23 abril 2025

JESUS, A MULTIDÃO E O MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO

(Comentário do primeiro tópico da Lição 04: Jesus - o Pão da Vida).


Ev. WELIANO PIRES


No primeiro tópico, falaremos dos detalhes do milagre da multiplicação dos pães. Inicialmente falaremos do contexto do relato joanino sobre a multiplicação dos pães e peixes. Na sequência, falaremos do milagre em si, que é diferente de outros milagres, pois mostra o poder ilimitado de Jesus ao trazer à existência algo que não existia. Por último, falaremos do interesse da multidão ao procurar Jesus no dia seguinte à multiplicação dos pães. 

 

1. A multiplicação de pães e peixes. João iniciou a narrativa do capítulo 6, com a expressão “depois disso”, em referência aos acontecimentos narrados no capítulo 5. Após a cura do paralítico de Betesda, Jesus entrou em discussão com os judeus e fez um discurso, no qual Ele se declarou abertamente como Filho de Deus e igual ao Pai. Após proferir este discurso, Jesus navegou com os discípulos para o outro lado do Mar da Galiléia, também conhecido como Lago de Genesaré e Mar de Tiberíades, em referência à cidade de mesmo nome, construída por Herodes Antipas, que recebeu este nome em homenagem ao imperador Tibério. 


A multidão foi atrás deles, por causa dos milagres que viam Jesus realizar. Foi neste contexto que Jesus realizou o milagre da multiplicação dos pães e peixes e alimentou cinco mil pessoas, contando apenas os homens. Incluindo as mulheres e crianças, podemos deduzir que o número de pessoas seria, no mínimo, umas dez mil pessoas, considerando que nem todos eram casados e nem todos tinham crianças. Este é o único milagre de Jesus que está registrado nos quatro Evangelhos (Mt 14.13-21; Mc 6.30-44; Lc 9.10-17; Jo 6.1-14). Os outros evangelistas relataram que esta multiplicação de pães aconteceu logo após o assassinato de João Batista por Herodes (Mt 14.12,13; Mc 6.27-30; Lc 9.10). João não mencionou este fato.


É importante esclarecer também que Jesus realizou duas multiplicações de pães e peixes. Na primeira ocasião, Ele multiplicou cinco pães e dois peixes, alimentou cinco mil homens e sobraram doze cestos. Na segunda multiplicação, foram sete pães e alguns peixinhos. O número de pessoas era de quatro mil homens e o número de cestos que sobraram eram sete. Diferente de Mateus e Marcos, que registraram as duas multiplicações, João e Lucas registraram apenas a primeira.


2. O milagre. Jesus subiu a um monte e vendo que a multidão o seguia, perguntou a Filipe, a fim de experimentá-lo, pois sabia o que iria fazer: Onde compraremos pão, para estes comerem? Admirado com a pergunta de Jesus, Filipe respondeu que “duzentos dinheiros de pão não lhes bastariam, para que cada um deles pegasse um pequeno pedaço de pão”. Ou seja, duzentas diárias de um trabalhador comum seriam insuficientes para que cada pessoa recebesse apenas um pedacinho de pão. Além disso, dificilmente, algum fabricante de pão daria conta de tal demanda, sem que houvesse uma encomenda prévia. 


Ouvindo aquela conversa, André disse que havia um rapaz entre eles que tinha cinco pães de cevada e dois peixes, mas  também argumentou que aquilo não seria nada diante de uma multidão de cinco mil pessoas, contando apenas os homens. Jesus mandou-os que os fizessem assentar. Em seguida, deu graças ao Pai e repartiu os pães e os peixes aos discípulos para que os distribuíssem à multidão. Todos comeram e se fartaram. 


Jesus ordenou também que recolhessem os pedaços de pão que caíram e deu um total de doze cestos cheios. Após ver aquele milagre, a multidão exclamou: “Este é o profeta que havia de vir ao mundo”. Jesus percebendo que eles queriam arrebatá-lo para proclamá-lo rei, retirou-se do meio deles e foi sozinho para o monte. No final da tarde, Ele foi ao encontro dos discípulos, andando sobre o mar. 


O comentarista destacou que este milagre revela o poder criador e divino de Jesus, que é capaz de trazer à existência aquilo que anteriormente não existia (Jo 6.11-13). Neste milagre Jesus não fez uma transformação de alguma matéria prima, mas fez surgir do nada, pães que não existiam, assim como aconteceu na criação, quando Deus ordenava e as coisas passavam a existir. 


Milagres não são ocorrências corriqueiras como muitas pessoas imaginam na atualidade. Vemos em nossos dias pessoas contando alguns “tristemunhos”, como se fossem milagres, que dá até vergonha de ouvir. Eu já vi pessoas falando de calotes que eles deram em lojas e depois de cinco anos o nome saiu do SPC, como sendo um milagre. Ora, isso não é milagre, pois é uma prática comum que acontece com todas as pessoas que deixam de pagar as suas contas e depois de cinco anos, volta a ter o nome limpo. Há ainda os que simulam milagres e forçam a barra, a fim de atrair as pessoas para o seu grupo religioso.


A Bíblia de Estudo Pentecostal define milagre como “obras de origem e poder sobrenaturais (gr. dynamis), que funcionam como um sinal ou uma marca (gr. sōmeion) da autoridade de Deus”. Milagres, portanto, são fatos sobrenaturais, que fogem da compreensão humana e só podem ser realizados por uma intervenção divina, que altera as leis naturais. Existem também manifestações sobrenaturais de origem diabólica, para confundir as pessoas. Somente com o dom de discernimento de espíritos é possível descobrir a origem. 


Entretanto, existem sinais que somente Deus pode fazer, como por exemplo, ressuscitar mortos, ou criar alguma coisa do nada. É importante tomar cuidado para não atribuir ao inimigo milagres que Deus operou, pois isso constitui-se em blasfêmia contra o Espírito Santo e é um pecado imperdoável. Os fariseus cometeram este pecado, quando viram Jesus expulsar um espírito maligno de uma pessoa e disseram que Ele fazia aquilo através de Belzebu, príncipe dos demônios. (Mt 12.24-32).


3. Qual era o interesse da multidão? No dia seguinte ao milagre, a multidão seguiu para Cafarnaum em barcos, em busca de Jesus. Quando o encontraram, Jesus sabendo que estavam interessados apenas nos milagres, disse: Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes.” (Jo 6.26). Em seguida iniciou um discurso, no qual apresentou-se como o Pão da vida e disse que aqueles que comessem a sua carne e bebessem o seu sangue teriam a vida eterna. 


Este discurso soou tão forte, que até os seus discípulos se escandalizaram e muitos o abandonaram (Jo 6.60-66). Aquelas pessoas não creram, de fato, que Jesus é o Filho de Deus e não estavam dispostas a seguir os seus ensinamentos. Estavam interessados apenas em satisfazer as suas necessidades materiais. Quando Jesus falou do Pão da Vida que supriria as necessidades espirituais, não se interessaram. 


Havia vários tipos de pessoas entre as multidões que seguiam a Jesus: Os que queriam apenas se beneficiar dos milagres, mas, não queriam segui-lo; os curiosos, que queriam apenas ver se o que Ele fazia era verdade; e os inimigos dele, que procuravam apanhá-lo em alguma falha para o condenarem à morte. Os que seguiam a Jesus porque realmente creram nele, eram poucos. Até entre os doze apóstolos havia um traidor, que se vendeu para entregá-lo. 


Na atualidade também há muitas pessoas correndo em busca de sinais sobrenaturais e de benefícios de Deus para as suas vidas. Quando se fala em campanha da prosperidade e dos milagres, quem não chegar cedo não encontra lugar. Mas quando falamos da Palavra de Deus, mostrando a necessidade de arrependimento dos pecados, de renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir a Cristo para ter um tesouro no Céu, retiram-se tristes como o jovem rico. 


Existem também as falsas teologias, como a Teologia da Libertação, de alguns católicos, e a Teologia da Missão integral, no meio evangélico, que reduzem a mensagem de Cristo ao socorro dos necessitados. Estes teólogos costumam dizer que Jesus era socialista e que veio libertar os pobres da opressão dos ricos. Por outro lado, há a famigerada Teologia da prosperidade, no meio neopentecostal, que associa os milagres de Deus à prosperidade financeira, ao bem estar físico e ao sucesso pessoal e familiar neste mundo. 


REFERÊNCIAS:

CABRAL, Elienai. E o Verbo se fez carne: Jesus sob o olhar do apóstolo do amor. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025.

Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 101, p.38

Bíblia de Estudo Pentecostal — Edição Global. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2022, p.1857

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, RIO DE JANEIRO: CPAD, p.1427..

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