04 dezembro 2025

ESPÍRITO, PECADO E SANTIFICAÇÃO

(Comentário do 2⁰ tópico da Lição 10: Espírito – o âmago da vida humana)

Neste segundo tópico, temos também três tópicos que falam a respeito dos pecados que podem se enraizar no espírito. Trataremos também das raízes do pecado que está na parte imaterial do ser humano (alma e espírito), embora alguns se manifestem também através do corpo. Por fim, veremos como vencer a força do pecado.

1. Pecados do espírito. 

Neste ponto, o comentarista separou os pecados e os catalogou em três categorias: pecados do corpo, pecados da alma e pecados do espírito. Eu penso que é complicado esse tipo de abordagem, pois seria uma espécie de separação do ser humano em três pessoas. Ora, o ser humano é um ser integral e os pecados o atingem por inteiro.

Nas referências mencionadas, o comentarista mencionou alguns pecados como sendo apenas do espírito, como o orgulho, a soberba, a vanglória, a arrogância e a inveja. A primeira referência menciona a “altivez de espírito”:

“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda”. (Pv 16.18).

A Nova Versão Transformadora (NVT), que é uma versão mais dinâmica traduziu este texto assim:

“O orgulho precede a destruição; a arrogância precede a queda.”

Conforme falamos no tópico anterior, os termos ruach (espírito) e nephesh (alma) são usados no Antigo Testamento de forma intercalada para se referir ao espírito, à alma, à própria pessoa ou apenas à parte imaterial. Neste texto de Provérbios 16.18, a expressão altivez do espírito não se refere à origem da altivez e sim à soberba do ser interior (alma e espírito). Em Provérbios 16.17, por exemplo, a Bíblia diz que Deus abomina os “olhos altivos”. Isso não significa que a altivez é um pecado do corpo.

Muitos pecados citados nas outras referências, como sendo pecados do espírito, são pecados que envolvem os sentimentos, emoções e pensamentos, que nós já apresentamos que são faculdades da alma. Além disso, já vimos também que a linha que divide alma e espírito é muito tênue, ou seja, é praticamente imperceptível do ponto de vista humano, a divisão entre alma e espírito, a ponto de alguns os considerarem como a mesma coisa. A Bíblia, de fato, menciona que há distinção e separação entre alma e espírito, mas não explica onde e como acontece. 

2. Raízes do pecado. 

Se não é possível saber se este ou aquele pecado tem origem no espírito ou na alma, podemos afirmar que todos os pecados procedem do nosso ser interior, chamado na Bíblia de espírito, alma e coração. Jesus condenou duramente o legalismo e a hipocrisia dos líderes religiosos da sua época, que se preocupavam apenas com o exterior. Ele ensinou que não é o exterior que contamina o ser humano, mas o que sai do seu interior, pois é de lá que procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituições, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.

No Sermão do Monte, Jesus ensinou que o pecado não acontece apenas quando se materializa no corpo, como pensavam os escribas e fariseus. O Mestre esclareceu vários pontos da Lei e incluiu as intenções na lista de pecados. Por exemplo, Ele disse que a Lei condena o assassinato, mas acrescentou que qualquer que odiar o seu irmão já está implicado nesse pecado. Da mesma forma, a Lei condena o adultério, e Jesus ampliou o entendimento, afirmando que o pensamento impuro também configura esse pecado.

Isso significa que todos os pecados têm origem em nossa parte imaterial — alma e espírito —, embora nem todos se concretizem no corpo, por diversos motivos. Uma pessoa pode odiar alguém e desejar matá-lo, mas não cometer o ato por falta de coragem ou de meios. Perante as leis humanas, isso não é crime; porém, diante de Deus, já houve pecado. Da mesma forma, alguém pode alimentar desejos impuros por outra pessoa e não consumar o ato sexual porque a outra parte não correspondeu. A pessoa não praticou o ato físico, mas cometeu o pecado de adultério (se casada) ou de fornicação (se solteira).

O comentarista chama nossa atenção para a ordem em que o pecado ocorre: do interior para o exterior — ao contrário da criação, que se deu no sentido inverso. Se não atentarmos para isso, cairemos no equívoco do legalismo, que é a supervalorização das regras e atos exteriores em detrimento do interior. Isso é hipocrisia, e foi duramente condenado por Jesus.

3. Vencendo o pecado. 

O pecado domina completamente o ser humano, tornando-o escravo e incapaz de libertar-se por suas próprias forças. Jesus afirmou: “todo aquele que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34). Assim, o ser humano peca porque é pecador por natureza, e é pecador por natureza porque herdou a corrupção espiritual do primeiro pecado.

Ao longo da história, surgiram diversas heresias relacionadas ao pecado e à forma de obter perdão. Uma das primeiras foi o ensino da reencarnação, que interpreta a vida como um ciclo de punições e recompensas baseadas em supostas existências anteriores. Esse pensamento, porém, não se sustenta à luz das Escrituras, que afirmam categoricamente: “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disto o juízo” (Hb 9.27).

Também surgiram doutrinas de autopunição, sacrifícios pessoais e oferendas humanas, presentes em diferentes religiões, como tentativas de “pagar” pelos pecados cometidos. Outras correntes defendem que o ser humano pode, por seus próprios méritos, abandonar o pecado.

Até mesmo dentro do Cristianismo apareceram desvios doutrinários. O Pelagianismo, por exemplo, negava a doutrina da universalidade do pecado, afirmando que a queda afetou apenas Adão e Eva. Depois, o Semipelagianismo admitiu a corrupção da natureza humana, mas insistiu que o ser humano possui capacidade natural para iniciar o processo de salvação e viver sem pecar.

Entretanto, a Palavra de Deus ensina que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23), e que somente por meio do sacrifício de Cristo o pecador pode alcançar perdão e reconciliação, mediante a fé (Jo 1.29; Ef 2.8-10).

Mesmo após ser justificado pela fé em Cristo, o ser humano continua enfrentando a realidade do pecado. Por essa razão, necessita do processo contínuo da santificação, realizado progressivamente pelo Espírito Santo na medida em que nos submetemos ao Seu governo. Como vimos anteriormente, as raízes do pecado estão no interior do ser humano; portanto, isolar-se do mundo ou adotar medidas extremas contra o corpo — como fizeram alguns monges na Idade Média — não elimina o pecado. No máximo, impede que ele se manifeste externamente, mas suas raízes permanecerão vivas no espírito e na alma.

A verdadeira vitória sobre o pecado não está em esforços humanos, mas na ação redentora de Cristo e na obra santificadora do Espírito Santo, que transforma o interior do crente e o capacita a viver em obediência à vontade de Deus.

Ev WELIANO PIRES 

03 dezembro 2025

O SOPRO DIVINO: A CONCESSÃO DO ESPÍRITO

(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 10: Espírito – o âmago da vida humana)

No primeiro tópico, temos três subtópicos que nos mostram que Deus concedeu o espírito ao primeiro homem, após soprar em suas narinas, e ele se tornou um ser espiritual, com plena condição de ter comunhão com o seu Criador. Trataremos ainda da tênue divisão entre alma e espírito. 

1. O fôlego da vida. 

Como é padrão nas lições deste trimestre, o comentarista retorna ao período da criação do ser humano para explicar o surgimento do espírito humano. Em Gênesis 2.7 lemos:

“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.”

A primeira parte do versículo trata da formação do corpo humano, que se deu a partir de uma matéria criada anteriormente — o pó da terra. A palavra hebraica traduzida por “formou” é yâtsar, que significa formar, dar forma ou moldar um objeto com as mãos, como faz um oleiro com o barro. É diferente da palavra bârâ, que significa criar no sentido de chamar à existência algo que não existia, tendo sempre Deus como agente exclusivo.

Todas as demais criaturas de Deus foram criadas (bârâ) desse modo, por meio de Sua ordem. O corpo humano, porém, não surgiu a partir de uma ordem criadora dada à matéria. Ele foi formado pessoalmente por Deus, tendo a terra como matéria-prima. Após essa formação, o corpo permaneceu inerte e sem vida, e não recebeu a vida por simples comando divino, como ocorreu com os animais.

O próprio Deus comunicou ao homem o fôlego de vida (heb. neshamá chay) mediante um sopro em suas narinas. Esse fôlego não se reduz ao ato biológico da respiração, mas se refere à vida que procede diretamente de Deus. Já o verbo “soprar”, no texto hebraico (nâphach), pode significar respirar, soprar, cheirar, inflamar, entregar ou perder (a vida). Aqui, indica que Deus entregou vida ao ser humano.

Após esse sopro divino, a parte imaterial do ser humano — composta por alma e espírito — foi inserida no corpo, e ele se tornou um ser vivente (nephesh chayyah). Essa parte imaterial distingue o ser humano de todas as outras criaturas, pois o torna imagem e semelhança de Deus, capaz de pensar, sentir, exercer vontade, desenvolver consciência e relacionar-se com o Criador.

2. A singularidade do espírito. 

Quando o comentarista fala de singularidade do espírito é uma referência ao fato de que, apesar de o termo hebraico “ruach” - traduzido por espírito, e o termo nepesh - traduzido por alma, serem usados de forma intercambiável, para se referir à parte imaterial do ser humano, não são a mesma coisa. 

Tanto no Antigo como no Novo Testamento há referências à alma e ao espírito como componentes distintos, embora sejam inseparáveis. O comentarista usou como exemplo da distinção dos três componentes da tricotomia humana no Antigo Testamento, o texto de Jó 7.11, que diz:

“Por isso não reprimirei a minha boca [corpo]; falarei na angústia do meu espírito [espírito]; queixar-me-ei na amargura da minha alma [alma]”. 

Nas demais referências, ele chama a nossa atenção para o uso de alma e espírito, de forma alternada, para se referir aos dois componentes, que formam a parte imaterial do ser humano (Gn 35.18; 45.27; 1Sm 30.12; 1Rs 17.21; Sl 146.4; Ec.12.7).

No Novo Testamento também em vários textos, usa-se o termo alma para se referir aos dois componentes, como em Apocalipse 2.4: 

“... e vi as almas [Gr psychḗ] daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos…”. 

Almas neste texto, evidentemente se refere a alma e espírito, pois ambos não se separam, nem mesmo na morte. Da mesma forma, quando Jesus falou “perder a sua alma”, é uma referência a alma e espírito: 

“Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?” (Mc 8.36).

3. A tênue divisão. 

Na primeira lição deste trimestre, falamos sobre a tricotomia humana e explicamos que há outra corrente teológica no meio evangélico que crê na dicotomia. Ou seja, os dicotomistas afirmam que o ser humano é formado apenas por duas partes: uma material — o corpo — e outra imaterial — a alma ou o espírito, que consideram ser a mesma realidade. Entretanto, como vimos anteriormente, a Bíblia apresenta em vários textos que alma e espírito são distintos, embora inseparáveis.

Sobre a distinção entre alma e espírito a Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil afirma: 

“A alma e o espírito são substâncias espirituais incorpóreas e invisíveis. Apesar dessas características comuns, são entidades distintas, porém inseparáveis; são os dois lados da substância não física do ser humano, o “homem interior” (Ef 3.16). […] Ensinamos que o espírito é uma entidade distinta da alma, que, às vezes, é confundida com ela porque os dois elementos são inseparáveis e de substância imaterial”. 

Do ponto de vista humano, não é simples explicar ou determinar exatamente onde está a divisão entre alma e espírito. Por isso o comentarista usa a expressão “tênue divisão”, indicando tratar-se de algo sutil e difícil de perceber. Ainda assim, a Bíblia mostra claramente que essa divisão existe:

“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” (Hb 4.12)

“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1 Ts 5.23).

Concluímos, portanto, que apesar das discussões teológicas — com argumentos e fragilidades de ambos os lados — e da dificuldade humana de compreender exatamente onde ocorre a separação entre alma e espírito, a Palavra de Deus demonstra claramente que ambos são distintos, ainda que a divisão entre eles seja tênue.

Ev. WELIANO PIRES 

Referência: 

SOARES, Esequias. Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2017, p.42

01 dezembro 2025

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 10: ESPÍRITO — O ÂMAGO DA VIDA HUMANA

Data: 7 de dezembro de 2025

TEXTO ÁUREO:

“Peso da Palavra do Senhor sobre Israel. Fala o Senhor, o que estende o céu, e que funda a terra, e que forma o espírito do homem dentro dele.” (Zc 12.1).

VERDADE PRÁTICA:

“Uma vez livre, nossa alma recebe vida espiritual e dirige nosso corpo para adorar e servir ao Criador”. 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE:

Gênesis 2.7; Eclesiastes 12.7; Zacarias 12.1; João 4.24.


OBJETIVOS DA LIÇÃO:

I) Expor que o espírito humano foi concedido diretamente por Deus como parte essencial da natureza humana, capacitando o ser humano a ter comunhão com o Criador; II) Enfatizar que o pecado pode enraizar-se no espírito, gerando atitudes como soberba e inveja; III) Mostrar que a regeneração espiritual é a base para uma vida de adoração genuína, vivida “em espírito e em verdade”.


PALAVRA-CHAVE: ESPÍRITO

A palavra "espírito" na Bíblia é a tradução do termo hebraico ruach e de seu correspondente grego pneuma. O significado desses termos inclui vento, fôlego e espírito, sendo, portanto, uma palavra polissêmica, ou seja, com vários significados. O contexto determinará o sentido específico no texto.

No Antigo Testamento, o termo ruach aparece logo no segundo versículo de Gênesis, referindo-se ao Espírito de Deus: “... e o Espírito de Deus (Ruach Elohim) se movia sobre a face das águas”. Aqui, há uma referência clara à Pessoa do Espírito Santo.

Na ocasião da abertura do Mar Vermelho, o termo ruach se refere ao vento de forma literal e não a um espírito: “... e o Senhor fez retirar o mar por um forte vento (ruach) oriental, toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas” (Êx 14.21).

Em Eclesiastes 12.7, ruach é utilizado para se referir à parte imaterial do ser humano, composta por espírito e alma: “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito (ruach) volte a Deus, que o deu”.

Em outros textos, como Provérbios 18.14, ruach é usado para indicar o ânimo interior ou a disposição emocional: “O espírito (ruach) do homem aliviará a sua enfermidade, mas ao espírito (ruach) abatido quem o levantará?”.

O termo ruach também pode se referir aos anjos, como no Salmo 104.4: “Faz dos seus anjos espíritos (ruach), dos seus ministros (malak) um fogo abrasador”. Embora malak seja o termo mais comum para se referir aos anjos no Antigo Testamento, significando "mensageiro" ou "ministro", ruach também é utilizado para essa finalidade.

Além disso, ruach pode se referir aos demônios, que são anjos que se rebelaram contra Deus: “E o espírito do Senhor (Ruach Elohim) se retirou de Saul, e o assombrava um espírito mau (ruach rah) da parte do Senhor”. Neste caso, o adjetivo rah significa "mau" ou "maligno".

No Novo Testamento, o termo grego pneuma, correspondente ao hebraico ruach, também pode significar vento (Jo 3.8), o espírito humano (1 Co 2.11), um anjo (Hb 1.14), um espírito maligno (Mc 9.25) ou o Espírito Santo (At 13.2). Além disso, o verbo pneo significa soprar ou respirar (Mt 7.25; At 17.25).

Para esta lição, vamos focar no sentido de espírito como o âmago, o centro profundo do ser humano — a parte que transcende a vida física e se conecta com Deus.

INTRODUÇÃO

Após estudarmos três lições sobre o corpo humano e cinco sobre a alma humana e suas faculdades, iniciamos agora três lições dedicadas ao espírito humano. Nesta primeira lição, veremos que o espírito é o âmago, ou seja, a parte mais profunda do ser humano, que transcende a vida física e se conecta com Deus. 

Abordaremos como o Criador nos comunicou o espírito e faremos uma análise das distinções entre espírito e alma. Também discutiremos a importância do espírito para nossa comunhão com Deus, especialmente nos processos de santificação e adoração. 

Nas duas lições seguintes, estudaremos sobre o espírito humano e as disciplinas cristãs, e sobre a profunda comunhão entre o espírito humano e o Espírito de Deus. Por fim, teremos uma lição conclusiva, sobre o assunto estudado neste trimestre, com o título: Preparando o corpo, a alma e o espírito para a Eternidade. 

PALAVRA-CHAVE: ESPÍRITO

A palavra "espírito" na Bíblia é a tradução do termo hebraico ruach e de seu correspondente grego pneuma. O significado desses termos inclui vento, fôlego e espírito, sendo, portanto, uma palavra polissêmica, ou seja, com vários significados. O contexto determinará o sentido específico no texto.

No Antigo Testamento, o termo ruach aparece logo no segundo versículo de Gênesis, referindo-se ao Espírito de Deus: “... e o Espírito de Deus (Ruach Elohim) se movia sobre a face das águas”. Aqui, há uma referência clara à Pessoa do Espírito Santo.

Na ocasião da abertura do Mar Vermelho, o termo ruach se refere ao vento de forma literal e não a um espírito: “... e o Senhor fez retirar o mar por um forte vento (ruach) oriental, toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas” (Êx 14.21).

Em Eclesiastes 12.7, ruach é utilizado para se referir à parte imaterial do ser humano, composta por espírito e alma: “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito (ruach) volte a Deus, que o deu”.

Em outros textos, como Provérbios 18.14, ruach é usado para indicar o ânimo interior ou a disposição emocional: “O espírito (ruach) do homem aliviará a sua enfermidade, mas ao espírito (ruach) abatido quem o levantará?”.

O termo ruach também pode se referir aos anjos, como no Salmo 104.4: “Faz dos seus anjos espíritos (ruach), dos seus ministros (malak) um fogo abrasador”. Embora malak seja o termo mais comum para se referir aos anjos no Antigo Testamento, significando "mensageiro" ou "ministro", ruach também é utilizado para essa finalidade.

Além disso, ruach pode se referir aos demônios, que são anjos que se rebelaram contra Deus: “E o espírito do Senhor (Ruach Elohim) se retirou de Saul, e o assombrava um espírito mau (ruach rah) da parte do Senhor”. Neste caso, o adjetivo rah significa "mau" ou "maligno".

No Novo Testamento, o termo grego pneuma, correspondente ao hebraico ruach, também pode significar vento (Jo 3.8), o espírito humano (1 Co 2.11), um anjo (Hb 1.14), um espírito maligno (Mc 9.25) ou o Espírito Santo (At 13.2). Além disso, o verbo pneo significa soprar ou respirar (Mt 7.25; At 17.25).

Para esta lição, vamos focar no sentido de espírito como o âmago, o centro profundo do ser humano — a parte que transcende a vida física e se conecta com Deus.

TÓPICOS DA LIÇÃO

I. O SOPRO DIVINO: A CONCESSÃO DO ESPÍRITO

No primeiro tópico, temos três subtópicos que nos mostram que Deus concedeu o espírito ao primeiro homem, após soprar em suas narinas, e ele se tornou um ser espiritual, com plena condição de ter comunhão com o seu Criador. Trataremos ainda da tênue divisão entre alma e espírito. 

II. ESPÍRITO, PECADO E SANTIFICAÇÃO

Neste segundo tópico, temos também três tópicos que falam a respeito dos pecados que podem se enraizar no espírito. Trataremos também das raízes do pecado que está na parte imaterial do ser humano (alma e espírito), embora alguns se manifestem também através do corpo. Por fim, veremos como vencer a força do pecado.

III. REGENERAÇÃO E ADORAÇÃO

No terceiro tópico, temos três tópicos a respeito da regeneração e adoração. Iniciaremos com a experiência espiritual do Novo Nascimento. Veremos também que é indispensável a compreensão da obra do novo nascimento para uma correta adoração. Por fim, veremos que a verdadeira e pura adoração nasce de um espírito quebrantado, ou seja, da simplicidade, que não busca a exaltação humana.


Ev. WELIANO PIRES

ESPÍRITO — O ÂMAGO DA VIDA HUMANA

(SUBSÍDIO DA REVISTA ENSINADOR CRISTÃO/CPAD)

Nesta lição, veremos outra particularidade do interior humano. Assim como esboçamos o corpo e a alma nas lições anteriores, o espírito também constitui a tríplice formação humana. Semelhante à alma, que precisa ser cuidada a fim de que a nossa afetividade e racionalidade estejam santificados para Deus, nosso espírito também carece de estar em profunda comunhão e unidade com o Espírito de Deus. O espírito é a parte do interior humano, pelo qual, podemos ter contato com o sobrenatural divino. Essa distinção da alma pode ser notada de maneira mais clara quando oramos ou expressamos adoração a Deus. Nosso interior sente a presença do Espírito Santo e recebemos o seu fortalecimento espiritual, por exemplo, ao término de um culto. Essa experiência é uma evidência notável de que o nosso ser é constituído não apenas de corpo e alma, mas também do espírito que carece de fortalecimento e revestimento (Ef 6.10,11; Cl 3.10).

Vale destacar que nosso Senhor mencionou que os verdadeiros adoradores são aqueles que adoram em “espírito e em verdade” (cf. Jo 4.23,24). Note que a verdadeira e pura adoração é percebida de maneira transparente pelo Espírito de Deus ao sondar o nosso interior, a saber, o nosso espírito e, portanto, não há nada que possamos ocultar aos seus olhos. Assim sendo, não há como ocultar quem somos em nosso mais íntimo interior. Por essa razão, uma adoração verdadeira só pode ser oferecida por aqueles que já experimentaram do novo nascimento.

Conforme discorre o Comentário Bíblico Pentecostal — Novo Testamento (CPAD), “[...] o significado de ‘maneira verdadeiramente espiritual diz respeito à natureza do crente que Jesus criou pelo Espírito. O nascido de novo assume a natureza espiritual de Deus, e assim tem a capacidade de comunicar-se e comungar com Deus. Num estado não-regenerado, ninguém entende o ensino de Jesus, que é de cima. Além do mais, a afirmação ‘Deus é espírito’ do versículo 24 alude à essência de Deus, mas indica que Deus é de natureza espiritual. Para que as pessoas se comuniquem com Ele, elas também têm de ter uma natureza semelhante.” (Volume 1, 2003, pp.512,513). 

Nessa perspectiva, podemos entender que o nosso espírito também precisa ser santificado e consagrado a Deus. Qualquer crente que almeja servir a Deus com sinceridade e verdade, precisa abster o seu espírito de qualquer distração que o faça perder de vista a adoração completa a Deus. Afinal de contas, o Senhor não divide a sua glória com ninguém (Is 42.8). Que o nosso espírito, alma e corpo sejam dedicados com exclusividade para adorar a Deus (1Ts 5.23).

FONTE: Revista Ensinador Cristão, CPAD, Ed. 103, p.41.

27 novembro 2025

O ENSINO SOBRE OS DESEJOS, EM TIAGO

(Comentário do 3º tópico da Lição 9: A contade - o que move o ser humano)

No terceiro e último tópico, trataremos do ensino de Tiago a respeito dos desejos. Abordaremos a relação entre atração e engano. Tiago utiliza a palavra concupiscência para se referir aos desejos carnais que afetam a razão humana e levam o ser humano a pensar que o pecado não traz consequências. Em seguida, falaremos da necessidade de abortar os maus desejos e interromper o processo da tentação, que induz o ser humano ao pecado.

1. Atração e engano.

No texto de Tiago 1.14-15, integrante da leitura bíblica em classe, o apóstolo declara:

“Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.”

A partir do versículo 12, Tiago passa a tratar especificamente da temática da provação e da tentação. Ele afirma:

“Bem-aventurado o varão que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam.” (Tg 1.12, ARC)

A palavra grega traduzida por “tentação” na versão Almeida Revista e Corrigida é peirasmós, termo que designa experimento, tentativa, teste ou prova, no sentido de submeter alguém a um exame de fidelidade. A Nova Versão Transformadora (NVT) verte este vocábulo por “provação”, tradução mais adequada ao contexto imediato, especialmente porque no versículo subsequente Tiago declara:

“Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta.”

Embora a mesma verbo grego— peirádzō — seja empregada tanto para “tentar” quanto para “provar”, o seu significado varia conforme o contexto. Em determinados casos, refere-se a testar alguém de maneira maliciosa, com o intuito de induzi-lo ao pecado. Tal modalidade de tentação é atribuída ao diabo e aos espíritos malignos, cujo propósito é conduzir o ser humano às práticas pecaminosas.

No sentido positivo, contudo, Peirádzō descreve o ato de provar ou examinar a fidelidade de alguém, não com o propósito de instigá-lo ao mal, mas de revelar e fortalecer sua integridade por meio da experiência. Nesse âmbito, trata-se da provação que procede de Deus. Cabe ressaltar que o Senhor não permite que sejamos provados além de nossa capacidade e jamais nos abandona no processo da provação.

Após afirmar que bem-aventurado é aquele que suporta a provação e que Deus não tenta ninguém — visto que não pode ser tentado pelo mal — Tiago descreve o percurso que conduz do desejo ilícito à consumação do pecado.

A tentação se estabelece quando o ser humano é atraído, como presa conduzida a uma armadilha, e engodado, como peixe seduzido por uma isca. Tal atração e sedução se dão por meio da cobiça. O termo grego utilizado, epithumía, anteriormente traduzido por “concupiscência”, indica desejo intenso, anseio profundo, ou mesmo desejo por aquilo que é moralmente proibido, como as expressões de luxúria. As traduções mais recentes adotam, de forma apropriada, o termo “cobiça”.

Uma vez atraído e seduzido, o indivíduo permite que a cobiça “conceba”, gerando o pecado. Tiago emprega o verbo grego syllambánō, aqui traduzido por “concebido”, em sentido figurado, para ilustrar o ato de ceder à tentação. Assim, o pecado é engendrado na alma humana e, quando plenamente consumado, produz a morte espiritual, entendida como o rompimento da comunhão com Deus.

2. Abortando o processo.

Em qualquer uma das fases anteriormente mencionadas, é possível interromper o processo da tentação e impedir que o pecado se concretize. Conforme exposto, a tentação se estabelece quando o indivíduo é atraído e seduzido por seus próprios desejos. Ciente disso, o inimigo se empenha em apresentar a cada pessoa aquilo que exerce maior poder de atração sobre ela e, de maneira sutil, induz à ideia de que não há mal algum na prática tentadora.

É fundamental ressaltar que o inimigo não possui os atributos divinos da onisciência e da onipresença; ele não conhece nossos pensamentos e intenções, nem está presente em todos os lugares simultaneamente. Todavia, mediante a atuação de seu exército organizado, é capaz de observar a conduta humana, identificar vulnerabilidades e preparar a dose de tentação adequada para cada indivíduo. Assim, alguém que sempre rejeitou o cigarro, mesmo antes da conversão, dificilmente será tentado nessa área; contudo, poderá ser confrontado com tentações condizentes com suas fragilidades, como seduções de cunho moral ou propostas ilícitas de benefício financeiro.

a) Abortando a tentação na fase da atração. Para impedir que a atração inicial evolua para sedução e, posteriormente, para o pecado, alguns princípios são essenciais:

  1. Andar no Espírito
    Andar no Espírito impede que a carne encontre ocasião para manifestar seus impulsos, direcionando a inclinação do crente para as coisas de Deus. Uma vida de comunhão — marcada por oração, jejum, leitura e meditação na Palavra — impede que os desejos carnais encontrem espaço no interior do cristão.

  2. Vigilância e fechamento de brechas
    É imprescindível evitar ambientes, situações e influências que possam despertar ou intensificar desejos ilícitos. A vigilância constante previne que a atração se transforme em consentimento.

b) Abortando a tentação após a concepção do pecado. Caso a tentação avance e o pecado seja “concebido”, ainda assim existe a possibilidade de interromper o processo. Isso se dá por meio de:

  • Recepção humilde da repreensão do Senhor através das Escrituras;

  • Reconhecimento do perigo espiritual e súplica por perdão;

  • Afastamento imediato de toda aparência do mal.

Se o pecado já alcançou o nível do pensamento, ele foi gerado, mas ainda pode ser abortado. Quando o desejo pecaminoso deixa de ser alimentado, morre por inanição. Entretanto, se continuar sendo nutrido, chegará à consumação e conduzirá o crente à morte espiritual.

c. Após a consumação do pecado: ainda há esperança? Mesmo na fase final, quando a cobiça gerou o pecado e este se consumou, ainda há esperança de restauração. O apóstolo João declara:

“Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. E Ele é a propiciação pelos nossos pecados; e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.” (1 Jo 2.1-2)

Enquanto estivermos neste mundo, sujeitos à natureza pecaminosa, estamos propensos a cair. O dever cristão é vigiar e orar para não entrar em tentação. Todavia, caso o pecado se concretize — excetuando-se a blasfêmia contra o Espírito Santo, que é imperdoável — ainda existe possibilidade de perdão. Jesus Cristo permanece como nosso Advogado diante do Pai, pronto a conceder-nos perdão mediante sincero arrependimento, conforme afirma João:

“Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” (1 Jo 1.9)

Ev. WELIANO PIRES

26 novembro 2025

DESEJOS: DA ESCRAVIDÃO À REDENÇÃO

(Comentário do 2º tópico da Lição 9: Vontade - o que move o ser humano)

No segundo tópico, trataremos dos desejos, desde a escravidão até a redenção. Iniciaremos abordando a experiência de Israel no deserto, que, mesmo tendo sido liberto da escravidão no Egito, continuou cativo de seus próprios desejos. Em seguida, falaremos sobre os desejos no contexto cristão. Mesmo tendo sido salvos por Cristo, enquanto estivermos neste corpo mortal continuaremos convivendo com a natureza pecaminosa. Por fim, analisaremos a decisão do homem redimido de subjugar seus desejos carnais e ser guiado pelo Espírito.

1. A experiência do deserto.

Israel é o único povo na terra que foi formado exclusivamente por Deus, para que, por meio dele, nascesse o Salvador do mundo. Antes da existência de Israel, Deus chamou um homem em Ur dos Caldeus, na antiga Mesopotâmia, cujo nome era Abrão. Este homem era casado com Sarai, sua esposa, vivia com seus pais e irmãos e não tinha filhos.

Deus chamou Abrão diretamente e ordenou que ele deixasse sua terra, seus parentes, e fosse para uma terra desconhecida, que Ele haveria de lhe mostrar. Deus prometeu abençoá-lo e fazer dele uma grande nação. Abrão saiu com Sarai, sua esposa, e levou consigo o sobrinho Ló, filho do seu irmão Harã, que já havia falecido.

No meio do percurso, os empregados de Abrão e Ló se desentenderam, e eles tiveram que se separar. Dez anos se passaram desde que Abrão e Sarai chegaram a Canaã, com a promessa de Deus de que seriam pais de uma grande multidão. Nessa ocasião, Abrão já estava com 85 anos, e Sarai com 75. Pelos meios naturais, seria impossível gerarem filhos. Além da esterilidade de Sarai, que nunca tivera filhos, ela já tinha idade avançada e o ciclo menstrual encerrado.

Diante deste quadro, Sarai entendeu que seria impossível gerar filhos e teve uma ideia para "ajudar" a Deus no cumprimento da promessa. Ela disse a seu esposo: "Eis que o Senhor me tem impedido de dar à luz; toma, pois, a minha serva; porventura terei filhos dela" (Gn 16.2).

Esta atitude de Sarai era compreensível do ponto de vista cultural, legal e humano, pois era uma prática comum na sociedade da época. Sem questionar a atitude precipitada de Sarai, Abrão deu ouvidos à sua esposa e fez o que ela sugeriu. Sarai errou ao tentar "ajudar a Deus" com uma atitude precipitada, mas Abrão também falhou, pois ele era o patriarca da família e foi a ele que Deus fez as promessas.

Deste relacionamento de Abrão com Agar, sua serva, nasceu Ismael, que se tornou o pai dos povos árabes. Treze anos depois, o Senhor apareceu a Abrão, identificando-se como "Deus Todo-Poderoso" (heb. El Shadday) e reafirmou a promessa de que ele teria um filho, mas deixou claro que seria filho de sua esposa, Sarai. Em seguida, Deus mudou o nome de Abrão, que significa "pai exaltado", para Abraão, que significa "pai de uma multidão". Mudou também o nome de Sarai, que significa "princesa", para Sara, que significa "minha princesa".

Finalmente, nasceu Isaque, o filho da promessa, quando Abraão tinha cem anos e Sara 90. O nome "Isaque" (riso) foi dado porque Sara riu ao ouvir a promessa de que seria mãe aos 90 anos. De Isaque, Deus escolheu seu filho mais novo, Jacó, para, através dele, formar a nação de Israel. Jacó era o filho preferido de sua mãe, Rebeca, enquanto seu irmão Esaú era o preferido de seu pai, Isaque.

Essas preferências familiares geraram um grande conflito entre os irmãos, a ponto de Esaú decidir matar Jacó, que foi forçado a fugir de casa para salvar a sua vida. Orientado por seu pai, Isaque, Jacó foi para Harã, terra de sua mãe, para morar com seu tio Labão. De duas mulheres e duas concubinas, Jacó teve doze filhos e uma filha. Os doze filhos de Jacó formaram a nação de Israel. José, o filho preferido de Jacó, foi vendido como escravo por seus próprios irmãos. Esse acontecimento, no entanto, fazia parte do plano de Deus para torná-lo governador do Egito.

Como governador, José trouxe seu pai e toda a sua família para morar no Egito. Após a morte de José e de todos os seus irmãos, levantou-se um novo rei no Egito que não conhecia José e decidiu escravizar o povo de Israel. Essa escravidão foi extremamente cruel e dolorosa para os israelitas, pois, além da opressão do trabalho escravo, os egípcios matavam seus filhos recém-nascidos para impedir o crescimento do povo israelita.

Mas Deus estava no controle da situação e libertou Israel da escravidão, conduzindo-os à terra prometida sob a liderança de Moisés. O processo de libertação contou com muitos milagres da parte de Deus, que enviou dez pragas sobre os egípcios, mas essas pragas não atingiram os israelitas.

Diante de todo o cuidado de Deus para com Israel — desde a chamada de Abraão, passando pela vida de Isaque, Jacó e José, e, finalmente, a libertação da escravidão — Israel deveria ser o povo mais grato a Deus. Entretanto, não foi isso que aconteceu. Após saírem da escravidão e começarem a peregrinação pelo deserto, o povo de Israel murmurou várias vezes e sentiu saudades do Egito, tornando-se escravo de seus próprios desejos, como podemos ver no Salmo 106.14-15:

“Mas deixaram-se levar pela cobiça no deserto, e tentaram a Deus na solidão. E Ele lhes cumpriu o seu desejo, mas enviou magreza às suas almas.”

Apesar de todas as maravilhas realizadas por Deus no Egito e no deserto, os israelitas lembravam-se das comidas do Egito (Nm 11.5-6) e lamentaram-se pela falta de comida. Tomados pela ingratidão, desejaram retornar à escravidão, de onde Deus milagrosamente os libertou (Êx 20.2; Dt 26.8). Esta é uma triste característica da pessoa que se torna escrava dos próprios desejos e passa a cultuá-los como um ídolo. Esta filosofia é chamada de hedonismo, que é a busca do prazer a qualquer custo. 

O apóstolo Paulo nos alertou sobre o perigo de seguir nossos próprios desejos sem discernimento, tomando como base o exemplo do povo de Israel no deserto (1Co 10.1-13). Seguir nossos próprios desejos, como os israelitas, pode levar à destruição. Por isso, é necessário aprender com a experiência do povo de Israel e buscar satisfação em Deus, e não em nossos desejos momentâneos.

Paulo escreveu também que a história de Israel foi registrada como advertência para nós:

"Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança" (Rm 15.4).

2. Os desejos na era cristã. 

Uma certa igreja neopentecostal que tem uma pomba como símbolo utiliza uma prática exótica em seus programas de televisão: coloca cigarros, bebidas alcoólicas e entorpecentes diante de ex-viciados como prova de que foram libertos. As pessoas, ao terem contato com essas substâncias, fazem cara de nojo e afirmam que não sentem mais nenhuma vontade de consumi-las.

Muitos cristãos, equivocadamente, pensam que, após a conversão, estão totalmente livres dos maus desejos. No entanto, quando nos convertemos a Cristo, nossa velha natureza pecaminosa não é eliminada, mas sim subjugada. Ela continua dentro de nós, e precisamos lutar contra ela o tempo todo, enquanto estivermos neste corpo mortal.

Entretanto, o Espírito Santo passa a habitar em nós, e recebemos também uma nova natureza, segundo os padrões de Deus. Passamos a ter não apenas o desejo de agradar ao Senhor, mas também o poder do Espírito, que nos fortalece e nos capacita a vencer a velha natureza. Aliás, sem o poder do Espírito ninguém consegue vencer sozinho. Por isso, o apóstolo Paulo escreveu:

“Andai em Espírito e não cumprireis as concupiscências da carne.” (Gl 5.16) 

3. A decisão do homem redimido. A obra da salvação realizada por Cristo nos liberta do poder do pecado. Diante dos desejos da carne e da vontade do Espírito, o homem redimido inclina-se “para as coisas do Espírito” (Rm 8.5). Isso é resultado de sua nova natureza (Ef 4.24; 2Co 5.17). Significa que não podemos nos conformar com os desejos do velho homem, mas, pelo poder do Espírito, nos dedicar ao processo de mortificação de nossa carne, a velha natureza (Rm 8.11-13; Cl 3.5). Nossos desejos pecaminosos não deixam de existir, mas em Cristo triunfamos sobre eles; vivendo, andando e frutificando no Espírito (Gl 5.22-25; 1Jo 3.6).

A obra da salvação tem seu início no sacrifício de Cristo por nós. Sem esse sacrifício, não haveria possibilidade de salvação através de obras, sofrimento ou merecimento. Todos somos pecadores e incapazes de alcançar a salvação por meios próprios. Por isso o apóstolo Paulo escreveu:

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.” (Ef 2.8-10).

Antes da conversão, todos nós estávamos mortos em nossos pecados e ofensas, e éramos, por natureza, inimigos de Deus. Entretanto, Deus, rico em misericórdia, decidiu nos salvar e ofereceu o único meio possível: o Cordeiro que tira o pecado do mundo, Jesus Cristo, o Justo. 

O Espírito Santo comunica esta mensagem ao pecador e influencia sua vontade para que possa crer em Deus. Contudo, o ser humano continua tendo a responsabilidade de aceitar ou rejeitar a salvação. A obra da salvação consiste em um processo que envolve três aspectos:

3.1. Justificação. A partir do momento em que alguém crê em Cristo e o recebe como Senhor e Salvador, inicia-se o processo da obra da salvação. A primeira etapa é a justificação. A justificação é um termo jurídico que se refere ao cancelamento da sentença de alguém culpado. Esse cancelamento só pode ser feito pela parte ofendida — Deus. Ele declara o pecador justo, não por seus próprios méritos, mas pelos méritos de Cristo, que lhe são atribuídos.

3.2. Regeneração. A segunda etapa é a regeneração, ou novo nascimento. Trata-se da criação de uma nova natureza no ser humano, conforme Deus, inclinada para as coisas espirituais. A pessoa regenerada passa a ter uma nova mentalidade e é transferida da morte para a vida (Jo 3.3–7; 2Co 5.17; Tt 3.5). A regeneração não elimina a natureza pecaminosa, mas introduz uma nova natureza que entra em conflito com a antiga.

3.3. Santificação. A terceira etapa é a santificação, uma obra realizada pelo Espírito Santo no interior do crente, capacitando-o a se afastar do pecado e a aproximar-se de Deus. A santificação possui três dimensões:

a) Santificação Posicional. Acontece no momento da conversão, quando Deus nos separa para Si e nos declara santos.

b) Santificação Progressiva. É o processo contínuo de transformação ao longo da vida, que nos capacita a lutar contra o pecado, crescer em obediência e tornar-nos cada vez mais parecidos com Cristo.

c) Santificação Futura (Glorificação). É o estágio final da salvação, quando receberemos um corpo glorificado e estaremos completamente livres da presença do pecado. Somente nesse estágio seremos plenamente perfeitos, com um caráter completamente semelhante ao de Cristo.

Ev. WELIANO PIRES

ESPÍRITO, PECADO E SANTIFICAÇÃO

(Comentário do 2⁰ tópico da Lição 10: Espírito – o âmago da vida humana) Neste segundo tópico, temos também três tópicos que falam a respei...