(Comentário do 3º tópico da Lição 09: O avivamento pentecostal no Brasil)
Ev. WELIANO PIRES
A Assembléia de Deus se espalhava por todo o país, pregando que Jesus salva, batiza no Espírito Santo, cura enfermidades e em breve voltará. Em sua grande maioria, os obreiros assembleianos eram homens simples, com pouca instrução e inexperientes. Devido à grande carência de obreiros para iniciar novos trabalhos e pastorear os que já existiam, muitos crentes com dois anos de fé eram consagrados ao ministério pastoral. Entretanto, estes homens eram homens que tinham vidas consagradas a Deus e conduziam a obra em total dependência do Espírito Santo.
1- Um modelo centrífugo. O modelo de crescimento da Assembléia de Deus no Brasil foi centrífugo, ou seja, de dentro para fora. Cada novo crente, começava a realizar cultos em sua casa e conforme acontecia as conversões, buscavam um lugar maior, até finalmente construir um templo. Este movimento alcançou um crescimento acentuado, não buscando membros de outras Igrejas, mas, buscando os perdidos pelas ruas, através da evangelização, no poder do Espírito Santo.
Devido à nacionalidade dos missionários suecos, a Igreja Sueca passou a dar apoio à missão no Brasil. A Igreja Filadélfia de Estocolmo, fundada pelo pastor Lewi Pethrus, assumiu o sustento de Gunnar Vingren e Daniel Berg e enviou outros missionários para dar suporte aos novos membros e ensinar a Palavra de Deus. Entre estes missionários está o pastor Samuel Nystron, que veio para o Brasil em 1916 e foi o pioneiro da literatura assembleiana, criando a tipografia onde eram impressos o Jornal Boa Semente, calendários, revistas da Escola Dominical e a Harpa Cristã. Dirigiu também os estudos da primeira Escola Bíblica de Obreiros em Belém e lançou a pedra fundamental do primeiro templo da Igreja em Belém-PA. Foi também o segundo presidente do Ministério do Belém, depois de Daniel Berg, que começou o trabalho.
a. A colaboração de outros missionários. A Igreja Filadélfia de Estocolmo enviou também o casal de missionários Joel e Signe Carlson para o Brasil, em 1918. Este casal foram os pioneiros da Assembléia de Deus em Pernambuco. Outros missionários suecos também atuaram no Brasil, nos primeiros anos da Assembléia de Deus:
Otto Nelson: Veio ao Brasil em 1914 e iniciou trabalhos de evangelização em Belém do Pará. Depois, em 1915 foi com a família para Maceió/AL;
Charles Leonard Simon Lundgren: Chegou ao Brasil em 11 de dezembro de 1924, para ajudar o missionário Otto Nelson em Maceió/AL.
Nels Julius Nelson: Chegou ao Brasil em 21 de março de 1921, no Belém/PA, aos 26 anos.
Gustav Nordlund: Veio dos Estados Unidos para Belém/PA e foi um grande líder da Assembleia de Deus gaúcha.
Depois houve grande participação de missionários estrangeiros, como os norte-americanos Orlando Boyer, Bernhard Johnson, Lawrence Olson, John Peter Kolenda, além do finlandês Eurico Bergstén e o polonês Bruno Skolimowski, que veio ao Brasil em busca de trabalho, aqui se converteu ao Evangelho e foi um dos pioneiros das Assembleias de Deus no Paraná e São Paulo. O missionário Bruno Skolimowski também foi presidente do Ministério do Belém em São Paulo.
b. Os primeiros pastores brasileiros. Os primeiros pastores ordenados aqui no Brasil foram: Isidoro Filho (1912); Absalão Piano (1913); Crispiniano de Melo; Pedro Trajano; Adriano Nobre; Clímaco Bueno Aza (1918); José Paulino Estumano de Morais (1919); Bruno Skolimowski (1921). Depois, outros importantes pioneiros da Assembleia de Deus foram ordenados ao ministério pastoral, como Cícero Canuto de Lima, que foi ordenado em 1923 pelo missionário Gunnar Vingren. Este foi pastor em João Pessoa/PB, São Cristóvão/RJ. Foi também presidente do Ministério do Belém de 1946 a 1980 e presidente da Convenção Geral. Outro importante pioneiro da Assembleia de Deus, foi o Pr. Paulo Leivas Macalão, ordenado ao ministério pastoral em 1930, por Gunnar Vingren. Pr. Paulo Leivas Macalão era um militar e músico, que compôs 244 hinos da Harpa Cristã, entre autoria, tradução e adaptação. Foi também o fundador do Ministério de Madureira.
Depois destes vieram muitos pastores que desbravaram campos difíceis e fundaram a Assembleia de Deus em vários lugares como Anselmo Sylvestre (MG), José Pimentel de Carvalho (PR), Alcebíades Pereira de Vasconcelos (AM), Firmino da Anunciação Gouveia (PA), José Amaro da Silva (PE), Estevão Ângelo de Souza (MA), Emílio Conde (RJ), Armando Chaves Cohen (PA), Alfredo Reikdal (SP) João Alves Correia (SP), Rodrigo Silva Santana (BA), José Leôncio da Silva (PE), José Wellington Bezerra da Costa (SP), Manoel Ferreira (SP e RJ), Lupércio Vergniano (SP) e muitos outros, que o espaço não me permite mencionar. Mas o trabalho destes homens de Deus está registrado nos Céus.
2. Um crescimento acentuado. Ao longo dos anos, a Assembléia de Deus cresceu exponencialmente e ultrapassou Igrejas históricas que já estavam no Brasil quando ela começou. Além do próprio crescimento, muitas outras denominações pentecostais surgiram a partir de crentes que se converteram na Assembléia de Deus. Este crescimento é fruto da evangelização de casa em casa, cultos ao ar livre, cultos nos lares, discipulado e Escola Dominical, que são marcas registradas da Assembléia de Deus.
Os censos do IBGE ao longo dos anos comprovam o crescimento da Assembléia de Deus. De um pequeno ponto de pregação na casa da irmã Celina de Albuquerque, esta Igreja se tornou a maior denominação evangélica da América latina e uma das maiores do mundo. Este crescimento não é apenas numérico, mas também em realizações. A Assembléia de Deus é também uma Igreja missionária, que investe em missões e mantém missionários em vários países do mundo.
3. A segunda onda pentecostal do Brasil. Nos primeiros 50 anos do século XX, a Assembléia de Deus e Congregação Cristã se mantiveram como as únicas Igrejas pentecostais no Brasil, embora como já falamos anteriormente, a Congregação Cristã recusa a denominação de pentecostal, mesmo crendo na atualidade dos dons espirituais. Estas duas denominações, embora muito diferentes na organização, nas doutrinas e tendo muitas críticas mútuas, possuíam pelo menos duas características em comum nos primórdios: a ultravalorização dos usos e costumes, confundindo-os com “doutrinas” e a aversão ao estudo teológico. A Assembléia de Deus, pelo menos, ensinava a Palavra de Deus por através das Escolas Dominicais e Escolas Bíblicas de Obreiros. A Congregação Cristã, nem isso fazia, pois entende que basta abrir a Bíblia, ler e aplicá-la àquele momento, sem nenhuma regra de interpretação.
Entre os anos de 1950 e 1962 surgiram, quase simultaneamente em São Paulo, três grupos pentecostais no país: a Igreja do Evangelho Quadrangular (1951), a Igreja Pentecostal o Brasil para Cristo (1955) e a Igreja Pentecostal Deus é Amor (1961). Estas Igrejas quebraram alguns paradigmas das pioneiras do pentecostalismo e ocuparam espaços considerados mundanos por elas, como estádios de futebol, rádios e teatros. Faziam também grandes cruzadas e davam muita ênfase aos testemunhos de curas e milagres, o que acabava atraindo muitos adeptos. Estas Igrejas, no entanto, tinham enormes diferenças entre si.
4. O Neopentecostalismo. Paralelo a esta segunda onda pentecostal, que dava muita ênfase aos milagre, libertação e curas, foi importado dos Estados Unidos para o Brasil, a teologia controversa do movimento da fé, propagado por Kenneth Haggin, mais conhecido como teologia da prosperidade, que apregoa o bem estar físico, o triunfalismo e a prosperidade financeira, como resultado da fé em Deus e que o oposto disso seria falta de fé e ação demoníaca.
Neste contexto nasce o chamado Movimento Neopentecostal, que é uma completa distorção do Movimento Pentecostal. O pioneiro deste movimento no Brasil foi Edir Macedo, que pertencia à Igreja Pentecostal Nova Vida no Rio de Janeiro e fundou a Igreja Universal do Reino de Deus. Posteriormente, o seu cunhado, Romildo Ribeiro Soares, conhecido como R. R. Soares, que também passou pela Igreja Nova Vida e depois pela Casa da Bênção, fundou a Igreja Internacional da Graça de Deus, nos mesmos moldes da Universal. Um bispo muito popular da Universal, chamado Valdemiro Santiago de Oliveira, também rompeu com Edir Macedo e fundou a Igreja Mundial do Poder de Deus. Outra Igreja famosa, do meio neopentecostal, é a Igreja Renascer em Cristo, fundada em 1985 pelo casal Estevam Hernandes Filho e sua esposa, Sônia Haddad Moraes Hernandes. A Renascer é proprietária da Rede Gospel de Comunicação e por algum tempo tentou assumir o controle da extinta Rede Manchete de Televisão.
Estes são os principais expoentes do neopentecostalismo no Brasil, cujas Igrejas se cresceram mediante programas de televisão, com exposição pública de testemunhos de milagres, curas e prosperidade financeira, além de exorcismos. Há também muitas igrejas e comunidades neopentecostais de menor porte, que também estão nas rádios e televisões do Brasil.
REFERÊNCIAS:
RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.
ROMEIRO, Paulo. Super Crentes – O evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os profetas da prosperidade. Mundo Cristão. São Paulo. 4ª reimpressão. 2012.
BERG, David. Daniel Berg, Enviado por Deus: A história de Daniel Berg, um simples aldeão que ajudou a deflagrar o maior movimento pentecostal da história da Igreja, as Assembleias de Deus no Brasil. Editora CPAD. 1 Ed 1995.
VINGREN, Ivar. O Diário do Pioneiro: Gunnar Vingren. Editora CPAD. 5ª Ed 2000.
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