Nos últimos anos, tem havido uma proximidade muito grande entre as Igrejas, principalmente as pentecostais e neopentecostais, e a política partidária. Há uma mistura crescente entre pastores e políticos. Muitas Igrejas têm, inclusive, lançado os seus próprios candidatos. Alguns pastores, aproveitam-se da sua condição de líder de uma Igreja, para se tornarem políticos ou impor um candidato à comunidade religiosa que lideram.
Este fenômeno tem levantado discussões nos meios teológicos, acadêmicos e jurídicos. Qual deve ser o papel da Igreja na política? Alguns acham que a Igreja deve ser antipolítica, ou seja, deve ser absolutamente contrária à política. Outros acham que a Igreja deve se envolver nas questões políticas, exercendo o seu papel profético de denunciar as injustiças e cobrar os governantes, de forma imparcial. Mas, há aqueles que entendem que a Igreja deve militar politicamente, lançando candidatos e fazendo campanha política.
1. O QUE É POLÍTICA?
Quando falamos de política, muitas pessoas se sentem enojadas, pois, imediatamente a associam aos políticos corruptos e mentirosos. Mas, isso não é política.
A palavra política deriva do vocábulo grego “politikos”, que originalmente significava aquilo que está relacionado ao cidadão ou ao estado. Politikos, por sua vez, deriva-se grego “polites” (cidadão) e “polis” (cidade).
A política está presente em todas as relações: na família, na escola, no condomínio, no bairro, na cidade, no estado e no país e no mundo. Todas as ações que envolvem o coletivo em nossa vida são decididas através da política. Logo, não devemos demonizar a política, nem tampouco ignorá-la.
2. DIFERENÇA ENTRE POLÍTICA E POLITICAGEM.
A demonização da política ou a aversão que boa parte da população sente pela política, certamente acontece por causa da confusão que se faz, entre política e politicagem. Conforme vimos no ponto anterior, a política é algo necessário à vida em sociedade. A política é a arte de negociar honestamente, visando o interesse comum.
A politicagem, por sua vez, é a deturpação da política. Consiste em acordos espúrios, barganhas, corrupção, compra e venda de votos, nepotismo, enriquecimento ilícito, favorecimentos, etc.
3. A RELAÇÃO ENTRE IGREJA E POLÍTICA NA HISTÓRIA.
A relação entre as religiões e a política varia de uma para outra e de acordo com a época. Em muitas nações antigas, o rei era visto como um enviado dos deuses e em outros, o rei se considerava um deus. Sendo assim, não podiam ser contestados e, em alguns casos, exigiam adoração.
Em outras religiões, como no Judaísmo antigo e no Islamismo pratica-se a teocracia (governo de Deus). Nestes casos, os líderes religiosos são também os líderes políticos, que governam com base nas leis religiosas.
No Cristianismo, inicialmente, havia separação total entre a Igreja e o estado. Jesus disse: “Dai a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus.” (Mateus 22.17). Os apóstolos também seguiram na mesma direção, respeitando as autoridades e seguindo as leis, desde que estas não contrariassem a Palavra de Deus. Onde houvesse incompatibilidade, como no caso da exigência da adoração ao imperador romano, eles desobedeciam ao estado e obedeciam a Deus. Muitos foram presos, torturados e mortos por causa disso.
Posteriormente, com a adesão do Imperador Constantino, o Cristianismo, se tornou a religião oficial do Império Romano e aconteceu a mistura entre Igreja e estado, a ponto de os papéis se confundirem. A Igreja se metia em questões do estado e vice-versa. Isso trouxe muitos problemas para ambos.
Com o advento da Reforma protestante, aconteceu o inverso. Novamente, veio a separação entre Igreja e estado e o conceito de estado laico, como temos hoje nas nações democráticas. Entretanto, muitos confundem estado laico com estado ateu e não é a mesma coisa. O estado é laico, mas, o povo tem religião e deve ter o direito de praticá-la, da forma que entender, sob a proteção do estado.
4. OS PROBLEMAS DA MISTURA ENTRE IGREJA E POLÍTICA.
Conforme demonstrado, a política em si, não é algo ruim e é necessária à vida em sociedade. Sob este prisma, eu não vejo problema em um cristão participar da vida política do seu país e lutar pelo bem comum. Entretanto, vejo muitos problemas na participação da Igreja, como entidade religiosa sem fins lucrativos, como protagonista da política partidária. Entre estes problemas, eu destaco pelo menos três:
a. Crime eleitoral. Muitos não sabem, mas, é crime eleitoral fazer campanha política nos templos e espaços religiosos. Isto, porque torna a campanha desleal, para com aqueles que não dispõem do mesmo espaço. Sendo assim, é crime eleitoral fazer campanha política em templos, escolas, sindicatos, associações e concessões públicas como rádio e TV (exceto nos programas eleitorais). Portanto, uma Igreja que usa o seu espaço para promover um candidato está cometendo crime.
b. Associação da Igreja aos atos do candidato. Quando apoiamos um candidato, não sabemos o que ele irá praticar após eleito. Muitas vezes, não conhecemos nem o seu passado direito. No caso da Igreja, se ela apóia oficialmente um candidato e depois ele se envolve em escândalos, o nome da Igreja, inevitavelmente, será envolvido. Temos vários casos de políticos que receberam apoio das Igrejas e depois foram acusados de corrupção ou presos. Os exemplos mais conhecidos são do ex-bispo da Universal, Carlos Rodrigues, o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha e do ex-deputado e ex-candidato a presidente, Pr. Everaldo.
c. Problemas para a pregação do Evangelho. Quando um pastor ou uma Igreja apóia oficialmente um candidato, inevitavelmente, encontrará na Igreja, pessoas que são adversárias daquele candidato. Isso acaba trazendo desgastes entre a Igreja e os adversários do tal candidato. Eu, particularmente, já vi muitos problemas desse tipo, com a imposição de candidatos aos fiéis. Um pastor que apóia um candidato ou partido no templo, terá dificuldade para pregar o Evangelho e perde a autoridade sobre os que não apóiam o tal candidato.
CONCLUSÃO
Diante do exposto, concluo dizendo que a política é importante para a vida em sociedade e não deve ser demonizada ou ignorada. A Igreja deve manter o seu papel profético de denunciar as injustiças e a maldade e combater a maldade. Mas, deve fazer isso de forma imparcial e nunca como militante partidária.
Nós vivemos em uma democracia e todos são livres para escolher em quem votar. Por isso, não pode haver concorrência desleal, compra de votos, troca de voto por favores, ou imposição de líderes religiosos para que os membros de uma religião votem em seus candidatos.
Eu cresci na Assembléia de Deus e sou obreiro desta Igreja há alguns anos. Como cidadão, sempre votei e faço campanha gratuita para os candidatos que eu apóio. Mas, jamais levei um candidato à Igreja que faço parte, ou fiz campanha em templos. Acho isso abominável. Templos são locais construídos com o dinheiro dos fiéis, para abrigar as atividades religiosas da Igreja. É um lugar para adoração a Deus.
Quer fazer política? Faça-o como cidadão e não imponha os seus candidatos a ninguém. Se você é um líder da Igreja e acha que deve entrar para a política, afaste-se das suas funções eclesiásticas e dedique-se à política partidária.
Pb. Weliano Pires
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