07 fevereiro 2023

O TESTEMUNHO DE ESTÊVÃO


(Comentário do 1º tópico da Lição 07: Estevão – Um Mártir Avivado)

EV. WELIANO PIRES


Neste primeiro tópico da lição, estudaremos o testemunho de Estêvão, que foi usado por Deus, de forma eloquente e fervorosa, realizando milagres entre o povo, na cidade de Jerusalém. A sua pregação, no entanto, despertou a inveja dos adversários do Cristianismo e de forma covarde, subornaram homens ímpios para acusá-lo falsamente de blasfêmia contra Moisés e contra Deus. Estêvão não se intimidou ante a fúria dos acusadores e direcionou a sua pregação contra as autoridades religiosas de Israel, acusando-os pela traição e assassinato de Jesus. 

1. Estêvão usado por Deus. Não temos maiores informações sobre a pessoa e a origem de Estêvão. O seu nome em grego é "Stéphanos" e significa “coroa”. Estevão falava fluentemente o grego e era um judeu dos chamados "helenistas", ou seja judeus que viviam fora da terra de Israel e falavam grego. Nada sabemos também sobre a sua conversão ao Cristianismo. Há uma tradição antiga que diz que ele fez parte dos setenta discípulos enviados por Jesus, mas não temos nenhuma comprovação disso. 

Estevão aparece pela primeira vez na Bíblia na ocasião da escolha dos sete diáconos, no capítulo 6 do livro de Atos dos Apóstolos. Houve uma espécie de discriminação entre cristãos que cuidavam da assistência social às viúvas, dando preferência às viúvas dos judeus da Palestina. Os cristãos de fala grega foram reclamar disso com os apóstolos. Os apóstolos se reuniram e disseram que não seria correto eles deixarem a exposição bíblica e a oração para cuidar da assistência social. Resolveram, então, que a Igreja escolhesse sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, para executarem este trabalho. 

O primeiro desta lista foi Estevão e na referência a ele, Lucas destaca que ele era “homem cheio de fé e do Espírito Santo” (At 6.5). Mais adiante, Lucas diz: “E Estêvão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo” (6.8). Dos sete diáconos, só temos informações na bíblica sobre os trabalhos realizados por Filipe e Estevão. O ministério evangelístico de Filipe foi em Samaria e está registrado em Atos 8. Estevão, por sua vez, foi o primeiro mártir [proto mártir] e também o primeiro apologista da Igreja Cristã. Ou seja, ele foi executado pela causa que defendia (mártir) e fez o mais longo discurso de defesa de Jesus registrado no Novo Testamento (apologia). Depois dele vieram outros mártires e apologistas, mas ele foi o primeiro. 

Alguém poderia perguntar: Jesus não foi o primeiro mártir?  A resposta é não, pois embora Jesus também tenha sido cruelmente executado, Ele não morreu por defender uma causa. Jesus veio a este mundo justamente para se oferecer em sacrifício perfeito a Deus, para salvar os pecadores. Ele mesmo disse: "Ninguém tira a minha vida; Eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai." (Jo 10.18). 

Estevão se destacou também por fazer grandes sinais e prodígios entre o povo: "E Estêvão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.” (At 6.8). A pregação de Estevão não se limitava a discursos bem elaborados e palavras persuasivas, mas consistia na demonstração do poder e sabedoria do Espírito Santo. Escrevendo sobre o ministério de Estevão, o pastor Hernandes Dias Lopes diz: "...Uma palavra que caracteriza a vida de Estêvão é cheio. Ele era um homem cheio de Deus. Sua vida não era apenas irrepreensível, mas também plena. [...] Estevão era cheio do Espírito Santo [...] cheio de fé [...], cheio de sabedoria [...], cheio de graça [...] e cheio de poder". O Pr. Ciro Sanches Zibordi também diz, em seu Livro "Estevão, o primeiro apologista do Evangelho": “Essas quatro qualidades decorriam de sua comunhão com o Espírito Santo e devem ser interpretadas como “manifestações particulares que o Espírito concede”.

2. Uma covarde oposição. O discurso ousado de Estevão causou grande inveja e despertou a fúria dos seus opositores. Entretanto, eles não tinham como contestá-lo honestamente. A sua vida era irrepreensível, pois ele era um homem de Deus, que tinha boa reputação e bom testemunho de todos. O seu discurso também era irrefutável, do ponto de vista teológico, pois Estevão era um hábil expositor das Escrituras e falava com a sabedoria que o Espírito Santo lhe concedia. Por último, os sinais e prodígios que ele realizava publicamente entre o povo, no poder do Espírito Santo, também eram inegáveis. 

Restou aos opositores de Estevão apelarem para a desonestidade, covardia e violência. Tentaram argumentar com Estevão dentro da Lei, mas foram vendidos, pois ele provava pelas Escrituras que estava correto. Não podiam acusá-lo de pecado ou blasfêmia, pois ele tinha uma conduta exemplar. Também não podiam acusá-lo de charlatanismo, pois os milagres eram públicos com muitas testemunhas. De forma vergonhosa, leviana e criminosa, eles contrataram falsas testemunhas para acusar Estevão de ter blasfemado contra Deus, contra Moisés e contra o templo (At 6.12). Com estas falsas acusações, eles incitaram o povo contra Estevão e o levaram ao Sinédrio, um tribunal religioso judaico, para ser interrogado pelo sumo sacerdote, que presidia aquele órgão. 

Diante das autoridades judaicas, Estevão reafirmou a sua defesa do Evangelho, com argumentos bem fundamentados nas Escrituras. Eles não tiveram a mínima chance de confrontá-lo teologicamente, pois o Espírito Santo falava através dele. No momento em que Estevão falava para uma plateia cheia de ódio contra ele, o seu rosto brilhava como o rosto de um anjo, assim com aconteceu com Moisés, quando desceu do Monte. Mais uma razão para eles se conscientizarem de que Deus aprovava o que Estevão estava falando. Mas eles estavam em um estágio de apostasia tão avançado que rangiam os dentes de ódio contra Estevão e ignoravam as evidências.  

Em outras ocasiões, o inimigo usou a mesma tática da covardia, mentiras e desonestidade contra servos de Deus. A mulher de Potifar, usou a falsa acusação para se vingar de José, por ter se recusado a cometer adultério com ela (Gn 39.7-20). Jezabel usou a falsa acusação de blasfêmia contra Nabote, para forçar o seu assassinato, por ter se recusado a vender a herança dos seus pais ao rei Acabe (1 Rs 21.7-12). Temos também o caso de Daniel, que os opositores buscavam ocasião para acusá-lo diante do rei, mas não encontraram. Então, resolveram criar uma lei absurda, para acusá-lo de deslealdade ao rei (Dn 6). Contra Jesus também os seus algozes inventaram várias acusações como a de que Ele queria ser rei e de que havia blasfemado, para condená-lo à morte. Em vários textos, a Bíblia diz que eles buscavam ocasião para condená-lo à morte. 

3. A fúria dos acusadores. Os opositores de Estêvão, que debateram com ele e não conseguiram vencê-lo, levaram-no ao Sinédrio e fizeram acusações gravíssimas dele, diante do sumo sacerdote. Ao ouvir as acusações o sumo sacerdote perguntou a Estêvão: “Porventura é isto assim?” (At 7.1). Estêvão manteve-se sereno e iniciou a sua defesa, chamando os seus ouvintes de “varões, irmãos e pais”. Em seguida fez uma brilhante exposição bíblica da história de Israel, começando com a chamada de Abrão, em Ur dos Caldeus. Falou da aliança da circuncisão, de Isaque, Jacó e José. Discorrer sobre a mudança dos descendentes de Jacó para o Egito, até que chegou em Moisés. Falou do nascimento de Moisés, do assassinato do egípcio, da sua fuga para Midiã e do manifestação de Deus a ele do meio da sarça ardente. 

Estêvão, como um bom pregador que conhece a Palavra de Deus, falou de todo o processo da libertação de Israel da escravidão do Egito, fazendo uma síntese, até chegar na profecia messiânica de Moisés, no Livro de Deuteronômio: “O Senhor vosso Deus vos levantará dentre vossos irmãos um profeta como eu; a ele ouvireis.” (At 7.37; Dt 18.15). Depois falou da conquista da terra prometida por Josué e citou resumidamente a construção do templo por Salomão. 

Na sequência, Estêvão mudou o foco da sua pregação e passou a denunciar a idolatria e apostasia de Israel, ao longo da sua história e confrontou os membros do Sinédrio, acusando-os de serem rebeldes como os seus pais e assassinos de Jesus, da mesma forma que os seus pais também perseguiram e mataram os profetas: “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim, vós sois como vossos pais. A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que anteriormente anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas; vós que recebestes a lei por ordenação dos anjos e não a guardastes. E, ouvindo eles isto, enfureciam-se em seu coração e rangiam os dentes contra ele.” (At 7.51-54).

A expressão “dura cerviz” é usada em sentido figurado para se referir à teimosia e insubordinação do povo de Israel a Deus. A cerviz é a parte posterior do pescoço, que chamamos de nuca. Dura cerviz, em sentido literal era uma referência aos bois que faziam força e se debatiam, recusando-se a ser conduzido pelo cabresto do seu dono. Da mesma forma que um boi rebelde, aqueles homens, em vez se humilharem e se arrependerem, diante da exposição da Palavra de Deus e confronto com os seus pecados, rangeram os dentes de ódio contra Estêvão e, com violência o retiraram da cidade, para o matarem. 

Aquele julgamento era completamente ilegal, pois o Sinédrio não tinha poder para condenar ninguém à morte. O Sinédrio poderia até ouvir o acusado e as testemunhas, mas, precisavam do aval do Império romano para condenar alguém à morte. Além disso, as testemunhas eram falsas e Estêvão não teve direito à defesa. Ele mesmo o seu discurso em sua defesa, mas não houve contraponto ao discurso. Simplesmente, o levaram para a execução, sem que tivesse sido condenado. Entretanto, aquele servo de Deus odiado e martirizado na terra, recebia a aprovação do Céu, como veremos no próximo tópico. 

REFERÊNCIAS:

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

ZIBORDI, Ciro Sanches. Estevão, O primeiro apologista do Evangelho. Editora CPAD. 1 Ed. 2018.

LOPES, Hernandes Dias. Atos: A ação do Espírito Santo na vida da igreja. Editora Hagnos. pág. 142-143.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pág. 665.


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