09 fevereiro 2023

A PRECIOSA MORTE DE ESTÊVÃO

(Comentário do 2º tópico da Lição 07: Estevão – Um Mártir Avivado)

EV. WELIANO PIRES


No segundo tópico falaremos da “preciosa morte de Estêvão”. Cheio do Espírito Santo, antes de ser executado, Estêvão viu os Céus abertos e Jesus em pé à direita do Pai. Ao descrever esta visão, ele despertou ainda mais a fúria dos seus algozes, os quais o retiraram para fora da cidade para o executarem por apedrejamento. Durante a execução, à semelhança de Cristo, Estêvão pediu ao Senhor Jesus que perdoasse aqueles que o matavam. 

1. Cheio do Espírito Santo. Conforme falamos no tópico anterior, uma palavra define bem a vida e o ministério de Estêvão: cheio. Ele era cheio de fé, cheio de sabedoria e cheio do Espírito Santo. Em suma, Estêvão era cheio de Deus, pois as suas atitudes diante da morte não são características humanas. Nenhum ser humano, em seu aspecto natural consegue se comportar daquela forma. 

Estêvão realizou sinais e prodígios, que somente Deus poderia fazer; pregou com uma sabedoria irresistível, que nem os mais profundos mestres da Lei conseguiram refutá-lo e apelaram para mentiras e calúnias; denunciou corajosamente os crimes praticados pelas autoridades religiosas contra Jesus; não reagiu em momento algum contra a injustiça que estava sofrendo, mesmo sabendo que seria morto; pediu o perdão de Deus para os seus algozes. 

O que faz um ser humano ter essas atitudes diante da morte? Somente alguém cheio do Espírito Santo é capaz de agir assim. Mas, o que significa ser cheio do Espírito Santo? Na atualidade vemos as pessoas dizendo que alguém é cheio do Espírito Santo, com base no seu comportamento durante o culto, onde não há nenhuma perseguição, principalmente quando a pessoa está com um microfone na mão. Entretanto, ser cheio do Espírito vai muito além do culto e envolve todos os aspectos da nossa vida. 

No capítulo 2 de Atos, no versículo 4, lemos: "E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem." Aqui, claramente se percebe que ser cheio do Espírito significa ser batizado no Espírito Santo. Entretanto, nos Evangelhos, lemos que João Batista e Jesus foram cheios do Espírito Santo. Mas não consta que eles tenham falado em línguas. (Lc 1.41; 4.1). 

O apóstolo Paulo, escrevendo aos Efésios disse: "E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus." (Ef 5.18-21). Ou seja, aqui Paulo diz que cheio do Espírito Santo é alguém que não vive em contendas, que louva e é grato ao Senhor, e que sujeita-se aos outros, no temor do Senhor. 

Escrevendo aos Gálatas, o apóstolo Paulo fala sobre o andar no Espírito, que se contrapõe às obras da carne, que são pecados contra Deus, contra a moral e contra o próximo, que são: imoralidade sexual, impureza, libertinagem, Idolatria, feitiçaria, ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções, inveja, embriaguez, orgias e coisas semelhantes (Gl 5.19-21). Em seguida, Paulo lista nove virtudes inseparáveis, que formam o Fruto do Espírito Santo: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança (domínio próprio) (Gl 5.22). 

Portanto, ser cheio do Espírito Santo pode significar o batismo no Espírito Santo, mas não apenas isso. Ser cheio do Espírito Santo é ser controlado e viver totalmente guiado pelo Espírito Santo. Não é apenas uma ação momentânea, em que o crente é cheio do Espírito Santo hoje e, automaticamente, permanece cheio para sempre. Ser cheio do Espírito Santo é uma ação contínua, que está vinculada à comunhão diária do crente com o Senhor. Ser cheio do Espírito Santo não é uma opção para o crente, que ele pode ou não buscar. É uma necessidade vital, uma questão de sobrevivência espiritual. 

2. A violência dos acusadores. Os acusadores de Estêvão tentaram dar aparência de legalidade à sua execução: Levaram-no ao Sinédrio, para que fosse interrogado; apresentaram duas ou três testemunhas como mandava a Lei mosaica; e o conduziram para fora da cidade, como estava previsto em casos de blasfemadores (Lv 24.14-16; Nm 15.32-36). Entretanto, tanto o julgamento quanto a execução, foram completamente ilegais. Primeiro, porque eles estavam sob o domínio de Roma e não tinham mais autoridade para condenar ninguém à pena capital. Poderiam interrogar e ouvir testemunhas, mas a última palavra em caso de condenação à morte teria que vir de Roma. Segundo, as testemunhas eram falsas e arroladas mediante suborno. Terceiro, eles sequer ouviram os argumentos de Estêvão e não os contestaram mediante a Lei. Simplesmente taparam os ouvidos e violentamente o conduziram para fora da cidade. 

A apostasia e dureza de coração daqueles homens chegou a um grau tão avançado, que eles perderam completamente a racionalidade. Conforme falamos no tópico anterior, eles ignoraram os milagres realizados por Estêvão, que mostravam claramente que Deus estava com ele. Em segundo lugar, desprezaram a brilhante exposição das Escrituras, feita na sabedoria do Espírito Santo, que eles não conseguiram contrapor. Por último, ignoraram o fato de o rosto de Estêvão brilhar como o rosto de um anjo, como acontecera com Moisés, a quem eles diziam prestigiar. Estes três fatos, no mínimo, deveria tê-los levado à reflexão, como fez Gamaliel, em relação aos apóstolos: “Varões israelitas, acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens. Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará, mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la, para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus.” (At 5.35, 38,39). 

Se os opositores de Estêvão tivessem adotado esta cautela, não teriam cometido tamanha injustiça e brutalidade contra o servo do Senhor, pois estava claro que aquela obra era de Deus. Entre os assassinos estava o jovem Saulo de Tarso, que é mencionado pela primeira vez na Bíblia neste triste episódio. Saulo era um fariseu, doutor da Lei e foi aluno de Gamaliel. Certamente ele conhecia a postura adotada por seu mestre no passado. Mesmo assim, possuído pelo ódio aos cristãos consentiu nesta execução violenta, mediante testemunhas falsas e um julgamento ilegal.  

Saulo conhecia tanto a Lei mosaica, quanto o direito romano, pois era doutor da lei e cidadão romano. Mesmo assim, apoiou aquela atrocidade. Depois disso, ainda empreendeu uma caçada violenta aos cristãos em Jerusalém, arrastando homens e mulheres pelas ruas e os conduzindo à prisão. Até que, em uma destas empreitadas, ele teve um encontro com o Senhor Jesus no caminho de Damasco e foi transformado por Ele. A partir daí, passou a ser perseguido. A morte de Estêvão deixou marcas profundas na consciência do jovem Saulo e, anos mais tarde, ele lembrou disso com profunda tristeza, no discurso em sua defesa, após a sua prisão (At 22.20).

3. O perdão no martírio. Estêvao foi um imitador de Cristo, tanto em sua vida, como na morte. Durante a sua vida, Estêvão foi cheio do Espírito Santo, de sabedoria, de fé e poder. Fazia sinais e prodígios e pregou ousadamente o Evangelho. Enfrentou corajosamente as autoridades religiosas, denunciando tanto a perseguição dos seus pais aos profetas, como a dos filhos que crucificaram a Jesus. Jesus também foi cheio do Espírito Santo, de sabedoria e poder, fez muitos milagres e enfrentou os escribas e fariseus muitas vezes, a ponto deles o odiarem. 

Em sua morte, Estêvão também imitou o seu Mestre. Primeiro, ele não cometeu crime algum e foi levado para o matadouro como uma ovelha, sem reclamar. Estêvão apenas pregou a Palavra de Deus e em momento algum procurou se defender, revidar ou proferir palavras de vingança. Segundo, assim como fizera Jesus em sua morte, Estêvão pediu ao Senhor Jesus que perdoasse aos seus algozes por aquele pecado. Por último, Estêvão repetiu o ato do Senhor Jesus na cruz, que entregou o seu espírito ao Pai, dizendo: "Senhor Jesus, recebe o meu espírito". Alguns estudiosos dizem também que Estêvão foi apedrejado no mesmo lugar, onde Jesus foi crucificado, no Monte Gólgota, conhecido como "Lugar da Caveira" (Calvário em latim). 

O Salmo 116 diz: “Preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos” (SI 116.15). Isto não significa que Deus tem prazer em nossa morte, significa que a morte para os salvos é uma vitória. O apóstolo Paulo escrevendo aos Filipenses disse: "Porque para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro". (Fp 1.21). Aos Coríntios, Paulo escreveu: "O último inimigo a ser vencido é a morte". (1 Co 15.26). Um crente cheio do Espírito Santo, que tem certeza da sua salvação, está pronto para morrer pelo Evangelho, pois sabe que a morte, nesse caso, é uma vitória e uma partida para estar com o Senhor e é "incomparavelmente melhor". (Fp 1.26). 

REFERÊNCIAS: 

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pág. 666.

KISTEMAKER, Simon J. Comentário do Novo Testamento Atos. Volume 1. Editora Cultura Cristã. pág. 394-396.

ZIBORDI, Ciro Sanches. Estevão, o primeiro apologista do Evangelho. Editora CPAD. 1 Ed. 2018.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pág. 665-666.

LOPES, Hernandes Dias. Atos, a ação do Espírito Santo na vida da igreja. Editora Hagnos. pág. 164.


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