políticas e econômicas, como reforma agrária, distribuição de renda, direitos humanos, etc., a fim de promover a libertação dos oprimidos, não do pecado no sentido bíblico, mas, a libertação do que eles chamam de “estruturas opressoras da sociedade”. Este envolvimento fez com que muitos bispos e padres se tornassem militantes radicais de esquerda, a ponto de apoiarem a luta armada e as invasões de prioridades. 


Em 1979, foi realizada a III Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, desta vez em Puebla, no México, dando continuidade aos ideais da Segunda Conferência realizada em Medellín, na Colômbia. Esta terceira conferência vinha sendo preparada desde 1974 e deveria ser realizada em 1978, porém com as mortes de Paulo VI e João Paulo I, foi adiada para 1979 e presidida por João Paulo II. 


2- Teologia da libertação. No contexto da chamada Guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética, levantaram-se na América Latina vários governos ditatoriais que combatiam o comunismo, com o apoio dos Estados Unidos, como foi o caso de Augusto Pinochet, no Chile, e os militares, no Brasil. Por outro lado, os movimentos sindicais, estudantis, rurais e intelectuais de esquerda recebiam apoio da União Soviética, de Cuba e outros países comunistas, a fim de promoverem o comunismo no continente. Com isso, praticaram atos terroristas, roubo a bancos, sequestro e guerrilhas. 


Após o Concílio Vaticano II, surgiu dentro da Igreja Católica um movimento marxista de combate aos regimes ditatoriais na América Latina e ao capitalismo. Em  1971, o padre peruano Gustavo Gutiérrez publicou um livro denominado "A Teologia da libertação. A partir desta publicação teve início um movimento ecumênico, que interpreta os ensinos de Cristo, aplicando-os não à libertação do pecado no aspecto moral, mas a uma suposta libertação de injustas condições econômicas, políticas ou sociais. Além de Gustavo Gutiérrez, Leonardo Boff, Frei Beto e os Jesuítas Juan Luis Segundo e Jon Sobrino, também foram expoentes desta teologia na América Latina. 


A Teologia da Libertação não recebeu apoio do Vaticano durante os pontificados de João Paulo II e Bento XVI, que eram mais conservadores. Este movimento chegou a ser acusado de deturpar os ensinamentos divinos em favor da política. Entretanto, nas CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) da Igreja Católica e, principalmente na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) essa teologia tem grande influência. Foi através da Teologia da Libertação que surgiram movimentos políticos de esquerda como o PT, Liga dos Camponeses, Via Campesina, MST, MTST e outros. O papa atual também é adepto desta teologia. 


Essa ideia do pecado social e tentativa de conciliar a teologia com os ideais marxistas não se restringiu à Igreja Católica. Do lado protestante também surgiu a chamada Teologia da Missão Integral (TMI). O pioneiro desta teologia foi o pastor Renê Padilha nascido no Equador e radicado na Argentina, onde desenvolveu o seu ministério pastoral. Em 1984, Padilha publicou o livro: O Reino de Deus e a Igreja, que é uma coleção de artigos e palestras dele. Renê Padilha se empenhou em associar o Evangelho às ações sociais e tinha proximidade com os movimentos políticos de esquerda da América Latina. Ele ensinava que Jesus não veio salvar apenas a alma, mas também transformar a sociedade. No Brasil, os pastores Caio Fábio, Ariovaldo Ramos, Ed Renê Kivitz, Ricardo Gondim e outros são expoentes dessa teologia. Alguns destes pastores, posteriormente aderiram também à teologia liberal e ao teísmo aberto. Ed Renê Kivitz chegou a dizer que a Bíblia precisa ser “ressignificada” e “atualizada”. Ricardo Gondim perdeu completamente o rumo. Declarou publicamente que rompeu com os evangélicos e pediu perdão aos homossexuais pelas críticas que fez no passado ao homossexualismo. 


3- Liberalismo teológico. A teologia liberal surgiu após a Reforma Protesttante, a partir do chamado método histórico - crítico de interpretação da Bíblia. Este método apresenta-se como neutro e científico, mas foi contaminado pelo humanismo, iluminismo, deísmo e pelo ceticismo. O método histórico-crítico coloca o racionalismo como a base da interpretação bíblica e, portanto, exclui os milagres e o sobrenatural, considerando-os como mitos e superstições. 


A Revista Defesa da Fé, Edição 69, publicada pelo Instituto Cristão de Pesquisas (ICP) descreve três destaques de elementos do liberalismo teológico, que nos ajudam a compreender melhor essa falsa teologia: 


1. É receptivo à ciência, às artes e estudos humanos contemporâneos. Procura a verdade onde quer que se encontre. Para o liberalismo não existe a descontinuidade entre a verdade humana e a verdade do cristianismo, a disjunção entre a razão e a revelação. A verdade deve ser encontrada na experiência guiada mais pela razão do que pela tradição e autoridade e mostra mais abertura ao ecumenismo;


2. Tem-se mostrado simpatia para com o uso dos cânones da historiografia para interpretar os textos sagrados. A Bíblia é considerada documento humano, cuja validade principal está em registrar a experiência de pessoas abertas para a presença de Deus. Sua tarefa contínua é interpretar a Bíblia, à luz de uma cosmovisão contemporânea e da melhor pesquisa histórica, e, ao mesmo tempo, interpretar a sociedade, à luz da narrativa evangélica;


3. Os liberais ressaltam as implicações éticas do cristianismo. O cristianismo não é um dogma a ser crido, mas um modo de viver e conviver, um caminho de vida. Mostraram-se inclinados a ter uma visão otimista da mudança e acreditar que o mal é mais uma ignorância. Por ter vários atributos até divergentes, o liberal causa alergia para uns e para outros é motivo de certa satisfação, por ser considerado portador de uma mente aberta para o diálogo com posições contrárias.


Os teólogos liberais consideram a Bíblia como um livro humano como qualquer outro da antiguidade e, portanto, negam a sua inspiração divina, inerrância e infalibilidade. Além disso, negam os milagres e o sobrenatural, considerando-os como mitos e fábulas. Procuram também interpretar as doutrinas bíblicas conforme as próprias conveniências e dar-lhes novos significados. Inevitavelmente, esse tipo de teologia traz sérias consequências como incredulidade, tolerância ao pecado, relativismo moral e ético e relaxo para com a evangelização.


É importante esclarecer que o liberalismo teológico não tem nada a ver com usos e costumes.. Geralmente, quando uma Igreja não adota regras rigorosas nos usos e costumes é tachada por algumas pessoas como "Igreja Liberal". Também não tem nada a ver com o liberalismo econômico, que está relacionado à participação do governo na economia, cobrança de impostos e interferência na vida pessoal do cidadão. Sendo assim, a pessoa pode ser um liberal econômico, sem ser necessariamente um liberal teológico. O mesmo pode acontecer na questão dos usos e costumes. Há várias Igrejas são liberais nos costumes, mas seguem uma teologia ortodoxa 


REFERÊNCIAS:


BATISTA, Douglas. A Igreja de Cristo e o império do mal: Como viver neste mundo dominado pelo espírito da Babilônia. 1ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.

SOARES, Esequias. Declaração de Fé das Assembleias de Deus. 1ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 58.

A teologia liberal e suas implicações para a fé bíblica - Instituto Cristão de Pesquisas


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