(Comentário do 1º tópico da LIÇÃO 08: O AVIVAMENTO ESPIRITUAL NO MUNDO)
Ev. WELIANO PIRES
No primeiro tópico, falaremos sobre o avivamento, com base em duas visões que Ezequiel teve: a visão do vale de ossos secos, no capítulo 37, e a visão das águas purificadoras, descrita no capítulo 47. Nesta visão, o profeta viu fontes de águas que fluíam do templo e formavam um rio de águas correntes em direção à região do Mar Morto.
No 4⁰ trimestre de 2022, nós estudamos o livro de Ezequiel, com vistas para a preparação do povo de Deus para o tempo do fim, tendo como base o livro de Ezequiel. Naquela ocasião estudamos estas duas visões de Ezequiel e as suas respectivas interpretações, nas lições 10 e 12. As duas visões se referem à restauração nacional e espiritual de Israel, que já se cumpriu em parte e o restante se cumprirá integralmente no milênio.
1. Calamidade e restauração de Israel. Conforme vimos na lição 01 deste trimestre, a pré-condição para que haja um acontecimento é uma crise, seja moral, espiritual ou uma calamidade. No contexto em que Ezequiel profetizou, era exatamente isso que estava acontecendo. O Reino do Sul havia sido invadido pelo exército de Nabucodonosor, rei da Babilônia. Primeiro, Nabucodonosor depôs o rei de Judá e o levou cativo para a Babilônia, junto com a família real, deixando em seu lugar um vassalo. Este vassalo se rebelou e Nabucodonosor também o depôs, levando um grupo maior para o cativeiro. Por último, levou o restante dos judeus para o cativeiro, deixando na terra de Israel apenas os idosos, os deficientes e os que viviam em extrema pobreza, e queimou a cidade e o templo.
Deus havia prometido que, se Israel se afastasse da Sua Lei e entregasse ao pecado, Ele os puniria com o cativeiro (Lv 26.33-37; Dt 28.25,36,37). Israel não deu ouvidos e as promessas divinas foram cumpridas, tanto no Reino do Norte, que foi levado para a Assíria, quanto no Reino do Sul, que foi levado para a Babilônia.
Nos dias de Ezequiel, o povo encontrava-se no exílio, distante da sua pátria e, para piorar, Ezequiel havia recebido a notícia da destruição de Jerusalém e do Templo. Neste contexto de calamidade e desesperança, Ezequiel teve estas visões, com a promessa de restauração do povo de Israel.
Deus prometeu trazê-los de volta, como aliás, já havia prometido antes mesmo deles irem: “E há esperanças, no derradeiro fim, para os teus descendentes, diz o Senhor, porque teus filhos voltarão para o seu país.” (Jr 31.17). No cativeiro, o Senhor reafirmou a sua promessa de restauração: “Portanto, dize: Assim diz o Senhor Jeová: Hei de ajuntar-vos do meio dos povos, e vos recolherei das terras para onde fostes lançados, e vos darei a terra de Israel.” (Ez 11.17).
2. Um vale de ossos secos. A profecia do capítulo 37 de Ezequiel é, sem dúvida nenhuma, o texto mais importante e mais conhecido do livro de Ezequiel. Os pais da Igreja, principalmente os gregos, usaram este texto como fundamento para a doutrina da ressurreição dos mortos. Ezequiel descreveu a visão nos versículos 1 e 2 do capítulo 37,, dizendo que a mão do Senhor veio sobre ele e o levou "em espírito" a um vale. Ele não diz que vale era este, ou se era um lugar geográfico real. Na visão que ele tivera anteriormente, quando viu as abominações no templo, ele também foi levado em espírito e não corporalmente, porém, tratava-se de um lugar real, conhecido do profeta.
Deus mostrou a Ezequiel em visão, um vale cheio de ossos humanos secos. Na sequência, nos versículos 3 a 6, o profeta contemplar uma multidão de esqueletos humanos secos, Deus perguntou-lhe se aqueles esqueletos poderiam viver. O profeta respondeu: Senhor Jeová, Tu o sabes. O Senhor, então, deu ordem a ele para que profetizasse sobre aqueles ossos, para que voltassem à vida. Assim aconteceu e aquela multidão de esqueletos secos tornou-se um grande exército (vs.7,8).
Quando falamos em visão, estamos nos referindo a uma revelação visível de Deus a alguém, estando esta pessoa acordada. Existem visões que são sobre fatos reais e se referem ao tempo presente. Há também visões que são simbólicas, cujos significados não são revelados, como algumas visões de Daniel, as de Zacarias e as do Apocalipse. Nestes casos, é preciso estudar os símbolos, comparar com outros textos bíblicos e fazer a devida interpretação. Nesse tipo de visão, é possível haver mais de uma interpretação. Entretanto, há visões que, apesar de serem simbólicas e serem para o futuro, no próprio texto bíblico tem a explicação do significado. É o caso desta visão do vale de ossos secos. Ezequiel teve a visão, recebeu ordens para profetizar aos ossos secos, dizendo que o Senhor iria ordenar ao espírito que entrasse neles e lhes nasceria carnes, nervos e peles, e assim aconteceu.
Deus explicou o significado daquela visão: "...Estes ossos são toda a casa de Israel; eis que dizem: Os nossos ossos se secaram, e pereceu a nossa esperança; nós estamos cortados." (Ez 36.11). O povo encontrava-se no exílio, distante da sua pátria e, para piorar, Ezequiel havia recebido a notícia da destruição de Jerusalém e do Templo. Portanto, não havia mais nenhuma esperança de retorno à sua pátria e eles se sentiram como esqueletos humanos, sem nenhuma chance de voltar a viver.
Concluímos, portanto, que a interpretação desta visão é simbólica e futura. Ou seja, no próprio texto está a devida interpretação da visão, que se refere ao povo de Israel que estava morto como nação e espiritualmente. Mas, Deus prometeu que iria restaurá-los, como nação e como povo de Deus. Isso se cumprirá plenamente no Milênio. Mas, aqui o comentarista faz uma aplicação deste texto ao avivamento, como comparação. Assim como o Espírito entrou naqueles ossos secos e deu-lhes vida, Ele também pode entrar em uma Igreja que está sem vida espiritual e avivá-la.
3. O rio das águas purificadoras. Ezequiel teve a visão das águas vindo do interior do templo e saindo pelo umbral da porta, seguindo para o Oriente e formando um rio com grande correnteza. A partir desta visão, o guia celestial o conduziu para dentro das águas. No primeiro trecho, ele andou com as águas cobrindo os seus tornozelos, por mil côvados, que equivalem a aproximadamente 500 metros.
Um côvado era uma unidade de medida de comprimento, que ia do cotovelo à extremidade do dedo médio de um homem, que dava 45 centímetros aproximadamente, pois variava de acordo com a região. Em algumas regiões era 44,5 centímetros e em outras 50 cm e chegava até 52,5 centímetros, como o côvado nobre do Egito.
Continuando, no segundo trecho, Ezequiel andou mais quinhentos metros, com as águas alcançando os seus joelhos. Depois, mais quinhentos metros e as águas alcançaram os lombos. Finalmente, depois de mais quinhentos metros, cobriram todo o seu corpo e ele teve que seguir nadando. Depois, o guia celestial trouxe o profeta de volta.
Conforme estudamos no 4° Trimestre de 2022, a interpretação desta profecia é literal e futurista, ou seja, isso realmente vai acontecer literalmente no templo do milênio. Entretanto, o texto pode ser aplicado como comparação à obra do Espírito Santo no crente, pois a água é um dos símbolos do Espírito Santo na Bíblia. Jesus disse que “aquele que crer nele, como diz a Escritura, rios de águas vivas correrão em seu interior'' (Jo 7.37-39). Portanto, mesmo o texto de Ezequiel 47 não sendo uma referência à ação do Espírito Santo, ele pode ser aplicado à ação do Espírito Santo, pois assim como a água limpa, refrigera e é vital para a vida humana, o Espírito Santo também limpa, refrigera e é indispensável na vida espiritual do crente.
No livro de apoio, o Pr. Elinaldo Renovato faz a aplicação da visão destas águas, comparando-as “ao rio da graça de Deus” em quatro etapas, as quais eu resumo a seguir:
a) Na primeira etapa, o profeta sentiu que as águas purificadoras chegavam apenas aos seus tornozelos (47.3), podemos dizer que se trata do crente que não se aprofunda no relacionamento com Deus. Ele está firmado sobre os seus pés, sobre a própria vontade, os seus conceitos e as suas percepções humanas da vida.
b) Na segunda etapa, em que as águas davam pelos joelhos do profeta (47.4a), podemos entender que se trata do crente que já tem mais comunhão com Deus, mas ainda não está bem firmado nos seus pés em termos espirituais e continua dominado pelos sentimentos humanos e carnais. Está ainda andando com os pés no chão da vida humana.
c) Numa terceira etapa, o profeta sentia as águas cobrirem-lhe os lombos, ou o seu peito (47.4 b). Trata-se do crente que ainda tem os pés na terra, mas já se sente mais envolvido pelo rio da graça de Deus, estando mais voltado para cima, para as coisas espirituais.
d) Numa quarta etapa, o profeta sentiu que os seus pés não mais tocavam ao chão do rio; pois as águas eram profundas e que, para atravessar o ribeiro, precisava nadar. É o nível desejável de maturidade cristã. O crente deixa de ser carnal ou natural e passa a ser “homem espiritual”, que “discerne bem tudo” (1 Co 2.15,15).
REFERÊNCIAS:
RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.
BLOCK, Daniel. Comentário do Antigo Testamento Ezequiel. Vol. 2. Editora Cultura Cristã. pág. 323-324.
SOARES, Esequias; SOARES, Daniele. A Justiça Divina: A preparação do povo de Deus para os últimos dias no livro de Ezequiel. Editora CPAD. 1 Ed. 2022. pág. 139-140.
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