04 novembro 2025

O Funcionamento da Consciência

(Comentário do 2º tópico da Lição 6- A Consciência — O Tribunal Interior

No segundo tópico, falaremos sobre o funcionamento da consciência. Inicialmente, veremos que a nossa consciência possui uma tríplice função: acusação, defesa e julgamento. Em seguida, constataremos que a consciência é implacável e não cede a vãs justificativas humanas para os próprios pecados. Por fim, veremos que a nossa consciência atua como um tribunal, debatendo com os nossos pensamentos e tomando como base a lei moral escrita em nosso coração.

1. Acusação, defesa e julgamento.

A nossa consciência tem uma tríplice função: acusação, defesa e julgamento. Quando pecamos, mesmo sem que ninguém veja, a consciência nos acusa e nos julga. Muitos perdem até o sono e têm pesadelos por causa das acusações de sua própria consciência. Entretanto, se somos acusados injustamente, a consciência nos defende e nos tranquiliza.

Adão e Eva, depois de terem pecado contra Deus, sentiram a reprovação da própria consciência e tiveram vergonha de sua nudez:

“Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais” (Gn 3:7).

Quando ouviram a voz de Deus, sentiram-se incomodados e tentaram se esconder (Gn 3:10). Antes do pecado, eles ouviam a voz de Deus todos os dias e não se sentiam perturbados.

Davi, depois de ser repreendido pelo profeta Natã por causa do adultério e do homicídio que cometeu, escreveu o Salmo 51, no qual confessa seu pecado e pede perdão e restauração. No início da oração, ele declara:

“Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 51:3).

Em outra ocasião, no Salmo 32, o mesmo Davi afirmou:

“Quando eu guardei silêncio [em relação ao pecado], envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia” (Sl 32:3).

Isso mostra que a consciência o acusava e condenava pelos pecados que cometera, a ponto de causar-lhe sofrimento na alma e no corpo. Uma consciência pesada traz sérios problemas espirituais, emocionais e até físicos ao ser humano, a não ser quando já se encontra insensível ou “cauterizada” — como veremos no próximo tópico.

2. Vãs justificativas.

Depois de pecar e ouvir a voz de Deus, Adão tentou se esconder, mas é impossível ocultar algo de Deus, pois Ele é onisciente e onipresente. Confrontado pela voz divina, apresentou uma desculpa:

“Me escondi porque estava nu.”

Ora, ele nunca havia usado roupas antes e nunca se preocupara em se esconder; logo, o problema não era a falta de vestes.

Em seguida, Deus foi direto ao ponto, buscando a confissão do pecado:

“Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?” (Gn 3:11).

Adão não tinha como negar seu pecado, pois sua consciência o acusava, e ele percebeu que Deus já sabia de tudo. Sem conseguir se justificar, comportou-se como muitos seres humanos fazem ainda hoje: tentou transferir a culpa.

“A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi” (Gn 3:12).

Eva seguiu na mesma direção, acusando a serpente. Nenhum dos dois reconheceu sua culpa nem pediu perdão a Deus.

Aqui observamos uma grande diferença entre Adão e Davi. Adão, quando confrontado, não reconheceu seu pecado e atribuiu a culpa à mulher, como se ela o tivesse forçado a pecar. Davi, ao ser confrontado por Natã, arrependeu-se e confessou:

“Pequei contra o Senhor” (2Sm 12:13).

Imediatamente, foi perdoado por Deus.

Infelizmente, muitas pessoas hoje buscam justificativas para os próprios pecados, chegando a usar textos bíblicos isolados e distorcidos. Outras culpam líderes espirituais ou a Igreja por seus erros. No entanto, não podem enganar a própria consciência e, um dia, estarão diante do Justo Juiz, que não aceita vãs justificativas.

3. O debate no tribunal

Em um tribunal, acontecem debates entre acusação e defesa. Cada parte tem seu tempo para inquirir o réu e as testemunhas e apresentar sua tese. Em seguida, os jurados votam, e o juiz profere a sentença — absolvendo ou condenando o réu.

Em nossa mente ocorre algo semelhante: a consciência atua como um tribunal, debatendo com os nossos pensamentos e tomando como base a lei moral escrita em nosso coração, seja para nos acusar, seja para nos defender. Se somos culpados, a consciência nos acusará; se somos acusados injustamente, ela nos absolverá e tranquilizará o coração.

O apóstolo Paulo escreveu aos Romanos:

“[Os gentios] mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” (Rm 2:15).

Isso vale para aqueles que não conhecem a Palavra de Deus. Já os que conhecem a verdade serão julgados pela própria Palavra, e não apenas pela consciência:

“Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue: a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia” (Jo 12:48).

Ev. WELIANO PIRES

ANTES E DEPOIS DA QUEDA

(Comentário do 1º tópico da Lição 6- A Consciência — O Tribunal Interior)

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, falaremos da consciência antes e depois da Queda. Inicialmente, discorreremos sobre a primeira manifestação da consciência, que se deu logo após o primeiro casal desobedecer a ordem de Deus no Jardim do Éden. Na sequência, falaremos do direito natural, uma lei moral que há em cada ser humano, que lhe permite discernir o certo e o errado. Por fim, falaremos da lei escrita nos corações mencionada pelo apóstolo Paulo em Romanos 2.12-16. 

1. A primeira manifestação. O comentarista traz aqui uma definição da palavra consciência, considerando o termo grego syneidesis, usado pelo apóstolo Paulo no texto de Atos 24.16, que é o texto áureo desta lição:

“E, por isso, procuro sempre ter uma consciência [Gr. syneidesis] sem ofensa, tanto para com Deus como para com os homens.”


Esta palavra significa literalmente “saber com”. Refere-se a uma espécie de sensor que Deus inseriu na parte imaterial do ser humano, que o torna capaz de diferenciar o que é moralmente bom e mau, instigando-o a fazer o que é bom e acusando-o quando fizer o que é mau. 


O comentarista diz que a consciência é uma faculdade da alma, mas admite que não há consenso entre os teólogos sobre isso. De fato, teólogos assembleianos de grande envergadura, defendiam que a consciência é uma faculdade do espírito humano. O saudoso missionário Eurico Bergstén, um dos grandes nomes da teologia assembleiana, assim escreveu:


“…Uma das faculdades mais importantes do espírito do homem é a sua CONSCIÊNCIA, Rm.2:15,16, que é uma janela no homem, pela qual Deus olha para o interior dele. A consciência é um ‘espião’ de Deus que persegue o homem, quando ele peca, mas que lhe fala com uma voz elogiosa quando faz o bem…”


O saudoso pastor Antonio Gilberto também defendia esta posição: 


“…O espírito identifica o homem, a criação espiritual e dá-lhe a consciência de Deus. (…) Por meio dele o homem tem consciência de Deus.…”


Sobre a primeira manifestação da consciência na experiência humana, é importante esclarecer que o primeiro casal, Adão e Eva, viveram dois períodos completamente diferentes: antes e depois da Queda. Conforme já vimos em lições anteriores, eles foram criados perfeitos e puros. Mas, após pecarem contra Deus, a natureza deles foi corrompida. Isso inclui, evidentemente, a consciência. 


No Éden, o ser humano era inocente e puro. Deus deu-lhe a capacidade de discernir o que é certo e errado, quando os proibiu de comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal. Após a Queda, porém, eles tiveram o sentimento de culpa, vergonha e medo. A partir daquele momento, passaram a ter também a inclinação para o mal e a consciência passou a funcionar como um tribunal dentro deles.


2. O direito natural.

Todo ser humano, mesmo aqueles que não conhecem a Deus, carrega dentro de si uma lei moral que lhe permite discernir o que é certo e o que é errado, mesmo sem conhecer os preceitos de Deus. O comentarista chamou essa lei de "direito natural", mas alguns teólogos preferem o termo "lei natural". Em sua "Suma Teológica", escrita entre 1265 e 1274, Tomás de Aquino afirmou que "a lei natural é a base racional da moralidade e da justiça, servindo como uma ponte entre a ordem divina do universo e as ações e normas humanas".

A primeira manifestação desse direito ou lei natural pode ser observada no caso de Caim, que assassinou seu irmão Abel. Não havia ainda um código penal que proibisse o assassinato ou outros crimes, mas a sua consciência o acusou quando foi indagado por Deus:
"Então disse Caim ao Senhor: 'É maior a minha maldade do que a que possa ser perdoada. Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua face me esconderei; serei fugitivo e vagabundo na terra, e será que todo aquele que me achar me matará.'" (Gn 4.13-14). Essa referência bíblica pode ser vista como uma manifestação inicial da consciência moral humana, antes mesmo da criação de um sistema jurídico formal.

Da mesma forma, todo ser humano, ao errar, é confrontado pela sua própria consciência. Muitos tentam se esconder ou transferir a culpa, mas o seu tribunal interior continuará a atormentá-lo. Diante das acusações da consciência, alguns criminosos acabam confessando os seus crimes, enquanto outros chegam até a cometer suicídio. Evidentemente, nem todas as consciências funcionam adequadamente, pois podem estar defeituosas. De acordo com Tomaz de Aquino, o funcionamento da consciência pode ser afetado pela ignorância, vícios ou até pela corrupção da razão, dificultando o discernimento moral.

3. Escrita no coração.

No texto de Romanos 2.12-16, o apóstolo Paulo menciona dois tipos de lei: a Lei Mosaica, dada a Israel, e a Lei Moral, escrita nos corações de todos os seres humanos. O apóstolo abordou a distinção entre os que têm a Lei Mosaica e os que não a têm, destacando a responsabilidade moral universal de todos os seres humanos diante de Deus. É com base nesta lei moral que a consciência humana age tanto para acusar quanto para defender.

Mesmo nas civilizações que não conhecem a Deus e a Sua Palavra, existe um senso de justiça que leva à criação de leis para punir aqueles que praticam o mal contra o próximo. Nas civilizações antigas, haviam leis criadas para estabelecer os direitos e deveres dos cidadãos e para punir as violações dessas leis. O mais conhecido desses códigos é o Código de Hamurabi (1792-1750 a.C.), que possui várias semelhanças com a Lei Mosaica.

Naturalmente, essas leis eram criadas com base no senso de moralidade presente nos corações dos seres humanos, embora houvesse muita maldade devido à corrupção da natureza humana. Apesar de imperfeitas e até injustas, as leis humanas são inspiradas no código moral que Deus colocou no interior do ser humano.

REFERÊNCIAS:
Teologia sistemática: Doutrina do Espírito Santo, do homem, do pecado e da salvação. 4. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1986, p.78.

Bíblia de Estudo com comentários de Antônio Gilberto. A triunidade do homem. RIO DE JANEIRO, CPAD,202, p.1922.

 AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Tradução de José F. de Almeida. São Paulo: Editora Loyola, 2002.

03 novembro 2025

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 06: A CONSCIÊNCIA – O TRIBUNAL INTERIOR

TEXTO ÁUREO:

“E, por isso, procuro sempre ter uma consciência sem ofensa, tanto para com Deus como para com os homens.” (At 24.16).

VERDADE PRÁTICA:

Diante da crescente degradação do padrão moral do mundo, o cristão deve apegar-se cada vez mais à sã doutrina para ter sempre uma boa consciência.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: Romanos 2.12-16.

OBJETIVOS DA LIÇÃO

I) Mostrar aos alunos a origem da consciência humana como um senso moral dado por Deus, reconhecendo seu papel antes e depois da Queda; 

II) Ensinar que a consciência atua como um tribunal interior, capaz de acusar ou defender, incentivando o autoexame constante; 

III) Alertar os alunos para as falhas e deformações que a consciência pode sofrer quando não é orientada pela verdade bíblica.

Palavra-chave: CONSCIÊNCIA

A palavra consciência vem do latim conscientia, que significa “conhecimento”, “senso próprio” ou “particular”. Entretanto, não há uma única definição para o termo, pois ele assume diferentes significados conforme a área do conhecimento: Filosofia, Psicologia, Medicina, Sociologia ou Teologia. O vocábulo também é usado em sentido figurado, com diversos significados.

Na Teologia, que é o foco do nosso estudo, a consciência é uma espécie de sensor implantado por Deus em nosso interior, que nos permite discernir entre o certo e o errado. Quando erramos, ela nos acusa; quando acertamos, ela nos defende. Para alguns teólogos, a consciência é uma faculdade do espírito humano; para outros, pertence à alma.

Segundo o teólogo John MacArthur:

“A consciência é um sistema de alerta interno que nos sinaliza quando algo que fizemos é errado. A consciência é para a nossa alma o que os sensores de dor são para o nosso corpo: ela inflige sofrimento, sob a forma de culpa, sempre que violamos o que nossos corações nos dizem ser certo.”

INTRODUÇÃO

Na lição anterior, falamos sobre a definição da alma, sua natureza, seus atributos e os cuidados que devemos ter com ela para manter um bom relacionamento com Deus. Nesta segunda lição sobre a alma humana, abordaremos a consciência humana como um tribunal interior — uma espécie de lei moral que Deus implantou em nós, que nos acusa, defende e julga.

Todos os seres humanos, cristãos ou não, possuem dentro de si a consciência. No entanto, ela foi distorcida pelo pecado e, no caso daqueles que não servem a Deus, pode se tornar fraca, corrompida ou até cauterizada — isto é, totalmente insensível ao pecado. Por isso, nossa consciência precisa ser constantemente orientada pela Palavra de Deus e pelo Espírito Santo, para que funcione corretamente e nos alerte quando estivermos prestes a cometer erros.

TÓPICOS DA LIÇÃO

I. ANTES E DEPOIS DA QUEDA

No primeiro tópico, trataremos da consciência antes e depois da Queda. Inicialmente, abordaremos a primeira manifestação da consciência, que ocorreu logo após o primeiro casal desobedecer à ordem de Deus no Jardim do Éden. Em seguida, falaremos sobre o direito natural, uma lei moral existente em cada ser humano, que o capacita a discernir entre o certo e o errado. Por fim, analisaremos a lei escrita nos corações, mencionada pelo apóstolo Paulo em Romanos 2.12-16.

II. O FUNCIONAMENTO DA CONSCIÊNCIA

No segundo tópico, estudaremos o funcionamento da consciência. Veremos que ela exerce uma tríplice função: acusar, defender e julgar. Depois, entenderemos que a consciência é implacável, não se deixando enganar por justificativas humanas para o pecado. Por fim, compreenderemos que a consciência atua como um tribunal interior, debatendo com nossos pensamentos e tendo como base a lei moral escrita em nosso coração.

III. A CONSCIÊNCIA É FALÍVEL

No terceiro tópico, veremos que a consciência humana é falível. Primeiramente, analisaremos os defeitos da consciência mencionados na Bíblia: a consciência cauterizada, fraca e corrompida. Em seguida, refletiremos sobre o fato de que Deus é o Supremo Juiz, que sonda o mais profundo do nosso ser, conhece todos os desígnios — até os ocultos — e julga com absoluta justiça.

Bons estudos!

Ev. WELIANO PIRES

AD-BELÉM – SÃO CARLOS/SP.

REFERÊNCIAS

MACARTHUR, John. A Vida Segundo Deus: O que a Bíblia ensina sobre a vida cristã. São Paulo: Editora Fiel, 1997.

 

A CONSCIÊNCIA: O TRIBUNAL INTERIOR

Créditos da imagem: Editora CPAD

(SUBSÍDIOS DA REVISTA ENSINADOR CRISTÃO)

Nesta lição, veremos como funciona a consciência. Criada por Deus, é por meio dela que tomamos conhecimento daquilo que agrada a Deus ou não. Infelizmente, a entrada do pecado no mundo, decorrente da Queda, descaracterizou a consciência humana criada por Deus. Somente o conhecimento das Escrituras Sagradas pode trazer renovação para consciência humana e trazê-la de volta ao pleno conhecimento da verdade. 

O apóstolo Paulo discorre sobre o tratamento dado à consciência quando escreve a Carta aos Romanos. Ele instrui que somos transformados pela renovação do nosso entendimento a fim de que experimentemos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12.1). O primeiro passo é a submissão do corpo à vontade divina. Jesus nos ensinou que o espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mt 26.41). Logo, precisamos submetermo-nos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm 12.1). A segunda lição ensinada pelo apóstolo diz respeito a não se conformar com este mundo. Literalmente, significa não assumir a mesma forma que o mundo, isto é, o comportamento, a maneira de agir e pensar das pessoas que não creem no Evangelho (Rm 12.2). Essas atitudes devem ser lembradas por quem deseja guardar os preceitos e valores da Palavra de Deus.

Por último, o apóstolo menciona que somos transformados pela renovação do nosso entendimento. Conforme discorre Lawrence O. Richards, na obra Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento (CPAD), “a palavra usada aqui para ‘entendimento’ é nous, e não deve ser confundida com ‘conhecimento’ nem com ‘razão’. O que Paulo tem em mente é expresso mais apropriadamente como ‘perspectiva’ ou ‘modo de pensamento’. 

Os crentes devem resistir às pressões exercidas pelo mundo para nos conformar com seu modo de pensamento, e em vez disso ter cada uma de nossas perspectivas sobre as questões da vida renovada e transformada. A única maneira de você ou eu podermos fazer a vontade de Deus é reconhecê-la. E nós só podemos reconhecer a vontade de Deus se aprendermos a ver as questões da vida a partir da perspectiva de Deus. Que grande dádiva é a Escritura. E que grande dádiva é o Espírito, que usa a Palavra para renovar nosso entendimento e transformar nossa vida” (2007, p.317).

A consciência do homem sem Deus fica entenebrecida. Graças a Deus pelo Evangelho de Jesus, que nos trouxe a luz da verdade. Acerca disso, o apóstolo João enfatizou que devemos andar na luz, e “se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1Jo 1.7). Permaneçamos nessa luz!

FONTE: 
Revista Ensinador Cristão. Ed. 103. RIO DE JANEIRO: CPAD, p.39.

02 novembro 2025

Como enfrentar o luto na família


A morte é dolorosa para qualquer pessoa que perde um ente querido. É assustadora, mas precisamos passar pelo momento de luto, nos recompor e continuar a vida.

por WELIANO PIRES

A morte é uma realidade terrível, inevitável e irremediável para todos os seres humanos. Ricos, pobres, cultos, iletrados, poderosos e pessoas de todas as tribos e nações estão condenados à morte. Não há, no mundo, ninguém que possa impedir a própria morte ou a morte de outrem, por mais dinheiro que tenha.

Deus havia falado ao primeiro casal que, se eles pecassem, morreriam. A partir do pecado do primeiro casal, a morte passou a ser uma realidade inevitável para todos. A morte entrou no mundo, portanto, como consequência do pecado, e não como um plano de Deus.

Para qualquer pessoa que perde um ente querido, a morte é dolorosa e assustadora, pois não fomos criados para morrer. Existem situações nas quais a morte já é esperada e, nesses casos, embora sofrendo com a partida do nosso ente querido, nos conformamos com mais facilidade. Quando se trata de um idoso com mais de 90 anos, ou de alguém acometido de uma doença incurável, cujo diagnóstico médico atesta que não há mais jeito, já esperamos, a qualquer momento, receber a notícia do falecimento.

Entretanto, quando se trata de mortes por acidente, assassinato ou morte súbita — por infarto, AVC e coisas do tipo —, especialmente em pessoas jovens e aparentemente saudáveis, o choque é terrível. Muitas pessoas não conseguem se recuperar e praticamente morrem juntas, pois não encontram mais motivação para viver. Caem em tristeza profunda, depressão e desistem da vida. Para os pais que perdem um filho, contudo, essa dor é ainda maior.

Jó e sua família eram prósperos, felizes e respeitados na comunidade em que viviam. De repente, foram surpreendidos com uma série de notícias trágicas, principalmente a morte de todos os seus filhos. Eles tinham razões para estarem tristes e viverem o seu período de luto. Mesmo diante de tamanha dor e tristeza, Jó manteve sua fidelidade ao Senhor e o adorou.

Deixo abaixo quatro recomendações importantes para enfrentar e superar a triste realidade do luto na família:

1. Jamais culpe a Deus ou blasfeme contra Ele

Uma das razões que mais costuma levar pessoas ao ateísmo é a revolta diante de um sofrimento extremo, como a perda de um ente querido muito próximo — um filho, o cônjuge ou os pais. Nessas circunstâncias, muitas pessoas costumam culpar a Deus pela tragédia que lhes sobreveio, ou passam a duvidar da existência de Deus, pois, segundo imaginam, se Ele existisse, teria evitado que a tragédia acontecesse.

Outros, quando perdem os seus entes queridos, não chegam a duvidar da existência de Deus, mas duvidam do seu amor, revoltam-se contra Ele e blasfemam. Há mistérios nesta vida que jamais entenderemos, somente na eternidade. A vida e tudo o que há no Universo pertencem a Deus (Sl 24.1). Portanto, precisamos ter cuidado com a nossa fragilidade no luto, para não culpar ou blasfemar contra Deus por causa da morte do nosso ente querido.

2. Viva o momento de luto

Infelizmente, muitos cristãos, querendo dar a impressão de que são seres extraterrestres, tentam desencorajar o choro ou o luto, interpretando erroneamente o texto de 1 Tessalonicenses 4.13, que diz:

“Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais que não têm esperança.”

Dizem, portanto, que o crente não deve chorar ou se entristecer por causa dos seus entes queridos que partiram. Ora, o que Paulo está dizendo é para não se desesperar, como aqueles que não têm a esperança da ressurreição.

Como vamos dizer a uma mãe que acabou de perder um filho, de forma trágica, para não chorar ou não ficar triste? O próprio Jesus, diante do túmulo do seu amigo Lázaro — que havia falecido havia quatro dias —, comoveu-se com o choro das irmãs dele e também chorou (Jo 11.35).

3. Mantenha viva a esperança na ressurreição

É natural e até saudável que a pessoa tenha o seu período de luto pela perda de alguém que ama. Reprimir o choro e a tristeza para parecer forte pode trazer sérios problemas emocionais e até à saúde física. Entretanto, o crente não pode perder de vista sua esperança na vida eterna.

Precisamos sempre lembrar que somos peregrinos e forasteiros neste mundo. O Senhor Jesus, antes de subir ao Céu, prometeu aos seus discípulos que “viria outra vez para levá-los para si mesmo, para que, onde Ele estiver, eles também estejam” (Jo 14.1-3).

4. Não morra junto com o seu ente querido

Por mais dolorosa que seja a partida de alguém que amamos, precisamos nos recompor e continuar a vida até o dia em que Deus nos chamar também. Não devemos jamais dizer que a vida acabou ou perdeu o sentido porque alguém que amamos se foi. Todos nós somos mortais e, cedo ou tarde, passaremos por esse momento.

Se você está passando por um momento de luto em sua família, acalme-se e busque a Deus em oração, para que Ele conforte o seu coração e lhe dê forças para continuar a vida. Um dia ressuscitaremos para nunca mais morrer. Teremos um corpo glorificado, não mais sujeito a doenças e à morte, e viveremos eternamente com o Senhor, se vivermos com Ele neste mundo.

Se, por um lado, é compreensível e necessário o período de luto e tristeza, por outro, não podemos dar lugar ao desespero e ao luto eterno, como se não houvesse esperança. Não temos morada permanente aqui, mas esperamos a nossa Pátria Celestial, onde não haverá mais mortes, tristezas nem dores (Ap 21.1-4). A vida cristã só fará sentido se levarmos em consideração a vida eterna.

Weliano Pires é evangelista da Assembleia de Deus — Ministério do Belém, em São Carlos-SP; bacharel em Teologia, articulista, blogueiro evangélico e professor da Escola Bíblica Dominical.

30 outubro 2025

ALMA RENOVADA E SUBMISSA A DEUS

(Comentário do 3º tópico da Lição 05: A Alma – A natureza imaterial do ser humano).

Ev. WELIANO PIRES

No terceiro tópico, falaremos da alma renovada e submissa a Deus. Iniciaremos tratando da edificação e saúde da nossa alma, enfatizando os cuidados necessários para termos uma vida cristã estável. Em seguida, abordaremos a purificação e renovação da alma, para que possamos ser transformados e, assim, experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12.1).

1. Edificação e saúde.

Assim como acontece com o corpo, a alma também precisa ser bem alimentada. Naturalmente, o alimento da alma não é físico, pois ela é imaterial. A parábola do rico insensato retrata isso muito bem. Nesta parábola, contada por Jesus, a lavoura de um homem rico teve grande produtividade. Ele ficou preocupado, pois os seus armazéns eram pequenos e insuficientes para guardar tantos produtos colhidos.

O homem, então, decidiu derrubar seus armazéns e construir outros maiores. Após o término da obra, disse à sua alma para descansar, comer, beber e folgar, pois havia provisões suficientes para muitos anos. Entretanto, uma voz do Céu lhe disse: 

“Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens guardado, para quem será?” (Lc 12.13–21).

Tanto o apóstolo Paulo quanto o apóstolo Pedro, em suas epístolas, recomendaram a prática da oração como antídoto contra a ansiedade. Escrevendo aos filipenses, Paulo afirmou: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças” (Fp 4.6). Na mesma direção, o apóstolo Pedro escreveu: “Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1Pe 5.7).

A ansiedade, em grau normal, é um sentimento natural do ser humano. Todos nós temos preocupações com o futuro, com prazos curtos para realizar algo importante, com contas a pagar, entre outros aspectos. Entretanto, a ansiedade em níveis excessivos, que ocorre com frequência e por longos períodos, a ponto de atrapalhar a vida da pessoa, é um transtorno que faz muito mal à alma humana.

Os transtornos de ansiedade podem se manifestar de diferentes formas, como fobia social, síndrome do pânico, transtorno de estresse pós-traumático e transtorno de ansiedade generalizada. Eles podem atingir níveis variados e causar danos também à saúde física. Nesses casos, a ansiedade é uma doença emocional como muitas outras.

Quando afirmamos que Jesus é a solução para a ansiedade, não estamos desprezando a doença das pessoas nem dizendo que não se deve procurar tratamento. Jesus pode curar a ansiedade, assim como pode curar qualquer outra enfermidade. No caso das doenças emocionais, como os transtornos de ansiedade, Jesus é tanto a vacina quanto o remédio.

Uma pessoa que vive em comunhão com Cristo, orando e meditando diariamente na Palavra de Deus, pode evitar a ansiedade e outros males da alma. Caso venha a desenvolver algum transtorno, Ele pode curar. No entanto, isso não impede que a pessoa procure ajuda de psicólogos e psiquiatras, conforme a gravidade da situação. A psicóloga Elaine Cruz faz a seguinte recomendação:

“Quando a ansiedade perdura por seis meses, no mínimo, causando sofrimento pessoal ou familiar, sendo desproporcional e irracional, podemos estar diante de um quadro ansiolítico ou TAG — Transtorno de Ansiedade Generalizada —, cuja incidência é maior nas mulheres. Nesse caso, é importante um diagnóstico clínico realizado por um profissional de saúde, podendo até mesmo ser necessário o uso de medicamentos ansiolíticos” (CRUZ, 2018, p. 42).

2. Purificação e renovação.

Além dos cuidados mencionados para a edificação da alma, devemos evitar certos entulhos e lixos espirituais que adoecem o nosso ser interior e até mesmo o corpo. Entre esses fardos espirituais estão os maus pensamentos, os desejos impuros e as intenções malignas.

O apóstolo Pedro recomendou a purificação da alma. E como podemos fazer isso? Por meio da obediência à Palavra de Deus, do amor ao próximo e do novo nascimento: “Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor fraternal não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro; sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre” (1Pe 1.22–23).

Nas lições 7 e 8, quando trataremos respectivamente das batalhas nos pensamentos, sentimentos e emoções, abordaremos com mais detalhes o equilíbrio e a purificação do ser interior. O apóstolo Paulo, escrevendo aos Romanos, recomendou: 

“E não vos conformeis [não tomai a mesma forma] com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.1). [grifo meu].


REFERÊNCIAS

A BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011. 

QUEIROZ, Silas. Corpo, Alma e Espírito: A restauração integral do ser humano para chegar à estatura completa de Cristo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 

CRUZ, Elaine. Ansiedade sob controle: como vencer a preocupação e o medo com ajuda de Deus. São Paulo: Mundo Cristão, 2018.

29 outubro 2025

A NATUREZA DA ALMA: IMATERIALIDADE E IMORTALIDADE

(Comentário do 2º tópico da Lição 05: A Alma – A natureza imaterial do ser humano)

Ev. WELIANO PIRES

Neste segundo tópico, trataremos da natureza da alma, destacando sua imaterialidade e imortalidade. Inicialmente, com base em Mateus 10.28, analisaremos a distinção entre a substância material e a imaterial do ser humano. Em seguida, abordaremos a imaterialidade da alma e a responsabilidade pessoal de cada indivíduo, em contraposição às concepções antropológicas — antigas e modernas — que negam a responsabilidade moral do homem. Por fim, discutiremos as correntes teológicas influenciadas pelo marxismo, como a Teologia da Libertação e a Teologia da Missão Integral, que reduzem o Evangelho a questões socioeconômicas e ignoram a necessidade do arrependimento.

1. Distinção de substâncias

O texto de Mateus 10.28 apresenta fundamentos para compreendermos a natureza imaterial da alma:

“E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” (Mt 10.28, ARA).

A primeira verdade que este versículo ensina é a distinção entre a parte material e a imaterial do ser humano — o corpo, como elemento material, e a alma e o espírito, como elementos imateriais. Embora alma e espírito não sejam exatamente a mesma coisa, são inseparáveis, e a Escritura utiliza ambos os termos de forma intercambiável para designar a dimensão espiritual do homem.

Em Eclesiastes 12.7 lemos:

“E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.”

Neste texto, quando o autor menciona que o “espírito volta a Deus”, a referência inclui também a alma, pois ambos são inseparáveis. Não é apenas o espírito que retorna a Deus, conforme afirmam alguns grupos heterodoxos¹.

De forma semelhante, em Apocalipse 6.9:

“E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram.”

Quando João declara que “viu as almas dos que foram mortos”, entende-se que o espírito também estava presente, uma vez que ambos constituem a parte imaterial e indissociável do ser humano, mesmo após a morte do corpo.

A segunda verdade presente em Mateus 10.28 é que a parte imaterial do ser humano é imortal e não pode ser destruída pelo homem. O máximo que o ser humano pode fazer é matar o corpo; contudo, este será reunido à alma e ao espírito na ressurreição, seja do justo — para a vida eterna —, seja do ímpio — para a condenação eterna².

Por fim, Jesus ensina que os ímpios serão lançados no lago de fogo em sua totalidade — espírito, alma e corpo. Os aniquilacionistas³ afirmam que os ímpios deixarão de existir, mas o termo grego usado por Jesus, apollymi, traduzido por “perecer”, não indica aniquilação, e sim ruína ou destruição contínua. A palavra resulta da junção de apo (“separação”) e ollymi (“ruína, destruição, morte”), significando “separar para a destruição”. Assim, o sentido transmitido por Cristo é o de sofrimento eterno, conforme 2 Tessalonicenses 1.9:

“Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição (aiōnios ollymi), ante a face do Senhor e a glória do seu poder.”

2. Imaterialidade e responsabilidade pessoal

Ao dizer que Deus pode “fazer perecer no inferno [gr. gehenna] tanto a alma como o corpo”, Jesus refuta várias concepções materialistas, antigas e modernas, sobre a natureza humana.

No Livro de apoio, o comentarista apresentou algumas dessas concepções antropológicas materialistas. Segundo um esboço do teólogo Norman Geisler⁴, as principais visões antropológicas podem ser resumidas da seguinte forma:

  • Materialismo antropológico: o ser humano possui apenas corpo, inexistindo alma imaterial;
  • Epifenomenalismo antropológico: a alma é um produto ou reflexo do corpo, semelhante a uma sombra;
  • Idealismo antropológico: apenas a mente existe, e o corpo é mera ilusão;
  • Monismo antropológico: alma e corpo são duas faces de uma mesma substância, como o interior e o exterior de um mesmo objeto.

Jesus, porém, reafirma que o homem é composto por duas substâncias distintas — uma material e outra espiritual —, dotado de liberdade moral, pecaminosidade, e destinado à ressurreição.

Além das concepções filosóficas, há ideologias materialistas que negam a existência da alma e a vida após a morte. O marxismo, elaborado por Karl Marx e Friedrich Engels, é uma das mais influentes. Segundo sua filosofia, o ser humano é produto das estruturas socioeconômicas, e não um ser moralmente responsável. A partir dessa visão, o pecado é reinterpretado como opressão social, e não como rebelião contra Deus.

Contudo, qualquer ideologia que prometa resolver os problemas humanos por meio de reformas políticas ou econômicas incorre no mesmo erro. Somente Jesus Cristo pode resolver o problema do pecado. Sua promessa não é reformar este mundo, mas salvar os que nele creem para viverem com Ele eternamente no novo céu e nova terra (Ap 21.1–7).

3. Materialismo e teologia

A influência materialista também alcançou a teologia. Alguns pensadores marxistas tentaram conciliar a Bíblia com o socialismo, originando o chamado Evangelho Social, que interpreta as Escrituras à luz da filosofia marxista, reduzindo o Evangelho à mera redistribuição de riqueza e à luta contra desigualdades.

Desse movimento surgiu, na Igreja Católica da América Latina, a Teologia da Libertação, que defende que a libertação trazida por Cristo é primordialmente econômica e social. Segundo essa corrente, Jesus não veio libertar do pecado, mas livrar os pobres da opressão dos ricos. Por isso, muitos de seus adeptos passaram a justificar invasões de terras, militância política e até ações violentas em nome da “revolução cristã”.

No meio protestante, surgiu uma vertente semelhante: a Teologia da Missão Integral (TMI), cujo principal expoente foi o pastor equatoriano René Padilla (1932–2021). Em sua obra O Reino de Deus e a Igreja (1984), Padilla propõe que Jesus não veio apenas salvar a alma, mas transformar toda a sociedade.

No Brasil, teólogos e pastores como Caio Fábio, Ariovaldo Ramos, Ed René Kivitz, Ricardo Gondim, entre outros, difundiram essa perspectiva. Alguns deles aderiram posteriormente à teologia liberal e ao teísmo aberto. Ed René Kivitz chegou a afirmar que a Bíblia precisa ser “ressignificada” e “atualizada”, enquanto Ricardo Gondim declarou publicamente seu rompimento com o movimento evangélico, pedindo perdão à comunidade homossexual por críticas feitas anteriormente.

A distinção entre corpo e alma é uma verdade revelada nas Escrituras e confirmada pela experiência espiritual do ser humano. A alma é imaterial, imortal e responsável moralmente diante de Deus. Qualquer doutrina ou ideologia que negue essa realidade — seja filosófica, política ou teológica — afasta-se da verdade do Evangelho.
Somente em Cristo encontramos a verdadeira libertação: não a libertação socioeconômica, mas a redenção do pecado e a vida eterna.

Notas

  1. Cf. Hebreus 4.12: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz... e apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”, onde alma e espírito são distinguidos, mas não separados.
  2. Cf. João 5.28–29; Daniel 12.2.
  3. Doutrina que afirma a destruição total dos ímpios após o juízo final, negando o castigo eterno.
  4. GEISLER, Norman L. Teologia Sistemática: Antropologia, Hamartiologia, Soteriologia. São Paulo: Vida, 2004.

Referências

  • ARA = Almeida Revista e Atualizada.
  • GEISLER, Norman L. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida, 2004.
  • PADILLA, René. O Reino de Deus e a Igreja. Buenos Aires: Kairós, 1984.
  • BÍBLIA SAGRADA. Almeida Revista e Atualizada. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011.

 

ATRIBUTOS DA ALMA

(Comentário do 1º tópico da Lição 5: A alma — a natureza imaterial do ser humano).

Ev. Weliano Pires

No primeiro tópico, falaremos sobre os atributos da alma. Inicialmente, nos remeteremos ao texto de Gênesis, no período da criação. Deus criou o ser humano e deu-lhe a parte imaterial (alma e espírito), que o diferencia de todos os animais. Na sequência, veremos que a alma humana funciona entre o espírito, que se conecta com Deus, e o corpo, que se conecta com o mundo dos homens. Por último, falaremos das poesias dos Salmos, nas quais o salmista conversava com a própria alma, perguntando por que estava abatida e perturbada, em virtude de aflições espirituais e crises em sua comunhão com Deus.

1. De volta ao Gênesis

No texto de Gênesis 2.7, lemos o seguinte:

“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.”

A expressão “alma vivente” presente neste texto, em hebraico, é nephesh chayyah, e pode ser entendida como “pessoa vivente”. A mesma expressão aparece em Gênesis 1.20, referindo-se aos animais:

“E disse Deus: Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente [heb. nephesh chayyah]; e voem as aves sobre a face da expansão dos céus.”

Com base no uso da mesma expressão para seres humanos e animais, alguns grupos heterodoxos ensinam que ambos são iguais, sendo a única diferença o fato de o ser humano ser racional. Segundo afirmam, a alma morre junto com o corpo e deixa de existir, e somente os justos ressuscitariam. Entretanto, não é isso que a Bíblia ensina. O ser humano é diferente do restante da criação, pois reflete a imagem do seu Criador.

Os demais seres vivos também foram criados por Deus, mas nenhum deles foi criado à imagem e semelhança de Deus. O Senhor ordenou que a terra e os mares produzissem seres vivos conforme as suas respectivas espécies (Gn 1.20–24). A partir dessa ordem divina, tudo no universo passou a existir. Entretanto, na criação do ser humano, houve uma deliberação divina: Deus o criou conforme a Sua imagem e semelhança.

A palavra imagem, em hebraico, é tselem, e significa imagem mental, moral e espiritual de Deus. Já o termo traduzido por semelhança é demuth, que significa semelhança ou similaridade. Não se refere, evidentemente, à imagem de Deus em sentido físico, pois Deus é Espírito e não possui corpo físico. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus porque o Criador compartilhou com ele alguns dos Seus atributos comunicáveis, que são as Suas características morais.

Na criação do homem, fica evidente a sua parte imaterial, que o diferencia de todos os animais. Deus concedeu ao ser humano capacidades específicas para discernir entre o certo e o errado, tomar decisões, lavrar o Jardim do Éden, dar nomes aos animais, administrar as coisas criadas por Deus e demonstrar afetividade para com sua companheira. Os animais não possuem essas características. Eles têm instintos — um conjunto de comportamentos inatos, voltados à sobrevivência da espécie.

2. Entre o espírito e o corpo

A alma humana é imaterial e faz do ser humano uma pessoa. As faculdades ou atributos da alma são: emoção (ou sentimento), razão (ou intelecto) e volição (ou vontade). É por meio da alma que amamos e odiamos, sentimos tristeza e alegria, remorso, empatia e antipatia, entre outros sentimentos. Da mesma forma, é através dela que pensamos, planejamos e calculamos nossos atos.

A alma também tem vontade — o poder de fazer ou deixar de fazer as coisas. Deus nos concedeu o livre-arbítrio para tomarmos decisões boas ou más. Entretanto, seremos responsabilizados por essas escolhas.

Conforme dito pelo comentarista, a alma está entre o espírito — que se conecta com Deus — e o corpo — que se conecta com o mundo material por meio dos cinco sentidos. Isso significa que, se o nosso espírito estiver ligado ao Espírito Santo, a nossa alma se alegrará nEle e refletirá o Seu fruto: amor, alegria, longanimidade, benignidade, bondade, paz, fidelidade, mansidão e domínio próprio.

Quando essas virtudes do Espírito estão presentes em nossa alma, o nosso corpo também se torna puro e não se entrega às obras da carne.

3. A alma abatida

Neste subtópico, o comentarista mencionou que os afetos da alma em relação a Deus se manifestam nas poesias dos salmistas — nos Salmos 42, 43, 51 e 84. Neles, os salmistas expressam seu profundo anseio pela presença de Deus.

Digo os salmistas porque, diferente do que muitos imaginam, nem todos os Salmos foram escritos por Davi, embora a maioria seja de sua autoria. Um total de 73 salmos é atribuído a Davi pela tradição judaica.

O Salmo 42 foi escrito por uma família de levitas responsáveis pela música no templo, chamados de filhos de Coré (ou Corá, em versões mais recentes). Nesse salmo, o autor usa a figura de um cervo que brama por água no deserto, buscando desesperadamente uma fonte para sobreviver, a fim de ilustrar o anseio que sentia em sua alma pela presença de Deus. Não sabemos em que circunstância ele escreveu essas palavras, mas o contexto indica que estava longe do templo e sentia falta da adoração, assim como o cervo sentia falta da água.

O Salmo 43 é de autoria desconhecida, mas é possível que também seja dos filhos de Coré, pois repete o mesmo refrão do Salmo 42, onde o salmista questiona a própria alma a respeito do seu abatimento:

“Por que estás abatida, ó minha alma? E por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face e Deus meu.” (Sl 43.5)

Este salmo é uma oração em que o salmista clama a Deus para que pleiteie sua causa e faça justiça contra uma nação ímpia.

O conhecidíssimo Salmo 51 é uma oração de Davi, confessando o seu pecado e implorando pelo perdão e restauração de Deus. No versículo 10, Davi usa, de forma intercalada, as palavras coração (heb. leb) e espírito (heb. ruach), para se referir ao ser interior (alma e espírito), que necessitava de perdão e renovação.

A alma de Davi também sentia falta da presença de Deus, a ponto de dizer:

“Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação e sustém-me com um espírito voluntário.” (Sl 51.11–12)

O Salmo 84, também escrito pelos filhos de Coré, retrata a situação de alguém que não estava mais em Jerusalém e sentia saudades do templo e da adoração a Deus. No versículo 2, o salmista diz:

“A minha alma está desejosa e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo.”

Novamente, vemos aqui a alma anelando pela presença de Deus.

28 outubro 2025

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 5: A ALMA — A NATUREZA IMATERIAL DO SER HUMANO

TEXTO ÁUREO:
“E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” (Mt 10.28).

VERDADE PRÁTICA:
Cuidar da alma é uma atitude fundamental para uma vida cristã estável e uma eternidade de alegria e paz.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: Gênesis 1.27,28; 2.15-17; Mateus 10.28.

Objetivos da Lição: 

I) Fazer os alunos compreenderem que a alma é a sede das emoções, da razão e da vontade; 
II) Demonstrar aos alunos, com base bíblica, que a alma é uma parte imaterial e imortal do ser humano, capacitando-os a refutar visões materialistas; 
III) Conscientizar os alunos da necessidade de cultivar uma alma saudável por meio da oração, da meditação na Palavra de Deus e de hábitos santos.

Palavra-Chave: ALMA

A palavra traduzida por alma em nossa Bíblia, no hebraico é nephesh. É uma palavra polissêmica, pois tem vários significados, que variam de acordo com o contexto. Pode significar um ser, a vida, uma criatura, uma pessoa, apetite, mente, ser vivo, desejo, emoção, paixão. No grego é psychē, de onde vêm as palavras portuguesas psicologia, psiquiatria, psicotécnico, etc. Em alguns textos, como em Gênesis 1.20, a palavra alma significa a própria vida. Nesse sentido, se aplica também à vida dos animais (Gn 1.24). Em outros textos, como em 1 Pedro 3.20, a alma significa a própria pessoa humana (oito almas que se salvaram no dilúvio). Em Mateus 10.28, porém, a alma significa a parte imaterial junto com o espírito, que pode perecer eternamente no inferno. A alma é parte imaterial do ser humano que forma a nossa personalidade e tem como faculdades os sentimentos, a vontade e o intelecto. É a alma que dá vida ao corpo. Na morte física, a alma sai do corpo junto com o espírito (Gn 35.16-19).

INTRODUÇÃO 

Depois de estudar três lições sobre o corpo humano, iniciaremos a partir desta lição, o segundo bloco deste trimestre e estudaremos cinco lições relacionadas à alma humana e às suas faculdades. Na primeira lição deste trimestre, vimos que o ser humano é formado por três partes: o corpo, que é a parte física e tangível; a alma, que é a parte emocional; e o espírito, que é a parte espiritual, capaz de se conectar a Deus. A alma e o espírito formam a parte imaterial e são distintos, porém inseparáveis e imortais. 

Nesta primeira lição sobre a alma humana, falaremos da sua natureza imaterial, dos seus atributos e da sua importância no relacionamento com Deus. O materialismo, que é ateísta, nega a existência da alma, pois na sua concepção o ser humano é apenas uma espécie de animal como os demais, que deixa de existir após a morte. Entre aqueles que crêem na Bíblia, em virtude da palavra alma ser polissêmica, surgem interpretações equivocadas de textos bíblicos, que geram doutrinas heterodoxas sobre a alma. 

Alguns grupos heterodoxos ensinam que o homem não possui uma alma, como a sede dos sentimentos, vontade e intelecto, mas é uma alma. Outros até acreditam que o ser humano tem uma alma, mas que não é imortal ou fica inconsciente após a morte. Claro que em alguns textos bíblicos, a palavra alma, realmente é usada para se referir à própria pessoa, como no texto de 1 Pedro 3.20. Mas em outros textos, a alma tem outros significados, como em Mateus 10.28, que se refere à alma como a parte imaterial, que junto com o espírito, pode perecer eternamente no lago de fogo. 

TÓPICOS DA LIÇÃO 

I. ATRIBUTOS DA ALMA

No primeiro tópico, falaremos dos atributos da alma. Inicialmente, nos remeteremos ao texto Gênesis, no período da criação. Deus criou o ser humano e deu-lhe a parte imaterial (alma e espírito) que o diferencia de todos os animais. Na sequência, veremos que a alma humana funciona entre o espírito, que se conecta com Deus, e o corpo, que se conecta com o mundo dos homens. Por último, falaremos das poesias do salmos, nas quais o salmista conversava com a própria alma, perguntando por que estava abatida e perturbada, em virtude de aflições espirituais e crises em sua comunhão com Deus. 

II. A NATUREZA DA ALMA: IMATERIALIDADE E IMORTALIDADE

No segundo tópico, falaremos da natureza da alma destacando a sua imaterialidade e imortalidade. Inicialmente, com base no texto de Mateus 10.28, falaremos da distinção entre as substâncias material e imaterial do ser humano. Na sequência, falaremos da imaterialidade da alma e da responsabilidade pessoal de cada indivíduo, em contraponto às concepções antropológicas, da antiguidade e atuais, que negam e a responsabilidade moral do ser humano. Por último, falaremos das correntes teológicas influenciadas pelo marxismo, como a Teologia da Libertação e a Teologia da Missão integral, que resumem o Evangelho a questões socioeconômicas, e ignoram a necessidade de arrependimento.

III. ALMA RENOVADA E SUBMISSA A DEUS

No terceiro tópico, falaremos da alma renovada e submissa a Deus. Iniciaremos falando da edificação e saúde da nossa alma, enfatizando os cuidados que devemos ter para termos uma vida cristã estável. Na sequência, falaremos de purificação e renovação da nossa alma, para que possamos ser transformados e, então, experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12.1). 

Bons estudos!

Ev.. WELIANO PIRES 

PREPARANDO O CORPO, A ALMA E O ESPÍRITO PARA A ETERNIDADE

(SUBSÍDIO DA REVISTA ENSINADOR CRISTÃO/CPAD) Estamos concluindo mais um trimestre. Nesta última lição, estudaremos sobre o preparo do crente...