17 abril 2023

Cinquenta anos se passaram



Mil novecentos e setenta e três

Aos dezessete do mês de abril 

Em Terra Nova, cidade varonil

Zé e Nicinha, casal camponês 

Tiveram o filho de número três 

Tempos difíceis enfrentaram

Mas eles nunca desanimaram.

Nas dificuldades eu sobrevivi

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


Nasci e cresci na zona rural

Ambiente pacato e matuto

Sistema totalmente bruto

O modo de vida era natural

Uma paz e sossego sem igual 

Pessoas de bem ali habitaram

Amigos que nos ajudaram

Muitas amizades ali construí 

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


A minha infância e juventude

Foi no Sertão pernambucano

Como um caipira interiorano

Longe de qualquer ilicitude

Na mais absoluta quietude

Boas lembranças ficaram

Marcas em mim deixaram

Quantas emoções ali vivi!

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


Escola Gumercindo Cabral

Foi ali que comecei a estudar

Foram oito anos até terminar

O meu ensino fundamental

Todos nesta escola estadual

Os colegas que ali estudaram

E comigo também brincaram

De nenhum deles esqueci

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


Concluí o curso do magistério

Com esforço, de forma exitosa

Na Escola Antonio Lustosa 

Seguindo todos os critérios

De professores muito sérios 

Os quais muito me ensinaram

E bons amigos se tornaram

Pessoas maravilhosas conheci

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


Num recinto cristão fui criado

Nos meus cinco anos de idade

Meus pais creram na verdade

Na fé evangélica fui educado

E com doze anos fui batizado.

Depois, as trevas me cercaram

E os meus pés se afastaram 

Do caminho que eu conheci

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


Fiquei onze anos afastado 

Dos caminhos do meu Senhor

Longe do aprisco e do Pastor

Porém, nunca fui abandonado

E por Deus sempre fui amado.

Os vícios me escravizaram 

Os meus pais por mim oraram

E novamente me converti

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


Devido às muitas dificuldades

Tive que deixar meu Nordeste 

Para tentar a vida no Sudeste

Levando comigo as saudades

Da família e da minha cidade.

São Paulo, meus pés pisaram 

E novos rumos enfim tomaram

Muita coisa diferente conheci 

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


Trinta e um anos decorridos 

Desde que a minha terra deixei

O meu grande amor encontrei

Nasceram dois filhos queridos

Por eles, muito amor envolvido

Muitos relatos aqui faltaram

Das coisas que se realizaram

Mas isso foi o que eu consegui

Afinal, desde que eu nasci

Cinquenta anos se passaram.


Para encerrar, minha gratidão:

A Deus, pelo dom da vida

E pelas bençãos recebidas 

Aos pais, pela boa criação 

À esposa, pela feliz união 

Aos amigos, que me ajudaram

E aos que me prejudicaram

Esqueçam, pois eu já esqueci

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


Ev. Weliano Pires 

14 abril 2023

OS MALES DO CIÚME

(Comentário do 3º tópico da Lição 03: Ciúme, o mal que prejudica a família)

Ev. WELIANO PIRES

No terceiro tópico falaremos sobre alguns males que podem ser provocados pelo ciúme. Veremos que o ciúme pode causar tragédias familiares, como agressões e até assassinato, como aconteceu com José, que foi vendido por seus irmãos. A intenção inicial era matá-lo, mas Judá conseguiu demover os demais irmãos da ideia. Muitos maridos também espancam e até matam a esposa por ciúmes doentios. Falaremos também neste tópico sobre os casos lamentáveis de ciúmes no meio da Igreja, inclusive entre os colegas de ministério. Por último, veremos algumas recomendações bíblicas para vencer o ciúme. 


1- O ciúme pode causar tragédias familiares. O ciúme no casamento é sufocante e gera muitos conflitos. Uma pessoa ciumenta vive em constante desconfiança, suspeita e medo de perder o afeto da outra pessoa. O ciúme doentio faz a pessoa vasculhar a intimidade do outro, em busca de indícios de traição: vasculha o celular e as redes sociais, em busca de mensagens ou ligações comprometedoras; verifica a camisa, em busca de sinais de batom; segue a pessoa ou contrata detetives para vigiar os seus passos; desconfia de qualquer pessoa do sexo oposto, seja no trabalho, na escola, entre amigos e até na Igreja; faz escândalos porque a pessoa conversou pessoalmente ou recebeu uma ligação de alguém do sexo oposto, sem ao menos saber de quem se tratava. Estes comportamentos sufocam a pessoa e tornam a sua vida um inferno. Se você está namorando alguém que tem algum desses comportamentos, fuja enquanto é tempo. 


Além destes comportamentos sufocantes e invasivos, há um perigo maior nas pessoas ciumentas que é quando partem para a agressão verbal e física. Uma pessoa transtornada pelo ciúme agride verbal e fisicamente o cônjuge e quem dele (a) se aproximar. Em muitos casos, comete homicídio, contra o cônjuge, contra os supostos amantes, contra os próprios filhos, seguidos de suicídio. Já tivemos notícias de muitas tragédias que foram praticadas, movidas por ciúmes. Eu conheci um, que sempre foi um homem tranquilo. A esposa separou-se dele e ele, por não aceitar a separação, trancou-se em casa com os dois filhos pequenos, atirou na cabeça deles e em seguida se matou. Um dos filhos sobreviveu, mas o outro filho e o pai morreram. Muitas tragédias desse tipo acontecem todos os dias. 


2- O ciúme entre os santos de Deus. Sentimentos como ciúmes, vanglória, invejas, disputas por posição, calúnias e difamações, etc., são incompatíveis com a vida cristã. São obras da carne e Paulo falou em mais de uma ocasião, que aqueles que praticam estas coisas não herdarão o Reino de Deus (I Co 6.10; Gl 5.19-21). Entretanto, lamentavelmente, muitos crentes, inclusive obreiros, por ciúmes e ambição por cargos, cometem injustiças, mentem, caluniam, ofendem e "puxam o tapete" dos irmãos em Cristo, para tomarem o lugar deles. 


Em muitos ministérios e convenções, as disputas por poder se assemelham à política partidária praticada pelos corruptos, onde vale tudo para chegar ao poder. Fazem acordos espúrios, compram votos, consagram pessoas sem chamada ministerial, loteiam cargos nas Igrejas em busca de apoio, processam os companheiros de ministério e passam como rolos compressores por cima dos que atravessarem o seu caminho. 


Fizeram assim com Jesus e com os seus apóstolos. As autoridades religiosas de Israel viam os milagres que Jesus e os apóstolos faziam. Nunca pararam para analisar as profecias e ver se o que eles pregavam estava de acordo com as Escrituras. Mas, por ciúmes e inveja, inflamavam as multidões contra eles, com falsas acusações de blasfêmia.


Ora, o ministério cristão nada tem a ver com esse tipo de comportamento carnal. Fomos chamados por Deus para servir a sua Igreja e pregar o Santo Evangelho. Não fomos chamados para ter poder terreno e receber glórias neste mundo. O apóstolo Paulo escrevendo a Timóteo, trouxe algumas recomendações para a escolha dos bispos, presbiteriana e diáconos. Ele começou dizendo: "Se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja". (1Tm 3.1). Ou seja, ser um bispo ou pastor é trabalho e não poder. Na sequência, o apóstolo diz que o bispo deve ser irrepreensível e lista vários requisitos morais para o exercício da função. Da mesma sorte, os presbíteros e diáconos. 


3- Vencendo o ciúme. No início desta lição, vimos que o favoritismo de Jacó pelo seu filho José causou ciúme, inveja e ódio dos demais filhos contra José. Vimos também que o ciúme é a causa de muitos conflitos nos relacionamentos. Depois vimos que o ciúme pode causar tragédias no lar e provocar diversos problemas no meio do povo de Deus. Agora, a pergunta que fica é: o que fazer para vencer o ciúme? O comentarista sabiamente apontou três atitudes muito eficientes para vencer o ciúme:


a. Encher a mente com as coisas de Deus. Paulo assim escreveu aos Filipenses: "Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai." Jesus também disse, certa vez, que "Raça de víboras, como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? Pois a boca fala do que está cheio o coração." (Mt 12.34). Sendo assim, se enchermos o nosso coração das virtudes que o Espírito Santo produz, não haverá espaço para sentimentos e atitudes carnais como o ciúme e a inveja. 

b. Avaliar o grau de ciúme. Conforme falamos no início, o ciúme é uma emoção natural do ser humano, no sentido de cuidar daquilo que lhe pertence para não se perder. Entretanto, se o ciúme se tornou extravagante, egoísta e doentio, é preciso buscar ajuda pastoral e talvez de um profissional, pois pode tratar-se de um transtorno. Na ajuda pastoral, é preciso cautela, pois nem todos os pastores estão preparados para lidar com isso. 

c. Cultivar o amor. O ciúme é uma obra da carne e é incomparável com o amor bíblico. Devemos considerar as características do amor, descritas pelo apóstolo Paulo em I Coríntios 13: "O amor é sofredor (paciente), é benigno; não é invejoso; não trata com leviandade ( A expressão grega significa comportar-se como uma pessoa orgulhosa que não para de falar); não se ensoberbece; não se porta com indecência, não busca os seus interesses; não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." (I Co 13.4-7). Todas estas características do amor são incompatíveis com o ciúme. Logo, quem ama de verdade vence o ciúme. 


REFERÊNCIAS:

CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 57.

WALTKE, Bruce K. Comentário do Antigo Testamento:  Ezequiel. Vol. 1 & 2. Editora Cultura Cristã.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pág. 1183-1184.

LOPES, Hernandes Dias. Provérbios: Manual de sabedoria para a vida. Editora Hagnos. pág. 546.

LOPES, Hernandes Dias. GÁLATAS: A carta da liberdade cristã. Editora Hagnos. pág. 252.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pag. 1022-1023

KISTEMAKER, Simon J. Comentário do Novo Testamento: I Coríntios. Editora Cultura Cristã. pág. 653-655.

12 abril 2023

O CIÚME COMO CAUSA DE CONFLITOS


(Comentário do 2º tópico da Lição 03: Ciúme, o mal que prejudica a família)

Ev. WELIANO PIRES

No segundo tópico, veremos que o ciúme é a causa de muitos conflitos nos relacionamentos. Falaremos sobre a túnica de várias cores, que José ganhou do seu pai, que o colocava em posição de destaque em relação aos demais filhos, gerando neles o sentimento de que eram desprezados pelo pai. Por último, falaremos do ciúme como o agente dos conflitos familiares e também em outros relacionamentos humanos, como as amizades, o trabalho e até na Igreja. 


1- A túnica: o símbolo do desprezo. Conforme vimos no tópico anterior, Jacó amava José, mais do que a todos os seus irmãos. Não era sem razão que ele fazia isso, pois José era filho da sua esposa amada e era muito diferente dos seus irmãos. José temia a Deus e Jacó percebia que Deus tinha planos especiais na vida dele, principalmente depois dos sonhos que ele teve. 


Não é difícil um pai amar mais um filho como José, tendo outros filhos como os seus irmãos. O problema é favorecer este filho publicamente, demonstrando desprezo pelos demais. Jacó teve uma atitude inconsequente, mandando confeccionar uma túnica especial, de várias cores, e deu-a de presente a José (Gn 37.3). 


O texto hebraico não é muito claro aqui. Jerônimo que traduziu a Versão Latina, chamada Vulgata, diz que esta túnica chegava aos tornozelos e outros comentaristas judeus dizem ela chegava à palma das mãos, dando a entender que era de mangas longas. Os trabalhadores comuns não usavam roupas assim, para não dificultar o uso dos braços no trabalho. A versão Nova Almeida Atualizada (NAA) diz que era uma "túnica talar de mangas compridas”. Naquela época, as roupas comuns eram feitas de linho grosso e tinham no máximo duas cores. 


Outros expositores bíblicos ainda sugerem que esta túnica não era uma peça comum do vestuário de José, mas uma veste sacerdotal, que José estaria assumindo, pois Rúben, o primogênito havia se deitado com uma concubina do seu pai. Isso é pouco provável, pois o próprio Jacó, quando abençoou os seus filhos na velhice, proferiu esta benção a Judá (Gn 49.8,9). Seja qual for o significado desta túnica, o fato é que esta atitude de Jacó acirrou ainda mais o ciúme e o ódio dos irmãos de José. 


Os pais que têm mais de um filho, por mais que um deles os agrade mais e tenham mais afinidade com ele, jamais devem favorecê-lo ou dar-lhe presentes diferenciados. Isso provoca o ciúme dos demais, que se sentem desprezados. Os meus pais tiveram quatro meninos e uma menina. Vivíamos tempos difíceis e eles não tinham dinheiro para comprar presentes, ou fazer festas de aniversário. Então, não faziam para nenhum. A minha mãe comprava um tecido e fazia as camisas dos três do mesmo tecido e do mesmo modelo. Conforme fomos crescendo, cada um trabalhava e comprava as roupas que queria, de acordo com o seu gosto e condições.


2- Ciúme: o agente do conflito familiar. A preferência de Jacó por José, o seu favoritismo dando-lhe uma túnica de presente e os sonhos de José, que davam a indicação de que ele dominaria sobre os seus irmãos geraram neles um ciúme doentio, que transformou em inveja e ódio, a ponto de não conseguirem conviver com ele pacificamente. Eles queriam se livrar de José a todo custo e decidiram matá-lo. 


A família de Jacó sempre foi desequilibrada, pois ela não foi construída segundo os padrões de Deus para o casamento: que é a monogamia, heterossexualidade e vitaliciedade. Jacó era heterossexual, mas teve duas mulheres e duas concubinas e os seus doze filhos e uma filha era de quatro mulheres diferentes. Um ambiente assim tem a tendência natural de ser desequilibrado, hostil, com ciúmes e desentendimentos. 


No caso de José, podemos notar que o ciúme dos seus irmãos foi o agente causador dos conflitos, que trouxeram consequências drásticas para Jacó e José. Os irmãos de José não o mataram, como pretendiam inicialmente. Mas venderam-no como escravo e contaram ao seu pai que havia sido devorado por algum animal feroz. Imagine a dor do pai, tendo que conviver com a ausência do filho amado, por muitos anos, sem saber ao certo o que teria acontecido com ele! Por outro lado, José, o filho favorito do seu pai, vivendo em terra estranha como escravo, sem ter notícias do seu pai. O ciúme leva as pessoas à crueldade e a maldade inimagináveis. 


É importante esclarecer o significado bíblico da palavra ciúme. O teólogo Russell Norman Champlin explica que a palavra hebraica “qinah”, traduzida por ‘ciúme’ ou ‘zelo’ aparece quarenta e um vezes no Antigo Testamento. O correspondente grego é “parazelóo”, traduzida por ‘ter muito ciúme’ e aparece quatro vezes no Novo Testamento. 


O ciúme na Bíblia aparece em sentido positivo, com o sentido de zelo ou cuidado, para que a pessoa amada não se perca. É nesse sentido que a Bíblia diz que o Espírito de Deus tem ciúmes (Tg 4.5). No sentido negativo, o ciúme aparece como egoísmo e obra da carne. Para saber a diferença, Champlin sugere que façamos a seguinte pergunta: “sinto ciúmes porque temo que algo venha a prejudicar alguém a quem estimo, ou sinto ciúmes simplesmente porque não quero perder aquela pessoa ou coisa, com base em minha possessividade e egoísmo?” A primeira opção é o ciúme positivo, que é sinônimo de zelo. A segunda é o ciúme negativo, que é egoísta e pensa apenas na satisfação pessoal.


3- A extensão do ciúme. Muitas pessoas pensam que o ciúme acontece apenas entre casais, mas ele está presente em todos os relacionamentos humanos: pais e filhos, amigos, membros de Igrejas e até entre obreiros. O ciúme gera conflitos e traz terríveis consequências, que muitas vezes, são trágicas. Por causa de ciúmes, pessoas são perseguidas, agredidas e até assassinadas. Charles Swindoll diz que “nenhuma reação é mais cruel do que o ciúme. Tal sentimento é duro como a sepultura (Ct 8.6) e revela três sintomas: uma pessoa ciumenta vê o que não existe, aumenta o que existe e procura o que não quer achar. Em vez de olharem para José como o instrumento que Deus estava levantando para salvar sua família, viram-no como uma ameaça, e em vez de cuidarem dele, nutriam desejo de destruí-lo.” 


Antigamente, aparecia nos para-choques de caminhões, a frase: “Quem tem amor tem ciúmes”. De certa forma, como diz o comentarista, todas as pessoas têm um certo grau de ciúmes, pois, trata-se de uma emoção inerente à natureza humana. O problema é quando este sentimento extrapola os limites da sensatez e evolui para obsessão, inveja, ódio e descontrole. Tem uma música antiga, onde o autor diz: “Tenho ciúmes do sol, do luar e do mar, tenho ciúmes de tudo. Tenho ciúme até da roupa que tu vestes.” Esse grau de ciúme, em um relacionamento é extremamente sufocante e destrutivo. Quem tem esse tipo de ciúme desconfia de tudo e de todos. Qualquer aproximação da pessoa que é alvo dos seus ciúmes com outras pessoas, a pessoa ciumenta fica transtornada, agride e pode até matar. 


Há vários tipos de ciúmes em outros tipos de relacionamentos. Nas amizades, há amigos que querem exclusividade nas suas amizades e se incomodam quando os seus amigos tem outros amigos. Há crentes que se sentem desprezados quando o pastor dá atenção a outros crentes. Esse tipo de ciúme é uma espécie de carência de afetividade e um pouco de infantilidade. Entretanto, há ciúmes muito mais perigosos, que se transformam em inveja e ódio. O primeiro caso desse na Bíblia foi o de Caim, que matou o seu irmão, sem que lhe fizesse nenhum mal, unicamente porque Deus recebeu a oferta do seu irmão e rejeitou a dele. Ora, o que Abel tinha a ver com isso?. O caso dos irmãos de José também se enquadra nesse tipo, pois o ciúme deles se transformou em inveja e eles passaram a odiar José, sem que ele lhes fizesse nenhum mal. Temos ainda na Bíblia o caso de Saul, que passou a odiar Davi e querer matá-lo por causa do cântico das mulheres que o enalteceu: “Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez milhares”. (1Sm 18.6-9).


REFERÊNCIAS:

CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 53-56.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 235,236.

CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 1. 11 ed. 2013. pag. 756.

LOPES, Hernandes Dias. Gênesis: O Livro das Origens.. Editora Hagnos. 1 Ed. 2021.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento. Tito. 1 Ed 2001. Editora Cultura Cristã. pág. 122.

TENNEY, MERRILL C. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 1. pag. 1071-1072.


10 abril 2023

A FALHA NO TRATAMENTO DOS FILHOS

(Comentário do 1º tópico da Lição 03: Ciúme, o mal que prejudica a família).

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, falaremos sobre as consequências do favoritismo no tratamento com um dos filhos, que provoca ciúmes nos filhos preteridos e até tragédias. Tomaremos como base o caso de José, o filho preferido de Jacó. O tratamento diferenciado que ele recebia por parte do seu pai provocou a ira dos seus irmãos contra ele, a ponto de não poderem falar com ele pacificamente, chegando ao cúmulo de venderem-no como escravo. Veremos também que a inveja impede que as pessoas percebam os desígnios de Deus. Os irmãos de José não perceberam, que os sonhos que José teve eram revelações de Deus, porque estavam tomados de inveja e ódio por ele. 


1- A preferência de Jacó. Vimos na lição passada que Jacó foi criado em um lar onde havia preferência dos pais por um dos filhos. Jacó era o filho preferido da sua mãe, Rebeca. O seu irmão, Esaú, era o preferido de Isaque. Estas preferências, como vimos, trouxe o conflito entre os irmãos, a ponto de Esaú decidir matar Jacó, que foi obrigado a fugir de casa para não ser morto. 


Orientado por seu pai, Isaque, Jacó foi para Harã, terra da sua mãe, morar com o seu tio Labão. Chegando lá, à primeira vista, ele se apaixonou por Raquel, a filha mais nova do seu tio, e propôs um acordo de trabalhar sete anos para se casar com ela. Entretanto, passando-se os sete anos, o seu tio lhe enganou e lhe entregou Lia, a filha mais velha, para ser a sua esposa. O tipo de relacionamento conjugal naquela época era tão esquisito, que Jacó só percebeu no outro dia, que não era Raquel. 


Sentindo-se ludibriado, Jacó foi tirar satisfação com o dito e perguntou: 

– Por que me enganaste? Eu não trabalhei por Raquel? Por que me deste Lia como esposa? 

Labão arrumou uma desculpa esfarrapada, para justificar a esperteza e disse: 

– Aqui em nossa terra não se faz assim. A mais nova não pode casar antes da mais velha. Se você quiser casar com ela, terá que trabalhar mais sete anos. 

Jacó amava muito a Raquel e, por isso, aceitou a proposta e trabalhou outros sete anos, para finalmente casar-se com a sua amada. 


Vendo o Senhor que Lia era desprezada, abriu-lhe e ela teve os primeiros quatro filhos de Jacó: Rúben, Simeão, Levi e Judá. Raquel, no entanto, era estéril e isso a deixava angustiada. Os anos foram passando e Raquel, vendo que não gerava filhos, teve a mesma ideia infeliz de Sarai e deu a sua serva Bila a Jacó como concubina e ela teve dois filhos: Dã e Naftali. Lia seguiu a mesma linha e deu a sua serva Zilpa a Jacó, que também teve dois filhos: Gade e Aser. 


Neste contexto, Rúben, o filho mais velho de Lia e Jacó encontrou uma planta chamada Mandrágora, que era considerada afrodisíaca. Raquel pediu à sua irmã que lhe desse um pouco da planta. Lia perguntou se ela achava pouco ter tomado o marido e ainda queria a planta do seu filho. Diante disso, Raquel negociou com a sua irmã para Jacó passar uma noite com ela em troca da planta. Lia acabou engravidando de novo e teve o quinto filho, a quem deu o nome de Issacar. Depois teve mais um filho, cujo era Zebulom e, por último teve a filha Diná. 


Quando Jacó já estava com noventa e um anos de idade, finalmente, Deus abriu a madre de Raquel e ela teve o seu primeiro filho e disse: 

– Deus tirou a minha vergonha.

Nasceu o primeiro filho da esposa amada de Jacó. Raquel deu-lhe o nome de José (heb. Yehosef, que significa Yahweh acrescenta) e disse:

– O Senhor me acrescente outro.


José, portanto, além de ser o filho da esposa amada, foi muito esperado e nasceu na velhice do pai, como um milagre de Deus, semelhante a Isaque. Depois de alguns anos, Raquel engravidou novamente e teve o segundo filho, chamado Benjamin e morreu no parto. Este foi mais um motivo para Jacó se apegar a José, pois ele ficou sem a mãe. 


Além dos fatores citados acima, José era um filho obediente ao pai e temente a Deus, diferente dos seus irmãos que eram homens de má índole. Rubens, o filho mais velho, teve um caso com a concubina do pai. Simeão e Levi, quando descobriram que a irmã foi abusada por Siquém, fizeram uma chacina e mataram todos os homens da cidade. Judá, embriagou-se e teve filho com a nora, achando que era uma prostituta. José era diferente e o seu comportamento correto, contribuiu para que o seu pai o amasse mais do que aos seus irmãos: “E Israel amava a José mais do que a todos os seus filhos”. (Gn 37.3). 


2- O ciúme em meio à preferência. Como vimos acima, Jacó apegou-se mais a José do que aos demais filhos, por várias razões. Entretanto, além de amar a José mais do que aos outros filhos, Jacó não disfarçava isso e José tornou-se o filho favorito. José não era apenas o mais protegido dos filhos, era também o mais favorecido. O seu pai mandou confeccionar uma túnica de várias cores e deu-lhe de presente. Os seus irmãos usavam túnicas comuns de tecido áspero e viram o pai dar um presente especial a José. Segundo o Dicionário bíblico Wycliffe, publicado pela CPAD,  “este presente indicava que Jacó pretendia fazer de José o seu principal herdeiro, e com isso, acirrou a ira de seus irmãos contra ele”. 


Esta preferência escancarada do seu pai por José, demonstrada na atitude de dar-lhe este presente especial, provou o ciúme dos seus irmãos, que passaram a odiá-lo. Para piorar a situação e acirrar ainda mais o ódio deles, Jacó mandava que José fiscalizasse o trabalho deles no campo. José os observava, trazia o relatório completo das más ações deles ao pai e eles ficavam sabendo. O bom comportamento de José, já irritava os seus irmãos, pois isso denunciava a má conduta deles. Com as delações que ele fazia ao pai, tornava-se insuportável perante eles, a ponto de conseguirem conversar com ele pacificamente. 


Não queremos aqui justificar o ciúme e o ódio dos irmãos de José por ele, até porque José não era culpado de ser o preferido do seu pai. Entretanto, as atitudes de Jacó para com José causaram o ciúme e o ódio dos seus irmãos. Como pais, precisamos saber que os nossos filhos são diferentes uns dos outros. Uns são mais calmos, outros mais nervosos; uns são mais inteligentes, outros têm mais dificuldades de aprender as coisas; uns são mais obedientes, outros mais rebeldes; etc. Entretanto, não podemos agir com favoritismo para com aqueles que têm mais afinidade conosco. Isso provoca nos demais filhos, a sensação de rejeição, interfere na formação da personalidade da criança e pode trazer sérios problemas na idade adulta, como vimos na lição passada. 


3- A inveja não permite compreender os desígnios de Deus. Nesse clima de favoritismo, que causou o ódio mortal dos irmãos de José por ele, teve mais um fator que agravou ainda mais a situação. José teve dois sonhos e contou-os ao seu pai, na presença dos seus irmãos. No primeiro sonho, José sonhou que ele e os seus irmãos estavam no campo atando molhos de trigo. De repente, o molho dele ficava em pé e os molhos dos seus irmãos se curvaram perante o dele. No segundo sonho, José o sol, a lua e onze estrelas se inclinavam diante dele (Gn 37.9). 


Imediatamente, os irmãos de José interpretaram os sonhos e entenderam que aquilo significava que José dominaria sobre eles. Entretanto, eles pensaram que fosse presunção de José e não uma revelação de Deus. Jacó também entendeu o significado do sonho e perguntou: Que sonho é este que tiveste? Porventura viremos, eu e tua mãe, e teus irmãos, a inclinar-nos perante ti em terra? (Gn 37.10). Jacó, ouvindo estes sonhos, guardava estas coisas em seu coração. Certamente, ele percebia que Deus tinha algo especial com ele. 


Os irmãos de José, no entanto, passaram a odiá-lo ainda mais e, dominados pela inveja e pelo ódio, não enxergavam o plano de Deus. Eles não imaginaram que anos depois aqueles sonhos se cumpririam em detalhes no Egito. Quando José se tornou governador e eles foram lá comprar comida, se prostraram diante dele, sem o reconhecer. Mas, José os reconheceu e lembrou-se dos sonhos (Gn 42.7,8). Depois da morte de Jacó, os irmãos de José, com receio de que ele quisesse se vingar deles, foram a José e disseram que o pai deles havia dito para eles pedirem perdão. José os perdoou, dizendo: Não temais; porventura estou eu em lugar de Deus? Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita gente com vida. Agora, pois, não temais; eu vos sustentarei a vós e a vossos filhos. Assim os consolou, e falou segundo o coração deles. (Gn 50.19-21). José entendeu perfeitamente, que todo o sofrimento que ele passou fazia parte do plano de Deus e não guardou ressentimentos. 


REFERÊNCIAS: 

CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 50-53.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 235, 236.

LOPES, Hernandes Dias. Gênesis: O Livro das Origens. Editora Hagnos. 1ª Ed. 2021.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. A.T. Vol. I. Editora Central Gospel. pág. 182.


HUMILDADE X OSTENTAÇÃO

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