(Comentário do 2⁰ tópico da Lição 7).
A mensagem central do ensino de Jesus é o amor. Quando um mestre da Lei lhe perguntou qual era o grande mandamento da Lei, o Mestre declarou: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. (Mt 22.37-39). Jesus disse que seríamos reconhecidos como seus discípulos se nos amássemos uns aos outros (Jo 13.35). Jesus pregou o amor não apenas aos que são nossos irmãos e nos fazem bem. Ele mandou amar os inimigos, orar pelos que nos perseguem e pagar o mal com o bem. Nesta parte do Sermão do Monte, Jesus fez uso de quatro ilustrações para mostrar como se deve resistir ao mal:
1. Virar a outra face (Mt 5. 39). No versículo 39 o Senhor Jesus diz: “...Se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra.” Apanhar no rosto é ultrajante e a tendência natural do ser humano é reagir e devolver a agressão. Se já é difícil suportar esta agressão e não reagir, mais difícil ainda é oferecer o outro lado da face para mais uma agressão. Na cultura judaica, o ato de ferir ou bater no rosto de alguém era considerado uma grande ofensa e era punido com uma multa de 400 sus (O equivalente a cerca de 160 dólares) e castigo. A vítima poderia reivindicar os seus direitos e cobrar a punição do agressor.
Este ensino de Jesus não era bem visto pelos judeus. Eles estavam sob o domínio romano e esperavam a vinda do Messias para lutar contra Roma e libertá-los. Uma das características de muitos judeus daquela época era a resistência. O grupo dos Zelotes, uma seita radical judaica, praticava atentados contra os romanos. Eles pretendiam vencê-los através da luta armada e esperavam um Messias guerreiro para liderar esta libertação. Durante um período de 100 anos, eles tentaram várias rebeliões mal sucedidas contra os romanos, que acabaram causando a destruição de Jerusalém, no ano 70 d.C. Os fariseus não eram tão radicais a ponto de adotarem a luta armada. Mas, odiavam os romanos, os publicanos e os saduceus que se misturaram com a cultura grega. Os fariseus pregavam a separação total dos não judeus. A palavra fariseu significa “separado”. Eles criticavam muito Jesus porque Ele se misturava aos publicanos e outras pessoas consideradas desprezíveis por eles.
O que Jesus nos ensina é que as nossas ações não devem ser pautadas pelas ações e palavras dos ímpios e sim pela Palavra de Deus. Deus é o Supremo Juiz e vingará as injustiças praticadas contra os seus servos. Por isso, não é necessário reagir. A essência do amor é fazer o bem a quem não merece e nunca retribuir o mal com mal. O amor é sofredor, benigno, tudo sofre, tudo suporta, não suspeita mal e não busca os próprios interesses (1 Co 13.4-7). Paulo disse que o cumprimento da Lei é o amor (Rm 13.10).
2. Arrastar para o tribunal (Mt 5.40). Na segunda ilustração, Jesus fala sobre uma questão judicial: “E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa.” (Mt 5.40). A referência aqui não é a alguém que está roubando uma peça importante do vestuário do outro. Jesus está se referindo a uma litigância judicial, onde uma pessoa movia uma ação judicial para tirar a túnica do outro, para pagar uma dívida que não foi paga. É como uma loja de veículos, que cobra na justiça a busca e apreensão de um veículo porque as prestações não foram pagas. Muitos devedores, para não perderem o veículo, deixam-no escondido.
A Lei permitia que as túnicas fossem usadas como penhor, ou garantia de uma dívida. Mas, a mesma Lei dizia que se o credor se apropriasse da capa, que era a parte externa da roupa, deveria devolvê-la no final do dia, pois era usada também como coberta e como cama: “Se tomares em penhor a roupa do teu próximo, lho restituirás antes do pôr do sol, porque aquela é a sua cobertura, e o vestido da sua pele; em que se deitaria? Será pois que, quando clamar a mim, eu o ouvirei, porque sou misericordioso.” (Êx 22.26,27). Jesus, no entanto, ensina que, se o credor cobrasse a túnica como pagamento de uma dívida, os seus discípulos deveriam abrir mão também da capa.
O ensino aqui é devemos evitar longas batalhas judiciais e fazer concessões e acordos. Infelizmente, em nossos dias, há uma corrida enorme por indenizações na Justiça. As pessoas processam as outras por coisas pequenas para receber indenizações. Até mesmo crentes processam a Igreja e o pastor, por alguma palavra mal colocada, ou porque foram disciplinados. O ensino de Jesus foi contra esse tipo de coisa. Paulo também ensinou que não deve haver litígio entre os irmãos e que os líderes da Igreja devem julgar as causas, para evitar comparecerem perantes juízes incrédulos (1 Co 6.1-8).
3. Obrigar a fazer algo (Mt 5.41). Na terceira ilustração, o Senhor Jesus diz: “Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas”. (Mt 5.41). Uma milha romana era igual a 8 estádios, ou seja, 8 mil passos, que equivale a 1478 metros.
No tempo de Jesus, os romanos dominavam o mundo. Era comum o império romano enviar emissários pela províncias. Quando chegavam nos locais designados, os emissários tinham autoridade para obrigar os cidadãos a carregarem as suas bagagens e até a fornecer os seus animais e carruagens para transportá-lo. Simão Cireneu, por exemplo, foi obrigado pelos soldados a carregar a cruz de Jesus (Mt 27.32).
Havia também o costume entre os judeus de acompanharem os viajantes, para oferecer-lhe segurança diante dos perigos de assalto nas estradas. Os fariseus, no entanto, só se dispunham a apanhar aos seus compatriotas e amigos. Se fosse um estranho ou "pecador" no conceito deles, não o acompanhavam.
Seja qual for a referência de Jesus, o que Ele nos ensina é que os seus discípulos não devem fazer somente aquilo que lhes for imposto. Devem servir voluntariamente e com alegria ao próximo. Jesus nos deu o exemplo, pois, mesmo Ele sendo Deus, Mestre e Senhor, veio para servir e dar a sua vida em resgate dos pescadores. Lamentavelmente, encontramos no meio evangélico, líderes que buscam privilégios e pessoas para servi-lo, em virtude do cargo que ocupam. Não foi isso que o nosso Mestre ensinou. Ele mesmo se pôs a lavar os pés dos seus discípulos, uma tarefa que era feita pelos escravos. No Reino de Deus, o maior é o que serve e não o que manda e é servido.
4. Fazer alguma coisa por alguém (Mt 21.42). Na quarta ilustração, Jesus diz: "Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes." (Mt 21.42). A generosidade e ajuda aos necessitados estava prevista na Lei mosaica. O Senhor mandou que os israelitas socorressem aos seus irmãos pobres: "Quando entre ti houver algum pobre, de teus irmãos, em alguma das tuas portas, na terra que o SENHOR teu Deus te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão a teu irmão que for pobre; Antes lhe abrirás de todo a tua mão, e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade." (Dt 15.7,8). Os agricultores também deviam deixar para trás as espigas menores, para que os pobres recolhessem para si. Os israelitas também eram proibidos de cobrar juros dos seus irmãos.
Naquele tempo em Israel, havia muita pobreza. A nação estava sob o domínio romano, que lhe cobrava altos impostos. Além disso, não havia previdência social e auxílios do governo para socorrer os miseráveis, idosos e deficientes físicos. Portanto, havia muitas pessoas que sobreviviam de esmolas. Os fariseus praticavam estas coisas apenas dentro do seu círculo de amizades e parentes. O ensino de Jesus, no entanto, é muito superior, pois Ele ensina que devemos ajudar a qualquer um que nos pedir e não devemos nos esquivar daqueles que quiserem emprestado. Jesus nos ensina a seguir o exemplos de Deus que é bom para com os justos e injustos, pois oferece o sol a todos e não apenas aos que merecem.
Nos dias de hoje, podemos e devemos ajudar a quem precisa. Entretanto, o contexto é muito diferente. Hoje há aposentadoria, programas sociais e vários auxílios do governo, para socorrer os necessitados. Além disso há empresas e organizações sociais e religiosas que promovem ações para ajudar os necessitados. Por outro lado, há pessoas que não querem trabalhar e vivem pedindo esmolas nas ruas para comprar drogas. Por isso, não é recomendável que se dê esmolas sem critérios. Há outras formas de ajudar, através de instituições sérias, ou buscando informações sobre a real situação dos necessitados.
REFERÊNCIAS:
GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 133-135.
HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1 Ed. 2008. pág. 58.
RIENECKER, Fritz. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica Esperança.
CHILDERS, Charles L.; EARLE, Ralph; SANNER, A. Elwood (Eds.) Comentário Bíblico Beacon: Mateus a Lucas. Volume 6. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.61).
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Pb. Weliano Pires
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