11 maio 2022

A VINGANÇA NÃO É NATUREZA DO REINO


(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 7).


Neste primeiro tópico falaremos a respeito da chamada lei do talião, que era  aplicada no Antigo Testamento, e sobre a incompatibilidade da vingança com  os súditos do Reino Deus. Muitas pessoas confundem o texto de Mateus 5.38 com a lei do talião e acham que Jesus estava falando contra a aplicação da Lei por parte dos tribunais. Mas, o que Ele se contrapõe é à interpretação dos mestres da Lei, que usavam a Lei para praticar a vingança contra os seus desafetos, sem misericórdia. Diferente do que muitos imaginam, a Lei proibia a vingança pessoal: “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.” (Lv 19.18). As penas duras previstas na Lei eram para a aplicação nos tribunais, pelos juízes. 


1. A Lei de Talião. A expressão “Lei do Talião” vem do latim “Lex” (Lei) e “talis” (tal qual). Portanto, Lex Talionis significa a aplicação de penas com o princípio da reciprocidade entre as penas e os danos causados às vítimas. A Lei do Talião é anterior ao Pentateuco e está presente em outros códigos de leis da antiguidade. O mais conhecido é o Código de Hamurabi, escrito em acádio ou babilônio antigo entre 1750 e 1730 a.C.). Neste código há previsões de penas, muito semelhantes àquelas previstas no texto de Êxodo 21: 

Código de Hamurabi:

Art. 196 - Se alguém arranca o olho a um outro, se lhe deverá arrancar o olho.

Art. 197 - Se ele quebra o osso a um outro, se lhe deverá quebrar o osso.

Art. 200 - Se alguém parte os dentes de um outro, de igual condição, deverá ter partidos os seus dentes.


Êxodo 21:23-27: 

“Mas se houver morte, então darás vida por vida, Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, Queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe. E quando alguém ferir o olho do seu servo, ou o olho da sua serva, e o danificar, o deixará ir livre pelo seu olho. E se tirar o dente do seu servo, ou o dente da sua serva, o deixará ir livre pelo seu dente.”

Pelo que vimos acima, embora as penas do código de Hamurabi sejam mais duras e cruéis que as leis da Torah, o princípio da retribuição é o mesmo. As penas impostas são semelhantes da mesma natureza dos danos causados. 


No Livro do Gênesis, no episódio do assassinato de Abel, vemos que Deus chama para si a responsabilidade pela vingança, por ser o dono da vida: “A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim” (Gn 4.10). Deus proíbe que se tome a vingança contra Caim: “Assim, qualquer que matar a Caim será vingado sete vezes. E pôs o SENHOR um sinal em Caim para que o não ferisse de morte quem quer que o encontrasse”. (Gn 4.15). Entretanto, na narrativa dos descendentes de Caim, temos as palavras de Lameque, descendente de Caim: “E disse Lameque às suas esposas: Ada e Zilá, ouvi-me; vós, mulheres de Lameque, escutai o que passo a dizer-vos: Matei um homem porque ele me feriu; e um rapaz porque me pisou. Sete vezes se tomará vingança de Caim, de Lameque, porém, setenta vezes sete.” (Gn 4.23, 24). Aqui, vemos que Lameque agiu de forma vingativa e desproporcional, afastando-se do princípio da retribuição proporcional. 

Temos também o exemplo de Simeão e Levi, filhos de Jacó. Após Siquém, filho de Hamor seduzir Diná, filha de Jacó, e ter relações com ela, os seus irmãos resolveram se vingar, matando todos os homens daquela cidade. Jacó os repreendeu severamente em sua profecia final, por este ato de vingança cruel e desproporcional: “Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. No seu conselho, não entre minha alma; com o seu agrupamento, minha glória não se ajunte; porque no seu furor mataram homens, e na sua vontade perversa jarretaram touros.” (Gn 49.5-6).

A tendência do ser humano após a queda era a violência e o pecado sem limites. Naqueles tempos bárbaros, os poderosos eram cruéis: invadiam casas e estupravam as mulheres; agrediam e até matavam quem atravessasse o seu caminho; apoderavam-se dos bens alheios; os reis invadiam outras nações e as escravizavam; etc. A vingança estava presente, diante de muitas injustiças e crueldade. Por isso, a Lei do Talião tinha o objetivo de frear a violência e evitar a vingança desproporcional e a guerra civil. Onde a regra é a vingança pessoal, a barbárie se estabelece, como acontece nas brigas de facções criminosas. O objetivo de Deus ao estabelecer esta lei era controlar os excessos provocados pela ira e desejo de vingança. 

A interpretação farisaica, no entanto, visava desvirtuar esta lei, usando-a como subterfúgio para justificar a vingança pessoal. Em vários aspectos a Lei dizia uma coisa e os rabinos acrescentavam outras coisas e modificavam o sentido, para atender os próprios interesses (Mt 15.3,6). Eles ignoravam o fato de que cabia aos juízes a responsabilidade pela punição e só pensavam na execução, sem esboçar nenhuma misericórdia para com o próximo.


2. O cristão e a vingança. Segundo o dicionário, a vingança "é um ato lesivo praticado em nome próprio ou alheio, contra uma pessoa, para vingar-se de dano ou ofensa por ela causada; desforço, desforra, represália, revanche, vendeta, vindita." (Michaelis). 

A vingança é uma prática incompatível com a vida cristã. O cristão não deve jamais se vingar das pessoas que lhe fazem mal. “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor” (Rm 12.19). Segundo o padrão de Jesus, além de não nos vingarmos daqueles que nos prejudicaram,  devemos fazer bem a eles! O próprio Jesus deu o exemplo, quando pediu ao Pai que perdoasse aqueles que o crucificavam (Lc 23.24). Estevão, imitou o Mestre, e também pediu ao Senhor que não imputasse aos seus assassinos aquele pecado (At 7. 60). 

Evidentemente, não se pode esperar atitudes assim, de pessoas que não foram transformadas pelo Espírito Santo. O sentimento natural do ser humano, em sua natureza carnal, é retribuir na mesma proporção ou até mais, as agressões sofridas. 


REFERÊNCIAS:

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 125-128.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1 Ed 2008. pag. 57-58.

STOTT, John. Contracultura cristã: A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pag. 48.


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Pb. Weliano Pires

09 maio 2022

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 07: NÃO RETRIBUA PELOS PADRÕES HUMANOS

REVISÃO DA LIÇÃO PASSADA

Na lição passada estudamos o tema: Expressando palavras honestas. Falamos da quarta antítese de Jesus no Sermão do Monte, que trata da questão dos juramentos (Mt 5.33-37). O nono mandamento do Decálogo proibia o perjúrio, ou falso juramento contra o próximo: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.” (Êx 20.16). 


Vimos que nos tempos bíblicos não haviam assinaturas, cartórios para reconhecer firmas, ou contratos para servirem como garantia dos compromissos assumidos. Por isso, as pessoas selavam pactos entre si, fazendo juramentos. Segundo a orientação dos rabinos judeus, as pessoas não deveriam jurar falsamente contra o próximo e deveriam cumprir os juramentos feitos a Deus. 


Entretanto, na tentativa de burlar o rigor da Lei, os mestres da lei estabeleceram diferentes tipos de juramentos: Os que são feitos em nome de Deus e os que eram feitos pelo templo, pela terra, pela cidade de Jerusalém e por todas as coisas sagradas. (Mt 23.16-18). Com isso, diziam que os julgamentos feitos em nome de Deus eram obrigados a serem cumpridos, mas os demais, não eram obrigatórios. 


Jesus, no entanto, ensinou que os seus seguidores não devem fazer falsos juramentos e não devem empenhar garantias que não lhe pertencem pelas suas palavras. A palavra do crente deve ser dita com retidão, verdade e honestidade. Portanto, os juramentos se tornam desnecessários. Jesus ensinou que a nossa palavra deve ser: “sim, sim, e não, não. O que passar disso é de procedência maligna”.  (Mt 5.37).


LIÇÃO 07: NÃO RETRIBUA PELOS PADRÕES HUMANOS


Na lição desta semana estudaremos o tema: Não retribua pelos padrões humanos. Falaremos sobre a quinta e a sexta antítese, proferidas por Jesus no Sermão do Monte, que tratam, respectivamente, da lei do talião (Mt 5.38-42) e do amor ao próximo (v. 43-47). Jesus citou uma parte do texto de êxodo 21.24, que tratava das penas para os crimes de lesão corporal e dizia: “Olho por olho e dente por dente”. Depois falou sobre a questão do amor ao próximo, que os rabinos acrescentavam: “...odiarás ao teu inimigo”. 


A lei mosaica previa pena proporcional ao crime praticado, para evitar que a parte ofendida se excedesse e aplicasse a vingança. A lei do talião esta prevista em outros códigos penais das sociedades antigas, como no código de Hamurabi, da Mesopotâmia, que foi o primeiro código de leis da história. As penas, no entanto, eram previstas em lei e tinham que ser aplicadas por juízes, no devido processo legal. Não se tratava, portanto, de vingança. 


Os rabinos judeus, mais uma vez interpretavam a lei de forma distorcida, na questão do amor ao próximo, para adequá-la às suas conveniências, e diziam: “amarás o teu próximo e odiarás os teus inimigos." Ora, em parte alguma da Lei dizia para odiar os inimigos. Esta era a interpretação que os rabinos davam à lei, pois a Lei mandava amar ao próximo e não dizia nada sobre os inimigos. Eles então concluíam que o próximo era apenas os seus  compatriotas. 


Jesus, apresenta o seu ensino sobre estas questões e manda: amar os inimigos, não se vingar, dar a outra face ao que nos ferir e socorrer aos que nos pedirem ajuda. É um padrão de justiça altíssimo e inatingível pela natureza humana, corrompida pelo pecado. O natural do ser humano é se vingar e retribuir as ofensas no mesmo padrão ou até mais. Somente alguém transformado pelo Espírito Santo será capaz de esboçar estas reações apresentadas por Jesus. 


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Pb. Weliano Pires

06 maio 2022

HONESTIDADE COM NOSSAS PALAVRAS


(Comentário do 3º tópico da Lição 6: Expressando palavras honestas)


Quando falamos em honestidade, muitas pessoas imaginam que ser honesto é apenas não roubar ou devolver algo que achou ao seu devido dono. Entretanto, a honestidade é muito mais do que isto, pois ela envolve todas as áreas da nossa vida e há vários tipos de honestidade. A honestidade não se confunde com medo de consequências ou retaliações. Também não está relacionada apenas ao que fazemos publicamente. 

 

1 - A palavra honestidade. Segundo o dicionário Michaelis, honestidade “é a qualidade de honesto; que tem honradez e probidade;  que tem pureza; castidade, pudor, recato.” A palavra honestidade deriva do latim “honos” ou “honor”, que significa honra, honroso, distinção. No Antigo Testamento a palavra hebraica “yashar”, significa “reto, honesto, correto, direito, plano, certo, justo”. Os irmãos José, quando estiveram no Egito para buscar comida, foram testados por José, que era o governador do Egito. José, sabia quem eram eles, mas eles não o reconheceram. Então, José os acusou de serem espiões e eles responderam: “...Somos homens de retidão [honestos]; os teus servos não são espias.” Gn 42.11b). Esta palavra também foi usada por Deus, para se referir a uma das virtudes de Jó (Jó 1.8). 


No grego temos a palavra  "kalos", que significa bom e foi traduzida por "honesto" em vários textos do Novo Testamento: Lc 8.15; Rm 12.7; 11 Co 8.21; 13.7 e I Pe 2.12. Temos também a palavra grega hagnos, que significa respeitável, santo, puro, limpo, puro de sensualidades, casto, recatado, que foi usada por Pedro, para se referir ao comportamento das mulheres cristãs para com o esposo incrédulo, e foi traduzida por ‘honesto’ (1 Pe 3.2). 


Há também a palavra grega "semnos", que significa venerável, reverente, que foi provado pelo tempo. O apóstolo Paulo exortou os cristãos a pensarem em tudo que é puro e “honesto” (semnos), ou que tem “reverência devido à idade” (Fp 4.8).


Então, honestidade na Bíblia traz a ideia de integridade, verdade e pureza. Quando Jesus disse que o nosso falar deve ser sim, sim e não, não, sem precisar de juramentos para garantir a veracidade das nossas afirmações, Ele está dizendo que devemos ser honestos naquilo que falamos, sem nenhuma espécie de fingimento, hipocrisia ou mentira. Uma pessoa honesta faz o que é correto, mesmo que ninguém esteja vendo. 


2 - É possível ser honesto com nossas palavras neste mundo? No mundo atual, a desonestidade está tão desenfreada, que temos a impressão que é a regra. Rui Barbosa, jornalista, advogado, diplomata, político, escritor e um dos membros fundadores da Academia Brasileira de Letras,  depois de ver tanta desonestidade e coisa errada, protestou em um dos seus discursos no Senado Federal, em 1914: 

“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”

De fato, neste mundo de impiedade e tanta mentira, corrupção, injustiça e desonestidade, temos a impressão de que é impossível viver honestamente. O profeta Elias teve esta impressão e disse ao Senhor: “...Só eu fiquei por profeta do Senhor e buscam a minha vida para ma tirarem.” (1 Rs 19.14). Até mesmo dentro da Igreja, muitos têm adotado a mentira, a falsidade e a desonestidade como regra. Alguns chegam a defender a chamada ‘mentira piedosa’, que seria uma espécie de mentira por uma boa causa, ou mentiras em casos emergentes. Mas, quando vamos para as Escrituras, não encontramos amparo para estas práticas (Sl 15.1-5). A mentira e a desonestidade tem origem no diabo, que é o pai da mentira (Jo 8.44). Na vida cristã, os fins não justificam os meios. Deus não aceita que os seus servos pratiquem a mentira e falem palavras desonestas, mesmo que sejam com boas intenções. 


3 - Dando testemunho. As nossas palavras e procedimentos dizem muito sobre nós, no meio em que vivemos. O apóstolo Paulo em vários momentos disse que os cristãos devem ter uma linguagem sã e irrepreensível, e que não deve sair da nossa nenhuma palavra torpe, mas, somente aquelas que servem para edificação. A honestidade das nossas palavras é um poderoso testemunho do Evangelho. De falsidade, mentira e desonestidade o mundo está cheio. As pessoas de fora da Igreja precisam perceber que somos diferentes. Infelizmente há crentes que não dão testemunho e mentem até nos testemunhos que contam, para ganhar popularidade e impressionar. O verdadeiro cristão procura imitar a Cristo e, portanto, as suas palavras são sempre verdadeiras e honestas. 


REFERÊNCIAS: 

Gomes, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 118-120.

CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 3. pag. 159.

CHAMPLIN, Russell Norman. Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2096-2097.

PFEIFFER, Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 936.


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Pb. Weliano Pires


05 maio 2022

NOSSAS PALAVRAS DEVEM SER “SIM” E “NÃO”


(Comentário do 2º tópico da Lição 6: Expressando palavras honestas)


O ser humano é o único ser vivo deste mundo que é capaz de raciocinar e expressar as suas idéias através da fala ou da escrita. Segundo o dicionário Michaelis, a definição principal e resumida de palavra é a unidade mínima com som e significado que, sozinha, pode constituir um enunciado. Falar (oralmente ou por escrito) é a forma principal de expressarmos aquilo que pensamos.


Quando se trata de falar o que pensamos, temos três tipos de reação a isso: a censura, que proíbe a expressão de pensamentos contrários à opinião dos grupos governantes; o politicamente correto, que também é uma forma de censura, e estabelece “palavras que não devem ser faladas”; e a liberdade de expressão, que defende o direito à livre manifestação do pensamento. Como deve ser a maneira de falar do cristão? Deve ser proibido de falar o que pensa? Deve falar somente aquilo que é agradável ao senso comum? Deve falar qualquer coisa, sem nenhum critério? 


1 - Como deve ser o nosso falar. Jesus não ensinou a censura, nem o politicamente correto para os seus discípulos. Ele ensinou a liberdade de expressão, com responsabilidade. O Mestre afirmou que pelas nossas palavras seremos justificados ou condenados (Mt 12.37). Segundo o ensino de Jesus, os seus discípulos devem ser verdadeiros, honestos e sábios no falar. Ou seja, deve falar sempre a verdade, de forma segura e com prudência. 


Tiago escreveu que “se alguém não tropeça em palavras, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo.” (Tg 3.2). No mesmo texto, Tiago compara a língua a uma pequena faísca que incendeia um bosque inteiro. O sábio Salomão falando sobre as palavras, disse que a morte e a vida estão no poder da língua (Pv 18.21). Em outro provérbio, ele diz: “O que guarda a sua boca e a sua língua guarda a sua alma das angústias.” (Pv  21.23). E ainda: “Na multidão de palavras não falta transgressão, mas o que modera os seus lábios é prudente.” (Pv 10.19). 


A regra para o cristão é falar sempre a verdade, pois, não podemos mentir jamais. Não podemos mentir para agradar ou para não ferir. Também não podemos omitir a verdade, para ganharmos popularidade, ou para evitar retaliações, pois isso equivale a mentir e ser infiel a Deus. A verdade bíblica nunca irá agradar aos ímpios. Portanto, a palavra do cristão deve ser sempre verdadeira, mesmo sem juramento. Entretanto, precisamos tomar cuidado com o que falamos, para quem falamos e se precisamos falar. Existem palavras que são desnecessárias, pois causam confusão, escândalos e podem destruir vidas. Atribui-se ao filósofo grego, Sócrates, a idéia de que devemos passar as informações que nos chegam em três peneiras, antes de repassá-las: 


a. A peneira da verdade. O que eu vou falar é verdade, ou é apenas boato? Se é mentira, ou não tenho certeza se é verdade, é melhor não falar. 

b. A peneira da bondade. O que eu vou dizer, mesmo sendo verdade, fará bem ou mal ao próximo? Se for prejudicar alguém, melhor não falar. 

c. A peneira da necessidade. O que eu tenho a falar é mesmo necessário? Resolverá alguma coisa, ou ajudará em alguma coisa? Se não, melhor não falar. 


2 - O sim e o não na vida de Paulo. Jesus ensinou que a palavra do cristão deve ser “sim, sim; não, não”. Isto significa que, quando empenhamos a nossa palavra e prometemos algo, devemos cumprir. Entretanto, nem sempre isso é possível. Nós somos falhos e limitados. Existem circunstâncias e fatos que são alheios à nossa vontade. Podem acontecer coisas que não esperávamos e que irão mudar os nossos planos. 


O apóstolo Paulo, por exemplo, planejava visitar a Igreja de Corinto várias vezes (2 Co 1.13-16). Mas, por fatores que fugiam da sua alçada, não pôde cumprir (2 Co 1.17-23). O mesmo aconteceu com outras Igrejas (Rm 1.10; 2 Ts 2.18). Os seus adversários a acusavam de leviandade e de não ser confiável. Mas, ele não descumpriu a sua palavra porque quis e sim porque foi impedido por algumas circunstâncias e por entender que aquele não era o momento adequado. O apóstolo mudou os seus planos e agora explicou as razões em sua defesa. 


Com este episódio aprendemos que é muito importante tomar cuidado com aquilo que prometemos. Tiago falando sobre isso diz: “Agora, prestai atenção, vós que aclamais: ‘Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá nos estabeleceremos por um ano, negociaremos e obteremos grande lucro.’ Contudo, vós não tendes o poder de saber o que acontecerá no dia de amanhã. Que é a vossa vida? Sois, simplesmente, como a neblina que aparece por algum tempo e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis afirmar: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. (Tg 4.13-15). Sendo assim, antes de prometermos algo, precisamos ter em mente que não temos controle sobre a nossa vida, principalmente sobre o futuro. Existem fatores que não dependem de nós. Devemos também verificar se temos condições de cumprir o prometido, naquilo que depender de nós, para não fazermos promessas mirabolantes e cair em descrédito. Se porventura, não pudermos por algum motivo cumprir o que prometemos, devemos explicar a razão, falando sempre a verdade. 


3 - O que passar disso é uma procedência maligna. O hábito de repetir a palavra era um costume judaico de confirmar a verdade: Sim, sim; não, não; Na verdade, na verdade; etc. O que Jesus ensina aqui é que basta a nossa própria palavra para confirmar aquilo que estamos dizendo. Não precisamos recorrer a juramentos, ou praguejar, para forçar as pessoas a acreditarem no que falamos. Jesus diz que isso é de procedência maligna, pois, um juramento feito por um mentiroso, não tem valor algum.


Infelizmente em nossos dias vemos pregadores usando estes subterfúgios para obter credibilidade para as suas pregações e profecias. Já vi pregadores dizendo que se não acontecer tal fato que ele profetizou, ele rasgaria a sua Bíblia e nunca mais pregaria o Evangelho. Ora, um homem de Deus não precisa recorrer a isso. Se ele tem convicção de que tem convicção de que está falando a verdade, basta apenas falar. Não precisa tentar forçar as pessoas a acreditarem no que ele fala. A impressão que fica é que nem ele mesmo acredita. 


REFERÊNCIAS: 


GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 114-115.

SPROUL, R. C. Estudos bíblicos expositivos em Mateus. 1° Ed 2017. Editora Cultura Cristã. pág. 345.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pág. 157.

CARVER, Frank G. Comentário Bíblico Beacon. II Coríntios. Editora CPAD. Vol. 8. pág. 408-411.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Matthew Henry. II Coríntios.  Editora CPAD. 4 Ed. 2004. pág. 2-3.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO. Edição completa. Editora CPAD. pág. 57.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. N.T. Vol. I. Editora Central Gospel. pág. 27.

(RICHARDS, Lawrence O. Comentário: Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p.26).


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Pb. Weliano Pires


03 maio 2022

NÃO DEVEMOS JURAR NEM PELOS CÉUS NEM PELA TERRA


(Comentário do 1º tópico da Lição 6: Expressando palavras honestas)

Nos tempos de Jesus, os juramentos eram uma prática corriqueira. Entretanto, os doutores da Lei sabiam da seriedade dos juramentos feitos em nome de Deus. Por isso, pensando em driblar o rigor da Lei, estabeleciam diferentes tipos de juramentos e diziam que somente os juramentos feitos em nome de Deus deveriam obrigatoriamente serem cumpridos. 


Jesus, em sua quarta antítese contra os ensinos dos rabinos, ensinou que os seus seguidores não deveriam jurar por aquilo que não lhes pertencia: Os Céus e a Terra. Ensinou também que a palavra dos seus discípulos deveria ser sim, sim e não, não. Ou seja, a nossa palavra deve ser honesta e verdadeira em qualquer circunstância, sem precisar de juramentos. 


1- A Lei do Juramento. A prática dos juramentos nas alianças seladas é anterior à Lei de Moisés. Meredith Kline, um falecido estudioso do Antigo Testamento, juntamente com George Mendenhall, da Universidade de Michigan, estudaram as alianças de várias nações antigas e descobriram que em todas elas havia juramentos. Estes juramentos eram feitos não apenas pelas partes subordinadas da aliança, mas também pelas partes superiores. 


No Livro do Gênesis também vemos alguns juramentos como o de Abraão com o seu servo Eliezer, quando este foi buscar a noiva do seu filho Isaque (Gn 24.2-9); o juramento de paz entre Abimeleque e Isaque (Gn 26.31); o juramento de Esaú a Jacó de que venderia a sua primogenitura (Gn 25.33); o juramento de José para com o seu pai Jacó, de que o sepultaria na terra de Canaã, junto aos seus pais (Gn 50.5); e o juramento de José para com os Filhos de Israel, de que eles levariam também os seus ossos para sepultar na Terra Prometida, quando fossem libertos (Gn 50.25). 


Os juramentos foram incorporados à Lei mosaica, como forma de garantir que as palavras seriam cumpridas (Êx 22.11). A Lei proibia expressamente o perjúrio, ou o juramento falso. (Lv 19.12; Nm 30.2; Dt 23.21). Obrigava também os israelitas a cumprirem os juramentos feitos (Nm 30.2) e proibia que se fizessem juramentos em nome de falsos deuses (Js 23.7; Jr 12.16; Am 8.14). 


2 - O propósito da Lei do Juramento. Com a corrupção da natureza humana pelo pecado, a tendência do homem foi afastar-se dos padrões verdadeiros de Deus e adotar os seus próprios padrões baseados no egoísmo, falsidade e mentira. Isso atingiu também as suas palavras. O homem passou a não se sentir obrigado a cumprir aquilo que prometeu e buscar subterfúgios para fugir das suas responsabilidades.


A lei do juramento foi instituída por Deus como uma forma de frear as mentiras e obrigar as pessoas a cumprir aquilo que prometeram. A lei visava também evitar que as pessoas fizessem uso do nome de Deus para legalizar os seus negócios no dia a dia. Nesse sentido, Deus deixou estabelecido no decálogo: Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão (Êx 20.7). Os juramentos eram feitos sob pena de maldição e aqueles que os fizessem eram obrigados a cumprir. O povo era advertido pela Lei de que estavam jurando diante de Deus, que tudo vê e julga todas as coisas. (1Cr 28.9; Jr 17.10)


3 - Não jureis nem pelo Céu nem pela Terra. Numa leitura superficial do texto de Mateus 5.34-37, temos a impressão de que Jesus está proibindo qualquer forma de juramento. Mas, não foi isso que Ele fez, senão estaria contra a própria Lei de Deus que previa o juramento. O próprio Deus fez juramento por Si mesmo: “Por mim mesmo tenho jurado; saiu da minha boca a palavra de justiça e não tornará atrás: que diante de mim se dobrará todo joelho, e por mim jurará toda língua.” (Is 45.23).


Mesmo no Novo Testamento, após estas declarações de Jesus, vemos líderes da Igreja que fizeram juramentos, como Paulo: “Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu Reino, 2 que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina.” (2 Tm 4.1,2). Em algumas ocasiões, Paulo invocava a Deus como sua testemunha, o que é equivalente a um juramento: “Porque Deus me é testemunha das saudades que de todos vós tenho, em entranhável afeição de Jesus Cristo.” (Fp 1.8).


O próprio Jesus declarou sob juramento diante do Sumo Sacerdote, quando perguntado se era o Filho de Deus: “...E, insistindo o sumo sacerdote, disse-lhe: Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus. Disse-lhe Jesus: Tu o disseste; digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu.” (Mt 26.63,64)


O que Jesus proibiu foi o falso juramento e a atitude dos mestres da Lei, que usavam de artimanha para jurar e não serem obrigados a cumprir, por não terem jurado em nome de Deus. Jesus está proibindo que se use o nome de Deus em questões triviais e até blasfemas; e fazer juramentos pelas coisas criadas por Deus, que pertencem a Ele. Um cristão verdadeiro fala sempre a verdade, mesmo sem juramentos e cumpre a sua palavra, mesmo que isso lhe traga prejuízos (Sl 15.2). 


REFERÊNCIAS:

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 108-110.

SPROUL, R. C. Estudos bíblicos expositivos em Mateus. 1° Ed 2017 Editora Cultura Cristã. pág. 99.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Matthehw Henry. Deuteronômio.  Editora CPAD. 4 Ed 2004. pág. 31.

STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pag. 47.

CHILDERS, Charles L.; EARLE, Ralph; SANNER, A. Elwood (Eds.) Comentário Bíblico Beacon: Mateus a Lucas. Vol. 6. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.60).

COUTINHO, Viviane Adelar. Meditações no Sermão do Monte: A Constituição do Reino de Deus. 1. ed. 2021. PLUS Simplíssimo.



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Pb. Weliano Pires

02 maio 2022

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 6: EXPRESSANDO PALAVRAS HONESTAS


REVISÃO DA LIÇÃO PASSADA


Na lição passada estudamos lição 5: O casamento é para sempre. Trata-se da segunda e a terceira antítese de Jesus no Sermão do Monte: A proibição do adultério e do divórcio. Estas duas proibições indicam que o casamento é indissolúvel. A Lei continha dois mandamentos no decálogo sobre este assunto: Não adulterarás e não cobiçarás a mulher do teu próximo. Entretanto, para os rabinos o adultério acontecia apenas na chamada conjunção carnal, ou seja quando era consumado fisicamente. Jesus, porém, diz que tudo começa no coração, ou seja, no interior do ser humano.


No primeiro tópico da lição falamos sobre a condenação do adultério. Abordamos a definição de adultério e o significado bíblico deste pecado. Falamos sobre o posicionamento de Jesus a respeito do adultério no Sermão do Monte. Por último mostraremos os males e prejuízos causados pela prática do adultério. 


No segundo tópico, vimos que, o que rege o coração, regerá o corpo. Vimos a definição e significado bíblico da palavra traduzida por coração. O homem é aquilo que ele pensa, pois, os nossos pensamentos determinam as nossas ações e a nossa conduta. Por último, falamos que o caminho para dominar o próprio corpo é sujeitá-lo ao domínio e dependência do Espírito Santo.


No terceiro tópico, falamos sobre a indissolubilidade do casamento. O casamento sob a perspectiva bíblica, é heterossexual, monogâmico e vitalício. Vimos também o que fazer para que o casamento dure até à morte. Por último, falamos que no ensino de Jesus, o casamento é indissolúvel e o divórcio contraria a vontade de Deus. O padrão divino desde o Éden é: os dois serão uma só carne (Gn 2.23,24).


INTRODUÇÃO À LIÇÃO 6


Na lição desta semana estudaremos o tema: Expressando palavras honestas. Trata-se da quarta antítese de Jesus no Sermão do Monte, que trata da questão dos juramentos (Mt 5.33-37). O nono mandamento do Decálogo proibia o perjúrio, ou falso juramento contra o próximo: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.” (Êx 20.16). 


Nas sociedades antigas haviam poucos documentos e, portanto, a palavra empenhada e o testemunho de alguém tinham muito valor. Um testemunho falso poderia causar a morte de alguém, como aconteceu com Nabote, Estêvão e muitos outros. Por isso, a lei exigia duas ou três testemunhas: “Uma só testemunha contra ninguém se levantará por qualquer iniquidade ou por qualquer pecado, seja qual for o pecado que pecasse; pela boca de duas ou três testemunhas, se estabelecerá o negócio.” (Dt 19.15). 


Nos tempos bíblicos não haviam assinaturas, cartórios para reconhecer firmas, ou contratos para servirem como garantia dos compromissos assumidos. Sendo assim, as pessoas selavam pactos entre si, fazendo juramentos. Segundo a orientação dos rabinos judeus, as pessoas não deveriam jurar falsamente contra o seu próximo e deveriam cumprir os juramentos feitos a Deus. 


Entretanto, na tentativa de burlar o rigor da Lei, os mestres da lei estabeleceram diferentes tipos de juramentos: Os que são feitos em nome de Deus e os que eram feitos pelo templo, pela terra, pela cidade de Jerusalém e por outras coisas sagradas. (Mt 23.16-18). Com isso, diziam que os julgamentos feitos em nome de Deus eram obrigados a serem cumpridos, mas os demais, não eram obrigatórios. 


Jesus, no entanto, ensina que os seus seguidores não devem fazer falsos juramentos e não devem empenhar garantias que não lhes pertencem pelas suas palavras. A palavra do crente deve ser dita com retidão, verdade e honestidade. Portanto, os juramentos se tornam desnecessários. Jesus ensinou que a nossa palavra deve ser: “sim, sim, e não, não. O que passar disso é de procedência maligna”.  (Mt 5.37).


REFERÊNCIAS:


GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 107-108.

SPROUL, R. C. Estudos bíblicos expositivos em Mateus. 1° Ed 2017 Editora Cultura Cristã. pág. 98.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. N.T. Vol. I. Editora Central Gospel. pág. 27.


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Pb. Weliano Pires