14 dezembro 2023

UMA IGREJA MISSIONÁRIA EM AÇÃO

(Comentário do 2º tópico da Lição 12: O modelo de missões da Igreja de Antioquia)

Ev. WELIANO PIRES


No segundo tópico, falaremos de Antioquia como uma Igreja missionária em ação. Falaremos das características do corpo de obreiros de Antioquia, que era formado de profetas e doutores. Depois, falaremos da liderança da Igreja de Antioquia, que era uma liderança servidora, mesmo sendo bastante diversificada. Por último, falaremos da chamada específica de Barnabé e Saulo, pelo Espírito Santo, para a missão transcultural. 


1- “Havia alguns profetas e doutores” (At 13.1). Antioquia era uma Igreja rica em líderes, com vários profetas e doutores. Estes dois ministérios fazem parte da relação de dons ministeriais, descrita pelo apóstolo Paulo em Efésios 4.11: “Apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores.” Assim como nos casos dos dons espirituais, há pensamentos diferentes em relação ao ministério de profeta nos dias atuais. 


Alguns dizem que não existem mais profetas nos dias atuais, pois, Jesus disse que “a Lei e os Profetas, vigoraram até João [Batista]..." (Lc 16.16). Entretanto, o Novo Testamento relata a existência de profetas e profetisas, depois da morte de João Batista: Ágabo (At 21.10,11); As filhas de Filipe (At 21.8,9); e na Igreja de Antioquia também havia profetas (At 13.1). 


Por outro lado, há os que querem atribuir as características dos profetas do Antigo Testamento aos profetas de hoje, querendo agir como Elias, Eliseu e outros. O ministério profético no Antigo Testamento consistia em transmitir a mensagem de Deus ao povo de Israel e até a outras nações. Esta mensagem poderia ser sobre o futuro, ou denúncias contra o pecado e advertências. As mensagens destes profetas eram Palavras de Deus e não podiam ser questionadas. Não temos mais profetas com esse perfil. Foi nesse sentido que Jesus falou que a lei e os profetas vigoraram até João. 


O ministério profético continuou no Novo Testamento. Jesus é o profeta por excelência, que havia de vir ao mundo. Moisés profetizou que Deus levantaria um profeta semelhante a ele, referindo-se a Cristo. Os apóstolos de Cristo também exerceram a atividade profética, mediante revelação e inspiração do Espírito Santo. Eles foram usados por Deus, tanto para proclamar o Evangelho, como para escrever os livros inspirados do Novo Testamento. 


Deus ainda escolhe pessoas para exercerem o ministério de profeta na Igreja local. Entretanto, é preciso esclarecer que o dom ministerial de profeta não é equivalente aos profetas do Velho Testamento, ou mesmo do Novo Testamento, que eram canônicos e receberam inspiração divina para escrever os livros sagrados que formam a Palavra de Deus. Hoje, não temos mais profetas com esta característica. As palavras dos profetas de hoje precisam ser julgadas pelo crivo da Palavra de Deus.


Na Igreja de Antioquia também havia obreiros com o dom ministerial de mestre ou doutor. Antes de subir ao Céu, Jesus deu ordem aos seus discípulos para que ensinassem todas as nações a guardar todas as coisas que Ele mandou. (Mt 28.19,20). Este ensino começa na evangelização, passa pelo discipulado e continua no crescimento espiritual do crente. 


Este não é um ensino filosófico ou acadêmico, baseado apenas no conhecimento humano (1 Co 1.12,13). É o Espírito Santo quem capacita crentes com o dom ministerial de mestre para ensinar a Palavra de Deus à Igreja. Vale lembrar que, isso não dispensa o mestre de estudar a Bíblia. Paulo, escrevendo a Timóteo disse: "persiste em ler e exortar…" (1 Tm 4.13).


Infelizmente, muitos obreiros ainda acham que basta abrir a Bíblia, ler um texto aleatoriamente e ensinar, sem conhecer nada do que leu. Antes de se levantar para ensinar, é preciso sentar-se para aprender e saber de quem está aprendendo. Os mestres da Igreja precisam continuar aprendendo e se atualizando no estudo teológico e secular. O conhecimento está ao alcance de todos e a cada dia surgem novas descobertas científicas. Os mestres não podem ficar alheios a isso, sob pena de serem considerados ultrapassados ou falarem bobagens. 


2- Uma liderança servidora (v.2). A liderança da Igreja de Antioquia foi escolhida sob a direção do Espírito Santo. Era uma liderança formada por pessoas de culturas e classes sociais muito diferentes. O primeiro da lista é Barnabé, um levita, natural da Ilha de Chipre, que era muito amoroso. Ele apareceu pela primeira vez no Livro de Atos, no lamentável episódio envolvendo Ananias e Safira. O seu nome era José, mas os apóstolos o chamavam de Barnabé que significa "Filho da Consolação". 


Depois, Barnabé é citado novamente após a conversão de Saulo, que era um terrível perseguidor da Igreja. Os cristãos de Jerusalém não acreditaram que ele havia se convertido e fugiam dele, achando que seria uma armadilha. Barnabé, no entanto, se aproximou de Saulo, ouviu o relato da sua conversão e o integrou à Igreja de Jerusalém (At 9.27). 


A partir daí, nasceu a parceria entre os dois. Quando Barnabé foi enviado a Antioquia, ele foi a Tarso, buscar Saulo para ajudá-lo no discipulado dos novos crentes. Durante um ano inteiro, eles ensinaram a Palavra de Deus naquela Igreja. (At 11.25,26). Depois, por orientação do Espírito Santo, Barnabé tornou-se companheiro de Paulo na primeira viagem missionária, como veremos no próximo tópico. 


Não temos informações sobre os demais obreiros desta lista, com exceção de Saulo. Simeão, por ser chamado “Níger”, nome latino que significa “negro”, alguns dizem que era africano e sugerem que seria o mesmo Simão Cireneu, que carregou a Cruz de Jesus, mas, não há nenhuma comprovação disso. 


Nada sabemos também sobre Lúcio de Cirene. Cirene ficava no norte da África e provavelmente, Lúcio era um dos “homens de Chipre e Cirene” que pregaram pela primeira vez o evangelho aos gentios de Antioquia (At 11.20,21). A tradição católica o chama de “São Lúcio de Cirene” e diz que ele era bispo de Cirene e foi martirizado.


A única informação que temos de Manaém é que ele foi criado com Herodes, o Tetrarca. Este Herodes era Herodes Antipas, governador da Galiléia que mandou prender e matar João Batista, por condenar a sua relação adúltera com Herodias, ex-mulher do seu irmão Filipe. 


O último da lista é Saulo de Tarso. Antes da sua conversão, Saulo era um terrível perseguidor da Igreja. Saulo era um rabino judeu, da tribo de Benjamin, a mesma de Saul. O nome Saulo é uma variação de Saul. Paulo era o seu nome latino, pelo qual ele era conhecido no Império Romano. Era altamente instruído na Lei Mosaica, aluno de Gamaliel, um dos mais conceituados rabinos da sua época. Era conhecedor também da filosofia grega e um respeitado cidadão romano. 


Podemos notar a diversidade racial, geográfica, cultural e social dos obreiros de Antioquia. O Evangelho chegou a Antioquia através de cristãos gentios leigos e o Espírito Santo preparou esta diversidade, para que a Igreja pudesse se espalhar pelo mundo, levando o Evangelho a todos os povos. 


Na Assembléia de Deus no Brasil, desde o início, vemos também esta diversidade de crentes. Mesmo tendo sido fundada por europeus, que moravam nos Estados Unidos, em uma cultura racista, a Assembléia de Deus sempre teve pastores de diversas classes sociais e etnias: brancos, negros, militares, pedreiros, comerciantes, agricultores, homens cultos e iletrados. 


3- “Apartai-me a Barnabé e a Saulo” (v.2). A Igreja de Antioquia estava reunida em oração e jejum, quando o Espírito Santo mandou que a Igreja separasse Barnabé e Saulo para a obra missionária. Não sabemos a forma que o Espírito Santo falou, se foi em profecia ou se foi em voz audível. O fato é que a Igreja entendeu que era o Espírito Santo falando. 


A partir daí, Antioquia tornou-se a primeira Igreja a fazer missões transculturais, ou seja, em outras culturas totalmente diferentes da cultura dos missionários. Conforme já falamos em lições anteriores, é Deus quem chama missionários para a sua obra. Depois da chamada, Deus fala também com a liderança da Igreja para enviar o missionário ao campo. 


A ideia de missionário independente, que escolhe o lugar que quer fazer missões e vai por conta própria, sem uma liderança, não tem base nas Escrituras. Daniel Berg e Gunnar Vingren vieram sozinhos ao Brasil, depois que Deus falou com eles. Mas eles procuraram o pastor da Igreja antes de vir e comunicaram o que Deus havia falado. A liderança da Igreja falou que não tinha condições financeiras para sustentá-lo, mas orou por eles e deu o aval. 


REFERÊNCIAS:


GABY, Wagner. Até os confins da terra: Pregando o Evangelho a todos os povos, até a volta de Cristo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2023, págs. 119-133.

Ensinador Cristão. CPAD, Ed. 95, pág. 42.

Bíblia de Estudo Pentecostal. Edição Global. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, págs. 1962, 1965. 

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Vol. 1, CPAD, p. 680.

CABRAL, Elienai. O Apóstolo Paulo: Lições da vida e ministério do Apóstolo dos Gentios para a Igreja de Cristo. 1ª Ed.  RIO DE JANEIRO: CPAD, 2021

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