No terceiro tópico, falaremos de Jesus como o Pão que desceu do Céu. No primeiro subtópico, o comentarista repetiu o mesmo assunto tratado no terceiro subtópico do primeiro tópico, falando sobre o real interesse da multidão. Na sequência, falando sobre a expressão o Pão do Céu, falaremos da identidade divina de Jesus, quando diz: “Eu Sou”, que é uma característica exclusiva dos discursos de Jesus no Evangelho segundo João. Por último, falaremos do significado da expressão “comer o pão”.
1. Qual é o real interesse da multidão? Neste subtópico, a meu ver, o comentarista foi repetitivo, pois já havia abordado este tema no primeiro tópico, quando falou que a multidão seguia a Jesus devido aos milagres e curas que Ele realizava e não para escutar a sua mensagem. Portanto, não há necessidade de comentar a mesma coisa aqui e não há nada a acrescentar.
2. O Pão do Céu. No dia seguinte ao milagre da multiplicação dos pães e peixes, Jesus confrontou aquela multidão interesseira dizendo: “Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, o selou.” (Jo 6.26,27). A expressão “Na verdade, na verdade" (Em aramaico: Amém, amém), significa algo que é verdadeiro e fiel. Era usada como uma introdução a uma declaração solene. A repetição servia para declarar que aquilo que seria dito a seguir era a mais absoluta verdade, ou com toda certeza.
Jesus fez um contraste entre a comida que alimenta o corpo, que é perecível, e a comida espiritual que permanece para a vida eterna. Entre algumas perguntas e respostas da multidão com Jesus, eles perguntaram que sinal Jesus faria para que eles pudessem crer nele e mencionaram o Maná que os seus antepassados comeram no deserto. Foi aí que Jesus lhes disse que Moisés não havia dado o pão do céu; mas o Pai sim, deu o verdadeiro pão do céu, que é aquele que desceu do céu e dá vida ao mundo. (Jo 6:32,33). Assim como aconteceu com a mulher samaritana, a multidão se interessou por este pão anunciado por Jesus, pois pensavam que seria algum alimento especial que Jesus lhes daria.
Jesus, então, lhes declarou abertamente: “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede.” (Jo 6.35). É importante esclarecer que este discurso de Jesus não aconteceu em Betsaida, onde aconteceu a multiplicação dos pães, mas no dia seguinte, em Cafarnaum, onde todos conheciam Jesus, pois ele morava lá com os seus pais e irmãos na idade adulta. Por causa disso, eles questionaram a declaração de Jesus, dizendo: “Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz ele: Desci do céu?” (Jo 6.42).
Com esta declaração: Eu sou o pão da vida, Jesus confirma a sua identidade divina através da expressão “EU SOU” (Gr. Ego eimi). Esta expressão aparece vinte e quatro vezes no Evangelho de João. Em dezessete vezes Ego Eimi aparece com um predicado a seguir, como é o caso aqui: Eu sou o Pão da vida. Há outras ocorrência do uso desta expressão por Jesus nesse sentido, como: Eu sou a luz do mundo (8.12; 9.5); Eu sou a porta das ovelhas (10.7,9); Eu sou o Bom Pastor (10.11,14); Eu sou a ressurreição e a vida (11.25); Eu sou o caminho, a verdade e a vida (14.6); e, Eu sou a videira verdadeira” (15.1,5). Todas estas declarações sobre si mesmo, só poderiam ser feitas por Deus, pois, nenhuma criatura poderia dizer de si mesmo: eu sou a verdade, a vida, o Bom Pastor, etc.
Em outras sete vezes, a expressão “EU SOU” aparece sem nenhum complemento, exatamente como Deus usou o “EU SOU” no Antigo Testamento: “Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados, porque se não crerdes que Eu Sou, morrereis em vossos pecados” (Jo 8.24); “Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis quem Eu Sou, e que nada faço por mim mesmo; mas estas coisas falo como meu Pai me ensinou.” (Jo 8.28); e “Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, Eu Sou.” (Jo 8.58). Neste último exemplo, as pessoas entenderam como uma blasfêmia e tentaram apedrejá-lo.
3. O que é “comer o pão”? As pessoas já estavam sem entender o que Jesus quis dizer, quando Ele disse que era o pão que desceu do Céu, pois eles o conheciam em Cafarnaum e conheciam também os seus pais e irmãos. A declaração de Jesus no versículo 51, chocou até os seus discípulos e muitos o abandonaram: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer desse pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo” (Jo 6.51). Diante desta declaração, os seus interlocutores indagaram: “Como nos pode dar este a sua carne a comer?” (Jo 6:52). Jesus foi mais além e acrescentou: “Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.” (Jo 6.53).
Esse tipo de declaração era chocante na cultura judaica, se entendida literalmente. Embora não houvesse uma proibição direta do canibalismo, a prática é mencionada na Bíblia como uma maldição terrível (Lv 26.29; Dt 29.53-57). Era, portanto, algo inimaginável para os israelitas. A ingestão de sangue e da carne com o sangue eram proibidos na Lei (Lv 17.10-11). Conforme o comentário da Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, “Jesus não estava falando literalmente, de sangue. Ele estava dizendo que sua vida tinha que se tornar a vida deles; mas eles não conseguiam aceitar esse conceito”.
O que significa, então, comer o pão que desceu do Céu? Alguns argumentam que é uma referência à Ceia do Senhor, principalmente os teólogos católicos, que defendem a doutrina da transubstanciação, que é o ensino de que os elementos da Ceia se transformam literalmente no corpo e no sangue de Cristo. Por isso, segundo os católicos, ao ingerir a hóstia sagrada, o fiel come literalmente o corpo de Cristo. Lutero defendeu a consubstanciação, que seria a união espiritual de Cristo aos elementos da Ceia, que transmite graça aos que os ingerirem. Os luteranos atuais rejeitam a doutrina da consubstanciação.
Embora a Ceia do Senhor seja uma representação da morte de Cristo, na qual o pão simboliza o seu corpo e o vinho o seu sangue, Jesus não está falando da Ceia neste texto. Há dois sentidos para comer o pão neste ensino de Jesus: Receber a salvação (Jo 6.50-56) e manter a comunhão com Ele (Jo 6.54-56). Portanto, comer a carne de Jesus e beber o seu sangue é uma linguagem figurada que significa recebê-lo como Senhor e Salvador e ter comunhão com Ele.
REFERÊNCIAS:
CABRAL, Elienai. E o Verbo se fez carne: Jesus sob o olhar do apóstolo do amor. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025.
Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 101, p.38
Bíblia de Estudo Pentecostal — Edição Global. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2022, p.1857
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, RIO DE JANEIRO: CPAD, p.1427.
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