(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 7).
Neste primeiro tópico falaremos a respeito da chamada lei do talião, que era aplicada no Antigo Testamento, e sobre a incompatibilidade da vingança com os súditos do Reino Deus. Muitas pessoas confundem o texto de Mateus 5.38 com a lei do talião e acham que Jesus estava falando contra a aplicação da Lei por parte dos tribunais. Mas, o que Ele se contrapõe é à interpretação dos mestres da Lei, que usavam a Lei para praticar a vingança contra os seus desafetos, sem misericórdia. Diferente do que muitos imaginam, a Lei proibia a vingança pessoal: “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.” (Lv 19.18). As penas duras previstas na Lei eram para a aplicação nos tribunais, pelos juízes.
1. A Lei de Talião. A expressão “Lei do Talião” vem do latim “Lex” (Lei) e “talis” (tal qual). Portanto, Lex Talionis significa a aplicação de penas com o princípio da reciprocidade entre as penas e os danos causados às vítimas. A Lei do Talião é anterior ao Pentateuco e está presente em outros códigos de leis da antiguidade. O mais conhecido é o Código de Hamurabi, escrito em acádio ou babilônio antigo entre 1750 e 1730 a.C.). Neste código há previsões de penas, muito semelhantes àquelas previstas no texto de Êxodo 21:
Código de Hamurabi:
Art. 196 - Se alguém arranca o olho a um outro, se lhe deverá arrancar o olho.
Art. 197 - Se ele quebra o osso a um outro, se lhe deverá quebrar o osso.
Art. 200 - Se alguém parte os dentes de um outro, de igual condição, deverá ter partidos os seus dentes.
Êxodo 21:23-27:
“Mas se houver morte, então darás vida por vida, Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, Queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe. E quando alguém ferir o olho do seu servo, ou o olho da sua serva, e o danificar, o deixará ir livre pelo seu olho. E se tirar o dente do seu servo, ou o dente da sua serva, o deixará ir livre pelo seu dente.”
Pelo que vimos acima, embora as penas do código de Hamurabi sejam mais duras e cruéis que as leis da Torah, o princípio da retribuição é o mesmo. As penas impostas são semelhantes da mesma natureza dos danos causados.
No Livro do Gênesis, no episódio do assassinato de Abel, vemos que Deus chama para si a responsabilidade pela vingança, por ser o dono da vida: “A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim” (Gn 4.10). Deus proíbe que se tome a vingança contra Caim: “Assim, qualquer que matar a Caim será vingado sete vezes. E pôs o SENHOR um sinal em Caim para que o não ferisse de morte quem quer que o encontrasse”. (Gn 4.15). Entretanto, na narrativa dos descendentes de Caim, temos as palavras de Lameque, descendente de Caim: “E disse Lameque às suas esposas: Ada e Zilá, ouvi-me; vós, mulheres de Lameque, escutai o que passo a dizer-vos: Matei um homem porque ele me feriu; e um rapaz porque me pisou. Sete vezes se tomará vingança de Caim, de Lameque, porém, setenta vezes sete.” (Gn 4.23, 24). Aqui, vemos que Lameque agiu de forma vingativa e desproporcional, afastando-se do princípio da retribuição proporcional.
Temos também o exemplo de Simeão e Levi, filhos de Jacó. Após Siquém, filho de Hamor seduzir Diná, filha de Jacó, e ter relações com ela, os seus irmãos resolveram se vingar, matando todos os homens daquela cidade. Jacó os repreendeu severamente em sua profecia final, por este ato de vingança cruel e desproporcional: “Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. No seu conselho, não entre minha alma; com o seu agrupamento, minha glória não se ajunte; porque no seu furor mataram homens, e na sua vontade perversa jarretaram touros.” (Gn 49.5-6).
A tendência do ser humano após a queda era a violência e o pecado sem limites. Naqueles tempos bárbaros, os poderosos eram cruéis: invadiam casas e estupravam as mulheres; agrediam e até matavam quem atravessasse o seu caminho; apoderavam-se dos bens alheios; os reis invadiam outras nações e as escravizavam; etc. A vingança estava presente, diante de muitas injustiças e crueldade. Por isso, a Lei do Talião tinha o objetivo de frear a violência e evitar a vingança desproporcional e a guerra civil. Onde a regra é a vingança pessoal, a barbárie se estabelece, como acontece nas brigas de facções criminosas. O objetivo de Deus ao estabelecer esta lei era controlar os excessos provocados pela ira e desejo de vingança.
A interpretação farisaica, no entanto, visava desvirtuar esta lei, usando-a como subterfúgio para justificar a vingança pessoal. Em vários aspectos a Lei dizia uma coisa e os rabinos acrescentavam outras coisas e modificavam o sentido, para atender os próprios interesses (Mt 15.3,6). Eles ignoravam o fato de que cabia aos juízes a responsabilidade pela punição e só pensavam na execução, sem esboçar nenhuma misericórdia para com o próximo.
2. O cristão e a vingança. Segundo o dicionário, a vingança "é um ato lesivo praticado em nome próprio ou alheio, contra uma pessoa, para vingar-se de dano ou ofensa por ela causada; desforço, desforra, represália, revanche, vendeta, vindita." (Michaelis).
A vingança é uma prática incompatível com a vida cristã. O cristão não deve jamais se vingar das pessoas que lhe fazem mal. “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor” (Rm 12.19). Segundo o padrão de Jesus, além de não nos vingarmos daqueles que nos prejudicaram, devemos fazer bem a eles! O próprio Jesus deu o exemplo, quando pediu ao Pai que perdoasse aqueles que o crucificavam (Lc 23.24). Estevão, imitou o Mestre, e também pediu ao Senhor que não imputasse aos seus assassinos aquele pecado (At 7. 60).
Evidentemente, não se pode esperar atitudes assim, de pessoas que não foram transformadas pelo Espírito Santo. O sentimento natural do ser humano, em sua natureza carnal, é retribuir na mesma proporção ou até mais, as agressões sofridas.
REFERÊNCIAS:
GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 125-128.
HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1 Ed 2008. pag. 57-58.
STOTT, John. Contracultura cristã: A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pag. 48.
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Pb. Weliano Pires
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