25 outubro 2023

A OBRA MISSIONÁRIA DEPOIS DO PENTECOSTES

(Comentário do 2⁰ tópico da Lição 05: Uma perspectiva pentecostal de missões)

Ev. WELIANO PIRES

No segundo tópico, falaremos da obra missionária depois do pentecostes. Veremos que a causa da obra missionária da primeira igreja foi, sem dúvida nenhuma, a descida do Espírito Santo. Após o ocorrido no Dia de Pentecostes, a Igreja “encheu Jerusalém” com a mensagem do Evangelho (At 5.28), mesmo sob grandes perseguições e ameaças. 

Depois, falaremos da expansão missionária da primeira igreja. O Livro de Atos dos Apóstolos descreve uma Igreja atuante tanto no âmbito local, orando e pregando o Evangelho em Jerusalém, como nas missões na terra de Israel e por todo o mundo. 

Por último,  veremos que Deus não faz acepção de pessoas, citando como exemplo o envio do apóstolo Pedro à casa do centurião Cornélio, onde ele pregou para os gentios, depois de receber uma visão ilustrativa do Senhor, mostrando que Deus não faz acepção de pessoas.

1. A causa da obra missionária da primeira igreja. Hoje no meio pentecostal fala-se muito em avivamento, poder do Espírito Santo, ser cheio do Espírito Santo e outras expressões relacionadas ao revestimento de poder. Usam-se, inclusive, algumas expressões que não tem nada a ver com a Bíblia ou com a teologia cristã como reteté, canela de fogo, sapato de fogo, etc. Para estas pessoas, o revestimento do poder do Espírito Santo é algo relacionado ao barulho ou aos malabarismos que se fazem em um culto. 


Entretanto, do ponto de vista bíblico, isso não tem nada a ver com o revestimento de poder prometido por Jesus aos seus discípulos em Lucas 24.49 e Atos 1.8, que se cumpriu no Dia de Pentecostes, como uma inauguração da Igreja. Segundo o apóstolo Pedro falou em seu discurso, a promessa não se restringiu àqueles dias, mas está disponível para todas as épocas da Igreja, enquanto ela estiver neste mundo (At 2.39). 

Em todas as promessas relacionadas ao derramamento do Espírito Santo sobre a Igreja, o objetivo é capacitá-la para dar continuidade ao trabalho iniciado por Jesus. Em Atos 1.8, pouco antes de subir ao Céu, o Senhor Jesus disse aos seus discípulos: "Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra." Vê-se, portanto, que o poder (Gr. dynamis, que significa energia constante) do Espírito Santo prometido aos discípulos tinha como finalidade capacitá-los para a obra missionária, no âmbito local, regional e global. Isso não significa que seria feito um e depois os outros, mas simultaneamente. 

A evidência ou sinal visível do recebimento do batismo no Espírito Santo é o falar em línguas, conforme vemos no Livro de Atos (At 2.4; 10.46; 19.6. Mas este não é o seu objetivo. Jesus não batiza os crentes com no Espírito Santo para eles ficarem nos templos disputando quem fala mais línguas estranhas, ou quem grita mais alto. Fomos revestidos de poder para sermos testemunhas (mártires) ousados do Senhor Jesus, proclamando o Seu Evangelho aos perdidos. 

2. A expansão missionária da primeira igreja. No capítulo 2 de Atos dos Apóstolos, encontramos o cumprimento tanto da profecia de Joel 2.28, quanto da promessa de Jesus aos seus discípulos, de que eles seriam “batizados com o Espírito Santo, não muito depois daqueles dias.” (At 1.5). Os discípulos estavam reunidos em um cenáculo, em oração, num total de 120 pessoas. “De repente, veio do Céu um som como de um vento forte e impetuoso e encheu todo o ambiente. Foram vistas por eles, línguas repartidas como que como de fogo, pousando sobre cada um deles. Todos foram cheios do Espírito Santo e falavam em línguas e profetizavam.” (At 2.1-4). 

O derramamento do Espírito Santo no Dia de Pentecostes não foi um movimento produzido pela ação humana. Os discípulos estavam reunidos em oração, aguardando a promessa de Jesus. De repente, veio um som do Céu, como de um vento forte e impetuoso e eles foram cheios do Espírito Santo. Não houve forçação de barra, manipulação, "transferência de unção" e outras inovações que se vê atualmente. 

O resultado desse derramamento do Espírito foi extraordinário! Os discípulos nunca mais foram os mesmos, depois deste revestimento de poder. O apóstolo Pedro, que há menos de dois meses havia negado a Cristo, pregou um sermão bíblico, ousado e fervoroso, levando quase três mil almas à conversão. 

Poucos dias depois, ele e João ordenaram a cura de um coxo, em Nome do Senhor Jesus e o milagre aconteceu. Após esta cura, Pedro fez outro discurso e o número de conversões chegou a 5 mil pessoas. Muitas outras maravilhas também foram feitas pelos apóstolos após a descida do Espírito Santo. Diante dos sacerdotes e autoridades do templo, Pedro discursou novamente, reafirmando que Jesus é o Messias prometido a Israel e que, em nome dele, o coxo fora curado. 

Sem saber o que fazer, pois, o milagre era incontestável diante da multidão, resolveram soltar os apóstolos, alertando-os de que não mais falassem, nem ensinassem em nome de Jesus. Com a autoridade do Espírito Santo, Pedro respondeu a eles, que era mais importante obedecer a Deus do que aos homens, pois não poderiam deixar de falar daquilo que viram e ouviram (At 4.20; 5.29).

No capítulo 5 temos o episódio envolvendo Ananias e sua esposa Safira, que mentiram aos apóstolos, escondendo parte do valor da venda de uma propriedade, para parecer que estavam entregando todo o dinheiro, quando na verdade era só uma parte. O Espírito Santo revelou tudo a Pedro e a farsa foi desmontada. Ambos foram mortos, um após o outro. Este acontecimento trouxe grande temor a todos. 

Depois disto, no capítulo 6 de Atos, temos a instituição dos diáconos. Com o crescimento rápido e intenso do número de convertidos, a assistência social às viúvas estava deixando a desejar e houve murmuração por parte dos cristãos de fala grega. Os apóstolos, então, resolveram escolher sete homens para cuidar desta área. Um dos requisitos era que o candidato fosse cheio do Espírito Santo.

Dois dos diáconos escolhidos, Estêvão e Filipe, se destacaram na evangelização e foram usados pelo Espírito Santo em sinais e prodígios entre o povo. Estêvão pregou ousadamente em Jerusalém e foi apedrejado até à morte. Depois da morte de Estêvão, grande perseguição se levantou e os discípulos tiveram que sair de Jerusalém. Filipe foi a Samaria e foi usado pelo Espírito Santo para pregar o Evangelho e realizar milagres. Uma multidão se converteu. Até um mágico antigo que havia na cidade se converteu. 

No capítulo 9, temos a conversão de Saulo, em um encontro pessoal com o Senhor Jesus, no caminho de Damasco. Nos capítulo 11 temos a conversão de Cornélio. O Espírito Santo concedeu visões a Pedro para que ele se desvencilhasse do preconceito contra os gentios. Na casa de Cornélio, enquanto Pedro pregava, o Espírito Santo desceu e as pessoas foram batizadas no Espírito Santo. 

No capítulo 12, Lucas relata a perseguição de Herodes à Igreja, mandando matar Tiago e prender Pedro. A Igreja fez contínua oração e Pedro foi milagrosamente liberto da prisão. Quando Herodes procurou Pedro e não o achou, mandou executar os guardas. Na mesma noite, Herodes sentiu-se um deus e morreu comido de bichos. 

A partir do capítulo 13 todo o protagonismo passa a ser do apóstolo Paulo, conduzido pelo Espírito Santo, é claro. Inicialmente, Saulo foi chamado por Barnabé para ensinar a Palavra de Deus aos novos crentes em Antioquia. Em uma reunião de oração e jejum, o Espírito Santo falou àquela Igreja que separassem Barnabé e Saulo para a obra missionária. A partir daí, eles navegaram pelo mundo, sob a direção do Espírito Santo, levando o Evangelho aos gentios e plantando Igrejas. 

3. “Deus não faz acepção de pessoas”. Deus não discrimina, não tem prediletos e não faz nenhuma espécie de acepção de pessoas. O apóstolo Pedro, um dos principais líderes da Igreja Primitiva, demorou a entender isso. Inicialmente, a Igreja estava pregando o Evangelho apenas aos israelitas. Após a morte do diácono Estêvão, primeiro mártir do Cristianismo, Deus permitiu que viesse sobre eles uma grande perseguição e eles tiveram que fugir de Jerusalém. Mesmo assim, onde chegavam, pregavam apenas aos judeus. 

Foi necessário o Senhor, em uma visão ilustrativa, ensinar ao apóstolo Pedro que ele não deveria considerar comum ou imundo, aquilo que Deus havia purificado. Este episódio aconteceu pouco tempo antes de Pedro ser chamado para pregar na casa do centurião Cornélio, em Cesaréia. Depois da visão, o Senhor falou para Pedro, que algumas pessoas iriam procurá-lo e que ele deveria ir com elas sem questionar. 

Quando chegou na residência de Cornélio, este havia convidado todos os seus parentes e conhecidos para ouvirem a pregação de Pedro. Quando Cornélio viu Pedro chegar, prostrou-se e o adorou (At 10.25). Pedro fez o que todo líder religioso deveria fazer: mandou que ele se levantasse, pois ele também era um ser humano (At 10.26). 

Pedro iniciou a sua fala, mencionando o separatismo judaico: “Vós bem sabeis que não é lícito a um homem judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a nenhum homem chame comum ou imundo.” (At 10.28). Em seguida perguntou por que Cornélio o havia chamado. Cornélio contou que estava orando e jejuando, quando um anjo lhe apareceu e mandou que chamasse a Pedro, que estava em Jope. 

A partir daí, Pedro iniciou a sua pregação dizendo: “Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo.” (At 10.:34,35). Na sequência fez uma exposição do ministério de Jesus, tomando como base os profetas do Antigo Testamento e o cumprimento destas profecias em Jesus. Enquanto ele falava, o Espírito Santo desceu sobre os seus ouvintes e eles foram batizados no Espírito Santo, falaram em línguas e glorificaram a Deus (At 10.34-48). 


REFERÊNCIAS: 


GABY, Wagner. Até os confins da terra: Pregando o Evangelho a todos os povos até a volta de Cristo. 1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023. págs. 40-52.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. Ed. 95, p.38. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023, pp. 30-41.

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Editora CPAD. pág. 1291-1292.

PALMA, Anthony. O Batismo no Espírito Santo e Com Fogo. Editora CPAD. pág. 14-17.


UMA PERSPECTIVA PENTECOSTAL DE MISSÕES (SUBSÍDIO DA REVISTA ENSINADOR CRISTÃO)

A lição desta semana destaca a relevância do Movimento Pentecostal para o desenvolvimento da obra missionária em todo o mundo. O avivamento espiritual provocado pela crença na experiência do batismo no Espírito Santo trouxe dinamismo e eficácia à evangelização já realizada pela igreja nos séculos precedentes. Isso ocorreu em razão de que o poder do Espírito é uma marca muito presente na Igreja Primitiva e que, diga-se de passagem, justifica o impacto da pregação do Evangelho no mundo antigo.

Após o advento do Movimento Pentecostal no início do século XX, a Igreja pôde contar novamente com o entendimento de que o poder do Espírito nos moldes do que ocorreu com os primeiros crentes é indispensável também para a igreja atual. Logo, a experiência do Pentecostes está intrinsecamente ligada à missão da igreja, bem como relacionada à sua existência enquanto representante do Reino sacerdotal divino.

Para o missiólogo Paul A. Pomerville, em sua obra A Força Pentecostal em Missões (CPAD, 2020), “o Pentecostes representou a renovação do Espírito de profecia, um tremendo fluxo do Espírito após o seu refluxo na história da salvação” (p.222). Em seguida, Pomerville cita Boer, que diz que “a tarefa é testemunhar das grandes obras de Deus no poder do Espírito nos ‘últimos dias’. Boer vê a proclamação do evangelho e o derramamento do Espírito como sinais do fim (1961, p.103). Portanto, tanto a pregação do evangelho quanto o derramamento do Espírito são ‘sinais do Reino’. Eles representam duas grandes dimensões do ministério do Espírito Santo na era do Espírito: seu ministério vivificador pela palavra e seu ministério carismático em relação com essa palavra” (p.223).

A experiência do batismo no Espírito Santo, mais do que uma marca do pentecostalismo, é, na sua essência, o poder que capacita a igreja a impactar as camadas mais profundas da sociedade com a sua simplicidade e acessibilidade ao Espírito. Para vivenciá-lo, não há distinção étnica-social ou quaisquer critérios rigorosamente religiosos que o tornem inalcançável. Basta ao crente fervoroso pedi-lo com fé, sem que haja dúvida, pois o que dúvida é como a onda do mar, que é lançada pelo vento de uma parte à outra (Tg 1.6). Todavia, é prazeroso ao coração de Deus que seus servos desejem ansiosamente buscar maior intimidade com o Seu Santo Espírito a fim de servi-lo melhor. Que o compromisso com Missões, alimentado pelas chamas do pentecostalismo, possam nutrir em nossos corações o amor por almas para o Reino de Deus.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. Ed. 95, p.38. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023, pp. 30-41.

24 outubro 2023

UMA PERSPECTIVA PENTECOSTAL DE MISSÕES

(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 05: Uma perspectiva pentecostal de missões)

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, falaremos sobre a perspectiva pentecostal de missões. Primeiro, falaremos do significado de ser evangélico, que é um termo usado para designar os adeptos da Reforma Protestante. 

Depois falaremos do termo pentecostal, que é uma referência aos evangélicos que crêem na atualidade do batismo no Espírito Santo e dos dons espirituais como aconteceu no Dia de Pentecostes. 

Por último, falaremos das contribuições pentecostais às missões, tendo como ponto principal a ênfase na presença e mover do Espírito Santo, na obra missionária. 


1. Somos evangélicos. O número de pessoas que se declaram evangélicas no Brasil está em torno de 50 milhões e cresce a cada censo. Não é difícil atualmente encontrarmos pelas ruas, pessoas que se dizem evangélicas, ou "gospel", que é o termo equivalente em inglês. Entretanto, se perguntarmos a estas pessoas o que significa ser evangélico, a maioria não saberia responder. 


O termo evangélico serve para designar os seguidores dos ideais propostos pela chamada Reforma Protestante, que aconteceu na Igreja Cristã, a partir de 1517. Na ocasião, a Igreja havia se afastado das Escrituras e estava mergulhada no paganismo, idolatria, vendas de indulgências (perdão de pecados), de relíquias (objetos que supostamente teriam pertencido aos apóstolos ou algum dos primeiros cristãos, considerados milagrosos) e outras aberrações. 


Um monge e professor de teologia da Igreja Alemã, chamado Martinho Lutero, se revoltou contra estas práticas e as condenou em seus livros. Em 31 de outubro de 1517, Lutero afixou 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, onde ele era padre, contestando estas e outras práticas antibíblicas. Por causa dos seus escritos, Lutero foi convocado a dar explicações e a se retratar em Roma. Mas, convicto das suas afirmações, ele assim respondeu:

"A menos que me convençam pelas Escrituras de que estou errado, não posso e não irei me retratar". 

As autoridades da Igreja Romana ficaram enfurecidas contra ele e o excomungaram [termo usado na Igreja Romana para se referir à exclusão da comunhão da Igreja]. Certamente, iriam condená-lo à morte, como fizeram com muitos outros, que foram considerados hereges por eles. Mas, Lutero recebeu um salvo-conduto do imperador Carlos V e poderia voltar em paz à Alemanha. Para evitar que alguém tentasse prendê-lo ou matá-lo, os amigos o raptaram no caminho de volta e o conduziram em segurança à sua terra. O governo da Alemanha deu apoio a Lutero e o colocou em segurança. A partir daí, ele traduziu a Bíblia para o alemão e as suas teses se espalharam pelo mundo. Outros teólogos como João Calvino, na França, e Ulrico Zuínglio, na Suíça,  também foram muito importantes na Reforma Protestante. 


Evangélicos, portanto, são os cristãos que reafirmam as seguintes teses bíblicas propagadas pelos reformadores: a autoridade suprema das Escrituras (Sola Scriptura), a salvação pela graça (Sola Gratia) e mediante a fé (Sola Fide), Cristo como único Salvador e Mediador entre Deus e a humanidade (Solus Christus) e o culto somente a Deus (Soli Deo Glória). Este termo, no entanto, tem sido banalizado e muitas pessoas que se dizem evangélicas, não sabem o que isso significa e não vivem de acordo com os princípios do Evangelho de Cristo. 


2. Somos pentecostais. Da mesma forma que o termo evangélicos é desconhecido de muitos dos seus adeptos, com o termo pentecostal acontece o mesmo. Nós somos denominados pentecostais, porque cremos na atualidade dos acontecimentos do Dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu sobre os primeiros cristãos no cenáculo, onde estavam reunidos em oração. 


Naquela ocasião, todos foram revestidos do poder de Deus, falaram em outras línguas e profetizaram. Por isso, nós cremos também que a evidência inicial de que alguém foi batizado no batismo no Espírito Santo é o falar em línguas. Os pentecostais, portanto, são os evangélicos que crêem na atualidade dos dons espirituais e no Batismo no Espírito Santo, como uma experiência subsequente à Salvação.


Os cessacionistas, como são chamados aqueles que dizem que os dons cessaram, dizem que o ensino da atualidade dos dons espirituais é recente. Mas, até meados do século IV, nenhum Cristão ensinava o cessacionismo. Este erro doutrinário foi introduzido na Igreja Cristã pelo bispo e teólogo Agostinho de Hipona (354-430). 


Devido à grande influência que Agostinho exerceu em sua época, este pensamento dominou a Igreja Ocidental por toda a Idade Média e nem mesmo a Reforma Protestante conseguiu atingi-lo. Os reformadores sequer discutiram este assunto. Eles se restringiram à doutrina da Salvação e combateram os ensinos de salvação pelas obras, idolatria e mediação dos santos e reafirmaram a autoridade das Escrituras.


É importante destacar que este ensino de Agostinho atingiu apenas a Igreja Ocidental. No século XI aconteceu a primeira grande divisão da Igreja Cristã, com o chamado Grande Cisma do Oriente. As Igrejas do Oriente romperam com a Igreja de Roma e a sua sede passou a ser em Constantinopla. Nas questões relacionadas ao Espírito Santo, a Igreja Oriental, que é chamada de Igreja Ortodoxa, sempre esteve à frente da Igreja Ocidental, que seguiu as ideias de Agostinho e ensinava que os dons cessaram. A Reforma Protestante não atingiu a Igreja Ocidental, pois os reformadores eram ligados à Igreja Católica Romana e não à Igreja Ortodoxa.


No início do Século XX, nos Estados Unidos, teve início o chamado Movimento Pentecostal, um movimento de reavivamento espiritual, que começou na Rua Azuza em Los Angeles, na Igreja pastoreada pelo pastor Willyam Seymour, um pastor negro e descendente de escravos. Neste movimento de oração e busca pelos dons espirituais, vinham crentes de várias denominações e eram batizados no Espírito Santo. 


O movimento cresceu nos EUA e enviou missionários para vários países, entre eles o Brasil, que recebeu os missionários suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren, que viviam nos Estados Unidos e vieram ao Brasil em 1910. Inicialmente, Berg e Vingren foram congregar na Igreja Batista, que já existia no país. Entretanto, como pregavam a doutrina pentecostal e falavam em línguas, foram expulsos da Igreja Batista em 1911, com outros irmãos brasileiros. 


Em 18 de junho de 1911, os missionários e os demais irmãos expulsos da Igreja Batista de Belém, fundaram uma Igreja denominada “Missão da Fé Apostólica”, cujo nome foi mudado para Assembléia de Deus em 1918. Em pouco tempo, a Assembléia de Deus se espalhou por todo o território nacional e se tornou a maior denominação pentecostal do mundo. 


As primeiras Igrejas pentecostais do Brasil são a Assembleia de Deus e a Congregação Cristã no Brasil, que foi fundada pelo missionário Louis Francescon, um italiano que vivia em Chicago, nos EUA. Francescon também creu na doutrina pentecostal e veio ao Brasil em 1910, pregar o Evangelho no Paraná. A CCB, embora tenha um credo ortodoxo, tem algumas práticas que são características de uma seita. Depois surgiram novas Igrejas no meio pentecostal a partir das décadas de 1950 e 1960, como O Brasil para Cristo, Igreja Pentecostal Deus é Amor e Igreja do Evangelho Quadrangular. 


A partir de 1970, surgiu um novo movimento no meio pentecostal, que é chamado pelos estudiosos do assunto, de neopentecostalismo. Este movimento é uma distorção do verdadeiro pentecostalismo. As Igrejas neopentecostais crêem na atualidade dos dons espirituais, mas, dão ênfase à prosperidade financeira e ao bem estar físico. Pregam a chamada teologia da prosperidade, a confissão positiva e o triunfalismo.


Os pioneiros deste movimento são a Igreja Universal do Reino de Deus e Internacional da Graça de Deus. Depois surgiram inúmeras denominações neopentecostais oriundas destas e também de Igrejas pentecostais. Muitas práticas neopentecostais são absolutamente antibíblicas, como o uso de objetos sagrados, supostamente milagrosos e troca de bençãos por ofertas e votos. É algo semelhante ao que acontecia na Igreja da época da Reforma Protestante. 


3. Contribuições Pentecostais às Missões. É inegável que Movimento Pentecostal, a partir do Século XX contribuiu significativamente para o crescimento da obra missionária em várias partes do mundo, principalmente em lugares onde o Evangelho ainda não havia chegado e em locais muito difíceis e hostis ao Evangelho. 


O verdadeiro pentecostalismo está intimamente ligado às missões, pois o objetivo principal do revestimento de poder na vida do cristão é exatamente ser uma testemunha de Cristo (At 1.8).  A palavra testemunha, no grego é martyria, que significa defender uma causa com tanta convicção, a ponto de morrer por ela. É  desta palavra que vem a palavra portuguesa mártir. 


A marca principal dos pentecostais é a crença de que a experiência vivida pela Igreja Primitiva no Dia de Pentecostes, continuou acontecendo em todas as Igrejas daquela época e continua acontecendo em nossos dias. A base bíblica para afirmarmos isso é que em seu discurso, o apóstolo Pedro afirmou: "Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar." (At 2.39). 


A promessa do revestimento de poder, portanto, era para os ouvintes de Pedro, para a próxima geração, para os que estão longe (não no sentido geográfico, mas no tempo) e para todos os que ainda iriam se converter. Ou seja, para todas as épocas da Igreja, enquanto ela estivesse neste mundo. Se houveram épocas da Igreja em que não se notou o batismo no Espírito Santo e os dons espirituais, não foi porque eles cessaram, mas porque deixaram de ensinar sobre isso e houve negligência em buscá-los. 


Outra grande contribuição dos pentecostais na obra missionária é a completa dependência do Espírito Santo e a confirmação da pregação com sinais e maravilhas. A pregação pentecostal não se limita a discursos bem elaborados e eloquentes. 


Quando pregamos no poder do Espírito Santo, Ele cura enfermos, opera maravilhas e trabalha no coração dos ouvintes para que eles compreendam a mensagem e se rendam a Cristo. Os pioneiros da Assembleia de Deus no Brasil, tinham pouquíssimos recursos, não falavam direito o nosso idioma e foram muito perseguidos.


Entretanto, o Senhor operou muitos sinais e maravilhas através deles, que levaram muitos incrédulos que os perseguiam a se renderem a Cristo. O Livro "O diário do Pioneiro", escrito por Ivar Vingren, filho do missionário Gunnar Vingren, traz muitos destes relatos que ele viu e ouviu dos seus pais. Da mesma forma, Daniel Berg relatou em seu Livro "Daniel Berg, enviado por Deus", muitos milagres que Deus operou através dele, de Gunnar Vingren e outros pioneiros da Assembleia de Deus no Brasil. 


REFERÊNCIAS: 


GABY, Wagner. Até os confins da terra: Pregando o Evangelho a todos os povos até a volta de Cristo. 1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023. págs. 40-52.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. Ed. 95, p.38. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023, pp. 30-41

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

ROMEIRO, Paulo. Super Crentes: O evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os profetas da prosperidade. SÃO PAULO: Mundo Cristão, 4ª reimpressão, 2012.

BERG, David. Daniel Berg, Enviado por Deus: A história de Daniel Berg, um simples aldeão que ajudou a deflagrar o maior movimento pentecostal da história da Igreja, as Assembleias de Deus no Brasil. Editora CPAD. 1 Ed 1995.

VINGREN, Ivar. O Diário do Pioneiro: Gunnar Vingren. Editora CPAD. 5ª Ed 2000.

23 outubro 2023

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 05: UMA PERSPECTIVA PENTECOSTAL DE MISSÕES

Ev. WELIANO PIRES

REVISÃO DA LIÇÃO PASSADA


TEMA: MISSÕES TRANSCULTURAIS NO NOVO TESTAMENTO


Na lição passada, vimos o que o Novo Testamento nos apresenta sobre missões transculturais culturais. O Novo Testamento nos apresenta Deus enviando o Seu Filho Unigênito, como missionário para buscar e salvar a humanidade perdida (Lc 19.10; Jo 3.16). Depois que da sua morte, ressurreição e ascensão aos Céus, a Igreja assumiu esta responsabilidade de dar continuidade ao seu projeto missionário mundial.


TÓPICOS DA LIÇÃO: 


I. O Deus missionário do Novo Testamento. Em toda a Bíblia, Deus é apresentado como um missionário que envia. Ele usou Israel para cumprir os seus propósitos e depois enviou o Seu próprio Filho. A perspectiva missionária do Novo Testamento, tem como base o próprio Senhor Jesus. A Igreja tem a responsabilidade de anunciar o Evangelho ao mundo, com base na revelação de que Deus é um missionário por excelência. 


II. Missões nos Evangelhos e em Atos dos Apóstolos. Vimos que o ministério de Jesus nos Evangelhos é exclusivamente voltado para a obra missionária. Falamos das missões no Livro de Atos dos Apóstolos, sobre o trabalho de Filipe e Pedro, que foram os primeiros missionários transculturais na Igreja Primitiva. Abordamos também o trabalho missionário de Paulo e Barnabé, com as suas viagens missionárias pelo mundo, que constituem a maior parte do Livro.


III.  Missões nas Epístolas e no Apocalipse. Vimos que nas Epístolas Paulinas, o apóstolo Paulo escreveu às Igrejas que ele plantava como um missionário, para instruir e doutrinar as Igrejas. Falamos também dos testemunhos dos escritores das Epístolas Gerais. Por último, vimos como o Senhor Jesus revelou a João no Apocalipse, o desfecho da jornada da raça humana neste mundo e as sete Igrejas da Ásia como Igrejas missionárias.


LIÇÃO 05: UMA PERSPECTIVA PENTECOSTAL DE MISSÕES

OBJETIVOS DA LIÇÃO:

  • Apresentar uma perspectiva pentecostal de Missões;

  • Explicar a obra missionária após o Pentecostes;

  • Enfatizar a dependência do Espírito Santo na obra pentecostal de Missões.

TÓPICOS DA LIÇÃO:

I. Uma Perspectiva Pentecostal;

II. A obra missionária depois do pentecostes;

III. A ação do Espírito Santo e a Obra Missionária.


INTRODUÇÃO


Nesta lição, estudaremos sobre missões na perspectiva pentecostal. A relação intrínseca entre a obra missionária e o poder do Espírito Santo está estabelecida no Novo Testamento, principalmente no final do Evangelho segundo Lucas e no início de Atos dos Apóstolos: “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.” (Lc 24.49). “E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que, disse ele, de mim ouvistes.” (At 1.4).


Nestes dois textos o Senhor Jesus deixou claro para os seus discípulos que eles precisavam ser revestidos de poder, antes de iniciar a missão da Igreja em Jerusalém. Os discípulos ficaram em oração, aguardando o cumprimento da promessa, da descida do Espírito Santo. No Dia de Pentecostes, estando eles reunidos no cenáculo, em oração, todos foram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas e profetizar. A partir daquele momento, eles nunca mais foram os mesmos. Passaram a pregar ousadamente o Evangelho, sem nenhum temor. 


Ao longo da história da Igreja também não foi diferente. As missões da Igreja sempre foram mais eficientes e significativas, no meio pentecostal, pois, estes ficam na total dependência do Espírito Santo, que confirma a pregação com os sinais e maravilhas. O Movimento Pentecostal já passa dos cem anos no mundo e a sua contribuição para a obra missionária é notável em vários países, principalmente os mais difíceis. 


No primeiro tópico, falaremos sobre a perspectiva pentecostal de missões. Primeiro, falaremos do significado de ser evangélico, que é um termo usado para designar os adeptos da Reforma Protestante, que reafirmam as seguintes teses: a autoridade das Escrituras, a salvação pela graça e mediante a fé, Cristo como único Salvador e Mediador entre Deus e a humanidade, o culto somente a Deus e o sacerdócio universal dos crentes. Depois falaremos do termo pentecostal, que é uma referência aos evangélicos que crêem na atualidade do batismo no Espírito Santo e dos dons espirituais como aconteceu no Dia de Pentecostes. Por último, falaremos das contribuições pentecostais às missões, tendo como ponto principal a ênfase na presença e mover do Espírito Santo, na obra missionária. 


No segundo tópico, falaremos da obra missionária depois do pentecostes. Veremos que a causa da obra missionária da primeira igreja foi, sem dúvida nenhuma, a descida do Espírito Santo. Após o ocorrido no Dia de Pentecostes, a Igreja “encheu Jerusalém” com a mensagem do Evangelho (At 5.28), mesmo sob grandes perseguições e ameaças. Depois, falaremos da expansão missionária da primeira igreja. O Livro de Atos dos Apóstolos descreve uma Igreja atuante tanto no âmbito local, orando e pregando o Evangelho em Jerusalém, como nas missões na terra de Israel e por todo o mundo. Por último,  veremos que Deus não faz acepção de pessoas, citando como exemplo o envio do apóstolo Pedro à casa do centurião Cornélio, onde ele pregou para os gentios, depois de receber uma visão ilustrativa do Senhor, mostrando que Deus não faz acepção de pessoas.


No terceiro tópico, falaremos da ação do Espírito santo e a obra missionária. Discorreremos sobre a função do Espírito na obra missionária, como por exemplo, ungir, inspirar, separar e enviar missionários ao campo. Depois, veremos que o Espírito Santo capacita para a obra. Nós os pentecostais não fazemos missões com base em méritos humanos, mas cremos que o Espírito Santo nos dirige e nos capacita para fazer missões. Por último, veremos que Deus age por meio do Espírito Santo. O Deus dos pentecostais não é como o deus dos deístas, que criou o universo e se afastou deles. Nós cremos no Deus que criou todas as as coisas, mas também sustenta todas as coisas e intervém nas coisas criadas, principalmente na humanidade. 


REFERÊNCIAS: 


GABY, Wagner. Até os confins da terra: Pregando o Evangelho a todos os povos até a volta de Cristo. 1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023. págs. 40-52.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. Ed. 95, p.38. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023, pp. 30-41

POMERVILLE, Paul A. A Força Pentecostal em Missões: Entendendo a Contribuição dos Pentecostais na Teologia Missionária Contemporânea. 1.ed. Rio de Janeiro: 2020, pp.28-29; 122-123.

20 outubro 2023

A MISSÃO CUMPRIDA NAS CARTAS E NO APOCALIPSE

(Comentário do 3º da Lição 04: Lição 4: Missões Transculturais no Novo Testamento).

Ev. WELIANO PIRES

Veremos neste terceiro tópico que nas Epístolas Paulinas, o apóstolo Paulo escreveu às Igrejas que ele plantava como um missionário, para instruir e doutrinar as Igrejas. Na sequência, veremos os testemunhos dos escritores das Epístolas Gerais: a superioridade da Nova Aliança em relação à Antiga, em Hebreus; a sabedoria para viver o Evangelho em Tiago; e a nossa posição como povo de Deus, em Pedro. Por último, veremos como o Senhor Jesus revela a João no Apocalipse, o desfecho da jornada da raça humana neste mundo e as sete Igrejas da Ásia como Igrejas missionárias.

1. Nas Cartas Paulinas. O apóstolo Paulo foi um missionário incansável, que se sentia devedor de anunciar o Evangelho por toda parte. A partir da sua conversão, ele dedicou o resto da sua vida, única e exclusivamente à obra de Deus. Ele trabalhava construindo tendas para o próprio sustento, para sobrecarregar Igrejas pobres e não dá ocasião para os inimigos do Evangelho falarem mal dele.

Paulo era um dos doutores da Igreja de Antioquia, junto com Barnabé e outros. Após a chamada do Espírito Santo, como vimos no tópico anterior, Paulo e Barnabé seguiram pelo mundo pregando nas sinagogas e nas praças e plantando Igrejas. 

Quando as pessoas se convertiam em uma cidade, Paulo deixava um dos seus cooperadores ali e seguia viagem, levando o Evangelho a outras cidades. Depois retornava, visitando as Igrejas fundadas e confirmando a fé dos irmãos. 

Paulo se preocupava em discipular os novos crentes. Para isso adotava um método muito eficiente: primeiro, ele pregava mensagem salvífica aos pecadores. Depois da conversão, ensinava de forma sistematizada as Doutrinas Cristãs. 

O evangelismo e o discipulado precisam andar juntos. O evangelismo busca as pessoas para Cristo, com a pregação do Evangelho. O discipulado, por sua vez, fornece as bases da Doutrina Cristã, para que os novos crentes conheçam a Cristo e se tornem também discípulos do Senhor. 

Paulo também tinha muito cuidado na escolha e formação de novos obreiros, para que estes pudessem dar continuidade aos trabalhos por ele iniciados. Por isso, ele escreveu as cartas pastorais a Timóteo e a Tito, pastores mais jovens, que eram seus cooperadores, dando-lhes orientações muito importantes para o exercício do ministério pastoral. Paulo sabia que o seu martírio era iminente, pois, a perseguição à Igreja, principalmente aos líderes, era intensa. Portanto, precisava preparar líderes para dar continuidade ao seu trabalho.

Em algumas destas Igrejas surgiam dúvidas doutrinárias e problemas a serem resolvidos, após a sua partida. Outras, necessitavam de orientações, durante as prisões do apóstolo. Havia também a necessidade de orientar os pastores dessas Igrejas. Sendo assim, o apóstolo escreveu treze epístolas, que se classificam em quatro tipos:

a.    Epístolas soteriológicas: São as que enfatizam a doutrina da salvação (Romanos, 1 e 2 Coríntios e Gálatas);

b.   Epístolas escatológicas: São as que trazem ensinos sobre a doutrina dos últimos acontecimentos da humanidade (1 e 2 Tessalonicenses).

c.    Epístolas da prisão: São as que foram escritas quando o apóstolo se encontrava preso (Efésios, Colossenses, Filipenses e Filemom).

d.   Epístolas pastorais: São as que foram destinadas aos pastores, com orientações ministeriais (1 e 2 Timóteo e Tito). 2 Timóteo também é considerada epístola da prisão, pois foi redigida na prisão. 

2. Nas Cartas Gerais. As chamadas Epístolas Gerais ou Universais são aquelas que foram escritas para serem lidas em todas as Igrejas e que não tinham um destinatário específico. Foram escritas como instruções apostólicas para várias Igrejas. Destas, apenas a Epístola aos Hebreus é de autoria desconhecida. Neste grupo estão um total de oito Epístolas, agrupadas nesta ordem: Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2, 3 João e Judas.

A Epístola aos Hebreus foi escrita aos judeus helenistas, convertidos ao Cristianismo. A maior parte do conteúdo gira em torno de uma comparação entre Cristo e os elementos do Antigo Testamento. O objetivo desta comparação é estabelecer a superioridade de Cristo em relação aos personagens e rituais do Antigo Testamento: Cristo é superior aos anjos, Melquisedeque, a Moisés, ao sacerdócio levítico, aos profetas, aos sacrifícios. Então, esta Epístola tem um forte testemunho missiológico direcionado principalmente ao povo judeu. 

As Epístolas de Pedro, embora tenham um caráter pastoral, devido à importância e experiência deste apóstolo, que foi um dos três mais próximos de Jesus, em seu ministério terreno. Mas tem também um forte testemunho missiológico. 

Na primeira Epístola, Pedro faz uma longa explanação sobre o novo nascimento e a santificação. Ele explica que o preço da nossa redenção não foram coisas corruptíveis, mas foi o precioso sangue imaculado de Cristo.  O apóstolo fala também de Cristo como a Pedra Viva, rejeitada pelos homens, mas aprovada por Deus, e recomenda que os crentes como pedras vivas sejam edificados sobre Ele, a Pedra angular e os chama de geração eleita, sacerdócio real e nação santa.

Na segunda Epístola, Pedro se volta mais para a apologética e alerta os seus leitores acerca dos falsos mestres que iriam surgir entre eles. Pedro usa como exemplo os falsos profetas de Israel e diz que da mesma forma, surgiriam falsos mestres dentro da Igreja. O apóstolo recomenda também aos seus leitores, que se preparem para a Vinda do Senhor, procurando ser achados imaculados e irrepreensíveis em paz. 

A Epístola de Tiago trata das questões práticas da vida cristã e como viver uma vida com sabedoria. Tiago discorre sobre provações e tentações (1.2-18), estabelecendo a diferença entre estas duas coisas. Fala também a respeito da prática da Palavra de Deus, da necessidade de ser praticante e não apenas ouvinte (Tg 1.22-25), e ensina sobre a necessidade de refrear a língua. (Tg 1.26,17). 

Tiago aborda a questão do cumprimento da lei e a relação entre fé e obras, deixando claro que fé e obras precisam andar juntas, pois a fé sem as obras é morta (2.14-26). Tiago trata também de um tema muito importante que é a acepção de pessoas na Igreja, alertando para não tratarmos os irmãos de forma diferente, pela condição financeira. 

Tiago fala sobre dois tipos de sabedoria: a sabedoria que vem do alto e a sabedoria humana. Ele ensina que a sabedoria não se mede pelo conhecimento e sim pelas virtudes (3.13-18). Faz também uma advertência contra o mundanismo, alertando sobre as guerras interiores que causam contendas, infidelidade espiritual, orgulho e calúnia. Há também nesta Epístola, diversas exortações sobre a paciência nos sofrimentos, os juramentos, a oração da fé e os que se desviam da verdade (5.19,20).

A primeira Epístola de João tem um forte apelo evangelístico e doutrinário. João inicia testificando sobre o que viu e ouviu de Jesus, a Palavra da Vida. Ele fala que Deus é luz e nEle não há trevas. Fala também da universalidade do pecado e que, se confessarmos os nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar e nos purificar. 

Na sequência, o apóstolo fala de Jesus como o Advogado (Gr. Parakletos), que nos defende diante do Pai. Assim como Tiago, João fala sobre a prática da Palavra de Deus e diz que aquele que diz que conhece a Deus, mas não guarda os seus mandamentos é mentiroso. 

Em seguida, João traz conselhos aos pais, aos filhos e aos jovens. Faz também um alerta sobre os últimos dias, dizendo que é já a última hora e muitos anticristos se manifestarão. João fala bastante sobre o amor a Deus e aos irmãos, relacionando uma coisa à outra. Ou seja, quem não ama aos irmãos também não ama a Deus. 

Esta primeira Epístola tem também um caráter apologético. João combate as heresias do Gnosticismo, negavam a encarnação de Cristo. Por isso, João diz que todo aquele que nega que Jesus é o Cristo é mentiroso e que aquele que nega o Pai e o Filho é anticristo. 

A segunda epístola de João contém apenas um capítulo com 13 versículos. João se identifica com o Ancião (Gr. presbyteros) e identifica os destinatários como “a senhora eleita e seus filhos”. Alguns interpretam esta expressão como uma referência à Igreja. Entretanto, o mais provável é que seja mesmo uma carta pessoal do apóstolo a uma mulher cristã e seus filhos, provavelmente uma viúva, cujos filhos João teve notícia de que andavam na verdade (2 Jo 1.4).

Os temas principais da Epístola são a exortação à prática do amor fraternal e a advertência contra os falsos mestres. Como fizera na primeira epístola, João associa à obediência aos mandamentos do Senhor. O apóstolo alerta também a respeito das heresias dos gnósticos que negavam a humanidade de Jesus. Alerta também para não nos associarmos com pessoas que não trazem a Sã doutrina, nem os receber em casa pois, quem os recebe se faz participante das suas más obras. 

A terceira Epístola de João é uma carta pessoal do apóstolo a um cristão chamado “o amado Gaio”, do qual não temos informações precisas, pois este era um nome comum naquela época. Pelo contexto da epístola podemos deduzir que se tratava de um líder da Igreja. 

Nos primeiros versículos, o apóstolo faz vários elogios a Gaio, com base nos testemunhos que ouviu da sua fidelidade. Na sequência, João queixa-se de Diótrefes, que busca ter a primazia nas Igrejas e não recebe o apóstolo e espalha palavras maliciosas contra ele nas Igrejas. Por último, João elogia a postura de Demétrio, que também tinha bom testemunho das Igrejas. 

A Epístola de Judas tem apenas um capítulo com 24 versículos. Judas aborda a defesa da fé contra os falsos mestres, conforme está escrito no versículo 3: "Batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos". O assunto principal da Epístola é o alerta contra os falsos mestres que transformam a graça de Deus em libertinagem e negam a Deus, o único Dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo. 

Judas cita vários exemplos de pessoas que foram rebeldes no passado e sofreram o Juízo de Deus: os anjos caídos, Sodoma e Gomorra, Caim, Coré e Balaão. Ele cita a profecia de Enoque contra os rebeldes da sua época e das palavras do Senhor Jesus e dos seus apóstolos, que predisseram a vinda de falsos mestres. Por último, Judas exorta os seus leitores a se edificarem mutuamente e se conservarem no amor de Deus. 

3. No Apocalipse. O livro do Apocalipse, foi escrito pelo apóstolo João, por volta do ano 95 d.C. O Livro traz as revelações de Jesus ao apóstolo João, quando este se encontrava exilado na Ilha de Patmos. No prefácio, João descreve a visão que ele teve de Jesus ressuscitado. 

Depois, o Senhor mandou que escrevesse sete cartas em Seu Nome aos líderes de sete Igrejas da Ásia Menor: Éfeso, Esmirna, Sardes, Pérgamo, Tiatira, Filadélfia e Laodicéia. Estas cartas trazem a saudação do Senhor Jesus à respectiva Igreja, uma breve descrição da situação da Igreja, uma crítica (com exceção de Esmirna e Filadélfia), um elogio (com exceção de Laodicéia), uma exortação e uma promessa aos vencedores. 

Depois destas cartas, o Livro do Apocalipse traz uma série de revelações sobre os juízos de Deus sobre a humanidade na Grande Tribulação, as visões do Milênio, a Nova Jerusalém, o Juízo Final e a eternidade. O apóstolo adverte a Igreja sobre a vinda do Senhor, mostrando o cumprimento das profecias relacionadas à Sua vinda e ao final dos tempos, além de diversos avisos sobre o fim dos tempos e os julgamentos de Deus.

Podemos ver o enfoque missionário neste Livro, no trabalho de algumas Igrejas da Ásia, na revelação de fatos que irão acontecer no futuro, no período da Tribulação, no Milênio e na Eternidade e em várias advertências do próprio Senhor Jesus sobre a sua vinda, sobre o Céu e sobre o lago de fogo. 

REFERÊNCIAS:

GABY, Wagner. Até os confins da terra: Pregando o Evangelho a todos os povos até a volta de Cristo. 1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023. Págs. 24-31.
REVISTA ENSINADOR CRISTÃO.
Ed. 95, p.37. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023.
PETERS, George W. Teologia Bíblica de Missões. 1. Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2000, p.120-21.
Bíblia de Estudo Pentecostal Edição Global.
1° ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, pp. 349-50.

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