(Comentário do 2º tópico da Lição 10: O Avivamento Pentecostal no Brasil)
Ev. WELIANO PIRES
Devido aos conflitos originários da Reforma Protestante com a Igreja Católica, que se espalharam por vários países, os portugueses que eram em sua maioria católicos, não viam com bons olhos o Protestantismo e não permitiam a implantação de Igrejas Protestantes no Brasil. Houve tentativas, no período colonial, mas não obtiveram êxito. Durante a ocupação holandesa, houve uma “Igreja Reformada Potiguara”, fundada em 1630 na Paraíba.
Com a vinda da família real ao Brasil, no final de 1807 e início de 1808, muitos estrangeiros entraram no país e foi necessário fazer o Tratado de comércio e navegação, em 1810. Neste tratado foi garantido a todos o direito de praticar a sua religião, desde que não causassem perturbações e não fizessem proselitismo entre católicos. Em 1817, os ingleses tiveram permissão para construir o primeiro templo, mas era uma espécie de capelania, que tinha permissão para pregar aos funcionários da embaixada, comerciantes, marinheiros e viajantes. Não podiam evangelizar os brasileiros.
Mesmo após a independência do Brasil, em 1822, a liberdade das outras religiões ainda era muito restrita. O artigo 5º da Constituição de 1824 trazia a seguinte redação:
A religião Católica Romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo.
Em 1824, foi realizado o primeiro culto no Brasil, dirigido apenas para os imigrantes. Somente em 1858 foi aberta a primeira igreja protestante no Brasil de língua portuguesa, chamada atualmente “Igreja Evangélica Fluminense”. Em 1862, foi fundada a primeira Igreja Presbiteriana Brasileira, também no Rio de Janeiro. Depois vieram as Igrejas metodistas, batistas e luteranas. Mas, nenhuma delas aceitava a doutrina pentecostal.
A doutrina pentecostal, que os missionários suecos pregavam, incomodou os batistas tradicionais. Em uma reunião, a direção da Igreja decidiu expulsar os dois missionários e 19 irmãos que concordaram com a doutrina que eles pregavam. Após esta expulsão, Daniel Berg, Gunnar Vingren e os outros 19 irmãos que foram expulsos com eles, passaram a se reunir na casa da irmã Celina de Albuquerque, a primeira brasileira a receber batismo no Espírito Santo. Deus abençoou e várias pessoas se converteram, muitos foram curados e outros batizados no Espírito. Este novo trabalho adotou o nome de Missão da Fé Apostólica, que em 1918, passou a se chamar Assembléia de Deus.
1- A pregação do avivamento pentecostal. As primeiras Igrejas Pentecostais do Brasil foram a Congregação Cristã no Brasil e a Assembleia de Deus. Os fundadores destas duas denominações chegaram ao Brasil no ano de 1910.
a. A Congregação Cristã no Brasil. O italiano Louis Francescon [Luigi Francesconi, em italiano], que vivia em Chicago, nos Estados Unidos, iniciou a Congregação Cristã no Brasil, no Paraná. Há poucas informações históricas sobre as origens da Congregação Cristã, pois eles têm o costume desde o início, de não registrar nada. Eles se recusavam, inclusive, a ter um um nome ou placa. Devido aos brados de glória durante os cultos, eram chamados de “Igreja dos glórias” ou “povo dos glórias”. Algumas Congregações no início colocavam a placa: “Reunidos em Nome do Senhor Jesus.” Somente em 1936, foi adotado o nome Congregação Cristã no Brasil, devido à necessidade de se ter o registro de uma pessoa jurídica para a denominação. Recusam-se também o nome de pentecostais e preferem ser chamados apenas de “cristãos”.
Francescon pertencia à Igreja Presbiteriana na Itália. Por discordar do batismo por aspersão, ele resolveu ser batizado por imersão e acabou se desligando da Igreja Presbiteriana e, junto com outros irmãos que pensavam como ele, fundaram uma comunidade evangélica livre. Depois, tomaram conhecimento do Movimento Pentecostal dos Estados Unidos.
Louis Francescon foi batizado no Espírito Santo e, depois disso, passou a realizar trabalhos missionários nas colônias italianas na Argentina. Em março de 1910, veio para o Brasil e deu início à Congregação Cristã. Inicialmente, a Congregação Cristã era uma Igreja Pentecostal, ortodoxa como a Assembleia de Deus. Mas, ao longo dos anos, por não estudar a Bíblia, foram criando doutrinas heterodoxas e não tem comunhão com nenhuma Igreja Evangélica. Consideram que a Congregação Cristã é o único caminho e são exclusivistas.
b. A Assembléia de Deus. Os missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren foram os fundadores da Assembleia de Deus no Brasil. Ambos pertenciam à Igreja Batista nos Estados Unidos, mas creram na doutrina pentecostal e foram batizados no Espírito Santo. Em 19 de novembro de 1910, estes dois jovens desembarcaram em Belém-PA, sem saber falar português e sem conhecer nada sobre o Brasil.
Após chegarem ao Brasil, sem recursos, sem conhecerem o país, nem mesmo o idioma, os missionários ficaram na total dependência do Espírito Santo. Pararam na Praça da República, em Belém-PA, e ficaram aguardando orientações da parte de Deus. Passou uma família no local, que falava inglês, e perguntaram aos missionários se já haviam encontrado hospedagem. Eles responderam que não e foram convidados a acompanhá-los ao local onde estavam hospedados. Lá encontraram outra pessoa que falava inglês e eles lhe perguntaram se conheciam algum protestante na cidade. Foi indicado o endereço do pastor metodista Justus Nelson, que também era americano.
Imediatamente os missionários o procuraram e ele os encaminhou à Igreja Batista. Como eram vinculados à Igreja Batista nos Estados Unidos, os dois missionários suecos procuram a Igreja Batista de Belém para congregar lá. A partir daí, eles passaram a morar nas dependências da Igreja, em um porão úmido, cheio de mosquitos e com muitas dificuldades. Como não conheciam o idioma, Gunnar Vingren foi estudar a língua portuguesa durante o dia e transmitia o que havia aprendido a Daniel Berg, quando chegava em casa.
A doutrina pentecostal, que eles pregavam, no entanto, incomodou os batistas tradicionais. Havia naquela Igreja, uma irmã chamada Celina de Albuquerque, uma crente fiel, dedicada à Escola Dominical, que encontrava-se enferma e os médicos deram-lhe o diagnóstico de que aquela doença era incurável. O missionário Gunnar Vingren foi visitá-la e perguntou se ela cria que Jesus poderia curá-la. Ela respondeu que sim, ele orou por ela e foi curada daquela enfermidade.
Após a cura, a irmã Celina e a sua amiga Maria de Nazaré passaram a buscar a Deus com jejum e oração e decidiram que não sairiam de casa até receberem a confirmação de Deus de que o ensino dos missionários era correto. Depois de cinco dias de oração, na madrugada do dia 9 de junho de 1911, a irmã Celina foi batizada no Espírito Santo.
Após este episódio a notícia se espalhou e a direção da Igreja fez uma reunião em 18 de junho de 1911, para discutir o assunto. Na reunião, o dirigente perguntou quem estava de acordo com o ensino dos missionários. Os que concordaram foram convidados a sair da Igreja e 19 irmãos, além de Daniel Berg e Gunnar Vingren foram expulsos. Após a expulsão, Daniel Berg, Gunnar Vingren e os outros 19 irmãos que foram expulsos com eles, passaram a se reunir na casa da irmã Celina. Deus abençoou e várias pessoas se converteram, muitos foram curados e outros batizados no Espírito. Este novo trabalho adotou o nome de Missão da Fé Apostólica, seguindo o nome da Missão de Los Angeles. Por sugestão de Gunnar Vingren, em 1918 a Missão da Fé Apostólica passou a chamar-se Assembleia de Deus, em virtude da fundação das Assembleias de Deus nos Estados Unidos, em 1914. Mas, não havia nenhuma ligação institucional entre esta igrejas.
2- Crescimento e perseguição. Muitos irmãos de Igrejas tradicionais creram na doutrina pentecostal e foram batizados no Espírito Santo. Entre eles está o irmão Adriano Nobre, que era da Igreja Presbiteriana. Outros, que se converteram através da pregação dos missionários suecos, também receberam o batismo no Espírito Santo e seguiam testificando de Jesus por onde chegavam. Em pouco tempo, o trabalho se espalhou para outros estados do Norte e Nordeste do país. Alguns destes irmãos que se converteram no Norte e Nordeste, vindo para o Sudeste anunciavam o Evangelho onde chegavam. Por volta de 1922, a Assembléia de Deus chegou ao bairro de São Cristóvão no Rio de Janeiro, que era a capital do país naquela época. O missionário Gunnar Vingren foi enviado ao Rio de Janeiro para pastorear a Igreja na capital.
Apesar do crescimento exponencial que a Igreja vivia, com muitas conversões, milagres e batismos no Espírito Santo, eles não viviam só de bênçãos. As perseguições eram intensas naqueles tempos, por parte dos católicos e até de evangélicos tradicionais que não aceitavam a doutrina pentecostal. Os primeiros batismos precisavam ser feitos em sigilo, à noite, pois não possuíam templos e tanques batismais. Os batismos eram realizados nos rios e à beira mar. Em um destes os inimigos cercaram os crentes e tentaram impedir a realização do batismo. Um meliante tentou matar o missionário Gunnar Vingren e a irmã Celina entrou na frente e impediu o crime.
Muitas vezes os locais de culto eram apedrejados. Os padres orientavam as pessoas a não alugar casas para os protestantes. Os jovens que se convertiam ao Evangelho eram eram agredidos e expulsos de casa pelos pais. Da mesma sorte, as mulheres casadas eram agredidas pelos maridos e proibidas de frequentar os cultos.
3. Curas divinas. Se por um lado as dificuldades e perseguições eram muitas, por outro lado, o Senhor operava sinais extraordinários. No livro “O Diário do Pioneiro Gunnar Vingren”, escrito pelo seu filho Ivar Vingren, o missionário conta muitos milagres que ele presenciou. Deus agiu poderosamente em algumas situações contra os inimigos da Obra de Deus, que zombavam ou tentavam impedir o trabalho. Em outros casos, houve muitas curas divinas e até ressurreição de mortos. Eis abaixo, alguns dos relatos registrados por Ivar Vingren, que foram testemunhados por seu pai:
Um irmão foi curado de enfermidade muito grave na perna. Uma irmã foi curada de uma enfermidade incurável no lábio. Um outro que tivera dor de cabeça, durante dez anos, foi curado. Um homem paralítico que estava moribundo, e não podia mais falar, foi curado e veio depois para nossos cultos. Uma criança que estava moribunda com febre, foi curada. Um homem de idade, que sofrera com hérnia por nove anos, foi curado. Um outro homem, que havia estado enfermo muitos meses com febre e tinha todo o seu corpo inchado, foi tanto curado, como batizado com o Espírito Santo, além de ter recebido o dom de profecia. Um homem que viu seu filho morrer, tomou-o nos braços e começou a invocar o nome do Senhor. Imediatamente a criança voltou à vida. A esposa, quando viu o que aconteceu, se entregou ao Senhor.
Daniel Berg também foi usado por Deus em muitos milagres. Em um dos muitos que dirigiu, ele conta que muitas pessoas doentes vieram pedir-lhe oração para que o Senhor as curasse. Um irmão testemunhou que tinha sido mordido por uma cobra. A carne ressecada pelo veneno cresceu novamente até desaparecer completamente a ferida. Este testemunho se tornou conhecido na região e através dele muitas pessoas vieram buscar ajuda de Deus.
REFERÊNCIAS:
RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.
GUSSO, Profª. Drª. Sandra de Fátima Krüger. O Início do Protestantismo Histórico no Brasil Luta por Direitos, Evangelismo e Educação. Revista Via Teológica. Faculdade Batista do Paraná.
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Fundamentos bíblicos de um autêntico avivamento. Editora CPAD. 1ª edição: 2014. pág. 9-10.
GIAMARCO, Josué; e FONSECA, Alberto Alves da. Congregação Cristã no Brasil. Seita ou movimento contraditório?. Revista Defesa da Fé, Edição 07. Instituto Cristão de Pesquisas.
BERG, David. Daniel Berg, Enviado por Deus: A história de Daniel Berg, um simples aldeão que ajudou a deflagrar o maior movimento pentecostal da história da Igreja, as Assembleias de Deus no Brasil. Editora CPAD. 1 Ed 1995.
VINGREN, Ivar. O Diário do Pioneiro: Gunnar Vingren. Editora CPAD. 5ª Ed 2000. pág. 28-29.
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