(Comentário do 3º tópico da Lição 08: A importância da paternidade na vida dos filhos)
Ev. WELIANO PIRES
No terceiro tópico, falaremos sobre os fracassos de dois pais que foram negligentes na criação dos filhos: Eli e Samuel. Ambos, foram líderes importantes de Israel, mas foram omissos na disciplina e repreensão dos filhos e se isentaram da responsabilidade para com os próprios filhos. Eli tinha 40 anos de sacerdócio e os seus dois filhos não conheciam o Senhor. Samuel, por sua vez, sequer percebeu que os seus filhos corrompiam a justiça, agindo com ganância e recebendo suborno. Quando o povo os rejeitou como juízes, Samuel em vez de repreender os filhos, sentiu-se rejeitado pelo povo. Por último, falaremos sobre as relações do líder de uma Igreja com os seus filhos. Não se pode admitir tratamento inadequado a eles, seja para corrigi-los ou para beneficiá-los.
1. Omissos para com os filhos. Conforme falamos no tópico anterior, Eli foi sumo sacerdote e juiz em Israel por 40 anos. Samuel foi criado por Eli no Tabernáculo e se tornou sacerdote, profeta e juiz de Israel, muito respeitado. Entretanto, os dois foram omissos para com os filhos, que se tornaram ímpios nas funções que ocuparam em Israel.
Sobre os dois filhos de Eli, a Bíblia diz: “Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial” (1 Sm 2.12). A palavra “belial” no hebraico não tem um significado muito claro. O prefixo “bel” e o seu sufixo “ya’al” podem significar “sem proveito, imprestável, inútil” e era exatamente isso que eram os filhos de Eli, Hofni e Finéias, pois, não respeitavam as dependências do Tabernáculo e profanavam as coisas santas. O Senhor repreendeu a Eli por causa disso, mas ele não tomou providências.
Os filhos de Eli levaram a Arca da Aliança para a guerra contra os filisteus e nesta batalha, os dois foram mortos. A Arca foi levada pelos filisteus para a terra deles e passou 20 anos lá. Com a notícia da morte dos dois filhos de Eli, a sua nora que estava grávida, entrou em trabalho de parto e morreu. Quando soube das notícias trágicas, Eli caiu da cadeira, quebrou o pescoço e morreu. Este é o resultado de líderes do povo de Deus que são omissos e tolerantes com os erros dos seus filhos, honrando-os mais do que a Deus.
O profeta Samuel foi um milagre de Deus desde a sua concepção. Ana, a sua mãe, era uma mulher piedosa, porém, era estéril e vivia sendo humilhada por sua rival Penina, a outra esposa do seu marido, por não ter filhos (1 Sm 1.1-6). Ana, então, resolveu ir ao santuário em Siló, orar e pedir um filho ao Senhor. Em sua oração, Ana fez um voto ao Senhor, dizendo que se Ele lhe concedesse um filho, ela o daria ao Senhor, por todos os dias da sua vida (1 Sm 1.9-11). O Senhor ouviu a sua oração e lhe concedeu Samuel. Ana cumpriu o seu voto e entregou o menino para ser criado na Casa de Deus pelo sumo sacerdote Eli (1 Sm 1.20-28).
Samuel cresceu junto com Eli e os seus filhos. Ainda adolescente, Deus o chamou de noite e lhe entregou palavras contendo a dura sentença da casa de Eli (1 Sm 3.10-14). Samuel cresceu e se tornou profeta, sacerdote e juiz, muito respeitado em todo o Israel. Foi ele que ungiu os dois primeiros reis de Israel, Saul e Davi, e fez a transição do período dos juízes para a monarquia em Israel (1 Sm 10.1; 16.13). Nenhuma das suas palavras caiu por terra (1 Sm 3.19).
Entretanto, apesar de ser um homem de Deus, honrado e extremamente dedicado às coisas de Deus, Samuel também foi omisso em relação à própria família. Quem lê os primeiros sete do primeiro Livro de Samuel, que mostra a sua vida e os seus feitos desde o nascimento até a velhice, não imagina que ele era casado, pois não há nenhum relato sobre a sua esposa e filhos. Somente no capítulo 8, há a primeira menção aos seus filhos, na sua velhice, dizendo que Samuel envelheceu e constituiu os seus filhos como juízes, mas eles "...não andaram pelos caminhos dele, antes se inclinaram à avareza, e aceitaram suborno, e perverteram o direito." (1 Sm 8.3). Samuel soube através do povo, que os seus filhos não andavam como ele e que eram corruptos e avarentos. Em vez de repreender os filhos ou destituí-los do cargo de juiz, ele sentiu-se rejeitado pelo povo, por terem pedido um rei.
2. A isenção de responsabilidade de Eli e Samuel para com seus filhos. Eli e Samuel eram sacerdotes e juízes. Pelos relatos bíblicos podemos concluir que ambos exerceram os seus ofícios sem que nada desabonasse a conduta deles como ministros do Tabernáculo, ou como juízes. Não consta nos textos bíblicos que eles profanaram o santuário ou que tenham cometido injustiças, na função de juiz. Entretanto, conforme falamos acima, os dois foram omissos em relação à criação dos filhos e os filhos de ambos eram ímpios, não por terem sido rebeldes em não seguir a orientação dos pais, como fez Sansão, mas porque os pais foram omissos e não os repreenderam.
O problema, tanto de Eli como de Samuel, parece ter sido o de muitos pastores na atualidade: colocar o ministério acima da própria família, na lista de prioridades. Isso é um erro, pois o apóstolo Paulo disse que "... se alguém não cuida da própria casa, terá cuidado da casa de Deus?" (1Tm 3.5). O primeiro rebanho de um pastor deve ser a própria família. Paulo diz também a Timóteo: “Se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel.” (1Tm 5.8). Portanto, de nada adianta o obreiro ter um ministério bem sucedido para os de fora, se a própria família estiver destruída.
3. Tratamento inadequado. Se por um lado, a omissão dos líderes eclesiásticos em relação aos seus filhos é um grave problema para a família e para a Igreja, por outro lado, o rigor e exigência diferenciados para com os filhos do pastor, também são prejudiciais. Muitas Igrejas exigem um comportamento diferenciado da família do pastor, como se fossem superiores aos demais membros da Igreja.
Em muitas Igrejas, os filhos de pastores são submetidos a cobranças e punições rigorosas, sendo ainda crianças e adolescentes, para "dar o exemplo" à Igreja. Isso acaba fazendo com que eles cresçam revoltados e, na idade adulta, se afastem da Igreja ou não queiram saber de serem obreiros.
Os pastores devem ser bons pais, como qualquer cristão, criando os seus filhos com amor, dedicação e ensino da Palavra de Deus. Se errarem deve repreendê-los e corrigi-los como todo pai cristão. mas não para mostrar à Igreja que tem autoridade. Na Igreja, eles devem receber o mesmo tratamento dos demais membros. Não podem ser punidos ou beneficiados de forma diferenciada por serem filhos do pastor.
REFERÊNCIAS:
CABRAL, Elienai. Relacionamentos em família: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 145-148.
MACARTHUR, John. Pais sábios, Filhos brilhantes. Editora Thomas Nelson Brasil. 1 Ed. 2014.
LOPES, Hernandes Dias. EFÉSIOS: Igreja, A Noiva Gloriosa de Cristo. Editora Hagnos. pag. 164-167.
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p.368.
LOPES. Hernandes Dias. 1 Timóteo: O Pastor, sua vida e sua obra. Editora Hagnos. pág. 118-119.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. 2a Impressão: 2010. Vol. 2. pag. 504.
Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pág. 1260-1261.
BARCLAY, William. Comentário Bíblico: Efésios. pag.128-130.
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