(Comentário do 2º tópico da Lição 08: A importância da paternidade na vida dos filhos)
Ev. WELIANO PIRES
No segundo tópico, falaremos sobre dois tipos de paternidades extremistas: a paternidade autoritária, que apenas impõe regras sem considerar os sentimentos, vontade e memória dos filhos; e a paternidade permissiva, que ignora os princípios bíblicos e deixa os filhos decidirem o que querem. Estes dois extremos são prejudiciais ao bem estar da família e devem ser evitados. Como exemplo de paternidade permissiva e negligente, falaremos do caso de Eli, que era sumo sacerdote, e os filhos eram filhos de belial e profanos.
1. A paternidade autoritária. Conforme falamos no tópico anterior, muitas pessoas confundem autoridade com autoritarismo. Os pais antigamente tinham esta concepção. Escrevendo aos Efésios, no capítulo 6, nos versículos 1 a 3, o apóstolo Paulo faz a seguinte recomendação aos filhos: “Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra. Este mandamento é uma reafirmação do quinto mandamento do decálogo, que manda honrar pai e mãe. Muitos pais gostam deste mandamento e o usam frequentemente para exigir a obediência dos filhos. Entretanto, não atentam para a continuidade do texto, onde o apóstolo diz: “E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor.” (Ef 6.4).
No contexto em que Paulo escreveu estas orientações a pais e filhos, o pai detinha poder absoluto sobre os filhos e podia não apenas castigá-los, mas também vendê-los, escravizá-los, abandoná-los e até matá-los. Sobre isso, Bruna Menezes das Neves diz em sua monografia do curso de direito, apresentada na Universidade Federal de Santa Catarina:
“No direito romano, o chefe da família era considerado o ascendente masculino mais antigo em vida, chamado de 'pater familias'. Ele detinha o poder sobre o patrimônio familiar, os cultos religiosos e sobre cada integrante da família, entre os quais os filhos. Sobre estes, inclusive, detinha o 'ius vendendi', direito de vender os filhos, e o ‘ius vitae ac necis', direito de relegar o filho à morte, entre outros atributos a serem estudados no presente trabalho.”
Legalmente, o pai poderia impor a sua vontade aos filhos e demais integrantes da família, de forma unilateral, usando meios violentos para castigá-los e até executá-los, se achasse que era necessário. A paternidade autoritária impõe as suas ordens, muitas delas absurdas, sem considerar que os filhos têm sentimentos, vontades, inteligência e são seres humanos. Exigem que as suas ordens sejam cumpridas, sem nenhum questionamento e sem nenhuma explicação, sob pena de sofrerem castigos severos. Os filhos, enquanto pequenos, podem até cumprir estas ordens por medo e pavor, mas crescem revoltados e podem também se tornarem violentos.
Para o cristão, não é este modelo de paternidade que a Bíblia recomenda. A ordem para os filhos obedecerem aos pais vem acompanhada da ordem para os pais não provocarem a ira dos filhos e os criarem na doutrina e admoestação do Senhor. Paulo dá aqui duas recomendações importantes aos pais, para uma paternidade segundo o padrão de Deus:
a. Não provocar a ira dos filhos. Isto significa não irritá-los com ordens absurdas, tratamento desumano, injustiças e outras atitudes que possam desanimá-los e induzi-los à desobediência e rebeldia. William Hendriksen cita seis atitudes dos pais, que provocam ira nos filhos: 1) excesso de proteção; 2) favoritismo; 3) desestímulo; 4) não reconhecimento do crescimento do filho e direito de ter as próprias ideias; 5) negligência; e 6) palavras ásperas e crueldade física.
b. Criá-los na doutrina e admoestação do Senhor. A palavra “criar” neste texto significa sustentar com ternura, amor, cuidado e proteção. Isso está relacionado ao desenvolvimento do caráter. A recomendação do apóstolo Paulo, portanto, é para os pais treinarem e ensinarem os filhos de acordo com o ensino (doutrina) e conselho (admoestação) do Senhor. Ou seja, as ordens e ensinos dos pais cristãos precisam seguir os padrões de Deus.
2. A paternidade permissiva. No outro extremo da paternidade autoritária está a paternidade permissiva. Se por um lado, a paternidade autoritária impõe as suas ordens aos filhos, sem considerar que eles também têm sentimentos, vontade e inteligência, por outro lado, a paternidade permissiva não impõe limite algum e deixa que os filhos decidam tudo.
Se no passado os pais eram autoritários, intransigentes e extremamente agressivos com os filhos, na atualidade os pais não corrigem os filhos quando erram e deixam fazer tudo o que querem. A impunidade é parceira da delinquência. Onde não há limites estabelecidos e sanções para os infratores, eles se sentem estimulados a continuar infringindo as regras e a não respeitar ninguém.
Os filhos precisam de orientação, regras e limites, principalmente, quando estão em formação, pois, eles não têm discernimento nem responsabilidade para decidirem o que é melhor para eles. Impor limites aos filhos é também uma forma de proteção. Se deixarmos os nossos filhos escolherem o que querem comer e quando comer, eles sempre irão preferir doces e chocolates, em vez de refeições balanceadas nos horários corretos. Se ficar a cargo deles ir à escola ou não, irão crescer analfabetos, pois irão preferir continuar dormindo ou jogando no celular. O mesmo acontece no âmbito espiritual. Precisamos ensinar a Palavra de Deus aos nossos filhos e não podemos deixar que eles decidam se querem ir à Igreja ou não, enquanto são pequenos.
3. Eli criou filhos que se tornaram profanos. Temos poucas informações sobre a origem do sumo sacerdote Eli e como ele chegou a este cargo tão importante em Israel. Eli aparece pela primeira vez nas Escrituras, quando Ana, a mãe de Samuel, orava a Deus pedindo-lhe um filho em voz baixa e ele a teve por embriagada. Depois que ela contou o que estava fazendo, ele a abençoou.
Sabemos que Eli foi juiz de todo o Israel e o primeiro sumo sacerdote em Siló. Sabemos também que ele era descendente de Itamar, filho de Arão e o primeiro sumo sacerdote dos filhos de Itamar. O cargo de sumo sacerdote era hereditário e, portanto, deveria ser exercido pelo filho mais velho de Arão, após a sua morte. Nadabe e Abiú, os dois filhos mais velhos de Arão, foram mortos após queimarem incenso sem autorização. O cargo, então, passou para Eleazar, que era o próximo filho de Arão. Depois de Eleazar, o sumo sacerdote passou a ser o seu filho Finéias.
No tempo dos juízes, os filhos de Israel caíram na idolatria e na anarquia e cada um fazia o que achava correto, como vimos em lições anteriores. Foi durante este período, que Eli se tornou o sumo sacerdote e na temos informações bíblicas sobre a mudança do sumo sacerdote para a descendência de Itamar. Depois, nos dias de Salomão, cumprindo-se a profecia que Deus falou através de Samuel, o sumo sacerdote voltou para a família de Eleazar (1 Rs 2.35).
Eli tornou-se sacerdote aos 58 anos de idade e passou quarenta anos como juiz e sacerdote em todo Israel (1 Sm 4.8). Isso demonstra que ter sido um bom juiz. Entretanto, ele foi omisso e tolerante com os gravíssimos pecados dos seus filhos e, por isso, o seu final foi trágico. Os seus dois filhos, Hofni e Finéias exerciam o sacerdócio durante a velhice do pai, de forma profana, imoral e abusiva. Eles se prostituíam com um bando de mulheres nas dependências do santuário em Siló. Desprezavam as ofertas ao Senhor e praticamente tomavam a carne do povo sem queimar a gordura, como ordenava a Lei.
REFERÊNCIAS:
CABRAL, Elienai. Relacionamentos em família: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 144-145.Monografia de Bruna Medeiros das Neves, apresentada ao Curso de Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina.
Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pág. 1261-1262.
LOPES, Hernandes Dias. EFÉSIOS: Igreja, A Noiva Gloriosa de Cristo. Editora Hagnos. pág. 164-167.
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p.368.
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