(Comentário do 1º tópico da Lição 02: O Novo Nascimento)
Ev. WELIANO PIRES
No primeiro tópico, falaremos de alguns detalhes do encontro entre Jesus e Nicodemos. Inicialmente, traremos as informações que temos sobre a pessoa de Nicodemos. Na sequência, falaremos do reconhecimento de Nicodemos sobre Jesus como Mestre, o que indica que ele reconhecia a autoridade espiritual de Jesus. Por fim, analisaremos os detalhes do diálogo entre Jesus e Nicodemos.
1. Quem era Nicodemos? Temos poucas informações sobre Nicodemos na Bíblia. O seu nome é grego e significa “conquistador do povo”. Ele aparece na Bíblia somente no Evangelho segundo João, em três ocasiões: Neste diálogo com Jesus, em João 3.1-21, que é o assunto desta lição; Depois, em João 7.50-52, ele aparece em uma discussão com os fariseus sobre Jesus, na qual, ele deu um parecer favorável a Jesus, quando os seus pares mandaram prendê-lo e foi chamado de ignorante; Por último, em João 19.39-40, no sepultamento de Jesus, ele aparece auxiliando José de Arimatéia, na preparação do corpo de Jesus para a sepultura. Isso nos leva a concluir que ele era um pessoa de posses.
A Bíblia também não nos informa nada a respeito da origem de Nicodemos. O texto de João 3.1, diz o seguinte sobre Nicodemos: “Havia um homem entre os fariseus, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus”. Por estas informações, concluímos que ele era membro do partido dos fariseus e era membro do Sinédrio. O termo grego usado para se referir à sua posição entre os judeus é archon, que significa governador ou príncipe. Algumas versões o traduzem como “líder dos judeus”. Este termo era usado para se referir aos membros do Sinédrio.
Os fariseus, partido religioso ao qual Nicodemos pertencia, surgiu provavelmente no período que antecedeu a guerra dos macabeus, com o objetivo de resistir e fazer oposição aos costumes helenísticos e aculturação do povo judeu. Este nome apareceu pela primeira vez durante a época do governo de João Hircano, que governou a Judéia entre 135 e 105 a.C. O próprio João Hircano, que era sumo sacerdote, era também um fariseu. Mas, depois passou para o partido dos saduceus.
A palavra hebraica “prushim” (fariseus) tem origem incerta. O sentido mais provável é “separado”. Eles eram muito rigorosos na observância não apenas da Lei escrita, mas também da tradição oral. Além dos mandamentos da Lei de Moisés, os fariseus criaram muitas regras preventivas, para “evitar que as pessoas pecassem”. Boa parte dos fariseus eram hipócritas e legalistas e, por isso, o grupo sofreu duras críticas de Jesus no capítulo 23 de Mateus. Por causa dessa hipocrisia de alguns, o termo fariseu passou a ser usado para classificar alguém como um religioso legalista e hipócrita. Entretanto, nem todos os fariseus eram hipócritas. Temos pelo menos três exemplos de fariseus na Bíblia, que eram pessoas sinceras e tementes a Deus: o próprio Nicodemos, Gamaliel e Saulo.
O Sinédrio, do qual Nicodemos era membro, era a suprema corte judaica, formada por sacerdotes anciãos e escribas. Os anciãos que faziam parte do Sinédrio eram líderes comunitários muito respeitados, indicados para representar os israelitas na corte, ao lado dos escribas e sacerdotes. Os membros do Sinédrio não eram qualquer pessoa, escolhida aleatoriamente como acontece atualmente com os jurados nos tribunais. Eram pessoas idôneas, notáveis e respeitadas na sociedade.
2. O reconhecimento de Nicodemos sobre Jesus como Mestre. Nicodemos iniciou a sua conversa com Jesus, chamando-o de “Rabi”, que é a transliteração do termo hebraico “Rabbi”, que significa “Meu Mestre”. Rabbi, que tem origem na raiz hebraica “Rav”, que no hebraico bíblico significa "grande", "distinto", ou “notável” (no conhecimento). Ao chamar Jesus de Rabi, Nicodemos reconheceu que Ele era um mestre vindo de Deus, por causa dos milagres que Ele fazia. Em suas palavras iniciais, podemos notar que ele havia presenciado alguns milagres de Jesus e entendeu que eram verdadeiramente manifestações do poder de Deus. Este mestre da lei procurou Jesus não com interesse em criticá-lo, ou apanhá-lo em alguma falta. Ele, de fato, procurou entender a mensagem de Jesus.
O fato de Nicodemos ter procurado Jesus durante a noite também tem levantado discussões. Alguns sugerem que ele foi à noite, porque temia ser visto conversando com Jesus, por causa da sua posição no Sinédrio. Havia um temor das pessoas que criam em Jesus, confessá-lo publicamente, por medo de serem expulsos da Sinagoga (Jo 9.22; 12.42). Outros sugerem que ele foi à noite por ser mais tranquilo, pois o ministério de Jesus era itinerante e estava sempre cercado de uma multidão. Seja qual for o motivo, o fato é que ele desejava conhecer a Jesus. Depois deste encontro ele se tornou discípulo de Jesus e chegou a defendê-lo de forma genérica, perante os fariseus.
Podemos notar nesta abordagem de Nicodemos, que não havia hostilidade da parte dele para com Jesus, como costumava haver da parte dos seus companheiros fariseus. Em todas as conversas dos fariseus com Jesus, percebemos que eles tinham inveja dele e agia com astúcia, a fim de apanhá-lo em alguma palavra ou ação para o acusarem perante as autoridades. Para atingir este objetivo, eles passavam por cima das divergências que tinham com os saduceus e com os herodianos, pois os três grupos não gostavam de Jesus: “E, tendo saído os fariseus, tomaram logo conselho com os herodianos contra ele, procurando ver como o matariam.” (Mc 3.6).
3. O diálogo entre Jesus e Nicodemos. Diante desta abordagem de Nicodemos, Jesus deu-lhe uma resposta que o deixou perplexo: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus”. (Jo 3.3). A interpretação imediata de Nicodemos para estas palavras de Jesus foi de que Ele estaria sugerindo que a pessoa deveria renascer fisicamente. Esta mesma interpretação equivocada das palavras de Jesus tem sido feita pelo Espiritismo, que ensina que Jesus estava ensinando a reencarnação neste texto.
O próprio Jesus explicou a Nicodemos que não se tratava de um segundo nascimento físico, mas de um nascimento espiritual, simbolizado por “nascer da água e do Espírito”. Jesus usou as palavras água e Espírito em sentido figurado, para se referir à ação sobrenatural do Espírito Santo que transforma o velho homem, cuja natureza foi corrompida pelo pecado, em uma nova criatura com uma nova natureza segundo os padrões de Deus, como veremos no próximo tópico.
Aqui neste subtópico, o comentarista associa a simbologia da água e do Espírito à mensagem de João Batista, que falou de batismo nas águas e no Espírito Santo. No texto do Livro de apoio, na página 31, ele defendeu claramente que nascer da água é uma referência ao batismo nas águas:
“Os teólogos, ao longo da história da igreja, debatem o significado da “água” e imaginam interpretações que fogem completamente ao sentido teológico desse elemento. O que importa entender é que água se refere ao ato batismal como sinal de arrependimento e confissão pública de fé na mensagem do Filho de Deus”.
Esta interpretação, a meu ver, é equivocada, pois o novo nascimento não tem nada a ver com batismo nas águas, pois o batismo em águas ainda não havia sido ensinado por Jesus e não é condição para a salvação. O batismo é uma ordenança para os que já foram salvos e serve como um testemunho público de que a pessoa nasceu de novo. O batismo não é realizado para salvar a pessoa, mas é ministrado a quem já é salvo. Se o batismo fosse sinônimo de nascer da água como Jesus falou, aqueles que morreram antes do batismo, como o ladrão da cruz, não seriam salvos. Falaremos mais detalhadamente sobre a simbologia da água e do Espírito no terceiro tópico.
REFERÊNCIAS:
Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 101, p.37.
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2022, pp. 1413, 1419.
GOMES, Osiel. A Carreira que nos está proposta: O caminho da Salvação, santidade e perseverança para chegar ao Céu. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2024.
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