30 maio 2023

A FAMÍLIA DE JÓ

(Comentário do 1⁰ Tópico da Lição 10: Quando os pais sepultam os filhos)

Ev. WELIANO PIRES


No primeiro tópico, falaremos sobre a família de Jó. Primeiro falaremos sobre a pessoa do patriarca Jó, trazendo as poucas informações bíblicas e históricas, de que dispomos sobre este patriarca. Muitas pessoas dizem que Jó não foi um personagem real, mas, apenas uma ficção. Entretanto, além do livro de Jó contar a história dele, citando nomes, lugares e povos, há citações em outras partes da Bíblia, mencionando Jó como uma pessoa real.  Falaremos também sobre a esposa de Jó. Se temos poucas informações sobre Jó, temos menos ainda sobre a sua esposa. A Bíblia não registra sequer o seu nome. Por último, falaremos sobre os filhos de Jó, que levavam uma vida de banquetes, muita comida e bebida. O patriarca se levantava de madrugada, orava e oferecia sacrifícios por eles a Deus.


1- Quem era Jó? Tanto o livro como a vida de Jó tem sido alvo de muitas polêmicas. Há teólogos liberais e outros da prosperidade, que dizem que Jó não foi um personagem real, mas, apenas uma obra de ficção. Entretanto, além do livro de Jó contar a história dele, citando nomes, lugares e povos, há citações em outras partes da Bíblia, mencionando Jó, como uma pessoa real, como por exemplo, no Livro de Ezequiel: "Filho do homem, quando uma terra pecar contra mim, gravemente se rebelando, então, estenderei a mão contra ela, e tornarei instável o sustento do pão, e enviarei contra ela fome, e arrancarei dela homens e animais; ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé, Daniel e Jó, eles, pela sua justiça, livrariam apenas a sua alma, diz o Senhor Jeová". (Ez 14.12,14). Tiago, em sua Epístola, também fez menção à paciência de Jó, como uma pessoa real: "Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso." (Tg 5.11)

Não temos informações biográficas e geográficas que sejam precisas, sobre a pessoa de Jó, a região e a época em que ele viveu. O Livro de Jó inicia assim: “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó”. (Jó 1.1). Isso é tudo o que sabemos sobre a biografia de Jó. Segundo a introdução ao Livro de Jó, na Bíblia de Estudo Palavra-Chave (CPAD), Uz ficava próximo a Midiã, região Sul da Arábia, onde vivia o sogro de Moisés. O comentarista, por sua vez, diz que Uz ficava na região Norte da Arábia. O profeta Jeremias, em Lamentações, identifica Uz com Edom: Regozija-te e alegra-te, ó filha de Edom, que habitas na terra de Uz; o cálice passará também para ti; embebedar-te-ás, e te descobrirás.” (Lm 4.21). Pode ter sido também um território conquistado pelos edomitas. A Septuaginta traduziu Uz como Ausites, que  era uma área na região norte do deserto da Arábia. 

O comentarista diz também que Jó teria vivido entre os séculos 25 e 28 a.C. Porém, no Livro de apoio, ele diz que Jó teria vivido entre 2100 e 1800 a.C. Neste caso seria entre os séculos 21 e 18 a.C. Sendo assim, é provável que ele quis dizer entre os séculos 25 e 18 a.C, considerando que a contagem antes de Cristo é regressiva. 

O nome Jó é a transliteração da palavra hebraica Yob, (Pronuncia-se Yov) que significa “perseguido” ou “odiado”. Não temos mais informações sobre a pessoa de Jó ou a sua ascendência. Alguns estudiosos afirmam que Jó seria descendente de Naor, irmão de Abraão, baseando-se no fato de que há 30 referências ao título divino "Shaddai" (Todo Poderoso) no Livro de Jó. Este era o nome pelo qual Deus se revelou a Abraão. De fato, os costumes e estilo de vida narrados no Livro de Jó são os mesmos do período patriarcal, aproximadamente, entre 2100 e 1800 a.C. Não há nenhuma referência à Lei Mosaica ou ao sacerdócio levítico e há a referência de Jó oferecendo sacrifício pelos filhos e as filhas sendo co-herdeiras, o que não era permitido na Lei. Portanto, tudo leva a crer que Jó viveu em uma época próxima à de Abraão. O tempo de vida de Jó, 140 anos, também corrobora esta hipótese. 

O livro afirma também que Jó era “maior que todos do Oriente”. Na sequência, descreve as riquezas de Jó, em quantidade de animais (Camelos, bois, ovelhas e jumentas) muitos servos e 10 filhos. Jó possuía sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois, e quinhentas jumentas. Tinha também muitíssima gente ao seu serviço (Jó 1.3). Para os padrões da época, isso o tornava um homem muito poderoso. 

Mesmo sendo um homem muito rico, poderoso, conselheiro sábio e respeitado, no testemunho que Deus deu dele, o que se destaca é que Jó era um homem "sincero, reto, temente a Deus e que desviava-se do mal".  (Jó 1.1).

a. Sincero / Íntegro. A versão Almeida Revista e Corrigida traz a palavra “sincero” neste texto. Já as versões Almeida Revista e Atualizada, Nova Versão Internacional e outras de linguagens mais atualizadas, trazem a palavra “integro”. A palavra hebraica aqui é “tam”, que tem o sentido de íntegro, inocente, ingênuo, simples, perfeito, que não tem defeito, completo. Isto não significa que Jó não tivesse pecados, mas, que ele era verdadeiro e autêntico, sem falsidade. 

b. Reto (v.1). A palavra reto, no hebraico é “yasar” e tem o sentido de justo, imparcial e direito. Então, Jó além de verdadeiro, era um homem que se comportava de forma irrepreensível. Esta sempre foi uma característica dos crentes de antigamente, que hoje em dia, infelizmente, está cada vez mais rara. Antigamente, ser crente era sinônimo alguém que era bom pagador, bom pai/mãe de família, pessoa que não falava palavrão, que não revidava  às ofensas, que não traía a esposa, etc. Hoje, tem pessoas que tomam um susto quando alguém diz que é crente, porque não parece.

c. Temente a Deus e que se desvia do mal. Estas duas palavras “temente” e “que se desvia" no hebraico são, respectivamente, sur e yare. Elas estão relacionadas e significam, “alguém que presta reverência a Deus e, por isso, evitava o mal". Temer a Deus não significa “ter medo” ou “ter pavor” dele. Significa reverenciá-lo e respeitá-lo profundamente, a ponto de obedecê-lo. 

Jó viveu em uma época em que a Lei de Deus ainda não havia sido escrita. Também não haviam escribas e sacerdotes que lhe ensinassem a Lei. Mesmo assim, ele era temente a Deus e se afastava da maldade. Muitos problemas acontecem em nosso meio atualmente, porque as pessoas estão perdendo o temor a Deus. 


2- A esposa de Jó. Se temos pouquíssimas informações sobre a pessoa de Jó na Bíblia, temos muito menos sobre a esposa dele. A Bíblia não menciona sequer o nome dela. A tradição dos rabinos atribui a ela o nome de Sitis, mas não há nenhuma comprovação bíblica ou histórica para esta especulação. A única menção que temos à mulher de Jó está no capítulo 2, versículos 9 e 10, quando ela questionou a postura de Jó, diante da série de calamidades que se abateu sobre os seus bens, a sua família e a própria saúde: 'Então, sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus e morre. Mas ele lhe disse: Como fala qualquer doida, assim falas tu; receberemos o bem de Deus e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios." 

A partir daí, não temos mais nenhuma menção à mulher de Jó no restante do Livro. Temos os questionamentos de Jó, os longos discursos dos amigos de Jó e as suas respectivas réplicas, os questionamentos de Deus a Jó e a sua humilde resposta a Deus. Mas, em momento algum aparece a esposa de Jó. No final do Livro, é dito que Deus virou o cativeiro de Jó, concedendo-lhe o dobro de tudo o que antes possuía. Jó teve sete filhos e três filhas, após o período de enfermidade que ele passou, mas não se sabe se foi com a mesma esposa. 

A mulher de Jó se tornou sinônimo de uma mulher doida, insensata e blasfema, porque sugeriu a Jó, no auge da sua aflição, que amaldiçoasse a Deus e morresse.  Entretanto, é preciso considerar o contexto em que ela viveu e a situação dramática em que ela e Jó estavam vivendo, sem saber a razão. Hoje, nós temos o Livro de Jó escrito e sabemos o início e o final da história. Sabemos do diálogo que houve entre Satanás e Deus, e que Deus autorizou o inimigo a tirar tudo de Jó. Sabemos também o que Deus concedeu a Jó no final da história. 

A mulher de Jó, no entanto, não sabia nada disso. Ela viveu em um contexto em que não havia ainda as Escrituras e os sábios diziam que os ímpios eram punidos e os justos recompensados. Tanto que os amigos de Jó, o tempo todo, insinuavam que ele havia pecado contra Deus, para estar sofrendo daquele jeito. A mulher de Jó viveu com ele nos tempos de prosperidade e felicidade, e conhecia a integridade do caráter de Jó. Considerando que Jó era fiel e a teologia da retribuição que imperava na época, ela concluiu que Deus estaria punindo Jó injustamente. 

Este é o grande equívoco da teologia da prosperidade, que ensina que Deus abençoa os justos nesta vida pela sua fidelidade, fazendo-os prosperar, e amaldiçoa os ímpios, tirando-lhes os bens e a saúde. Entretanto, quando olhamos para a realidade tanto dos justos, quanto dos ímpios, esta tese não se sustenta. Há muitos ímpios que são milionários e muitos justos que vivem na pobreza. Esse tipo de teologia leva as pessoas a uma relação mercenária com Deus, buscando-o apenas por aquilo que Ele pode dar e não por quem Ele é. 


3- Os filhos de Jó. O Livro de Jó também traz poucas informações sobre os filhos de Jó, que morreram nas investidas do inimigo contra ele. Diz apenas que eram sete filhos e três filhas e que eles tinham o hábito de fazer banquetes nas casas um dos outros, sequencialmente. Quando terminavam todos os banquetes, Jó se levantava de madrugada e santificava-os, oferecendo sacrifícios por todos eles. As palavras de Jó, indicam que ele sabia ou desconfiava que nestes banquetes eles pecavam contra Deus e até blasfemavam: "... Porque dizia Jó: Talvez pecaram meus filhos, e amaldiçoaram a Deus no seu coração. Assim fazia Jó continuamente.'  

O texto sagrado não diz claramente que eles eram idólatras, imorais e blasfemos. Entretanto, pela descrição destes banquetes e pela preocupação de Jó, subtende-se que sim, eles praticavam rituais pagãos e até blasfemavam contra Deus. Sobre isso, diz o Pr. Claudionor de Andrade: 

" … O seu desvio patenteia-se naqueles festins que se arrastavam por vários dias, durante os quais celebravam eles os deuses pagãos. Não lhes bastasse a idolatria, sutilmente amaldiçoavam ao Todo-Poderoso. Se recorrermos ao original, veremos que "Mishteh" é a palavra para “banquete”; traz a imagem de uma irrefreável orgia na qual os convivas agem irrefletida e loucamente: 'Comamos e bebamos, porque amanhã todos morreremos'."

Depois que Deus mudou o cativeiro de Jó, deu-lhe outros sete filhos e três filhas. Desta feita, a Bíblia relata os nomes e destaca a beleza das filhas. Não faz nenhuma menção a banquetes que eles porventura tenham realizado, como fizeram os filhos que morreram. Sejamos pais como Jó, que intercedia pelos seus filhos e dedicava-se à sua família. Se os nossos filhos não seguirem o nosso exemplo e ensino, pelo menos nós fizemos a nossa parte. 


REFERÊNCIAS:

CABRAL, Elienai. Relacionamentos em família: Superando desafios e problemas com exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 172-175.

Revista Lições Bíblicas, Adultos. Rio de Janeiro: CPAD, 4º Trimestre de 2020.

Bíblia de Estudo Palavra Chave. RJ: CPAD, 2015.

ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Jó: O problema do sofrimento do justo e o seu propósito. Série Comentário Bíblico. Editora CPAD. pág. 47-51.

STAMPS, Donald C. (Ed) Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

SWINDOLL, CHARLES R. Jó: Um homem de tolerância heróica. Ed. 2003. Editora Mundo Cristão. pág. 53-55. 


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