20 fevereiro 2025

A EXPERIÊNCIA HUMANA NO MINISTÉRIO DE JESUS

(Comentário do primeiro tópico da Lição 08: Jesus viveu a experiência humana).

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico falaremos da experiência humana no ministério de Jesus. Falaremos dos debates com as autoridades religiosas de Israel: Fariseus, saduceus e herodianos, que eram os seus principais opositores e buscavam meios de apanhá-lo em alguma falha para o condenarem à morte. Na sequência, falaremos da vida social e religiosa de Jesus, através da escolha dos discípulos, do seu relacionamento com parentes e amigos e da sua interação com pessoas de diversas classes sociais. Por último, falaremos das características naturais de um ser humano que Jesus possuía. 


1- Os debates com as autoridades religiosas. Durante o seu ministério terreno, o Senhor Jesus enfrentou diversos embates com as autoridades religiosas do seu tempo. Os seus ensinos e estilo de vida contrastavam com a hipocrisia em que viviam os religiosos, que diziam uma coisa e praticavam outra. O Judaísmo naqueles dias não era unificado como nos dias de Moisés, Josué e Samuel. Israel viveu sob o domínio grego no chamado período interbíblico e nos dias de Jesus estava sob o domínio romano. 


Havia diferentes pensamentos no que tange ao relacionamento de Israel com o domínio estrangeiro. Por isso, os religiosos do tempo de Jesus estavam divididos em cinco partidos religiosos: Fariseus, Saduceus, Herodianos, Zelotes e Essênios. O comentarista mencionou apenas três deles, que foram os que entraram em debates com Jesus:


a) Fariseus. Os fariseus eram um grupo religioso de Israel, que surgiu provavelmente no período que antecedeu a guerra dos macabeus, com o objetivo de resistir e fazer oposição aos costumes helenísticos. Este nome aparece pela primeira vez durante a época do governo de João Hircano, que governou a Judéia entre 135 e 105 a.C. O próprio João Hircano, que era sumo sacerdote, era também um fariseu. Depois passou para o partido dos saduceus. 


A palavra hebraica “prushim” (fariseus) tem origem incerta. O sentido mais provável é “separado”. Os fariseus eram muito rigorosos na observância não apenas da Lei escrita, mas também da tradição oral. Além dos mandamentos da Lei de Moisés, os fariseus criaram muitas regras preventivas, para “evitar que as pessoas pecassem”. Nicodemos, Gamaliel e Saulo de Tarso fizeram parte deste grupo. 


Em Mateus 23, Jesus teceu duras críticas aos fariseus, dizendo que eles criaram “fardos pesados e difíceis de suportar”, que eram hipócritas e ficavam na porta dos céus. Não entravam e impediam os outros de entrarem. Os fariseus eram inimigos de Jesus e tiveram vários embates com Ele, buscando apanhá-lo em alguma falta, para o acusarem diante dos romanos e conseguirem a sua execução. 


b) Saduceus. Assim como os fariseus, os saduceus também tiveram origem no período interbíblico. Este partido era formado em sua grande maioria pela classe sacerdotal. Não se sabe ao certo a origem e o significado deste nome e há várias teorias sobre isso. O historiador judeu Flávio Josefo fez várias citações sobre os saduceus, mas o fez de forma hostil e parcial, visto que ele pertencia ao grupo dos fariseus, que era inimigo dos saduceus. A teoria mais aceita é a de que os saduceus eram descendentes de Zadoque, que foi sumo sacerdote escolhido nos dias de Salomão (1 Rs 2.35). 


Os saduceus reconheciam como Escrituras Sagradas apenas o Pentateuco e o consideravam superior aos livros históricos, poéticos e proféticos. Diferente dos fariseus, os saduceus não aceitavam as tradições orais dos anciãos. Eram humanistas e não criam em anjos, espíritos e na ressurreição. Tinham também uma visão deísta, pois não acreditavam na providência de Deus ou quaisquer intervenção divina na história da humanidade.


Politicamente, os saduceus apoiavam o império romano, pois se beneficiavam dele. Diferente dos fariseus, os saduceus tinham poucos apoiadores. Entretanto, os que os apoiavam eram pessoas da classe sacerdotal e pessoas ricas. Apesar de serem rivais dos fariseus, os saduceus se uniram a eles contra Jesus e ambos queriam matá-lo, por razões diferentes. Os fariseus viam em Jesus uma ameaça à sua religiosidade hipócrita. Os saduceus, por sua vez, viam em Jesus uma ameaça aos seus prestígios e lucros materiais. 


c) Herodianos. Os herodianos, como o próprio nome sugere, eram os apoiadores do governo de Herodes Antipas, que era um vassalo do Império romano na região da Judeia. Eram considerados inimigos da pátria pela maioria dos judeus, principalmente pelo grupo dos fariseus e dos zelotes. Mas, em se tratando de Jesus, eles se uniam aos saduceus e aos fariseus contra Ele (Mt 22.16).


Os herodianos eram pessoas influentes, que viam na pessoa de Herodes uma espécie de Messias que iria colocar o povo judeu em vantagem perante o Império romano e obter privilégios deste. Certamente, eles desfrutavam da proteção de Herodes e do Império romano. Por isso, viam em Jesus uma ameaça à paz política que Herodes poderia supostamente oferecer. 


d) Zelotes. O termo grego zelotes, significa “zeloso”. O partido dos zelotes era um grupo radical ultra nacionalista, que não aceitava de forma alguma que os israelitas pagassem tributos a um governo estrangeiro e pagão. Eles entendiam que Israel deveria ser governado por Deus. Submeter-se a um governo estrangeiro seria uma traição a Deus. 


Os Zelotes se originaram na revolta de Judas Galileu, que se revoltou contra o domínio romano por volta do ano 6 d.C. Este grupo praticava atentados a soldados e autoridades romanas, pois entendia que a violência se justificava nesse caso. Hoje seriam considerados um grupo terrorista. Alguns comentaristas sugerem que Barrabás pertencia a este grupo e por isso foi preso. Um dos apóstolos de Jesus, chamado Simão (não Pedro), também pertenceu a este grupo. Não há registros na Bíblia de embates desse grupo com Jesus. 


e) Essênios. A palavra grega traduzida por essênios é essenoi, que significa “curador”. O partido religiosos dos essênios era uma comunidade de judeus que viveram no tempo de Jesus, mas não são mencionados na Bíblia. Eram pessoas que observavam rigorosamente as cerimônias da Lei Mosaica. Viviam em comunidades e cada uma delas havia uma sinagoga. 


Alguns dizem que era necessário um ritual de purificação, que incluía o batismo em águas e juramentos, para ingressar no grupo. Quem quisesse fazer parte do grupo, precisava abrir mão dos seus bens em prol da comunidade. Adotavam um estilo de vida simples e quando viajavam eram acolhidos por pessoas do grupo. Por causa destas características, alguns sugerem que João Batista fazia parte deste grupo. Mas não há nada na Bíblia que fundamente este hipótese, pois este grupo sequer é mencionado.


Os essênios foram muito importantes na preservação das Escrituras judaicas. Eles envolveram várias porções das Escrituras judaicas em panos de linho, colocaram em jarros de barro com tampa e esconderam na caverna de Qumran, na região do Mar Morto. Estes manuscritos foram encontrados no ano de 1947 por beduínos e é o maior achado arqueológico do século XX. Em 68 d.C., os Zelotes se insurgiram contra Roma e na resposta devastadora do Império, os Essênios praticamente desapareceram da região. 


2- A vida social e religiosa de Jesus. Jesus não viveu apenas de debates com os grupos religiosos como vimos acima. O professor Tiago Rosas, do Canal EBD Inteligente, observa que este tópico está invertido e deveria começar pelo terceiro ponto, que trata das características próprias do ser humano que Jesus possuía. Depois deveria seguir para o segundo ponto que trata da vida social e religiosa de Jesus. Por último, deveria mencionar os embates com os religiosos que aconteceram no final do ministério terreno de Jesus em Jerusalém, quando Ele já era bem conhecido. Mas, vamos seguir a ordem proposta pela revista.


O Evangelho segundo Lucas fala de Jesus como o Homem Perfeito e traz detalhes do desenvolvimento de Jesus desde a sua concepção, passando pelo seu nascimento,  circuncisão, apresentação no templo, o cântico de Maria e as palavras de Simeão e Ana. Lucas menciona ainda os parentes, amigos e vizinhos de Jesus. Na sequência, Lucas menciona o episódio em que Jesus foi à festa em Jerusalém com os seus pais aos doze anos e ficou lá no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. Finalizando esta fase, Lucas fala do desenvolvimento físico, mental e espiritual de Jesus: “E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens.” (Lc 2.53). 


No capítulo três, Lucas apresenta a genealogia de Jesus até Adão. Esta genealogia difere da que foi apresentada por Mateus, que além de ir apenas até Abraão, pois Mateus escreveu para o judeus, os nomes a partir de Davi até Jesus são diferentes. Na genealogia de Mateus, o pai de José é chamado de Jacó e os ascendentes de Jesus são descritos a partir de Salomão, filho de Davi (Mt 1.6). Lucas, porém, diz que o pai de José é Heli e traz os ascendentes a partir de outro filho de Davi chamado Natã (Lc 3.31). A maioria dos estudiosos bíblicos dizem que Lucas trouxe a genealogia de Maria, enquanto Mateus apresentou a genealogia de José.


Na idade adulta, Jesus pregou na sinagoga de Nazaré e foi expulso pelos seus compatriotas. Ele escolheu os primeiros discípulos em ambiente de amigos pescadores.  Outros foram chamados no trabalho como Mateus. Jesus proferiu vários sermões no monte, na planície, nos barcos e em particular aos seus discípulos. Ele também ensinava por parábolas, partindo de conversas particulares e exemplos do dia a dia dos seus ouvintes.


Jesus também interagia com pessoas de diversas classes sociais, principalmente aquelas que eram desprezadas e excluídas da sociedade judaica, como as mulheres, os publicanos, os samaritanos, as prostitutas, etc. Ele participou de festa de casamento, jantares, banquetes e conquistou as crianças. Isso nos mostra que Jesus enquanto ser humano era amável, pois criança não se aproxima de pessoas carrancudas e chatas. 


3- Características próprias do ser humano. Jesus possuía as características físicas, emocionais e espirituais de um ser humano, com exceção da natureza pecaminosa que Ele não tinha. A sua concepção, evidentemente, foi sobrenatural pois Ele foi gerado pelo Espírito Santo e não a partir de uma conjunção carnal entre homem e mulher. Mas o seu  nascimento foi um parto normal como o de qualquer criança. O dogma da virgindade perpétua de Maria,  ensinado pela Igreja Católica, não se sustenta à luz da Bíblia. 


Jesus teve sentimentos normais de um ser humano. Emocionalmente, ele sentiu angústia e tristeza: “Então, lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até à morte; ficai aqui e vigiai comigo.” (Mt 26.38); Ele também chorou: “Jesus chorou” (Jo 11.35); Compadeceu-se do sofrimento das pessoas: “E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela e disse-lhe: Não chores.” (Lc 7.13). 


No aspecto físico, podemos ver a sua fragilidade como ser humano. Jesus sentiu fome, calor, sede, dores, cansaço e por fim, morreu de forma cruel, sofrendo insultos e dores terríveis. Entretanto, a morte não pôde detê-lo, pois Ele ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao Céu glorificado e assentou-se à destra do Pai. Como bem explicou o comentarista, o Senhor Jesus participou da fraqueza física e emocional como ser humano, mas não da nossa fraqueza moral e espiritual, pois Ele é perfeito e a sua natureza nunca foi corrompida pelo pecado. 


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