(Comentário do 3º tópico da Lição 07: As naturezas humana e divina de Jesus).
Ev. WELIANO PIRES
No terceiro tópico, veremos o perigo destas heresias na atualidade. Falaremos do monofisismo atual, que tem roupagens novas através das tradições siro-monofisita ou jacobista. Na sequência, falaremos da heresia do kenoticismo, que vem da palavra grega kenoō, que significa “esvaziar”. Por último, falaremos da Mariolatria, que se desenvolveu no Catolicismo Romano.
1. Os monofisitas. No Concílio de Calcedônia, apesar de ter a maior frequência de bispos até aquele momento e terem condenado o Nestorianismo e o Monofisismo, nem todos os presentes acataram a Definição de Calcedônia, produzida por este concílio. Um monge sírio, chamado Jacob Baradeus, rejeitou as resoluções do Concílio de Calcedônia e liderou um grupo de pessoas que apoiavam o Monofisismo.
Os seguidores de Jacob Baradeus se espalharam pela região e continuaram ensinando a heresia do Monofisismo e ela perdura até aos dias atuais nas Igrejas ortodoxas, cóptica, armênia, abissínia e jacobitas. Estas igrejas foram fundadas por apóstolos ou discípulos de Jesus que conviveram com os apóstolos. Eram Igrejas Cristãs ortodoxas, mas após o concílio de Calcedônia, não aceitaram as resoluções e se tornaram independentes ou autocéfalas (onde cada uma resolve os seus próprios problemas). Por causa disso estas Igrejas são denominadas Igrejas não-calcedonianas.
O comentarista fala aqui da importância de conhecermos a cristologia destas Igrejas, a fim de sabermos como responder aos seus adeptos e manter a nossa fé em Jesus, o Deus que se fez homem (Mt 1.23) e que se manifestou em carne (1Tm 3.16). Estas Igrejas ortodoxas orientais não gostam de serem chamadas de monofisistas ou não-calcedonianas e se descrevem como sendo miafisitas, que é um conceito teológico, que afirma que as duas naturezas de Cristo foram combinadas em uma nova e terceira natureza, uma natureza divino-humana. Ora, isso é a mesma coisa do monofisismo de Êutico. Então, para sabermos a cristologia destas Igrejas, basta relembrar o que ensinava o monofisismo. Para saber como responder aos seus adeptos, precisamos conhecer tudo o que vimos no primeiro tópico desta lição.
2. O kenoticismo. Neste subtópico, o comentarista faz menção a outra heresia cristológica, que não foi mencionada no tópico anterior, mas que está relacionada à natureza de Cristo durante o seu ministério terreno. Trata-se de uma heresia chamada kenoticismo. Esta palavra deriva do verbo grego kenoō, que significa “esvaziar”. Este verbo está presente no texto de Filipenses 2.7 que diz: “Mas aniquilou-se [kenoō] a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens”. As versões atualizadas como NVI, ARA, NAA e NVT traduziram este verbo por “esvaziou-se”.
Com base em uma interpretação equivocada deste texto, o kenoticismo afirma que Jesus teria se esvaziado dos seus atributos divinos enquanto esteve neste mundo e após a ressurreição os retomou. Isso equivale a dizer que Jesus deixou de ser Deus e depois voltou a sê-lo. Não faz nenhum sentido, pois Deus não pode deixar de ser Deus, pois um dos seus atributos exclusivos é a imutabilidade. Deus não pode mudar jamais a sua essência e caráter. O que Deus é, Ele sempre foi e sempre será.
O que significa, então, este autoesvaziamento de Cristo? Significa que Jesus sendo Deus, humilhou-se, tomando a forma de servo, submetendo-se aos limites do tempo, espaço e sofrimentos inerentes à condição humana, por um período de trinta e três anos. Jesus tornou-se semelhante aos homens em todas as coisas, com exceção do pecado (Hb 4.15). Mas, jamais deixou de ser Deus.
Embora Jesus não tenha usado os seus atributos divinos para vencer as adversidades neste mundo, pois Ele veio para vencer como homem, Ele agiu como Deus, nas circunstâncias que o comentarista mencionou: perdoou pecados (Mc 2.5-7; Lc 7.48), recebeu adoração (Mt 8.2; 9.18; 15.25; Jo 9.38) e repreendeu a fúria do mar e o vento, mostrando total domínio sobre a natureza (Mt 8.26,27; Mc 4.39). Em seus discursos também, muitas vezes Ele falou como Deus e, por isso, os judeus tentaram apedrejá-lo.
3. Mariolatria. Neste ponto, o comentarista destoa um pouco do tema da lição, pegando um gancho no título “Mãe de Deus” (Gr. Theotokos), dado a Maria por Cirilo de Alexandria, e fala acerca de um grave problema da teologia católica que é a Mariolatria. Evidentemente Cirilo não era idólatra e não divinizava Maria como fazem os católicos atualmente. O título Mãe de Deus foi usado no sentido de que Maria foi “portadora de Deus” em seu ventre. O objetivo de Cirilo era enfatizar a divindade de Cristo e não divinizar Maria.
Os teólogos católicos insistem em dizer que não adoram Maria, apenas a veneram. Criaram três termos para supostamente diferenciar a adoração que oferecem a Deus, da veneração que oferecem a Maria e aos santos: Latria, Dulia e Hiperdulia.
a - Latria. (Do Grego "latreuo", que significa adoração). Principal culto na Igreja Católica, seria a adoração a Deus.
b - Dulia (em grego: “douleuo”, que significa veneração). É o culto prestado a Deus, por meio de alguma mediação de santos.
c - Hiperdulia (do grego: "hyper", acima de; e "douleuo", honra ou veneração). É o culto de adoração a Deus por meio da Virgem Maria, a quem o catolicismo dá um lugar eminente.
Na Bíblia não há esta distinção e não há nenhum mediador entre Deus e a humanidade, além de Jesus Cristo. (1 Tm 2.15). A Bíblia proíbe expressamente o culto ou orações a qualquer pessoa, além de Deus. (Ex 20.4; Mt 4.10). A verdade é que os católicos deram a Maria um lugar que não lhe pertence, como se ela fosse divina.
Os católicos agem como se Maria fosse onipresente, onisciente, onipotente, intercessora e mediadora entre Deus e a humanidade. Ora, como ela poderia ouvir e responder as rezas dos católicos do mundo inteiro, interceder por cada causa e agir em favor deles?! Somente Deus pode fazer isso.
Ao longo da história, o Magistério da Igreja Católica foi incorporando dogmas sobre a pessoa de Maria à teologia da Igreja, que a colocam em igualdade com as Pessoas da Santíssima Trindade. Dizem que Maria nasceu sem o pecado original (Imaculada Conceição), que é rainha do Céu (Salve-rainha), mãe, co-redentora, senhora, cheia de Graça, medianeira (mediadora), que permaneceu virgem após o nascimento de Jesus, que subiu ao Céu e foi coroada acima de todos os anjos (Assunção), etc.
Estes dogmas estão presentes nas orações e homilias católicas. Nenhum destes, no entanto, tem fundamento nas Escrituras e a própria Maria os rejeitaria, se estivesse neste mundo. Em seu cântico, denominado Magnificat (Lc 1.46-51), Maria engrandeceu ao Senhor, se declarou “Serva do Senhor” e chamou Deus de “Meu Salvador”. Em lugar algum da Bíblia Maria é chamada de senhora ou mãe de Deus.
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