24 março 2023

O CLAMOR PELO AVIVAMENTO


(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 13: Aviva ó Senhor a tua obra)

Ev. WELIANO PIRES


No primeiro tópico falaremos sobre o clamor pelo avivamento. Veremos a intercessão angustiada do profeta Habacuque, que após ter uma visão sobre os horrores da invasão babilônica e diante da aparente indiferença de Deus, fez uma oração, questionando a Deus, perguntando até quando ele clamaria a não teria resposta. Veremos também a resposta imediata de Deus ao profeta. 


1- A intercessão angustiada do profeta. Não temos informações sobre o profeta Habacuque em seu livro, ou em outra parte da Bíblia sobre a pessoa do profeta. O livro o identifica apenas como “o profeta Habacuque”. Isso pode ser um indicativo de que ele era bem conhecido. O nome Habacuque significa “aquele que abraça” e, no final da sua profecia, o nome faz sentido, pois, o profeta se apegou a Deus. 

As referências ao templo (Hc 2.20) e a oração em forma de canto no capítulo 3, com referência ao cantor-mor e instrumentos musicais, são indicativos de que Habacuque deve ter sido um levita e cantor do templo. Habacuque iniciou seu ministério por volta do ano 609 a.C., no governo de Jeoaquim, rei de Judá (2 Rs 23.30-34) e profetizou durante os últimos momentos do império da Assíria e início da ascensão da Babilônia. Foi contemporâneo de Jeremias, Ezequiel, Daniel e Sofonias. 

O livro de Habacuque começa com a perplexidade do profeta diante da violência e da iniquidade que presenciava. Diante disso, ele clamou a Deus com várias perguntas, questionando porque Deus não o respondia e permitia que os ímpios (Caldeus) punissem ao povo de Israel (Hc 1.4-6). No capítulo 2, o Senhor lhe respondeu dizendo: “Escreve a visão e torna-a bem legível sobre tábuas, para que a possa ler o que correndo passa.” (Hc 2.2). O Senhor lhe mostrou que o povo de  Judá não era justo e mereceu a punição. No capítulo 3, Habacuque fez uma oração em forma de canto, suplicando a misericórdia do Senhor,  louvando-o por seu poder e demonstrando a sua confiança em Deus em qualquer circunstância. O versículo chave de Habacuque é: “O justo viverá pela sua fé (fidelidade)”. (Hc 2.4).

Warren Wiersbe, comentando sobre esse clamor de Habacuque, escreveu: "Habacuque orou pedindo a Deus que tomasse uma providência quanto à violência, às contendas e às injustiças na terra, mas Deus pareceu não ouvir [….] O profeta usa o verbo “clamar”, que significa simplesmente “pedir socorro”, mas em seguida diz: 'gritar-te-ei', que no original significa: 'clamar com um coração perturbado'. "


2- A aparente indiferença de Deus. O profeta Habacuque clamou a Deus, angustiado com a violência e a iniquidade do seu povo. Inicialmente, ele teve a impressão de que Deus não estava indiferente a tudo aquilo e perguntou até quando, Deus ficaria em silêncio diante daquela situação (Hc 1.2,3). Entretanto, esta aparente demora de Deus em agir, na verdade, era a sua misericórdia e longanimidade para com os transgressores. Deus não tem prazer na morte dos ímpios e dá tempo para que eles se arrependam. 

Antes de destruir os povos de Canaã, Deus esperou que o limite da maldade deles se completasse (Gn 15.16).  O povo de Israel permaneceu na escravidão por 430 anos e os cananeus praticavam as mais terríveis abominações. Queimavam os próprios filhos a Moloque, adoravam ídolos e praticavam a prostituição sagrada. Deus, em sua longanimidade, esperou completar o limite da iniquidade, antes de destruir aquelas nações. 

Com o povo de Israel não foi diferente. Eles pecavam e Deus mandava os profetas para repreendê-los e exortá-los ao arrependimento. Muitos reis ímpios, além de não se arrependerem, ainda perseguiam e matavam os profetas. No Reino do Norte, todos os reis foram mais. O rei Acabe e a rainha Jezabel mandaram matar os profetas do Senhor. Alguns foram escondidos em covas por Obadias, mordomo do rei, para escaparem da morte. Muitas maldades foram praticadas, mas o Senhor esperou muitos anos até permitir o cativeiro da Assíria. 

No Reino do Sul, que era governado pela dinastia de Davi, houve muitos reis piedosos, como Asa, Josafá, Uzias, Jotão, Ezequias e Josias. Mas também teve reis ímpios como Roboão, Jeorão, Acazias, Acaz, Manassés, Amom e Zedequias. Estes reis ímpios levaram o povo à idolatria e praticavam a injustiça. Deus os alertou através dos profetas para que abandonassem o pecado, mas eles não deram ouvidos. Por isso, foram entregues ao cativeiro da Babilônia. 

Atualmente também as pessoas mergulham em todo tipo de pecado e maldade, como se Deus não existisse. O Filho de Deus veio a este mundo, pregou a mensagem de salvação e fé, muitos milagres. Mas o seu próprio povo o rejeitou e o crucificaram. Mas Ele ressuscitou e subiu ao Céu. Os seus discípulos continuaram pregando a mensagem dEle e foram barbaramente torturados e mortos pelos judeus e pelos romanos. Hoje, nós continuamos pregando, mas as pessoas não dão ouvidos à nossa pregação. Entretanto, Deus não está indiferente a tudo isso. Ele é longânimo e espera que as pessoas se arrependam e cheguem ao conhecimento da Verdade. Mas um dia, Ele julgará os ímpios e os condenará. 


3- A resposta pronta de Deus. Habacuque clamou a Deus e ficou incomodado porque a resposta não vinha. Entretanto, quando a resposta de Deus veio, ele ficou mais incomodado ainda, pois Deus não deu a resposta que ele esperava. O profeta imaginava que Deus levantaria pessoas entres os nobres de Judá para punir os pecados e crimes que eram praticados ali. Quando Deus lhe revelou que usaria a Babilônia como instrumento de punição ao povo judeu, Habacuque ficou perplexo e indagou a Deus, perguntando por que Ele usaria alguém para punir Judá, sendo aquele povo mais ímpio do que Judá (Hc 1.13). Em sua resposta, no capítulo 2, Deus explicou a Habacuque que os caldeus também receberiam a sua punição pelo que fariam ao povo de Judá (Hc 2.17). 

Na atualidade também há muitas pessoas que clamam a Deus e querem que Ele lhes responda de acordo com a vontade deles. Outros querem ser mais justos e mais misericordiosos do que Deus, dizendo que Deus não condenará ninguém ao lago de fogo e que não há sofrimento eterno. O falso ensino do Universalismo ensina que no final dos tempos Deus salvará a todos. Mas não é isso que a Bíblia ensina. Jesus deixou claro que há dois caminhos: um largo e outro estreito. O caminho estreito conduz à vida e poucos são os que o encontram. O caminho largo, por sua vez, conduz à perdição e muitos são os que entram por ele. Deus é soberano e não submete as suas decisões à opinião humana. Ele é absolutamente justo em tudo o que faz. 


REFERÊNCIAS:

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra: O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

LOPES, Hernandes Dias. HABACUQUE: Como transformar o desespero em Cântico de vitória. Editora Hagnos. pág. 37-41; 47-48.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos.  3615, 3516. 

PALMER, Robertson. Comentário do Antigo Testamento: Naum, Habacuque e Sofonias. Editora Cultura Cristã. pág. 181-182.

22 março 2023

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 13: AVIVA, Ó SENHOR, A TUA OBRA


Ev. WELIANO PIRES

Com a graça de Deus chegamos ao final de mais um trimestre de estudos, em nossa Escola Bíblica Dominical. Estudamos sobre o avivamento espiritual. Vimos na primeira lição, o conceito de avivamento e as condições para que o avivamento aconteça. Nas lições seguintes vimos os exemplos de avivamento no Antigo e no Novo Testamento. Na sequência, falamos sobre os avivamentos ao longo da história da Igreja. Vimos também o avivamento na vida pessoal do crente, a relação entre o avivamento e a missão da Igreja. Na última lição estudamos o tema "Vivendo no Espírito", discorrendo sobre as obras da carne, o fruto do Espírito e o confronto entre estes dois estilos de vida. 


Esta última lição é uma conclusão dos assuntos estudados no trimestre. Tendo como base na oração do profeta Habacuque, estudaremos preciosas lições das palavras proferidas pelo profeta no capítulo 3 do seu livro. Depois de reclamar com Deus, porque Deus levantou a Babilônia, um povo ímpio para punir Israel pelo pecado, Habacuque ouviu a resposta de Deus no capítulo dois. No capítulo 3, ele inicia dizendo: Ouvi, Senhor, a tua palavra e temi. Aviva a tua obra, ó Senhor…” (Hc 3.2). No final do capítulo, ele diz que, mesmo que falte tudo em sua vida, do ponto de vista material, ele esperará e se alegrará no Senhor (Hc 3.16-19). Isto nos ensina que todo avivamento genuíno envolve oração, Palavra de Deus, temor e confiança em Deus. 


No primeiro tópico falaremos sobre o clamor pelo avivamento. Veremos a intercessão angustiada do profeta Habacuque, que após ter uma visão sobre os horrores da invasão babilônica e diante da aparente indiferença de Deus, fez uma oração, questionando a Deus, perguntando até quando ele clamaria a não teria resposta. Veremos também a resposta imediata de Deus ao profeta. 


No segundo tópico falaremos sobre o avivamento pela Palavra, com base nas palavras de Habacuque diante da resposta de Deus ao seu clamor. Falaremos da importância de se ouvir a Palavra de Deus. Depois veremos o que significa temer a Deus. Por último, falaremos sobre a necessidade de clamar ao Senhor por avivamento. 


No terceiro e último tópico, veremos que o avivamento, é questão de vida ou morte. O profeta Habacuque sabia que o seu povo havia pecado e que o juízo seria inevitável, por isso apelou para a misericórdia de Deus. Deus é misericordioso e compassivo e bondoso. O profeta Jeremias, em suas lamentações disse que "as misericórdias do Senhor é a causa de não sermos consumidos". (Lm 3.22). Clamemos, pois a Deus pela sua misericórdia e por um avivamento em nossa geração. 


REFERÊNCIAS: 

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra: O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

LOPES, Hernandes Dias. HABACUQUE: Como transformar o desespero em Cântico de vitória. Editora Hagnos. pág. 11-12.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento: Isaías a Malaquias. Editora CPAD. 1 Ed. 2010. pag. 1119.

O AVIVAMENTO PELO FRUTO DO ESPÍRITO


(Comentário do 3⁰ tópico da Lição 12: Vivendo no Espírito)

Ev. WELIANO PIRES

No terceiro tópico, falaremos sobre  o avivamento pelo Fruto do Espírito Santo. Veremos que o Fruto do Espírito Santo e os dons espirituais são características essenciais à vida cristã. Os dons espirituais não são para todos os crentes e são concedidos pelo Espírito Santo a quem Ele quer, para o que for útil. O Fruto do Espírito Santo, no entanto, é indispensável a todos os crentes. Por último, faremos uma breve exposição das nove virtudes do Fruto do Espírito que são inseparáveis e interdependentes. A conclusão que Paulo faz da exposição dessas virtudes é que não há Lei contra o Fruto do Espírito.


1- Fruto do Espírito. O fruto do Espírito, no singular, se opõe frontalmente às obras da carne, vimos no tópico anterior. Muitos não entendem porque o Fruto do Espírito aparece no singular, diferente dos dons que aparecem no plural e são diversos. Isto significa que, as virtudes do Fruto do Espírito são inseparáveis e interdependentes, ou seja, não é possível ter uma e não ter as outras, como acontece com os dons espirituais. Para facilitar o entendimento, os expositores bíblicos comparam o Fruto do Espírito  a uma fruta, como uma laranja, que tem vários gomos, mas é um só fruto. 

O fruto do Espírito Santo é o resultado de uma vida cristã sob a direção e o domínio do Espírito Santo. O amor encabeça esta lista de virtudes e resume as demais, pois não quem ama de verdade tem alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Estas virtudes são produzidas em nosso interior pelo Espírito Santo e estão relacionadas ao nosso caráter. Não podem ser criadas artificialmente ou simuladas. Ou a pessoa anda no Espírito e produz estas virtudes, ou anda segundo a sua própria natureza e produz as obras da carne.


2- Os nove aspectos do Fruto do Espírito (Gl 5.22). O Fruto do Espírito se divide em nove virtudes inseparáveis e interdependentes, como já falamos. O apóstolo Paulo citou estas nove virtudes, escrevendo aos Gálatas. O comentarista fez uma breve exposição de cada delas, citando inclusive, os respectivos termos gregos correspondentes:

a. Amor (gr. ágape). É a mais nobre das virtudes. Somente Deus é capaz de amar com este amor e é Ele que produz em nós este amor sacrificial, capaz de fazer o bem a quem não merece, sem esperar nada em troca. Este não é o amor phileo, que é o amor aos amigos. Também não é o amor storge, que é direcionado aos familiares; nem tampouco, o amor eros, que é a atração sexual. O amor ágape, que é fruto do Espírito Santo, é uma virtudes chamadas de teologais, junto com a fé e a esperança, pois é Deus quem as concede ao ser humano que anda com Ele. Este é o amor de 1 Coríntios 13, que está acima dos dons espirituais.

b. Alegria  (gr. chara). A alegria produzida pelo Espírito Santo no crente, não é a alegria comum, que está relacionada às circunstâncias favoráveis ou a momentos felizes. A alegria como fruto do Espírito transcende às circunstâncias e à própria vida. O crente que tem a alegria do Espírito, alegra-se no Senhor e na esperança que tem nEle (Rm 12.12; Fp 4.4). 

c. Paz (Gr. eirene). A paz que o Espírito Santo produz no crente não é simplesmente ausência de guerra. Não é a paz que o mundo oferece. É a paz com Deus, consigo mesmo e com o próximo, independente das circunstâncias. É a paz que excede a todo entendimento. Infelizmente, em muitos meios ditos evangélicos não há esta paz e as pessoas vivem em disputas pelo poder. 

d. Longanimidade (gr. makrothumia). Longanimidade pode ser dividida em duas palavras: longo e ânimo. Portanto significa manter em paz por muito tempo, mesmo sob ofensas. É a paciência para suportar afrontas e não revidar. 

e. Benignidade (gr. chrestotes). É a disposição para desejar e fazer o bem ao próximo, independente de quem seja. A pessoa benigna jamais faria mal a alguém mesmo que tenha motivos para isso. 

f. Bonda­de (gr. agathosune). É a prática de boas ações. Somente Deus é bom, portanto, só faz coisas boas quem tem Deus no coração, pois as coisas boas vem dele. Quem tem esta virtude do Espírito tem uma boa índole e só pratica o que é bom. 

g. fé / Fidelidade (gr. pistis). Fé neste contexto não se refere apenas à crença na existência de Deus. É a confiança inabalável em Deus, que leva o crente a ser fiel a Deus em todas as coisas, renunciando até a própria vida e praticando boas obras por amor a Deus. Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11.6). 

h. Mansidão (gr. prautes). É virtude de quem é brando, dócil, amável e manso nas reações. Jesus é o nosso maior exemplo de mansidão e disse para aprendermos com Ele a ser mansos. A mansidão é o oposto de um comportamento explosivo e descontrolado.

i. Temperança (gr. egkrateia). A palavra grega egkrateia traduzida por temperança, na versão Almeida Revista e Corrigida, é formada por dois vocábulos gregos eg (eu) e Kratos (domínio). Significa, portanto, domínio próprio, autocontrole, moderação e equilíbrio em todas as coisas.


3- Contra o Fruto do Espírito, não há lei. Paulo concluiu o seu ensino sobre o Fruto do Espírito dizendo: "contra estas coisas não há lei".  (Gl 5.23). A lei foi dada a Israel para mostrar o pecado e a incapacidade do ser humano de cumprir a Lei. A graça veio por Jesus Cristo, que concede ao ser humano o Espírito Santo, o qual produz nele estas virtudes e o capacitam a vencer a sua natureza pecaminosa. 

As virtudes do Espírito Santo não são condenadas pela Lei de Deus nem pelas leis dos homens. Estas virtudes cumprem a Lei de Deus mais do que sacrifícios, ordenanças e rituais. O apóstolo Paulo disse que o cumprimento da Lei é o amor: "Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo." (Gl 5.14). 


REFERÊNCIAS:

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra: O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pág. 1182.

WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo Novo Testamento. Vol. I. 1 Ed 2006. Editora Central Gospel. pág. 9

LOPES, Hernandes Dias. GÁLATAS: A carta da liberdade cristã. Editora Hagnos. pág. 248.

21 março 2023

O CONFRONTO ENTRE A CARNE E O ESPÍRITO

(Comentário do 2⁰ tópico da lição 12: Vivendo no Espírito).

No segundo tópico, falaremos do confronto que há entre a carne e o Espírito. Esta é a maior luta que o crente enfrenta nesta vida. A carne é a natureza humana corrompida pelo pecado, que se inclina para a prática do pecado. Depois faremos uma breve exposição das obras da carne, descritas por Paulo em Gálatas 5.19-21.  


1- Carne x Espírito. Escrevendo aos crentes da Galácia,  o apóstolo Paulo disse: “Digo, porém: Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis” (Gl 5.16-17). Para entendermos este texto bíblico, precisamos buscar o significado de três palavras chaves do texto: carne, Espírito (com "E" maiúsculo) e concupiscência. 

A palavra "carne" que aparece aqui, no grego é "sarx". Segundo o dicionário bíblico Wycliffe, esta palavra é usada em sentido figurado e refere-se à natureza carnal, ou a disposição no homem que é propensa a pecar e que é antagônica a Deus. A natureza humana foi corrompida pelo pecado e tem forte inclinação para o pecado. 

Espírito, por sua vez, é a tradução do grego "pneuma", que significa literalmente "sopro". Neste contexto de Gálatas 5 e em todas as vezes que aparece em nossa Bíblia com "E" maiúsculo, refere-se ao Espírito Santo. Quando recebemos a Jesus como Senhor e Salvador, o Espírito Santo nos é dado para habitar em nós e Ele se opõe frontalmente à natureza pecaminosa do homem (carne). 

A terceira palavra que devemos compreender para entender este texto é "concupiscência". A palavra grega traduzida por concupiscência é “epithymia”, que significa literalmente forte desejo por algo. É o contexto que determina o real significado, pois a palavra era usada em sentido positivo ou negativo. Por exemplo, o Senhor Jesus usou esta palavra em um sentido piedoso, quando se reuniu com os seus discípulos para a última ceia: “E disse-lhes: Desejei [epithymia] muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça." (Lc 22.15). Entretanto no contexto de Gálatas 5, a palavra é usada em sentido negativo, para se referir aos desejos da natureza pecaminosa, por práticas ilícitas. 

O apóstolo Paulo explica que em nosso interior há um embate entre a velha natureza, corrompida pelo pecado, e o Espírito Santo, que é absolutamente Santo e se opõe à carne. A seguir veremos as obras da carne descritas por Paulo e, no terceiro tópico discorreremos sobre as virtudes que compõem o fruto do Espírito. 


2- As obras da carne. Conforme mencionado acima, a carne, no contexto de Gálatas 5, não se refere aos órgãos e tecidos do corpo humano e sim, à natureza humana decaída, com forte inclinação ao pecado.  O apóstolo Paulo enumera uma lista de dezesseis obras da carne, mas deixa claro que esta lista não é exaustiva, quando diz "...e coisas semelhantes a estas". Estas obras de dividem em três categorias:

a. Pecados contra o próprio corpo: 

1. Prostituição. (Gr. porneia). Em sentido genérico, refere-se a qualquer tipo de imoralidade sexual, incluindo pornografia, homossexualismo, relacionamento sexual entre solteiros, etc. O adultério, que é o relacionamento sexual entre uma pessoa casada e outra que não é o seu cônjuge, no grego é moichéia, embora em alguns texto em português ambos são traduzidos como prostituição. 

2. Impureza. (Gr. Akatharsia). Refere-se aos desejos sexuais e pensamentos por pessoas que não sejam o seu cônjuge. Jesus disse que aquele que alimentar esse tipo de pensamento já cometeu adultério em seu coração (Mt 5.28). 

3. Lascívia (Gr. Aselgeia). Refere-se à sensualidade despudorada, para atrair o desejo sexual de outras pessoas. Por exemplo, exibir o próprio corpo, usando roupas minúsculas. Isso alimenta o pecado da impureza. Portanto, pecam aqueles que mostram o corpo e os que olham e desejam. 

4. Bebedices (Gr. methe). Descontrole físico e mental oriundo do consumo de substâncias inebriantes.

5. Glutonaria (Gr. Komos). Descontrole total em relação aos alimentos, bebidas, sexo, festas e diversões.

b. Pecados contra a religião:

1. Idolatria (Gr. Eidolatria). Vem da junção de dois termos gregos: eidolos (ídolos) e latreuo (adoração). Portanto, é a adoração a qualquer pessoa, espírito, instituição, pessoas ou objeto em lugar de Deus. 

2. Feitiçarias (Gr. Pharmakeia). Refere-se a todo tipo de espiritismo: magia negra, necromancia, invocação aos espíritos e uso de drogas na prática de feitiçarias.

c. Pecados contra o próximo.

1. Porfias (Gr. Eris). Brigas de disputas por posições superiores. 

2. Emulações (Gr. Zelos). Refere-se ao ressentimento e amargura pela prosperidade dos outros. 

3. Iras (Gr thumos). Explosão de fúria que resulta em palavras e atos violentos contra o próximo. Esta palavra deu origem à palavra portuguesa tumor.

4. Pelejas (Gr. Eriteia). Disputa ambiciosa pelo poder. 

5. Dissensões (Gr. Dichostasia). Ensinos exclusisvistas, sem nenhum respaldo bíblico. 

6. Heresias (Gr. Hairesis). Formação de grupos dentro da congregação, que destroem a unidade da congregação. 

7. Homicídios (Gr. Phonos). Assassinato doloso, por pura maldade. Jesus comparou o ódio aos irmãos com o assassinato. O apóstolo João também disse que aquele que odeia o seu irmão é assassino (1 Jo 3.15).


Estas e outras obras originam-se na natureza humana decaída e distante de Deus. No final, apóstolo Paulo diz que aqueles que praticam estas coisas não herdarão o Reino de Deus. Muitos crentes, equivocadamente, tentam repreender o demônio das pessoas que praticam estas coisas. Mas, embora o inimigo use estas coisas para escravizar as pessoas no pecado e afastá-las de Deus, estas pessoas não estão possessão por demônios. O que elas precisam fazer é buscar a Deus e andar segundo a direção do Espírito Santo. Somente assim, poderão vencer a carne e as suas concupiscências.


REFERÊNCIAS:

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra: O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pag. 1180-1182.

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. 2ª Impressão: 2010. Vol. 2. pag. 295-296.

17 março 2023

A VIDA NO ESPÍRITO


(Comentário do 1⁰ tópico da lição 12: Vivendo no Espírito).

Ev. WELIANO PIRES 

No primeiro tópico, falaremos sobre a vida no Espírito. Discorreremos sobre o significado bíblico da expressão andar no Espírito. Depois, falaremos sobre as razões pelas quais o crente deve andar no Espírito. Por último, veremos como e o que é preciso, para andar no Espírito.

1- Andando em Espírito. A palavra andar é usada em sentido figurado em vários textos, para se referir ao estilo de vida que as pessoas adotam, seja para andar de com Deus, ou na prática do pecado  No Livro do Gênesis, após a queda do homem, o primeiro homem a andar com Deus foi Enoque. Após os sessenta e cinco anos dele, a Bíblia que Enoque andou com Deus por trezentos anos e Deus o tomou para Sl. (Gn 5.22). 

Antes de Enoque temos os relatos sobre os antepassados dele, que viveram vários anos e morreram. Quando chegam em Enoque, o sétimo depois de Adão, o texto diz que ele andou com Deus por trezentos anos e não diz que ele morreu, mas que Deus o tomou (Gn 5.24). No Novo Testamento temos a informação de que ele foi trasladado para não ver a morte (Hb 11.5). 

Ainda no Gênesis temos o exemplo de Noé, outro homem que andou com Deus, vivendo em uma sociedade ímpia e corrompida: "Noé era homem justo e perfeito em suas gerações; Noé andava com Deus". (Gn 6:9). Como podemos notar neste texto, andar com Deus é sinônimo de justiça e integridade. 

Nos Salmos também temos várias referências à "andar", em sentido figurado para se referir ao estilo de vida de alguém: "...o homem que não anda segundo o conselho do ímpios" (Sl 1.1); "...o homem que tem ao Senhor e anda nos seus caminhos" (Sl 128.1). "... o que anda num caminho reto" (Sl 101.6). 

No Novo Testamento, o apóstolo Paulo usa a palavra "andar" para se referir a um estilo de vida de acordo com a vontade do Espírito Santo e totalmente controlado por Ele: (Ef 2.10; 5.2, 8; Cl 2.6; 1Ts 2.12; 4.1). Em todas estas referências, na versão Nova Almeida Atualizada aparece a palavra viver e seus respectivos derivados.


2- Por que andar em Espírito? A vida espiritual é comparada a uma corrida, que exige muito treinamento, renúncia, esforço e disciplina. Após a conversão, há uma luta constante entre a velha natureza carnal, corrompida pelo pecado, e a nova natureza regenerada pelo Espírito Santo. O apóstolo Paulo recomendou aos crentes da Galácia: "Andai em Espírito e não cumprireis as concupiscências da carne". (Gl 5.16). Quem vencerá esta batalha? Aquele a quem o ser humano alimentar mais. 

O padrão moral de Deus é altíssimo, pois Ele é absolutamente santo e não pode conviver com o pecado. Por si mesmo, nenhum ser humano conseguiria atingi-lo. Por outro lado, a natureza humana decaída tem a tendência natural de praticar o pecado. O viver no Espírito é o único antídoto capaz de mortificar a carne com as suas concupiscências (Forte anelo por prazeres carnais e materiais). 


3- Como andar em Espírito? Vimos acima o que é andar no Espírito e as razões pelas quais o crente deve andar no Espírito. Agora veremos como andar no Espírito. O que é necessário o crente fazer para andar no Espírito? A primeira coisa que devemos fazer é crer em Jesus e recebê-lo como Senhor e Salvador. Sem isso, é impossível andar no Espírito. Quando o Senhor Jesus prometeu aos seus discípulos que lhes enviaria o Espírito Santo, Ele disse: "...O Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber". (Jo 14.17). Então, para andar no Espírito é preciso ter o Espírito Santo habitando em nós e só quem pode conceder isso é Jesus Cristo, o Filho de Deus. 

Em segundo lugar, é preciso dar ouvidos à voz do Espírito Santo e ser guiado por Ele. Paulo, escrevendo aos Romanos disse: "...todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." (8.14). Há muitas pessoas equivocadas, que querem seguir os seus próprios sentimentos e intuições. Mas a Bíblia diz que "enganoso é o coração humano." (Jr 17.9). Quem segue o pensamento humano, segue a natureza carnal, acaba praticando as obras da carne e não herdará o Reino de Deus. Mas aquele que é guiado pelo Espírito Santo, anda em novidade de vida e vence a inclinação natural que tem para as coisas da carne.

Em terceiro lugar, para andar no Espírito, precisamos buscar ser cheios do Espírito. Paulo escrevendo aos Efésios disse: "Não vos embriagueis com vinho em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito". (Ef 5.18). Em outros textos, eles diz: "...Revesti-vos do Senhor e da força do seu poder". Nestes dois textos o apóstolo coloca sobre o crente a responsabilidade de se manter cheio do Espírito Santo. Isso significa que é preciso estar sempre em contato com Deus através da oração e meditação na Palavra de Deus para se manter cheio do Espírito e viver segundo na sua orientação. 


REFERÊNCIAS:

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra: O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pág. 1180.

LOPES, Hernandes Dias. GÁLATAS: A carta da liberdade cristã. Editora Hagnos. pág. 238-240.

13 março 2023

Introdução à Lição 12: Vivendo no Espírito


Ev. WELIANO PIRES


Nesta penúltima lição, falaremos sobre dois estilos de vida que são antagônicos e que combatem um contra o outro: O Fruto do Espírito e as obras da carne. Mesmo tendo recebido a Cristo como Senhor e Salvador e, portanto, tendo o Espírito Santo morando em nós, ainda temos a velha natureza, sujeita ao pecado, que precisa ser mortificada diariamente. 

Paulo escrevendo aos Gálatas disse: “Andai em Espírito e não cumprireis as concupiscências da carne”. (Gl 5.16). Na sequência desse texto, ele faz uma lista de pecados, que ele chama de obras da carne, e alerta que aqueles que os praticarem, não herdarão o Reino de Deus. Por último, o apóstolo cita nove virtudes que formam o Fruto do Espírito Santo. São nove virtudes e não são nove frutos, pois elas são inseparáveis. Não é possível alguém andar no Espírito, ter uma ou mais destas virtudes e outras não.

No primeiro tópico, falaremos sobre a vida no Espírito. Discorreremos sobre o significado bíblico da expressão andar no Espírito. Depois, falaremos sobre as razões pelas quais, o crente deve andar no Espírito. Por último, veremos como e o que é preciso, para andar no Espírito 

No segundo tópico, falaremos do confronto que há entre a carne e o Espírito. Esta é a maior luta que o crente enfrenta nesta vida. A carne é a natureza humana corrompida pelo pecado, que se inclina para a prática do pecado. Depois faremos uma breve exposição das obras da carne, descritas por Paulo em Gálatas 5.19-21.  

No terceiro tópico, falaremos sobre  o avivamento pelo Fruto do Espírito Santo. Veremos que o Fruto do Espírito Santo e os dons espirituais são características essenciais à vida cristã. Os dons espirituais não são para todos os crentes e são concedidos pelo Espírito Santo a quem Ele quer, para o que for útil. O Fruto do Espírito, no entanto, é indispensável a todos os crentes. Por último, faremos uma breve exposição das nove virtudes do Fruto do Espírito que são inseparáveis e interdependentes. A conclusão que Paulo faz da exposição dessas virtudes é que não há Lei contra o Fruto do Espírito.


REFERÊNCIAS:

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra: O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

STAMPS. Donald C. (Ed) Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

PFEIFER, Charles F. Comentário Bíblico Moody: Gálatas. Editora Batista Regular. pág. 32.

MURMURAÇÃO: UM PECADO QUE NOS IMPEDE DE ENTRAR NA CANAÃ CELESTIAL

(Comentário do 3º tópico da Lição 07: O perigo da murmuração) Ev. WELIANO PIRES No terceiro tópico, veremos que a murmuração também nos impe...