(Comentário do 3º tópico da Lição 01: O Verbo que se tornou em carne)
Ev. WELIANO PIRES
No terceiro tópico, falaremos da encarnação do Verbo. Inicialmente falaremos da manifestação do Verbo e a Luz do mundo, trazendo também o significado de luz e trevas na Bíblia. Na sequência, falaremos do privilégio que temos de sermos chamados filhos de Deus, mediante a fé em Jesus. Por último, falaremos da manifestação e habitação do Verbo entre os seres humanos, com base na frase “e o Verbo se fez carne e habitou entre nós”.
1. A manifestação do Verbo e a Luz do mundo. Nos primeiros cinco versículos do prólogo, João fez afirmações muito fortes sobre Jesus, que não deixam nenhuma dúvida de que Ele é Deus. João afirmou que Jesus: Ele existe antes de todas as coisas junto com o Pai e é Deus, mas não é o Pai. João afirmou também que Jesus é o Criador de todas as coisas, evidentemente, junto com o Pai e o Espírito Santo. Ele explicou que em Jesus estava a vida e a vida era a luz. Por fim, João afirmou que a luz veio ao mundo, resplandeceu nas trevas, mas as trevas mas as trevas não a compreenderam. Outras versões dizem que as trevas não prevaleceram contra a luz ou não conseguiram apagá-la. Em outros textos do Evangelho, que veremos em lições posteriores, Jesus afirmou que Ele é tanto a vida, como a luz. Luz e trevas na Bíblia são símbolos, respectivamente, da pureza e do pecado. Jesus é a Luz do mundo porque ele tira o pecado do mundo.
Nos versículos 6 a 32, João fala da encarnação do Verbo e sobre a vinda de João Batista, que não é o escritor deste livro. Na sequência, ele descreve o testemunho de João Batista sobre Jesus. João não registrou o evento do batismo de Jesus como os outros evangelistas, mas no testemunho de João Batista, ele próprio descreve o que viu quando batizou Jesus: “Vi o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre ele. Eu não o conhecia; aquele, porém, que me enviou a batizar com água me disse: Aquele sobre quem você vir descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo." (Jo 1.32,33). Em seu testemunho, João Batista falou da preexistência de Jesus, disse que era inferior a Jesus e que Jesus é aquele que batiza com o Espírito Santo e com fogo. Falou também que Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29,30).
2. O privilégio de nos tornarmos filhos de Deus. Nos versículos 11 e 12, João escreveu o seguinte: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome”. A referência inicial “veio para os seus” se aplica ao povo judeu, pois Jesus manifestou-se inicialmente a eles e foi rejeitado por eles. Isto não significa que Jesus veio somente para eles e, como eles o rejeitaram, Jesus adotou “plano B”, estendendo a salvação para os não-judeus. Em toda a Bíblia está claro que Jesus veio para salvar toda a humanidade, independente da etnia, nacionalidade ou classe social. Entretanto, a sua vinda se daria através da descendência de Abraão.
A segunda referência, “deu-lhes o poder de serem chamados filhos de Deus”, se aplica a todos os que crerem em Jesus, de qualquer nação, pois Deus não faz acepção de pessoas. Antes de conhecer a Cristo, éramos estranhos e inimigos de Deus. Mas, pela fé em Cristo, recebemos não apenas o perdão dos pecados, mas também o direito de sermos chamados filhos de Deus. Muitas pessoas estão enganadas, pensando que todos os seres humanos são filhos de Deus. A Bíblia é muito clara e afirma que filhos de Deus são apenas aqueles que crêem em Jesus (Jo 1.12). Aqueles que nele crêem se tornam filhos de Deus por adoção. Os demais são apenas criaturas de Deus e não filhos.
3. A manifestação e a habitação do Verbo. Depois de falar, de forma contundente, sobre a divindade do Verbo, João não deixa de mencionar também a humanidade plena de Jesus. No mesmo capítulo 1, ele escreveu: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”. (Jo 1.14). João deixou claro que Jesus tomou a forma humana e habitou entre eles. Ele reafirmou esta verdade também em 1 João 1: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida”.
A Encarnação do Filho de Deus é uma das doutrinas fundamentais do Cristianismo. Sobre isso, diz-nos a Declaração de Fé das Assembleias de Deus:
"Cremos na concepção e no nascimento virginal de nosso Senhor Jesus Cristo, conforme as Escrituras Sagradas e anunciado de antemão pelo profeta Isaías, e que ele foi concebido pelo Espírito Santo no ventre da virgem Maria."
Quando Jesus nasceu, Mateus associou a Ele a profecia de Isaías que diz: "Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel." (Is 7.14). A palavra hebraica "Emanuel" significa "Deus conosco". Portanto, Jesus é Deus, mas se tornou humano e habitou entre nós.
Conforme vimos no trimestre passado, surgiram várias heresias sobre a Pessoa e a Natureza de Cristo. Os ebionitas e os arianistas negavam a divindade de Jesus. Os docetistas e os gnósticos negavam a sua corporeidade e humanidade. Depois surgiram outras heresias contra a dupla natureza de Jesus. O Nestorianismo não negava a humanidade, nem a divindade de Cristo. Mas defendia que as duas naturezas de Cristo são, na verdade, duas pessoas: uma divina e uma humana. O monofisismo defendia que Jesus tinha duas naturezas antes da sua encarnação, mas estas duas naturezas se fundiram e se tornaram apenas uma natureza, que não é totalmente humana, nem totalmente divina.
Sobre a encarnação do Verbo surgiu outra heresia chamada kenoticismo, palavra derivada grego kenoō, que significa “esvaziar”. Este verbo grego está presente no texto de Filipenses 2.7 que diz: “Mas aniquilou-se [kenoō] a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens”. Com base neste texto, o kenoticismo afirmava que Jesus teria se esvaziado dos seus atributos divinos enquanto esteve neste mundo e após a ressurreição os retomou. Isso equivale a dizer que Jesus deixou de ser Deus e depois voltou a sê-lo.
Aqui neste ponto, eu preciso fazer uma correção, referente ao comentário do Pr, Elienai Cabral, no Livro de Apoio. Esta parte do comentário não está na revista, está apenas no Livro. Na página 21, quando falou da encarnação do Verbo, o Pr. Elienai escreveu o seguinte:
“O apóstolo Paulo entendeu a encarnação do Verbo quando escreveu aos filipenses que Jesus, sendo Deus, aniquilou-se a si mesmo (Fp 2.7), no sentido de despojar-se e privar-se da glória de divindade que tinha, para tomar a forma de homem. Ele não se esvaziou da essência da sua divindade, mas esvaziou-se dos atributos de divindade para se manifestar literalmente como homem comum”.
Um pouco adiante, na página 22, ele escreveu:
“Jesus preferiu aniquilar-se de sua glória divina para assumir a natureza humana com o propósito de salvar a todos. O seu desejo de resgatar o homem dos seus pecados, fez com que Cristo abdicasse de sua glória e divindade”.
Evidentemente, eu não tenho a pretensão de desmerecer o Pr. Elienai Cabral, que é o comentarista mais antigo, ainda em atividade na CPAD, e tampouco tenho a petulância de querer nivelar-me a ele no conhecimento teológico. Eu sei perfeitamente que ele não nega divindade de Jesus, pois ele deixou isso bem claro tanto no Livro de apoio, quanto na revista. Entretanto, da forma que ele colocou neste texto acima, dizendo que Jesus “esvaziou-se dos atributos de divindade para se manifestar literalmente como homem comum”, ele está afirmando exatamente o que dizia o kenoticismo.
Ora, Jesus é plenamente Deus e se tornou plenamente humano, mas jamais deixou de ser Deus enquanto viveu neste mundo como homem. Também não deixou de ser humano após a ressurreição, pois o seu corpo ressuscitou e foi glorificado. Ele abriu mão de usar os atributos divinos, mas nunca deixou de tê-los, se não deixaria de ser Deus e isso é impossível, pois Deus não muda em sua essência e atributos. Ele esvaziou-se da Sua glória e manifestou-se como homem, pois nenhum ser humano em sua condição mortal pecaminosa jamais suportaria a glória de Deus. Mas Ele jamais abdicou da sua divindade.
REFERÊNCIAS:
CABRAL, Elienai. E o Verbo se fez carne: Jesus sob o olhar do apóstolo do amor. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025.
Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 101, p.36.
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2022, p.1410.
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2022, p.1410.
Bíblia de Estudo Plenitude. BARUERI-SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1ª Ed. 2001, p. 1069, 1070.
SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025.
SOARES, Esequias. Declaração de Fé das Assembleias de Deus: Jesus salva, cura, batiza no Espírito Santo e em breve voltará. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2017, p.28
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